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Miguel Ângelo - Jaba

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Sofrimento sem tragédia<br />

A Virgem mostra uma<br />

expressão serena,<br />

que restringe<br />

a terrível dor<br />

interna que a<br />

oprime.<br />

Mesmo trabalhando com todo o vigor<br />

e ousadia da juventude, o génio<br />

renascentista demorou dois anos a terminar<br />

a escultura. Sendo profundamente cristão,<br />

teve o cuidado de que Maria brilhasse<br />

eternamente jovem e cândida para destacar<br />

a sua “virgindade e pureza perpétuas”.<br />

Ao contrário de representações anteriores,<br />

em que Jesus Cristo parece oprimir<br />

ligeiramente o corpo de sua mãe, A Piedade<br />

de Michel <strong>Ângelo</strong>, mostra um equilíbrio<br />

perfeito entre as duas figuras, embutido<br />

numa estrutura piramidal definida pelo<br />

corpo e pelas dobras do manto de Maria.<br />

O objectivo do artista era reforçar o<br />

envolvimento psicológico do espectador com<br />

uma cena emocionante, mas não trágica.<br />

Com os olhos semicerrados, a Virgem desvia<br />

o olhar do corpo prostrado de seu filho para<br />

orientá-lo para si mesma mostrando assim,<br />

aos olhos do observador, os seus sentimentos<br />

de compaixão de mãe que humildemente se<br />

submete à vontade de Deus.<br />

Em carne e osso<br />

O espírito renascentista do escultor<br />

manifesta-se na forma como mostra duas<br />

pessoas reais, de carne e osso, próximas<br />

e tangíveis. Na busca do volume ideal,<br />

<strong>Miguel</strong> <strong>Ângelo</strong> deu rédea solta à atitude<br />

interior que os críticos chamaram de “La<br />

terribilitá” do artista: uma expressão<br />

avassaladora de sentimentos.<br />

Dono de um génio temperamental, poucos<br />

dias depois de A Piedade ter sido colocada<br />

num local público, o artista ouviu um<br />

peregrino comentar que a obra havia<br />

sido criada por um certo Cristoforo Solari<br />

de Lombardia. A sua ira foi tão grande<br />

que, nessa mesma noite ele esculpiu<br />

com o cinzel nas vestes da Virgem, uma<br />

expressão latina que dissiparia para<br />

sempre qualquer dúvida: “Michelangelo<br />

Buonarroti, de Florença, fez isto”.<br />

Colocava essa mesma paixão na sua obra,<br />

exigindo-lhe perfeição e vitalidade. Queria<br />

com cada golpe titânico do cinzel e do<br />

martelo fazer emergir “o ser escultórico”<br />

oculto entre as veias do mármore.<br />

Procurava um resultado perfeito com uma<br />

energia que às vezes derivava em fúria, não<br />

tendo qualquer receio de destruí-lo. Não<br />

suportava os trabalhos medíocres que não<br />

expressassem com absoluta veracidade o<br />

seu estado de ânimo. Na obra A Piedade,<br />

criada num período de calma e estabilidade<br />

na vida do artista, o dramatismo da cena<br />

é contrastado pela atitude controlada e<br />

serena de Maria.

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