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antropologia e poder: contribuições de eric wolf - CEAS

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Gustavo Lins Ribeiro e Bela Feldman-Bianco<br />

é organizado, por quais tipos <strong>de</strong> imperativos e em que nível”, bem como os<br />

“modos através dos quais esses imperativos organizatórios são orquestrados”,<br />

inter-relaciona o conceito <strong>de</strong> cultura com o <strong>de</strong> <strong>po<strong>de</strong>r</strong> estrutural (Wolf<br />

1999: 289-290). Segundo ele, enquanto o conceito <strong>de</strong> <strong>po<strong>de</strong>r</strong> estrutural permite<br />

discernir como as distinções que segmentam uma população são manifestadas,<br />

a análise dos três estudos <strong>de</strong> caso sugere que essas distinções “são<br />

<strong>de</strong>finidas e ancoradas em cosmologias específicas que simulam essas distinções<br />

enquanto atributos da or<strong>de</strong>m das coisas, tanto no sentido temporal<br />

quanto lógico” (Wolf 1999: 290). Esses aspectos da cosmologia, por sua vez,<br />

proporcionam a elaboração <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias que explicam e justificam o <strong>po<strong>de</strong>r</strong><br />

exercido pelas camadas dominantes sobre a socieda<strong>de</strong>.<br />

Envisioning Power encerra as incessantes investigações <strong>de</strong> Eric Wolf<br />

sobre a origem, manutenção e transformação do <strong>po<strong>de</strong>r</strong> e suas interconexões<br />

com a cultura. Suas sucessivas tentativas <strong>de</strong> explicar essas relações entre<br />

cultura e <strong>po<strong>de</strong>r</strong> po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar dúvidas se, para ele, a cultura é <strong>de</strong>rivativa das<br />

relações <strong>de</strong> <strong>po<strong>de</strong>r</strong> na socieda<strong>de</strong> ou se, ao contrário, as relações <strong>de</strong> <strong>po<strong>de</strong>r</strong> são<br />

expressões da cultura. Se essas estão, <strong>de</strong> fato, entre as indagações iniciais<br />

feitas pelo próprio Wolf, os seus esforços no sentido <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r essas<br />

relações <strong>de</strong>notam a sua preocupação em trazer a lógica cultural para o âmbito<br />

das relações <strong>de</strong> <strong>po<strong>de</strong>r</strong>, não com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar a cultura completamente<br />

<strong>de</strong>rivativa do <strong>po<strong>de</strong>r</strong>, mas como tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcar as conexões e<br />

os constrangimentos que unem as várias dimensões das relações <strong>de</strong> <strong>po<strong>de</strong>r</strong> na<br />

socieda<strong>de</strong> aos parâmetros culturais que estão embutidos na arena social<br />

(Yengoyan 2001: xii).<br />

Universalismo e humanismo<br />

Com a crescente diferenciação do métier <strong>de</strong> antropólogo, visões abrangentes<br />

como as <strong>de</strong> Eric R. Wolf são cada vez mais raras. Sua perspectiva é clássica.<br />

Nela, as relações sociais são tidas como recursos <strong>de</strong> sobrevivência, “uma<br />

espécie <strong>de</strong> seguro <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> longo prazo” (2001c [1957]: 158). Para ele, toda<br />

forma social e cultural é contingente, pois <strong>po<strong>de</strong>r</strong>ia, a princípio, ter qualquer<br />

conteúdo não fosse o fato <strong>de</strong> por trás <strong>de</strong> qualquer uma <strong>de</strong>las existir uma<br />

história. Além disso, em Wolf a cultura também é vista como elemento<br />

plástico que permite incontáveis adaptações a múltiplas situações sociais e<br />

ecológicas cambiantes. Assim, a humanida<strong>de</strong> evita os malefícios <strong>de</strong> uma<br />

especialização estreita que fatalmente teria repercussões negativas para sua<br />

sobrevivência. Ao mesmo tempo, a visão da diversida<strong>de</strong> cultural que Wolf<br />

advoga, mesmo que em <strong>de</strong>terminados momentos, como em “Specific Aspects<br />

of Plantation Systems in the New World” [Aspectos Específicos dos Sistemas<br />

<strong>de</strong> Plantações no Novo Mundo] (2001d [1959]), tenha sido marcada por<br />

uma leitura, inspirada na biologia, das “adaptações especializadas e genera-<br />

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