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antropologia e poder: contribuições de eric wolf - CEAS

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Gustavo Lins Ribeiro e Bela Feldman-Bianco<br />

garo. Em seu último livro, Envisioning Power: I<strong>de</strong>ologies of Domination and Crisis<br />

[Visualizando o Po<strong>de</strong>r: I<strong>de</strong>ologias <strong>de</strong> Dominação e Crise] (1999), Eric Wolf<br />

voltou-se, uma vez mais, ao <strong>de</strong>safio que se propôs no início <strong>de</strong> sua carreira<br />

e que permeia toda a sua obra: enten<strong>de</strong>r a relação entre cultura e <strong>po<strong>de</strong>r</strong>.<br />

Universalista, formado na tradição boasiana dos quatro campos da<br />

<strong>antropologia</strong>, Wolf sempre se manifestou a favor <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s esquemas<br />

explicativos. Durante as últimas décadas, exerceu papel proeminente nos<br />

<strong>de</strong>bates antropológicos que eclodiram nos Estados Unidos. Sua militância<br />

ativa contra a guerra do Vietnã o levou a <strong>de</strong>senvolver perspectivas cada vez<br />

mais críticas em relação à política da <strong>antropologia</strong> norte-am<strong>eric</strong>ana e a uma<br />

atuação crucial no Comitê <strong>de</strong> Ética da Associação Am<strong>eric</strong>ana <strong>de</strong> Antropologia,<br />

entre 1969 e 1970. Posteriormente, em 1980, seu polêmico artigo, sugestivamente<br />

intitulado “They Divi<strong>de</strong> and Subdivi<strong>de</strong>, and Call it Anthropology”<br />

[Eles Divi<strong>de</strong>m e Subdivi<strong>de</strong>m e lhe Dão o Nome <strong>de</strong> Antropologia], publicado<br />

no The New York Times, polarizou a reunião da Associação Am<strong>eric</strong>ana <strong>de</strong><br />

Antropologia daquele ano. Nesse posicionamento crítico, conclamou os<br />

antropólogos a realizarem “análises sistemáticas sobre o mundo mo<strong>de</strong>rno,<br />

com ênfase nos processos <strong>de</strong> <strong>po<strong>de</strong>r</strong> que criaram os sistemas culturais<br />

contemporâneos e as relações entre os mesmos” (Ghani 1995: 33).<br />

As perspectivas antropológicas <strong>de</strong> Wolf influenciaram diferentes<br />

gerações <strong>de</strong> antropólogos – não só nos Estados Unidos, mas também na<br />

América Latina e na Europa. No Brasil, on<strong>de</strong>, em 1970, saiu a primeira<br />

tradução <strong>de</strong> Peasants, seus trabalhos são mais conhecidos em círculos <strong>de</strong><br />

antropólogos interessados em questões agrárias. Com este ensaio, visamos<br />

salientar a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua obra.<br />

Trajetórias e interlocuções – abrindo o leque: os anos <strong>de</strong> formação (1946-<br />

-1951), início da busca da complexida<strong>de</strong><br />

No cenário am<strong>eric</strong>ano, Eric Wolf faz parte <strong>de</strong> uma geração <strong>de</strong> antropólogos<br />

treinados por Julian Steward durante sua breve, mas marcante, passagem na<br />

Columbia University no período pós-guerra (1947-1951). Dentre seus colegas,<br />

<strong>de</strong>stacam-se nomes como os <strong>de</strong> Elman Service, Marvin Harris, Marshall<br />

Sahlins, Morton Fried, Robert Manners, Robert Murphy, Sidney Mintz e<br />

Stanley Diamond – todos filhos <strong>de</strong> imigrantes que, como ele, saíram <strong>de</strong><br />

escolas públicas e usufruíram da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar estudos <strong>de</strong> pós-<br />

-graduação graças a subsídios governamentais <strong>de</strong>stinados aos veteranos da<br />

segunda guerra mundial. 3 Indubitavelmente, uma geração que se distinguia<br />

3 Wolf lutou na segunda guerra mundial como sargento da Décima Divisão Montanhesa do Exército Am<strong>eric</strong>ano, nos<br />

Alpes italianos, on<strong>de</strong> foi ferido.<br />

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