antropologia e poder: contribuições de eric wolf - CEAS
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Gustavo Lins Ribeiro e Bela Feldman-Bianco<br />
1978 e Vincent 1990). 6 Mas, para Wolf, muito embora o projeto <strong>de</strong> pesquisas<br />
sobre Porto Rico tivesse sido inicialmente organizado em termos eco-<br />
-evolucionários, “rapidamente a dimensão histórica mostrou-se crucial, já que<br />
não se podia falar <strong>de</strong> ecologia sem consi<strong>de</strong>rar os processos políticos e<br />
econômicos envolvidos em situações históricas específicas” (Friedman 1987:<br />
110). Wolf manteve séria interlocução com os neo-evolucionistas e <strong>de</strong>dicou<br />
especial atenção à ecologia em suas pesquisas, mas revelou sentir ambivalência<br />
em relação a esse enfoque, <strong>de</strong>vido à sua simplificação, à sua<br />
negligência no que se refere ao manancial das relações sociais, e principalmente<br />
ao perigo “<strong>de</strong> se tornar uma espécie <strong>de</strong> teoria <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização da<br />
evolução, (conclamando que quanto) mais energia, mais progresso, mais<br />
ciência” (Friedman 1987: 109). As crescentes diferenças <strong>de</strong> abordagens,<br />
marcadas por divergências <strong>de</strong> cunho político, culminaram com seu afastamento<br />
<strong>de</strong> Steward, ainda em 1955, quando este, no âmbito <strong>de</strong> um projeto<br />
<strong>de</strong> pesquisas sobre “regularida<strong>de</strong>s culturais” que dirigia na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Illinois, do qual Wolf também participava, dá uma guinada a-histórica e se<br />
torna um dos expoentes da teoria <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização (Friedman 1987: 110).<br />
Devido a essas divergências, Wolf abandona o projeto, <strong>de</strong>ixa a Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Illinois, on<strong>de</strong> lecionava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1952 por convite do próprio Steward, e<br />
dirige-se à Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Virginia.<br />
No entanto, foram gran<strong>de</strong>s as influências <strong>de</strong> Steward. As noções <strong>de</strong><br />
“níveis <strong>de</strong> integração” e <strong>de</strong> “segmentos socioculturais horizontais” – agrupamentos<br />
que transcen<strong>de</strong>m o nível local por suas relações com outros níveis<br />
<strong>de</strong> integração, em especial o nacional – em Eric Wolf (2001b [1956]) transformam-se<br />
em “grupos orientados para a nação”. Na década <strong>de</strong> 1950, Wolf também<br />
tomou <strong>de</strong> empréstimo <strong>de</strong> Steward o interesse por construir “tipos”, isto<br />
é, abstrações “construídas em torno <strong>de</strong> um núcleo cultural formado pela ‘inter<strong>de</strong>pendência<br />
funcional <strong>de</strong> traços numa relação estrutural’ (Steward 1955: 6)”<br />
(Wolf 2001l: 193). A influência <strong>de</strong> Steward é perceptível, ainda, no uso <strong>de</strong><br />
concepções como crescimento multilinear ou culturas parciais e na intenção <strong>de</strong><br />
explicar a “interação dinâmica entre comunida<strong>de</strong> e nação” (2001l: 147-148).<br />
As diferenças entre o neo-evolucionismo e a história cultural tornam-<br />
-se mais claras no contexto dos recorrentes <strong>de</strong>bates entre culturalismo e<br />
materialismo que perpassam a <strong>antropologia</strong> am<strong>eric</strong>ana. Sahlins, em Cultura<br />
e Razão Prática (1976), expôs eloqüentemente esses <strong>de</strong>bates, mas <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />
esclarecer que esses posicionamentos assinalavam, em situações históricas<br />
específicas, i<strong>de</strong>ologias diferentes e mesmo antagônicas. Assim, o neo-evolucionismo,<br />
que não por acaso ressurgiu no período macartista e teve seu<br />
6 Deve-se notar que Service e Sahlins foram também fortemente influenciados por Leslie White, quando ainda<br />
estudantes <strong>de</strong> graduação na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Michigan. Service, assim como John Murra, aluno da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Chicago, combateu na guerra civil espanhola. Sahlins só rompeu com o neo-evolucionismo e se converteu ao<br />
estruturalismo na década <strong>de</strong> 1960, no contexto <strong>de</strong> sua atuação militante contra a guerra do Vietnã (Sahlins 2000).<br />
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