antropologia e poder: contribuições de eric wolf - CEAS
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Gustavo Lins Ribeiro e Bela Feldman-Bianco<br />
ao invés da ativida<strong>de</strong> ou formas políticas (…) O que se torna crítico para Wolf<br />
é se a ação observada é traduzida em termos culturais, raciais ou psicológicos,<br />
ou se é um epifenômeno <strong>de</strong> processos históricos. O dilema é antigo: todos os<br />
homens moldam sua história mas não em seus próprios termos” (Vincent<br />
1990: 370).<br />
Essas perspectivas abrangentes marcam o seu primeiro livro, Sons of the<br />
Shaking Earth (1973 [1959]), resultado da pesquisa que havia iniciado no início<br />
da década <strong>de</strong> 1950, na região <strong>de</strong> Bajío – centro do movimento da in<strong>de</strong>pendência<br />
do México –, no qual analisa a história daquele país <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período<br />
pré-colombiano, atravessando o <strong>po<strong>de</strong>r</strong> colonial e a formação da nação mexicana.<br />
No seu dizer, essa publicação é resultado <strong>de</strong> seu envolvimento pessoal<br />
com a Meso-América (Wolf 1973 [1959]: vii), talvez porque, durante o<br />
processo <strong>de</strong> pesquisa tenha se aproximado <strong>de</strong> um “grupo <strong>de</strong> intelectuais<br />
mexicanos que estudavam como lo mexicano estava sendo <strong>de</strong>finido e uma<br />
nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> mexicana formando-se – questão não apenas acadêmica, mas<br />
<strong>de</strong> urgência política” (Wolf 2001l: 6). Desse grupo, Pedro Armillas, Gonzalo<br />
Aguirre Beltrán e, sobretudo, Ángel Palerm tornaram-se seus interlocutores<br />
ao longo dos anos, <strong>de</strong>vido a afinida<strong>de</strong>s acadêmicas e políticas. 14 Essas interlocuções<br />
e experiências <strong>de</strong> pesquisa no México em muito contribuíram para<br />
o alargamento do escopo <strong>de</strong> sua <strong>antropologia</strong>, especialmente reforçando a sua<br />
atenção aos processos <strong>de</strong> longa duração, inclusive em escala arqueológica,<br />
que se revelaram cruciais para compreen<strong>de</strong>r o presente.<br />
No prefácio <strong>de</strong> Sons of the Shaking Earth, Wolf (1973 [1959]: vii) adverte<br />
que está “escrevendo como cientista” sobre uma área do mundo, a Meso-<br />
-América, e que os capítulos tratarão da sua geografia, biologia, varieda<strong>de</strong><br />
lingüística, expansão cultural pré-histórica e dos “ritmos alterados do seu<br />
crescimento após o impacto da conquista estrangeira”. Em nenhum outro<br />
trabalho aplica tão claramente uma interpretação baseada nos quatro campos<br />
da <strong>antropologia</strong> boasiana (<strong>antropologia</strong> física, arqueologia, lingüística e<br />
<strong>antropologia</strong> cultural). Mas foi <strong>de</strong>vido a um inci<strong>de</strong>nte durante o trabalho <strong>de</strong><br />
campo no estado <strong>de</strong> Guanajuato que optou por se concentrar em “pesquisa<br />
em arquivo para <strong>de</strong>finir a interação entre centro e periferia na história do<br />
Bajío” (Wolf 2001l: 6). Embora não tivesse recebido educação formal em<br />
pesquisa histórica, essa opção possibilitou-lhe enten<strong>de</strong>r a formação das<br />
instituições mexicanas e suas contradições, bem como os paradoxos que permearam<br />
os processos sociais no México. Seu foco na história colonial <strong>de</strong> longa<br />
duração traz à tona as diferenças entre os colonialismos e os processos <strong>de</strong><br />
14 Os trabalhos <strong>de</strong> Karl Wittfogel sobre a formação do estado (Wittfogel 1957), que Wolf também havia lido, e <strong>de</strong><br />
V. Gordon Chil<strong>de</strong> marcaram a forma <strong>de</strong> Ángel Palerm interpretar a civilização meso-am<strong>eric</strong>ana. Palerm e Wolf<br />
publicaram juntos vários artigos e o livro Agricultura y Civilización en Mesoamérica (1972). Wolf escreveu dois artigos<br />
em homenagem póstuma ao amigo e “irmão mais velho” (1986, 1998) e um obituário para o Am<strong>eric</strong>an Anthropologist<br />
(1981). Sobre a obra <strong>de</strong> Ángel Palerm, veja-se García Acosta (2000).<br />
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