Miguel Ângelo - Jaba

Desagrado pelo paladar
Atento observador do comportamento
das pessoas ao seu redor, Brouwer foi
reconhecido no seu tempo como um
maestro da emoção, inigualável na
sua capacidade de imprimir nas suas
personagens expressões faciais e corporais
realistas e convincentes. Sem desperdiçar
recursos, nem tinta, captou o amplo
espectro de percepções sensoriais em cada
Verdade difícil de engolir
Considerado pelos seus contemporâneos
como um artista genial, a sua obra foi
venerada por Rubens e Rembrandt,
que disputaram a posse dos seus
quadros. No entanto, a sua inclinação
para cenas vulgares não deixou os seus
contemporâneos mais refinados indiferentes,
que não partilharam o entusiasmo de
Brouwer pelas personagens populares nem
o seu profundo conhecimento das verdades
momento da vida, revelando através das
sensações físicas a essência da condição
humana. Sem dificuldade, transitou entre
o prazer alegre, a calma, o desagrado e a
dor, centrando a atenção do espectador
em gestos e atitudes reveladoras. O Sabor
Amargo é um exemplo magistral deste
talento do artista: cada um dos músculos
do rosto da personagem principal faz
parte do desgosto que acaba de sofrer
com o paladar.
Registou os costumes, dicas
e sabores quotidianos dos
camponeses e do povo
holandês de classe baixa.
humanas ocultas em tabernas sombrias e
em sujeitos desgrenhados, de indumentária
simples e reputação duvidosa. Esse foi o
caso do protagonista de O Sabor Amargo.
Retratado sem sentimentalismos, de nariz
largo e grosso, cabelo desalinhado, barba por
fazer e poucos dentes, que não reprime um
gesto grotesco depois de cuspir a mistura
que esteve a ponto de engolir. Despojada de
todo o romantismo, a cena é convincente e
atractiva para qualquer pessoa que a olhe
por um prisma meramente humano.