Miguel Ângelo - Jaba

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Uma cena comovente
A existência do pintor, tão intensa como
a sua obra, terminou precocemente aos
33 anos, devido a um acidente equestre.
Fruto da sua complexa personalidade e da
sua apaixonada busca pela justiça, bem
como do seu sentido humanitário, a sua
arte combinou o realismo e o romantismo
com um resultado monumental. O
naufrágio do navio francês, provocado
pela negligência, ignorância e cobardia
dos oficiais, que preferiram salvar as suas
vidas antes que a do resto dos tripulantes
e passageiros, tornou-se uma verdadeira
obsessão para o pintor. Dia após dia seguiu
os acontecimentos através dos jornais e
manteve-se informado até aos mais ínfimos
detalhes. Para reproduzir a tragédia
do Medusa com absoluta veracidade,
interrogou os sobreviventes, construiu na
sua oficina uma cópia da balsa em tamanho
real e inclusivamente examinou cadáveres
na morgue para evitar erros anatómicos.
Com essa sólida documentação, elaborou
uma cena sombria e esmagadora que seria
a sua forma de protesto artístico contra a
crueldade humana.
Entre a esperança e o desalento
A descrição detalhada que o artista faz
do estado dos cadáveres e da agonia dos
sobreviventes, é forçada por uma paleta de
tons escuros e uma composição baseada em
duas pirâmides que se tocam. A pirâmide da
esquerda é formada pela vela ao vento, pelos
moribundos e pelos que perderam toda a
esperança de viver, como o homem que
tem o rosto apoiado sobre uma mão e olha
em sentido contrário à restante tripulação,
enquanto com a outra segura um cadáver. A
pirâmide da direita, coroada por um homem
de pele escura que agita um pano vermelho
ao vento para chamar a atenção da fragata
salvadora, é integrada por todos os que
ainda acreditam na salvação e se balançam
sobre a proa desesperados, ansiosos e,
ao mesmo tempo, aterrorizados com a
possibilidade de que o barco que se avista
no horizonte os perca de vista.