a análise biomecânica em natação - Aquabarra
a análise biomecânica em natação - Aquabarra
a análise biomecânica em natação - Aquabarra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A ANÁLISE BIOMECÂNICA EM NATAÇÃO * .<br />
Dr. Salvador Plana Belloch<br />
Faculdade de Ciências da Atividade Física e o Esporte. Universitat de Valencia<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
A Biomecânica Desportiva é uma ciência de consolidação no âmbito<br />
científico internacional ainda muito recente. Seu objetivo é duplo: por um lado a<br />
melhora do rendimento desportivo e, por outro, a prevenção de lesões. Para<br />
conseguir estes dois objetivos, se centra na otimização da técnica desportiva e do<br />
material e equipamento utilizado pelos desportistas.<br />
Centrando-nos na <strong>natação</strong>, a Biomecânica Desportiva proporciona<br />
conhecimentos de aplicação geral às atividades aquáticas (por ex<strong>em</strong>plo, o<br />
Princípio de Arquimedes para explicar a flutuação) e conhecimentos de aplicação<br />
específica (por ex<strong>em</strong>plo, trajetórias e velocidades da mão durante a tração <strong>em</strong><br />
qualquer dos estilos de competição). Ad<strong>em</strong>ais, como todas as ciências,<br />
proporciona um instrumental de medida que permite a <strong>análise</strong> e a avaliação da<br />
atividade natatória dos desportistas. Tradicionalmente, o dito instrumental foi<br />
muito caro e de difícil manejo, pelo que somente t<strong>em</strong> estado ao alcance de<br />
determinados centros de investigação (Centros de Alto Rendimento Desportivo,<br />
Faculdades e INEFs), mas desde faz uns anos estão aparecendo no mercado<br />
instrumentos de menor custo e de fácil manejo, o que faz possível sua aquisição<br />
por parte de entidades com melhores recursos econômicos.<br />
Na presente conferência se pretende dar uma visão ampla das<br />
contribuições que a Biomecânica Desportiva pode proporcionar ao mundo das<br />
atividades aquáticas e da <strong>natação</strong> desportiva. Para isso, o texto se apresenta <strong>em</strong><br />
duas partes; a primeira proporciona os conceitos biomecânicos básicos que<br />
justificam o des<strong>em</strong>penho humano no meio aquático e, a segunda, apresenta o<br />
instrumental de medida mais freqüente utilização no estudo de dito des<strong>em</strong>penho.<br />
2 CONCEITOS BIOMECÂNICOS BÁSICOS DO NADO<br />
“diz<strong>em</strong> que 65% de nós é água, mas quando o ser humano se introduz<br />
no meio aquático se encontra num el<strong>em</strong>ento estranho para o que<br />
estamos pobr<strong>em</strong>ente desenhados e onde nossa locomoção é pouco<br />
eficiente. Os peixes e outros animais marinhos estão equipados com<br />
aletas 1 que são relativamente pequenas <strong>em</strong> comparação com o tamanho<br />
de seu corpo, os humanos t<strong>em</strong> os m<strong>em</strong>bros superiores e inferiores<br />
*<br />
Artigo Disponível on line via:<br />
http://www.notinat.com.es/docs/analisis_biomecanico_en_natacion.pdf, tradução Leonardo<br />
Delgado, 11/02/2006.<br />
1<br />
M<strong>em</strong>branas eréctiles e dobráveis coladas ao corpo dos peixes; utilizadas para propulsar-se e<br />
para manobrar.
longos e delgados que proporcionam muito pouca superfície com a que<br />
interagir com o água.” (COUNSILMAN & COUNSILMAN, 1994).<br />
O parágrafo anterior expõe a evidência de que o ser humano não está<br />
desenhado para a locomoção no meio aquático. Não obstante, a necessidade de<br />
cruzar rios, adentrar-se no mar, etc. obrigou ao ser humano a introduzir-se neste<br />
meio “estranho”. Como ex<strong>em</strong>plo destas incipientes incursões no meio aquático se<br />
pode destacar que no Museu Britânico há uma vasilha asiria que data de 800 a.C.<br />
que mostra três guerreiros cruzando a nado um rio.<br />
Atualmente, o número de atividades que se realizam na água é imenso,<br />
incluindo atividades de caráter competitivo, recreativo e terapêutico. No entanto,<br />
não s<strong>em</strong>pre foi tão recomendado e aceitado pela sociedade, como põe de<br />
manifesto o Dicionário Médico Londrino de BARTHOLOMEW PARR (1902): “O<br />
nado é um exercício laborioso que não deve ser realizado até a exaustão. Não é<br />
natural para o hom<strong>em</strong>...”.<br />
O ineficiente des<strong>em</strong>penho do ser humano no meio aquático se deve às<br />
características próprias da água: um fluido denso e viscoso, no que resulta difícil<br />
aplicar forças propulsivas e onde as forças de resistência ao avanço são muito<br />
potentes. Para ter um bom entendimento da locomoção humana no meio<br />
aquático, é necessário conhecer que forças se põ<strong>em</strong> <strong>em</strong> jogo quando este se<br />
submerge <strong>em</strong> seu interior.<br />
A figura 1 mostra as quatro forças que reg<strong>em</strong> o nado do ser humano: a<br />
força peso e o <strong>em</strong>puxo hidrostático determinam a flutuabilidade do nadador,<br />
enquanto as forças propulsivas e de resistência determinam sua velocidade de<br />
nado.<br />
Figura 1.<br />
A seguir se explicar<strong>em</strong>os, com mais de detalhes, como interag<strong>em</strong> estas<br />
quatro forças durante o nado.
2.1 Flutuação<br />
A flutuação de um corpo na água depende das forças que se apliqu<strong>em</strong><br />
num instante dado. Em repouso, a flutuação v<strong>em</strong> determinada pelo Princípio de<br />
Arquimedes, segundo o qual, “todo corpo submerso num fluido experimenta um<br />
<strong>em</strong>puxo vertical (direção) e ascendente (sentido) igual ao peso do volume de<br />
fluido desalojado”. Dito <strong>em</strong>puxo se denomina <strong>em</strong>puxo hidrostático (Eh).<br />
Conseqüent<strong>em</strong>ente, quando uma pessoa se introduz no meio aquático, e não<br />
realiza nenhum movimento, sua flutuabilidade depende de seu peso e do <strong>em</strong>puxo<br />
hidrostático: quando o peso seja maior que o <strong>em</strong>puxo hidrostático se afundará e<br />
quando for menor boiará.<br />
As equações 1 e 2 mostram como, sendo a gravidade (g) e o volume<br />
do corpo e de água desalojada iguais, o que determina a flutuabilidade de um<br />
corpo é a relação de densidades.<br />
Ec.1: Eh = magua g = vagua Págua g<br />
Ec.2: P = mcorpo g = vcorpo Pcorpo g<br />
vagua = vcorpo<br />
g = g<br />
pfluido ≠ pcorpo<br />
A densidade da água varia ligeiramente com a t<strong>em</strong>peratura, mas pode<br />
considerar-se próxima aos 1000 kg/m 3 . Aqueles corpos que tenham densidades<br />
superiores se afundarão, enquanto os que tenham densidades inferiores boiarão.<br />
O corpo humano não t<strong>em</strong> uma densidade homogênea, senão que exist<strong>em</strong><br />
diferenças importantes entre os diferentes tecidos que o formam. O mais denso é<br />
o tecido ósseo, com uns 1800 kg/m3, tecidos como o muscular, o tendinoso e o<br />
ligamentoso possu<strong>em</strong> densidades ligeiramente superiores às da água, uns 1020-<br />
1050 kg/m 3 , e, o único tecido menos denso do que o água, é o tecido adiposo,<br />
com uma densidade de uns 950 kg/m 3 . Portanto, o ser humano deveria afundarse<br />
s<strong>em</strong>pre por que não ocorre isto? A resposta há que a procurar no ar localizado<br />
<strong>em</strong> pulmões e vias respiratórias, já que a densidade do ar é umas mil vezes<br />
menor do que a do água, isto é, 1 kg/m 3 . Desta maneira, os pulmões atuam como<br />
bóias: durante a inspiração “se incham” e durante a expiração “se desincham”.<br />
Portanto, a habilidade o ser humano para boiar (flutuação passiva) depende,<br />
basicamente, de sua habilidade para expandir sua caixa torácica (figura 2).
Figura 2.<br />
Como mostra a figura 3, o peso e o <strong>em</strong>puxo hidrostático se aplicam <strong>em</strong><br />
pontos diferentes: o peso se aplica no centro de gravidade, enquanto o <strong>em</strong>puxo<br />
hidrostático se aplica no centro de flutuação ou de carena. Desta maneira, um<br />
corpo <strong>em</strong> posição ventral se vê submetido a um momento tensor (par de forças)<br />
que obriga ao corpo a girar até que as linhas de ação das duas forças<br />
mencionadas sejam condizentes, coisa que ocorre quando o corpo fica <strong>em</strong><br />
posição vertical e, s<strong>em</strong>pre, com o centro de gravidade por <strong>em</strong>baixo do centro de<br />
flutuação.
Figura 3.<br />
2.2 Resistência que Opõe a Água ao Avanço do Ser Humano<br />
Em Seu Interior<br />
A resistência é uma força com a mesma direção e sentido contrário ao<br />
avanço, de maneira que dificulta ou impede o deslocamento de um corpo no seio<br />
da água. Quando o nadador se desloca na água aparec<strong>em</strong> três tipos de<br />
resistências: resistência de forma, resistência por mar agitado e resistência por<br />
fricção.<br />
1. Resistência de forma ou pressão. É a mais importante das três e é devida a<br />
do que durante o nado se gera uma zona de alta pressão adiante do corpo e outra<br />
de baixa pressão por trás dele. Dito gradiente de pressões freia o avanço do<br />
corpo (figura 4). Isto é devido principalmente a que o água deixa de fluir<br />
laminarmente, aparecendo fluxos turbulentos.<br />
Figura 4.
Este tipo de resistência pode quantificar-se mediante a equação 3<br />
(formulada por Newton no s.XVIII), e que relaciona as diferentes variáveis que<br />
intervêm.<br />
Onde:<br />
S = superfície frontal de contato<br />
Cx = coeficiente de forma ou penetrabilidade<br />
V 2 = velocidade, elevada ao quadrado.<br />
p = densidade<br />
Ec. 3: Rde forma = ½ S Cx V 2 p<br />
Esta equação é adequada para medir a resistência passiva, isto é,<br />
quando o nadador mantém uma posição fixa e é arrastado por algum mecanismo.<br />
No entanto, durante o nado os nadadores continuamente mudam o alinhamento<br />
de seu corpo e as posições de seus m<strong>em</strong>bros inferiores e inferiores. Por isso,<br />
para medir a resistência ativa há que mudar “S” pela chamada área superficial<br />
corporal “A .”Com isto, o “Cx”se transforma no coeficiente de resistência ativa,<br />
“CDa” (este coeficiente se calcula a partir do denominado número de Froude. Em<br />
general, a maior número de Froude menor resistência ativa e vice-versa):<br />
Ec. 4: Ractiva = ½ S CDa V 2 p<br />
Dado que a densidade não pode modificar-se (só um pouco com a<br />
t<strong>em</strong>peratura) e a velocidade não interessa diminuí-la, senão tudo o contrário, para<br />
diminuir a resistência de forma há que tentar diminuir o coeficiente de resistência<br />
e a superfície frontal. Isto se consegue, basicamente, com um bom alinhamento<br />
do corpo, tal e como mostra a figura 5. Ad<strong>em</strong>ais, os nadadores pod<strong>em</strong><br />
experimentar certo nível de elevação “hidrodinámica”, o que diminui a superfície<br />
de choque com o água (TAKAGI & SANDERS, 2000). Do mesmo modo, um<br />
incr<strong>em</strong>ento da flutuação devido ao uso de trajes de neopreno pode diminuir a<br />
resistência nuns 15% (TOUSSAINT e cols. 1988). No dado oposto, um excessivo<br />
volume muscular pode ser contraproducente, já que aumenta a citada superfície<br />
frontal efetiva. Isto pode justificar o fato de que muitos nadadores pioram suas<br />
marcas depois de períodos de treinamento da força <strong>em</strong> seco: os ganhos <strong>em</strong> força<br />
não compensam o aumento de resistência associado ao incr<strong>em</strong>ento de volume<br />
muscular.<br />
Figura 5.
2. Resistência devida ao mar agitado. É um tipo de resistência que aparece<br />
quando um corpo se move na interfase da água e o ar, pelo que não existe nos<br />
deslocamentos subaquáticos. As velocidades baixas é pouco importante, mas a<br />
altas velocidades pode chegar a converter-se na resistência mais importante<br />
(KREIGHBAUM & BARTHELS, 1990). É devida ao choque do nadador com a<br />
massa de água das ondas que se formam como conseqüência de seu avanço e,<br />
especialmente, dos movimentos ascendentes-descendentes dos segmentos<br />
corporais.<br />
Durante o nado subaquático depois das saídas e as viradas, não<br />
aparece este tipo de resistência. Os estudos de LITTLE & BLANKSBY (2000)<br />
indicam que a profundidade ótima deve oscilar entre 0´35-0´45 metros. Por outro<br />
lado, os estudos do próprio BLANKSBY (2000), e de SHIMIZU e cols. (1997),<br />
d<strong>em</strong>onstram que a resistência ao avanço durante o nado subaquático diminui,<br />
somente, a velocidades superiores a 1,9 m/s.<br />
Aplicando a lei de ação-reação (terceira lei de Newton), ao chocar o<br />
corpo do nadador com as ondas, o água será deslocada para diante enquanto o<br />
nadador será deslocado para atrás. A perda <strong>em</strong> velocidade que experimentará o<br />
nadador será equivalente à quantidade por enquanto (P = m v) que este lhe<br />
aplique à massa de água que desloca para diante.<br />
Ao igual que ocorre com a resistência de forma, uma boa técnica<br />
diminui o mar agitado e, como conseqüência, a resistência associada ao mesmo.<br />
Assim, para dois grupos de nadadores com diferente nível técnico que nadam à<br />
mesma velocidade, o mar agitado é menor no grupo de maior nível técnico<br />
(TAKAMOTO, OHMICHI e MIYASHITA, 1985).<br />
Paradoxalmente, certo nível de mar agitado pode ser positivo no caso<br />
do estilo crawl, já que a depressão de água criada ao redor da cabeça facilita a<br />
respiração. A esta depressão de água se lhe denomina o “bolso de ar”, e é tanto<br />
maior quanta maior é a velocidade de nado.<br />
3. Resistência por fricção ou devida ao arraste viscoso (superficial). É a<br />
menos importante das três e, no entanto, é a que mais a revolucionado a estética<br />
dos nadadores; durante décadas ao incitar-lhes à depilación e, atualmente, ao<br />
desenvolver-se maiôs de corpo inteiro. Seu valor é dependente da quantidade de<br />
superfície <strong>em</strong> contato com o água, da viscosidade do água (que pode modificarse<br />
ligeiramente com a t<strong>em</strong>peratura), do coeficiente de fricção da pele, cabelo e<br />
maiô, e da velocidade de nado.<br />
Os atuais maiôs de pele de tubarão permit<strong>em</strong> diminuir a resistência por<br />
fricção <strong>em</strong> cerca de um 8%. Esta redução é devida ao “efeito Riblet”, isto é; a pele<br />
do tubarão dispõe de uns microscópicos dentículos (figura 6) que originam<br />
vórtices verticais ou espirais de água, que permit<strong>em</strong> manter esta cerca da<br />
superfície evitando assim a aparição de zonas de baixa pressão e fluxos<br />
turbulentos. A investigação e desenvolvimento da pele de Riblet foi levada a cabo<br />
no Langley Research Center da NASA na década dos 80, e posta <strong>em</strong> prática pela
primeira vez no barco “Varras e estrelas” que ganhou a Cópa América de 1987.<br />
Durante mais de uma década os pesquisadores tentaram aplicar ditos conceitos<br />
aos trajes de nado, mas só recent<strong>em</strong>ente se desenvolveram trajes realmente<br />
eficazes.<br />
2.3 Propulsão<br />
Figura 6.<br />
Na maioria de livros e artigos que tratam sobre o t<strong>em</strong>a, aceita-se que<br />
são dois as leis do movimento que justificam a propulsão dos nadadores: a lei de<br />
ação-reação e o teor<strong>em</strong>a de Bernouilli. No entanto, ainda existe certa controvérsia<br />
com respeito a sua contribuição, especialmente desde que <strong>em</strong> meados de 1980<br />
se postulou a possibilidade de gerar propulsão <strong>em</strong> base à formação de vórtices<br />
(COLWIN, 1984, 1985).<br />
Grande parte da investigação <strong>em</strong> <strong>biomecânica</strong> do nado da última<br />
década foi encaminhada a desvelar este probl<strong>em</strong>a (Arellano, 1996) mas ainda<br />
estamos longe de uma teoria unificada que explique a propulsão humana no meio<br />
aquático.<br />
A seguir se fará um breve repasso histórico de como foram surgindo as<br />
diferentes hipóteses citadas no parágrafo anterior.<br />
Até a década de 1960 não existia um suporte científico às diferentes<br />
técnicas natatórias, cada treinador tinha sua própria opinião baseada <strong>em</strong> sua<br />
experiência pessoal e <strong>em</strong> observação dos melhores nadadores. Em 1968 J.<br />
COUNSILMAN postulou que a propulsão gerada pelas mãos dos nadadores podia<br />
ser explicada mediante a lei de ação-reação (terceira lei de Newton). Segundo<br />
seus postulados a mão devia entrar na água com o cotovelo estendido, para<br />
posteriormente flexionar-se e voltar-se a estender. Desta maneira resultaria<br />
possível <strong>em</strong>purrar o água durante um maior percurso horizontal para atrás e, por<br />
reação, deslocar seu corpo para diante a maior velocidade. A aceitação desta<br />
teoria conhecida como teoria propulsiva de arraste, deu lugar à terminologia ainda<br />
hoje utilizada de:
Puxão: primeira metade da tração, quando o cotovelo se flexiona.<br />
Empuxo: segunda metade da tração, quando o cotovelo se estende.<br />
Assimilando a propulsão aquática à terrestre, postulou-se que a<br />
trajetória da mão devia ser retilínea (figura 7). No entanto, cedo resultou patente<br />
que os melhores nadadores não realizavam trajetórias retilíneas, senão que as<br />
mãos descreviam um padrões curvilíneos (figura 8). Não obstante, longe de<br />
revogar a propulsão mediante a lei de ação-reação, chegou à conclusão de que<br />
esta trajetória permitia <strong>em</strong>purrar melhor o água para atrás devido a do que as<br />
mudanças de trajetória da mão permitiam ao nadador “apoiar-se <strong>em</strong> águas<br />
quietas”: uma vez o água é acelerada para detrás, adquire momento linear<br />
(quantidade de movimento; P = massa x velocidade) de maneira que seguir<br />
acelerando-a resulta tanto mais difícil quanto maior é sua velocidade, portanto, ao<br />
modificar a trajetória da mão se consegue mover águas que não possu<strong>em</strong><br />
momento linear (águas quietas = s<strong>em</strong> momento linear).<br />
Figura 7.<br />
Figura 8.<br />
Até ditas datas todos os estudos relativos à propulsão se tinham<br />
realizado tomando como sist<strong>em</strong>a de referência o corpo do nadador, o que se<br />
conhece como um sist<strong>em</strong>a de referência local, isto é, que se representa a<br />
trajetória da mão <strong>em</strong> relação a um sist<strong>em</strong>a de referência móvel. No ano 1971<br />
BROWN e COUNSILMAN publicam os resultados do primeiro estudo utilizando<br />
um sist<strong>em</strong>a de referência inercial ou fixo. Este estudo é considerado, <strong>em</strong> palavras<br />
de MAGLISCHO (1993) como “a mais importante contribuição à <strong>biomecânica</strong> da
<strong>natação</strong> até a década dos 70”. Neste clássico estudo se filmaram mediante<br />
técnicas de fotogrametría estroboscópica nadadores que portavam luzes <strong>em</strong> suas<br />
mãos numa piscina escura. Os resultados foram surpreendentes: as trajetórias<br />
descritas pelas mãos tinham um componente mais vertical e/ou lateral que<br />
horizontal para atrás. Em outras palavras, os nadadores se propulsam utilizando<br />
movimentos de zingladura nos que os movimentos da mão para acima-abaixo e<br />
para dentro-fora são mais importantes do que os movimentos para atrás.<br />
Estes resultados contradiziam a teoria até a data aceitada, já que o<br />
movimento para atrás da mão não é o movimento mais significativo durante a<br />
tração subacuática. BROWN e COUNSILMAN postularam que os movimentos<br />
curvilíneos ou de zingladura eram propulsivos devido a que geravam a<br />
denominada força de elevação ou sustentação cuja geração se explicaria pelo<br />
denominado teor<strong>em</strong>a de Bernouilli: “a velocidade das partículas de um fluido e a<br />
pressão que estas exerc<strong>em</strong> lateralmente, são valores inversamente proporcionais,<br />
isto é, que sua soma tende a permanecer constante”. Este princípio de Bernouilli ,<br />
indica que quando aumenta a velocidade do fluido a pressão que dito fluido<br />
exerce diminui e vice-versa. Conseqüent<strong>em</strong>ente o gradiente de pressões que se<br />
gera, cria uma força ascensional ou de sustentação. A força de sustentação é<br />
evidente quando o sólido que viaja através do fluido apresenta um perfil<br />
assimétrico, como a asa de um avião ou a de um pássaro (figura 9).<br />
Figura 9.<br />
Este teoria adquiriu grande aceitação nas décadas dos 70 e 80, de<br />
maneira que a força propulsiva seria a soma de dois componentes; o componente<br />
da força de arraste e o componente da força de sustentação. Assim, a força<br />
produzida pela mão dos nadadores se podia determinar segundo indica a<br />
equação 5:<br />
Onde:<br />
CL = coeficiente de sustentação<br />
CD = coeficiente de arraste<br />
S = superfície frontal de contato<br />
V 2 = velocidade, elevada ao quadrado<br />
p = densidade<br />
Ec. 5: Fhidrodinámica = ½ (CL + CD ) S V 2 p<br />
Em 1977 R. SCHLEIHAUF realizou uma réplica <strong>em</strong> plástico da mão e a<br />
introduziu num canal de água que se deslocava a velocidade conhecida, medindo
desta maneira os valores da força de arraste e a força de sustentação <strong>em</strong> função<br />
do ângulo de ataque da mão e da velocidade do água (figura 10). Ditos estudos<br />
foram replicados por Berger e cols. (1995), quase duas décadas depois, com<br />
resultados similares.<br />
Figura 10: Resultados obtidos nos estudos de Schleihauf (1979) para determinar os valores dos<br />
coeficientes de sustentação (lift) e de arraste (drag).<br />
Em meados da década dos 80 aparece uma nova perspectiva no<br />
estudo da propulsão humana no água que recebe o nome de hipótese “<br />
propulsiva dos vórtices” (COLWIN, C. 1984; 1985a). Surge como conseqüência<br />
do estudo do nado dos peixes e das correntes de água que são geradas durante<br />
os movimentos propulsivos, e é a primeira vez que se aplicam conhecimentos de<br />
dinâmica de fluidos para explicar a propulsão humana durante o nado. Os vórtices<br />
surg<strong>em</strong> como conseqüência do princípio de conservação do momento e como<br />
conseqüência do gradiente de velocidades (e pressões) ao redor de um<br />
determinado perfil segundo indica o teor<strong>em</strong>a de Bernouilli. A figura 11 mostra as<br />
ilustrações realizadas pelo próprio Colwin para indicar como se formam os<br />
vórtices.<br />
Figura 11.
3 INSTRUMENTAL DE MEDIDA PARA A ANÁLISE E A<br />
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE NATATÓRIA<br />
Tradicionalmente, as ferramentas ou instrumental de medida que a<br />
Biomecânica Desportiva contribui para a <strong>análise</strong> e avaliação das práticas físicodesportivas<br />
se classificam <strong>em</strong> dois grandes grupos (BRIZUELA e PLANA, 1997):<br />
- Ferramentas para a <strong>análise</strong> cin<strong>em</strong>ático do movimento<br />
- Ferramentas para a <strong>análise</strong> cinética do movimento<br />
3.1 Ferramentas para a Análise Cin<strong>em</strong>ático do Movimento<br />
O instrumental para <strong>análise</strong> cin<strong>em</strong>ática oferece informação sobre o<br />
movimento para uma <strong>análise</strong> descritiva do mesmo, s<strong>em</strong> ter <strong>em</strong> consideração as<br />
forças que originam o movimento. Os dados contribuídos por este grupo de<br />
ferramentas se expressam <strong>em</strong> termos de deslocamentos, velocidades e<br />
acelerações lineares e/ou angulares.<br />
Dentro deste grupo, aparec<strong>em</strong> vários tipos de ferramentas:<br />
- Goniômetros para medir ângulos entre segmentos articulados.<br />
- Acelerômetros para medir acelerações, geralmente usados <strong>em</strong><br />
impactos<br />
- Fotocélulas e plataformas de contato para medir t<strong>em</strong>pos parciais ou<br />
de vôo.<br />
- Câmaras de vídeo para <strong>análise</strong>s qualitativas e quantitativos da<br />
atividade desportiva.<br />
- Cabo-velocímetro: se explicará na conferência do Dr. Víctor Tella<br />
Muñoz<br />
- Outros.<br />
De entre todos eles, tão só as câmaras de vídeo (também de cin<strong>em</strong>a,<br />
mas na atualidade cada vez menos) são profusamente usadas na <strong>análise</strong><br />
t<strong>em</strong>porária e da técnica natatoria. Falar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> primeiro lugar do estudo da<br />
técnica de nado e, <strong>em</strong> segundo lugar, dos sist<strong>em</strong>as de <strong>análise</strong> t<strong>em</strong>porária.<br />
ANÁLISE DA TÉCNICA DE NADO.<br />
Até a década de 1980, os dados e referências que se dispunham para<br />
explicar e justificar os movimentos técnicos dos nadadores eram<br />
fundamentalmente qualitativos. Com motivo dos JJOO de Los Angeles <strong>em</strong> 1984<br />
realizou-se uma exaustiva <strong>análise</strong> da técnica dos nadadores da equipe americana<br />
concentrado <strong>em</strong> Pau Alto (California). Dito estudo correu a cargo uma equipe<br />
liderada por Schleihauf, onde figuravam alguns dos mais reputados especialistas<br />
tanto <strong>em</strong> <strong>natação</strong>, como Ernest Maglischo, como <strong>em</strong> Biomecânica Desportiva,<br />
como o espanhol Jesús Dapena.
Dito estudo se realizou com câmaras de cin<strong>em</strong>a, mas a metodologia<br />
utilizada é similar à atualmente <strong>em</strong> vigor, e que se explica a seguir. Em <strong>natação</strong>, a<br />
trajetória dos diferentes segmentos corporais, e fundamentalmente as mãos,<br />
ocorre <strong>em</strong> mais de um plano. Com o objeto de poder realizar <strong>análise</strong>s<br />
tridimensionais (3D), requer-se um mínimo de 2 câmaras para ver os movimentos<br />
subaquáticos, e outras duas para ver os movimentos aéreos. Estas câmaras têm<br />
de situar-se de maneira que <strong>em</strong> todo momento se observ<strong>em</strong> os pontos<br />
anatômicos de interesse durante a filmag<strong>em</strong>, pelo que geralmente se localizam<br />
formando um ângulo de 70-90º entre si.<br />
Nestes estudos, denominados de fotogrametría (medida da informação<br />
contida <strong>em</strong> fotogramas), o corpo humano (ou uma porção deste) t<strong>em</strong> de ser<br />
simplificado a um modelo de segmentos articulados entre si delimitados por<br />
referências externas (marcadores) que determinam os segmentos do corpo<br />
humano que interessa estudar (figura 12). Estes marcadores permit<strong>em</strong>, uma vez<br />
digitalizada a filmag<strong>em</strong>, criar sist<strong>em</strong>as de coordenadas locais <strong>em</strong> cada segmento,<br />
com o que se pod<strong>em</strong> conhecer suas posições relativas, isto é, os ângulos<br />
formados entre os segmentos. Por ex<strong>em</strong>plo, que no instante de t<strong>em</strong>po 0 (início da<br />
digitalização) o ângulo formado entre o antebraço e o braço seja de 90º, e no<br />
instante de t<strong>em</strong>po 0´5 (meio segundo depois) seja de 175º.<br />
Figura 12: Modelo “alámbrico” de 14 segmentos do corpo humano utilizado por Cappaert e cols<br />
(1996) para a <strong>análise</strong> da técnica de nado no Campeonato do Mundo de 1991 e nos JJOO de 1992.<br />
Antecipadamente à filmag<strong>em</strong> das cenas de estudo, t<strong>em</strong> de filmar-se um<br />
sist<strong>em</strong>a de referência (SR), isto é, há que filmar uma estrutura de dimensões<br />
conhecidas (geralmente de características cúbicas), que determina o volume<br />
espacial no que se t<strong>em</strong> de realizar o movimento de estudo. Depois de filmar as<br />
cenas nas duas câmaras de vídeo se digitalizam os resultados de maneira<br />
independente, isto é, que se obtêm as coordenadas planas (2D) de cada uma das<br />
câmaras. No caso do nado, a digitalização t<strong>em</strong> de ser manual, o que enlentece e<br />
faz muito laborioso o trabalho. Depois da digitalização se obtêm duas matrizes de<br />
coordenadas planas que se combinam para obter as coordenadas tridimensionais<br />
<strong>em</strong> função do t<strong>em</strong>po de cada marcador do modelo de corpo humano utilizado.<br />
Esta combinação se realiza mediante uns algoritmos denominados DLT ou<br />
transformação linear direta (Abdel-Aziz e Karara, 1971). Posteriormente, as<br />
gráficas t<strong>em</strong>porais são suavizadas mediante filtros digitais ou mediante funções
“spline” com o propósito de reduzir o erro associado ao processo de digitalização.<br />
Finalmente, das gráficas das funções t<strong>em</strong>porárias das variáveis cin<strong>em</strong>áticas<br />
suavizadas se extra<strong>em</strong> os parâmetros de interesse com os que se realizará o<br />
tratamento estatístico oportuno. A figura 13 mostra um ex<strong>em</strong>plo de resultados<br />
utilizando esta metodologia (Sanders, 1996). Pode observar-se o modelo<br />
utilizado, b<strong>em</strong> como os ângulos de tronco e de quadril durante um ciclo de nado<br />
<strong>em</strong> estilo braça.<br />
Figura 13: Comparação entre os ângulos de tronco e quadril para a braça ondulatória (aporta) e a<br />
braça plana (abaixo). Sandres, 1996.<br />
Desta maneira, Schleihauf e cols. (1986) obtiveram as primeiras<br />
gráficas válidas, fiáveis e precisas das trajetórias das mãos durante o nado dos 4<br />
estilos competitivos. Ditas gráficas foram profusamente reproduzidas, as figuras<br />
14, 15, 16 e 17 mostram algumas de ditas gráficas extraídas do livro “Swimming<br />
even faster” de E. Maglischo (1993).
Figura 14. Velocidade de tração das mãos e velocidade de avanço do corpo para o estilo crawl.<br />
Maglischo, 1993.<br />
Figura 15. Velocidade de tração das mãos e velocidade de avanço do corpo para o estilo<br />
borboleta. Maglischo, 1993.<br />
Figura 16. Velocidade de tração das mãos e velocidade de avanço do corpo para o estilo costas.<br />
Maglischo, 1993.
Figura 17. Velocidade de tração das mãos e velocidade de avanço do corpo para o estilo braça.<br />
Maglischo, 1993.<br />
Este tipo de estudos requer<strong>em</strong> de um instrumental e de um pessoal de<br />
laboratório altamente qualificado, pelo que estão ao alcance exclusivamente de<br />
Centros de Alto Rendimento Desportivo ou de Faculdades.<br />
SISTEMA DE ANÁLISE TEMPORÁRIA EM NATAÇÃO (TSAS).<br />
Foram Absaliamov & Timakovoy (1983) os primeiros <strong>em</strong> utilizar o termo<br />
“<strong>análise</strong> da atividade competitiva” para apresentar os resultados dos JJOO de<br />
Moscou 1980. Na atualidade, dito método é amplamente utilizado <strong>em</strong> muitos<br />
países <strong>em</strong> seus campeonatos nacionais e, por seu posto, na LEN, a FINA e o COI<br />
permit<strong>em</strong> desde faz umas duas décadas que grupos de pesquisadores realiz<strong>em</strong><br />
ditas <strong>análise</strong>s nos campeonatos por eles organizados.<br />
Dita <strong>análise</strong> se fundamenta num modelo de rendimento no que o t<strong>em</strong>po<br />
total de nado se divide <strong>em</strong> trechos mais curtos, tal e como se indica a seguir:<br />
Para poder realizar estes estudos é necessário localizar 2 ou 3<br />
câmaras de vídeo perpendiculares às ruas da piscina e a uma distância que o<br />
plano de filmag<strong>em</strong> registre todo o nado. A figura 18 mostra um ex<strong>em</strong>plo de um<br />
destes Sist<strong>em</strong>as de Análise T<strong>em</strong>porária <strong>em</strong> Natação (TSAS).
Figura 18. TSAS para piscina de 50m proposto por Arellano (1993).<br />
Com estes sist<strong>em</strong>as se obtêm resultados como os indicados na tabela<br />
1. A <strong>análise</strong> de ditos dados revela como o melhor t<strong>em</strong>po de M. Foster se<br />
fundamenta numa excepcional saída e uma boa virada, enquanto seu t<strong>em</strong>po de<br />
chegada é o pior de todos os competidores no Campeonato de Europa <strong>em</strong><br />
Piscina Curta celebrado <strong>em</strong> Valencia <strong>em</strong> 2000. O espanhol J.L. Uribarri destaca<br />
por ter a melhor virag<strong>em</strong> de todos.<br />
Tabela 1. Análise t<strong>em</strong>porária da prova de 50 borboleta nos Campeonatos de<br />
Europa <strong>em</strong> Piscina Curta celebrados <strong>em</strong> Valencia, 2000. (http://swim.ee).<br />
A figura 19 mostra o “teste de 50m + virag<strong>em</strong>” desenvolvida no CAR de<br />
Serra Nevada sob a direção do Dr. Raúl Arellano. Este é um ex<strong>em</strong>plo de como os<br />
TSAS permit<strong>em</strong> realizar estudos detalhados do rendimento <strong>em</strong> <strong>natação</strong>.
Figura 19. Relatório completo do teste 50m + virag<strong>em</strong>. García e cols. 2001.<br />
3.2 Ferramentas Para A Análise Cinética Do Movimento<br />
As ferramentas para a <strong>análise</strong> cinética permit<strong>em</strong> obter informação<br />
sobre os ônus mecânicos que geram o movimento. Este instrumental permite o<br />
registo de forças, momentos (torques) e pressões actuantes sobre o corpo<br />
humano <strong>em</strong> sua interação com o meio.<br />
Dentro deste grupo, encontramos os seguintes tipos de ferramentas:<br />
- Medição de forças: transdutores de deformação (geralmente galgas<br />
extensométricas), células de ônus e plataformas dinamométricas.<br />
- Medição de pressões: pequenos transdutores presurométricos<br />
(geralmente piezoeléctricos) introduzidos <strong>em</strong> estruturas rígidas,
como plataformas, ou <strong>em</strong> superfícies flexíveis, como planilhas ou<br />
luvas.<br />
De entre todos estes, os mais utilizados <strong>em</strong> <strong>natação</strong> são as plataformas<br />
dinamométricas, as células de ônus e as luvas instrumentadas.<br />
PLATAFORMAS DINAMOMÉTRICAS (Ou DE FORÇA)<br />
As plataformas dinamométricas são, possivelmente, a ferramenta mais<br />
utilizada no âmbito da Biomecânica Desportiva. Permite registrar as forças de<br />
reação durante a interação do desportista, geralmente seus pés, com superfícies<br />
sólidas, geralmente o solo. Trata-se de estruturas sólidas e pesadas, e que têm<br />
de fixar-se solidamente ao solo, pelo que se requer que o laboratório ou zona de<br />
uso esteja preparado para isso (figura 20).<br />
Figura 20: Duas plataformas, com sensores de tipo extensométricos, utilizadas para o registo de<br />
forças de reação no laboratório do INEF de León (Aguado e cols. 1997). Observe-se a infraestrutura<br />
necessária para sua correta fixação ao solo.<br />
No caso da <strong>natação</strong>, utilizam-se para avaliar a eficiência da impulsão<br />
durante a saída e durante a virada, quando os pés estão <strong>em</strong> contato com o<br />
poyete e com a parede respectivamente. Para poder colocar a plataforma no<br />
poyete ou na parede da piscina, é necessário preparar a instalação: no caso do<br />
poyete se deve extrair a parte superior do mesmo e introduzir uns ancoragens<br />
desenhados especialmente (figura 21), mas no caso das viradas é necessário<br />
realizar operações de alvenaria, o que dificulta enorm<strong>em</strong>ente a possibilidade de<br />
seu uso (<strong>em</strong> Espanha não exist<strong>em</strong> instalações preparadas para este último caso).<br />
Figura 21: Plataforma, com sensores de tipo piezoeléctricos, atualmente utilizada no CAR de<br />
Sierra Nevada (García e cols. 2001). Pode observar-se os ancoragens necessários para sua<br />
correta fixação.
A plataforma registra as forças nas três direções do espaço:<br />
mediolateral ou eixo x, anteroposterior ou eixo e, e vertical ou eixo z (figura 22).<br />
No caso das saídas os critérios de eficácia são:<br />
- que as forças anteroposteriores (eixo e) sejam máximas.<br />
- que as forças verticais (eixo z) não ultrapass<strong>em</strong> <strong>em</strong> mais de um 25%<br />
a força peso do nadador<br />
- que as forças mediolaterales (eixo x) sejam nulas.<br />
Figura 22: Registo das forças vertical (azul) e anteroposterior (verde) durante uma saída. Em<br />
vermelho aparece o pulso do sinal de saída (García e cols. 2001).<br />
CÉLULAS DE CARGA<br />
As células de carga são captadores unidirecionais baseados<br />
geralmente <strong>em</strong> transdutores extensométricos. Atualmente, exist<strong>em</strong> células de<br />
ônus comerciais que permit<strong>em</strong> registrar tanto tração como compressão. No caso<br />
da <strong>natação</strong> foram profusamente utilizadas para medir a “força de arraste”, isto é, a<br />
força que aplica o nadador estando atado com um cinto a um cabo ou borracha<br />
conectada com a célula de ônus (figura 23).<br />
Figura 23: Nadador “atado” com um cabo a uma célula de carga.<br />
A união do nadador à célula de ônus pode ser mediante um cabo<br />
inextensible ou mediante borrachas elásticas. O cabo inextensible t<strong>em</strong> a<br />
vantag<strong>em</strong> de não se deformar, pelo que a força aplicada se transmite<br />
integralmente à célula. No entanto, t<strong>em</strong> o grande inconveniente de gerar um<br />
retrocesso do nadador, ou ao menos uma diminuição na tensão do cabo, durante<br />
as fases de menor propulsão, o que ocasiona a aparição de forças de impacto<br />
cada vez que o cabo se volta a tensionar. Deste modo, este método de avaliação<br />
da força é dificilmente aplicável a situações de nado com pouca continuidade<br />
propulsiva (braça, borboleta, nadadores descapacitados, só braços, etc.).
Uma alternativa à medição com cabo de aço são as borrachas<br />
cirúrgicas (Arellano, 1992; Platonov, 1988; Keskinen, Tilli e Komi, 1989)<br />
previamente calibradas. Este el<strong>em</strong>ento permite o avanço do nadador enquanto se<br />
mede sua força propulsiva e evita a geração de forças de impacto (figura 24).<br />
Figura 24: Registos com cabo (vermelho), e duas borrachas de diferente resistência (azul e verde).<br />
Observe-se os bicos e vales que aparec<strong>em</strong> ao registrar com cabo.<br />
O uso de borrachas permite, ad<strong>em</strong>ais, o cálculo de outras variáveis<br />
biomecánicas de interesse. Devido a que previamente se calibraram, pode-se<br />
calcular o avanço do nadador. Com isto e com o t<strong>em</strong>po se calcula a velocidade de<br />
nado e, o que é mais importante, com a velocidade e a força registrada se pode<br />
calcular a potência desenvolvida pelo nadador (figura 25).<br />
Figura 25: Gráfica de força, posição (avanço), potência e velocidade de nado com borracha e<br />
célula de ônus (Brizuela e cols., 2000).<br />
LUVAS INSTRUMENTADAS<br />
A propulsão gerada pelos m<strong>em</strong>bros superiores é a principal<br />
responsável do avanço do nadador durante o nado (a exceção da braça). A força<br />
propulsiva gerada pelas mãos v<strong>em</strong> definida pela equação nº 5 da página 14, mas<br />
dita equação só permite cálculos aproximados. Ad<strong>em</strong>ais, os estudos de<br />
Schleihauf (1979) e os de Berger e cols. (1995) utilizaram um modelo de mão que<br />
introduziam <strong>em</strong> canais de água para determinar os valores de força.<br />
Uma aproximação b<strong>em</strong> mais real é a levada a cabo por Takagi &<br />
Wilson (1999) utilizando uma luva instrumentada com transdutores na palma e no<br />
dorso (figura 26). Ditos transdutores permit<strong>em</strong> registrar o componente
perpendicular da força hidrodinámica. Os resultados obtidos ao medir a braçada<br />
de crawl (figura 27), mostram como a maior parte da força se produz para o final<br />
da braçada, quando o nadador realiza os varridos para adentro e para acima.<br />
Figura 26: Fotografia e esqu<strong>em</strong>a da luva instrumentada com 8 transdutores de pressão utilizado<br />
para medir a força hidrodinámica durante o nado real ( Takagi & Wilson, 1999).<br />
Figura 27: Gráfica da força hidrodinámica atuando sobre a mão durante cinco ciclos de crol. As<br />
figuras de acima indicam os diferentes instantes da braçada (Takagi & Wilson, 1999).<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
Abdel-Aziz, E.I.; Karara, H.M. (1971). Direct linear transformation from comparator<br />
coordinates into objectspace coordinates in close range photogrammetry. Em<br />
American Society of photogrametry: Simposium on close range photogrametry.<br />
Arellano, R. (1992). Avaliação da força propulsiva <strong>em</strong> <strong>natação</strong> e sua relação com<br />
o treinamento e a técnica (Tese doutoral). Universidade de Granada, Instituto<br />
Nacional de Educação Física. Granada.
Berger, M.A.m.; Groot, G.; Hollander, A.P. (1995). Hydrodinamic drag and lift<br />
forces on human hand/arm models. Journal of Biomechanics. 28. 125-133.<br />
Blanksby, B. (1999). Gaining on turns. www.education.ed.ac.uk/swim/bb.html<br />
A <strong>análise</strong> biomecánico <strong>em</strong> <strong>natação</strong>. Dr. Salvador Plana Belloch<br />
Hopper, R.T. (1983) Measur<strong>em</strong>ent of power delivered to an external weight. Em:<br />
Hollander, A.P. (Edit.) Biomechanics and Medicine in Swimming. Human Kinetics,<br />
Champaign, Illinois: 113-119.<br />
Keskinen, K.; Tilli, L.; Komi, P.V. (1989) Maximun velocity swimming:<br />
Interrelationships of stroking characteristics, force production and anthropometric<br />
variáveis. Scand. J. Sports Sci. 11, 2: 87-92.<br />
Little, A.; Blanksby, B. (2000). A look at gliding and underwater kicking in the swim<br />
turn. www.education.ed.ac.uk/swim/bb.html<br />
Magel, J.R. (1970) Propelling force measured during tehtered swimming in the<br />
four competitive swimming styles. The Research Quaterly 41, 1: 69-74.<br />
Navarro, F.; Arellano, R.; Carneiro, C.; Gozálvez, M. (1990) Natação. Comitê<br />
Olímpico Espanhol.<br />
Platonov, V.N. (1988) L’Entrain<strong>em</strong>ent Sportif. Revue EPS, Paris.<br />
Sanders, R.H. (1999). Hydrodynamic characteristics of a swimmer´s hand. Journal<br />
of Applied Bimechanics. 15. 3-26.<br />
Schleihauf, R.E. (1979) A hydrodinamical analysis of swimming propulsion. Em: T.<br />
Bedingfield (Edit.) Swimmnig III. Third International Symposium of Biomechanics<br />
in Swimming. Baltimore, Maryland. University Press: 70-109.<br />
Takagi, H.; Wilson, B. (1999). Calculating hydrodydamic force by using pressure<br />
differences in swimming. Biomechanics and Medicine in Swimming VIII. 101-106.<br />
Zatsiorski, V.M.; Safarian, I.G. (1972) Exame dos fatores para determinar a<br />
velocidade máxima <strong>em</strong> estilo livre. Theorie und praxe der korperkultur (Traduzido<br />
por Centro de Investigação Documentação e Informação, INEF-Madri) 21, 8: 1-25
ÍNDICE<br />
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1<br />
2 CONCEITOS BIOMECÂNICOS BÁSICOS DO NADO.................................... 1<br />
2.1 Flutuação ................................................................................................. 3<br />
2.2 Resistência que Opõe a Água ao Avanço do Ser Humano Em Seu<br />
Interior................................................................................................................. 5<br />
2.3 Propulsão................................................................................................. 8<br />
3 INSTRUMENTAL DE MEDIDA PARA A ANÁLISE E A AVALIAÇÃO DA<br />
ATIVIDADE NATATÓRIA..................................................................................... 12<br />
3.1 Ferramentas para a Análise Cin<strong>em</strong>ático do Movimento......................... 12<br />
3.2 Ferramentas Para A Análise Cinética Do Movimento ............................ 18<br />
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 22