Miguel Ângelo - Jaba

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14 Mathis Grünewald e A Crucificação Cena bíblica clássica onde o sofrimento adquire um tom hiper-realista Entre o humano e o divino A crucificação, o painel central do retábulo de Isenheim, denuncia o tormento na cruz com um realismo sem precedentes. O corpo retorcido de Jesus Cristo, a expressão do seu rosto e das suas mãos crispadas, desproporcionadamente grandes em relação ao seu corpo, evidenciam um transe doloroso e violento. O sangue que visível nas suas costas e o que corre por debaixo dos seus pés contrasta com o tom mordaz do seu corpo moribundo. No seu flanco direito, Maria Madalena levanta as mãos em sinal de oração, enquanto a Virgem Maria, pálida e prestes a desfalecer é apoiada pelo Apóstolo João. À sua esquerda, João Baptista e o cordeiro de Deus fazem frente ao drama humano da cena, ressalvando a natureza divina do crucificado. A sua serenidade alenta a esperança da salvação da alma e segue a doutrina da igreja, representada pelas palavras do Evangelho de São João: “Ele deve crescer, mas eu devo diminuir”.
Cristo leproso Ainda que o seu verdadeiro nome fosse Mathis Gothart Niethart, o artista passou para a história como Grünewald. Da sua vida não se sabe muito, excepto que foi colaborador directo do bispo de Mainz e pintor da corte do Príncipe Albrecht de Brandenburgo. A sua especialidade, pela qual ficou especialmente conhecido nos círculos da nobreza e da alta burguesia, foram os retratos e especialmente os retábulos religiosos. O retábulo de Isenheim, considerado a sua obra-prima que demorou cerca de quatro anos a terminar, foi pintado para ornamentar o hospital do mosteiro de Santo António, em Alsácia. O seu propósito era confortar os doentes de lepra que ocupavam o estabelecimento, pressagiando uma cura milagrosa. Dos onze corpos que compõem o retábulo, A crucificação é o mais cru, realista e, por vezes, o que mais identifica os pacientes com Jesus. O Crucificado de Grünewald não só está a padecer de uma cruel e prolongada agonia, como também sofre de lepra: a evidência médica está nas pústulas verdes que cobrem toda a sua pele. Demonstração de dor Ainda que a sua arte tenha nascido em pleno Renascimento alemão, ao mesmo tempo que Alberto Durero e Lucas Cranach, entre a sua obra e a dos seus contemporâneos há uma diferença abismal. Alheio à visão antropocêntrica e idealista do Renascimento, bem como à sua paleta luminosa e aos seus rostos plácidos, optou por uma arte que demonstra dor física e espiritual. Fervorosamente religioso, Grünewald viu na arte um meio para evangelizar e proclamar as verdades da Igreja, muitos mais do que uma forma de busca dos segredos ocultos da beleza. A sua identificação com os estilos da arte medieval, especialmente o gótico, reflectese claramente na obra A Crucificação. O fundo escuro em contraste com as cores fortes do primeiro plano, assim como o tamanho exagerado da figura de Jesus em comparação com as personagens à sua volta dão um tom angustiante à cena e sugerem que o mundo é um imenso espaço de dor e desolação, onde não existe outro consolo para além da fé. A sua obra sugere que o mundo é um imenso espaço de dor e desolação, onde não existe outro consolo para além da fé. 15
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