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Apoio à regularização fundiária do Jardim Celeste - Mutirão - Polis

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Introdução


1 ALFONSIN, Betânia de Moraes. Direito <strong>à</strong> Moradia: instrumentos<br />

e experiências de <strong>regularização</strong> <strong>fundiária</strong><br />

nas cidades brasileiras. Rio de Janeiro: FASE/IPPUR,<br />

Observatório de Políticas Urbanas, 1997, p. 24.<br />

A <strong>regularização</strong> da terra e da moradia daqueles que vivem em assentamentos informais<br />

tem si<strong>do</strong> um grande desafio no Brasil das duas últimas décadas, desafio<br />

esse que ganhou mais adeptos com a recente aprovação <strong>do</strong> Estatuto da Cidade,<br />

Lei Federal n° 10.257/01.<br />

A <strong>regularização</strong> <strong>fundiária</strong> tem como finalidade garantir a segurança jurídica da<br />

posse e a melhoria das condições de habitabilidade de assentamentos informais,<br />

fazen<strong>do</strong> com que os mora<strong>do</strong>res dessas áreas tenham oficialmente reconhecidas a<br />

propriedade ou a posse da área dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> caso.<br />

Esta cartilha tem como objetivo instrumentalizar a comunidade <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong><br />

em busca da <strong>regularização</strong> <strong>fundiária</strong> de suas casas (terra e unidade habitacional).<br />

Para tanto, a cartilha traz uma parte teórica referente a <strong>regularização</strong><br />

<strong>fundiária</strong>, seus fundamentos legais e leis que a amparam em nível federal e municipal,<br />

traz um diagnóstico fundiário da área, além de discutir o passo a passo da<br />

<strong>regularização</strong> <strong>fundiária</strong> no caso específico <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong>.<br />

o que é regularIzação fundIárIa<br />

Regularização F undiária é o processo de intervenção pública, sob os aspectos jurídico,<br />

físico e social, que objetiva legalizar a permanência de populações mora<strong>do</strong>ras<br />

de áreas urbanas ocupadas informalmente para fins de habitação, implican<strong>do</strong><br />

em melhorias no ambiente urbano <strong>do</strong> assentamento, no resgate da cidadania e da<br />

qualidade de vida da população beneficiária 1 .<br />

aspecto físico infra-estrutura, serviços, obras de urbanização<br />

aspecto jurídico aprovação e registro <strong>do</strong> parcelamento <strong>do</strong> solo e titulação das<br />

unidades habitacionais<br />

aspecto social mobilização comunitária, resgate da cidadania e melhora na<br />

qualidade de vida


o que é moradIa dIgna<br />

O direito <strong>à</strong> moradia está previsto no artigo 6º da Constituição Federal desde o ano<br />

de 2000 como um direito social. Isso significa que, a moradia é um direito humano<br />

que garanti<strong>do</strong> adequadamente implica em condições de vida digna e seguras para<br />

seus habitantes. São componentes fundamentais <strong>do</strong> direito <strong>à</strong> moradia adequada<br />

segun<strong>do</strong> as normas internacionais de direitos humanos 2 :<br />

Condições adequadas de habitação: boas condições físicas da moradia e <strong>do</strong> bairro,<br />

que não ofereçam risco <strong>à</strong> saúde e a vida.<br />

Segurança jurídica da posse: possuir o título de concessão de uso ou de propriedade<br />

<strong>do</strong> imóvel que possa ser registra<strong>do</strong> no cartório em seu nome.<br />

disponibilidade de serviços de infra-estrutura: ter serviço de água, luz, saneamento<br />

básico, iluminação pública, coleta de resíduos sóli<strong>do</strong>s (lixo), pavimentação etc.<br />

Custo acessível: preço proporcional a faixa de renda <strong>do</strong> mora<strong>do</strong>r, inclusive em relação<br />

aos gastos com as tarifas de água, luz, e impostos como o IPTU.<br />

acessibilidade <strong>à</strong>s minorias: programas específicos para o acesso de grupos vulneráveis<br />

e minorias como i<strong>do</strong>sos, mulheres chefes de família, porta<strong>do</strong>res de deficiência,<br />

quilombolas, indígenas etc.<br />

Boa localização: localização em área urbanizada, com oferta de emprego, infraestrutura<br />

e serviços públicos.<br />

adequação cultural: respeito <strong>à</strong> produção social <strong>do</strong> habitat, <strong>à</strong> identidade cultural e diferenças<br />

regionais que exigem materiais, tecnologias adequa<strong>do</strong>s para a moradia.<br />

o que é dIreIto <strong>à</strong> CIdade SuStentável<br />

O direito <strong>à</strong> cidade diz respeito <strong>à</strong> realização <strong>do</strong>s direitos humanos na cidade, seja o de<br />

morar bem, o de trabalhar, o de ter acesso ao lazer e <strong>à</strong> cultura, <strong>à</strong> saúde, educação,<br />

ao transporte público e ao meio ambiente equilibra<strong>do</strong>, bem como o de participar da<br />

gestão da cidade. Ele é previsto como diretriz da política urbana para os municípios<br />

brasileiros, no artigo 2º, I, da Lei Federal nº 10.257/2001, Estatuto da Cidade.<br />

2 Comentário Geral nº 4 <strong>do</strong> Comitê DHESC das<br />

Nações Unidas.


HIStórICo <strong>do</strong><br />

JardIm CeleSte


SItuação atual: projetos existentes na área<br />

O <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> tem sua origem ligada ao “Programa FUNAPS Comunitário”,<br />

conheci<strong>do</strong> como “Programa de mutirões” desenvolvi<strong>do</strong> pela<br />

Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano <strong>do</strong> Município<br />

de São Paulo a partir de 25 de setembro de 1989. O programa<br />

consistia no repasse de recursos para as associações comunitárias<br />

para compra de material e construção das unidades em regime de mutirão<br />

autogestionário.<br />

No caso <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> foram construí<strong>do</strong>s mutirões com financiamento<br />

público <strong>do</strong> material de construção (<strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> I e II), mutirão<br />

com recurso <strong>do</strong>s próprios mora<strong>do</strong>res (<strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> IV) e unidades<br />

habitacionais construídas por empreiteiras (prédios das operações<br />

interligadas). Um último convênio junto a Associaç<strong>à</strong>o <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> V<br />

foi firma<strong>do</strong>, houve repasse de recursos, mas não o suficiente para conclusão<br />

das obras.<br />

mutIrõeS Com fInanCIamento púBlICo<br />

Conjunto habitacional autogestionário da associação<br />

<strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> I<br />

Foi firma<strong>do</strong> convênio, em 1990, entre a Prefeitura Municipal e a Associação<br />

<strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> I para financiamento <strong>do</strong> material de construção para<br />

200 unidades habitacionais, por meio da COHAB.<br />

O valor total <strong>do</strong> repasse previsto era de R$ 1.353.600,00, no entanto<br />

foram repassa<strong>do</strong>s R$ 1.013.284,00 que foram utiliza<strong>do</strong>s para construção<br />

de 200 unidades habitacionais em regime de autoconstrução. Não<br />

houve o repasse da última parcela prevista no convênio no valor de R$<br />

340.316,00.<br />

Consideran<strong>do</strong> o valor repassa<strong>do</strong> pela prefeitura (R$ 1.353.600,00),<br />

o valor <strong>do</strong> financiamento <strong>do</strong> material de construção por unidade habitacional<br />

até agora é de aproximadamente R$ 5.066,40.<br />

Luta por melhorias<br />

Maria Barbosa Rocha Rastele<br />

[Mora<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> I]<br />

“Eu sou <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> I, hoje agente<br />

já está moran<strong>do</strong>, eu moro aqui já há 12<br />

anos e continuamos trabalhan<strong>do</strong> por<br />

mais conquista, por mais vitória. (...)<br />

O <strong>Celeste</strong> II já está concluí<strong>do</strong>, <strong>Celeste</strong><br />

I ainda não foi totalmente concluí<strong>do</strong>, a<br />

Prefeitura ainda deve uma parcela para<br />

o Movimento, para a Associação no<br />

caso, né, e assim agente procura sempre<br />

trabalhar por outras unidades, por<br />

conquista de mais terrenos pra construir<br />

casa, pro pessoal <strong>do</strong> Movimento que tem<br />

uma demanda, aí, bastante grande, tem<br />

quase 3.000 pessoas em busca de um teto<br />

só aqui na região, então é um trabalho<br />

bastante árduo...”.<br />

“A gente aqui dentro, aqui no <strong>Jardim</strong> São<br />

Savério, no projeto <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> a gente<br />

procura trabalhar pra melhorias da vida<br />

das famílias que moram aqui e ainda falta<br />

ser trabalhada muitas outras conquistas<br />

(como na área <strong>do</strong> córrego etc..)”.<br />

“Através da construção, nós viemos<br />

pra cá e to<strong>do</strong>s sába<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>mingos e<br />

feria<strong>do</strong>s... Nós tinha junto com a gente<br />

assessoria técnica, no caso arquiteto<br />

e tu<strong>do</strong> mais. Nós tinha o curso de


formação pra poder aprender fazer<br />

esse trabalho, nós teve o curso de<br />

formação que nos aju<strong>do</strong>u bastante,<br />

são muitas mulheres a qual teve esse<br />

trabalho, nós aprendemos a fazer<br />

o trabalho de pedreiro, carpinteiro<br />

e assim por diante e diante. Foi<br />

como a gente veio construir nossas<br />

casas. Nós chegávamos <strong>à</strong>s 07h00 da<br />

manhã, voltávamos para nossas casas<br />

<strong>à</strong>s 17h00, aqui tinha o trabalho <strong>do</strong><br />

pessoal que carregava água, o pessoal<br />

da cozinha que fazia comida, a creche<br />

para as crianças...”.<br />

<strong>Mutirão</strong>: vitória da<br />

Reforma Urbana<br />

Teresa Lara [60 anos, mora<strong>do</strong>ra <strong>do</strong><br />

<strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> I. Nascida no interior de<br />

São Paulo]<br />

“Na luta da reforma urbana, o<br />

mutirão é uma vitória, foi um avanço<br />

pra reforma urbana, porque é um<br />

terreno que tinha <strong>do</strong>no, mas tava<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, cheio de mato e isso<br />

melhorou a situação, não só nossa,<br />

mas <strong>do</strong> entorno, <strong>do</strong> pessoal <strong>do</strong><br />

plano 100. Eu acho que pra reforma<br />

urbana a situação de hoje da periferia<br />

caminhou muito, acho que foi uma<br />

Conjunto habitacional autogestionário da associação<br />

<strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> II<br />

Foi firma<strong>do</strong> convênio (no ano de 1991) entre a Prefeitura Municipal e a<br />

Associação <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> II para financiamento <strong>do</strong> material de construção<br />

para 200 unidades habitacionais, por meio da COHAB.<br />

O financiamento foi concluí<strong>do</strong> sen<strong>do</strong> que foram repasa<strong>do</strong>s aproximadamente<br />

R$ 1.353.600,00, que foram utiliza<strong>do</strong>s para construção de<br />

200 unidades habitacionais em regime de autoconstrução. O valor <strong>do</strong><br />

financiamento <strong>do</strong> material de construção por unidade habitacional é de<br />

R$ 6.768,00.<br />

terreno <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> v<br />

A Prefeitura Municipal de São Paulo transferiu terreno para a Associação<br />

<strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> V para construção de 100 unidades habitacionais. O valor<br />

previsto <strong>do</strong> financiamento era de 1.320.000,00. No entanto, apenas<br />

foram repassa<strong>do</strong>s R$ 182.000,00 (R$ 50mil para limpar o terreno e R$<br />

132 mil para terraplanagem recebi<strong>do</strong> em 14/06/2005).<br />

Este serviços já foram perdi<strong>do</strong>s pois, com a falta de recebimento das<br />

outras parcelas para a construção das casas, o terreno permaneceu vazio<br />

e se encontra hoje cheio de entulho.<br />

mutIrõeS Com reCurSoS próprIoS<br />

Conjunto habitacional autogestionário da associação<br />

<strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> Iv<br />

A Prefeitura Municipal autorizou a construção em regime de autocontrução<br />

pela Associação de <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> IV de 101 unidades (sem financiamento<br />

<strong>do</strong> material de construção pela Prefeitura Municipal de São<br />

Paulo), em terreno da Prefeitura por meio de convênio de 1997.


unIdadeS HaBItaCIonaIS ConStruídaS<br />

por empreIteIraS<br />

Conjuntos de prédios<br />

Os prédios das operações urbanas interligadas correspondem a 480<br />

unidades (conjunto de 24 prédios com 20 apartamentos cada) construí<strong>do</strong>s<br />

por empreiteiras com recursos da Operação Interligada definida<br />

pela Lei Municipal nº 11.773 de 18/05/1995.


grande vitória nossa de ter isso aqui, além<br />

de ter nossas casas, melhorar a situação<br />

<strong>do</strong> entorno. O <strong>Mutirão</strong> trás de positivo<br />

pra luta a convivência e o aprendiza<strong>do</strong>.<br />

Nós viemos de várias áreas diferentes,<br />

várias comunidades diferentes, nós que<br />

somos da coordenação, a gente conhece<br />

os povos de cada área, de cada região,<br />

de cada movimento, mas não tem essa<br />

ligação de convivência”.<br />

“(...) Essa convivência fortalece a<br />

espiritualidade de convivência e moradia,<br />

de organização e da união. È muito<br />

importante na vida da gente”.<br />

“(...) A diferença da favela pra cá é<br />

a melhoria de condições de moradia,<br />

de uma casa que tem telha, tem<br />

madeiramento, tem uma janela<br />

diferente, onde não chove, onde as<br />

madeiras não estão podres, onde o<br />

córrego não passa dentro da sua casa,<br />

onde os ratos não sobem em cima da<br />

cama. O <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong>, abaixo de Deus<br />

e da minha família, que é uma das coisas<br />

mais importantes que a gente tem na<br />

vida, o <strong>Celeste</strong> também faz parte da<br />

minha vida, parte <strong>do</strong> meu filho, parte<br />

de uma filha que eu peguei pra criar<br />

que hoje tem 17 anos, eu acho que ele<br />

significa tu<strong>do</strong>, a luz e o caminho de nós<br />

to<strong>do</strong>s que moramos aqui”.<br />

o JardIm São SavérIo é uma zeIS!<br />

Os projetos <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> – que na verdade correspondem <strong>à</strong> área <strong>do</strong><br />

bairro <strong>Jardim</strong> São Savério, onde também está localizada a favela –, está<br />

demarca<strong>do</strong> como Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS <strong>do</strong> tipo 1,<br />

que corresponde a áreas ocupadas. No mapa <strong>do</strong> Plano Diretor Estratégico<br />

de São Paulo (Lei Municipal nº 13.430/2002) o <strong>Jardim</strong> São Savério<br />

corresponde a área de ZEIS 1 nº 191, e no Plano Regional <strong>do</strong> Ipiranga<br />

(Lei Municipal nº 13.885/2003) corresponde a área de ZEIS 1 C030.<br />

As ZEIS são porções <strong>do</strong> território ocupadas por população de baixa<br />

renda, abrangen<strong>do</strong> favelas, loteamentos precários e empreendimentos<br />

habitacionais de interesse social ou <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> popular, em que haja<br />

interesse público expresso por meio desta lei, ou <strong>do</strong>s planos regionais<br />

ou de lei específica, em promover a recuperação urbanística, a <strong>regularização</strong><br />

<strong>fundiária</strong>, a produção e manutenção de Habitações de Interesse<br />

Social –HIS, incluin<strong>do</strong> equipamentos sociais e culturais, espaços públicos,<br />

serviço e comércio de caráter local. Por esta razão em 2004 foi feito<br />

o Decreto de Aprovação Específica nº 45.675 (29/12/04) determinan<strong>do</strong><br />

que a <strong>regularização</strong> <strong>fundiária</strong> <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> será feito conforme as<br />

regras de uso e ocupação <strong>do</strong> solo da comunidade, ou seja, o reconhecimento<br />

da situação de fato.


mapa zeIS plano regIonal <strong>do</strong> IpIranga<br />

“Teve ameaça de invasão nas casas da<br />

primeira demanda sem terminar. Como<br />

tinha muda<strong>do</strong> de prefeito, as casas tavam<br />

na primeira cinta, a maioria sem janela,<br />

a outra sem cobrir, o povo teve que<br />

entrar sem água e sem luz nas casas e nós<br />

emprestamos água e luz da favela de Santa<br />

Cristina, pra poder o povo ta entran<strong>do</strong> pra<br />

dentro, colocava uma madeira na janela,<br />

colocava uns couros na janela pra não ser<br />

invadi<strong>do</strong> de noite e assim foi a situação”.<br />

Jd. São Savério ZEIS 1


10<br />

para SaBer maIS, é necessário consultar<br />

o 14º registro de Imóveis onde<br />

está registrada a matrícula da área<br />

que inclui o <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong>:<br />

Oficial: ricar<strong>do</strong> nahat<br />

Rua Jundiai, 50 - 7º andar - Ibirapuera<br />

São Paulo/SP - Cep 04001-140<br />

Telefone: 011 3885-6891<br />

Fax: 011 3885.2707<br />

E-mail: 14ri@globo.com.br<br />

Site: www.14ri.com.br<br />

Como o JardIm CeleSte apareCe no CartórIo<br />

No cartório, a área ainda está em nome <strong>do</strong> antigo proprietário, Sr. Fernan<strong>do</strong> Vergueiro,<br />

pois a Prefeitura Municipal de São Paulo começou, mas ainda não acabou<br />

de desapropriar a área (ver comentários mais para a frente).<br />

A área <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> está registrada no 14º Cartório de Registro de Imóveis<br />

de São Paulo, pela matricula nº 36.210, que corresponde a uma área de 107.310<br />

m², onde estão localiza<strong>do</strong>s os projetos habitacionais <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong>, localiza<strong>do</strong><br />

no <strong>Jardim</strong> São Savério.<br />

Os processos de desapropriação não discutem se a área poderá ou não ser<br />

desapropriada, discutem apenas o valor que deverá ser pago pela Prefeitura ao<br />

proprietário <strong>do</strong> imóvel. No caso, o processo de desapropriação <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong><br />

ainda não acabou porque a Prefeitura e o proprietário da área discutem até hoje na<br />

justiça o valor que a Prefeitura deve pagar.<br />

aInda falta a prefeItura regIStrar um <strong>do</strong>Cumento no<br />

CartórIo de regIStro de ImóveIS para que a área SeJa<br />

ConSIderada púBlICa<br />

Esse <strong>do</strong>cumento chama-se “Auto de Imissão de Posse”. Foi ele que oficialmente autorizou,<br />

em 09 de maio de 1990, a Prefeitura a oficialmente estabelecer sua posse<br />

sobre a área, para iniciar em parceria com o movimento de moradia os projetos <strong>do</strong>s<br />

mutirões autogestionários.<br />

Só com o registro deste <strong>do</strong>cumento é que a Prefeitura vai aparecer no Cartório<br />

como <strong>do</strong>na da área, para assim, poder passar o título para os atuais mora<strong>do</strong>res.<br />

Para os mora<strong>do</strong>res terem segurança jurídica de sua posse é ncessário receber o<br />

título da Prefeitura para registrar no Cartório de Registro de Imóveis.


Como eStá a ação de deSaproprIação da área <strong>do</strong> JardIm<br />

CeleSte movIda pela prefeItura?<br />

Ação de desapropriação <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> corresponde ao processo nº 646/89 A<br />

Prefeitura já pagou quase metade <strong>do</strong> valor devi<strong>do</strong> ao proprietário Fernan<strong>do</strong> Vergueiro.<br />

Os processos de desapropriação costumam ser longos pela discussão em torno<br />

<strong>do</strong> valor a ser pago pela Prefeitura ao proprietário da área, o mesmo acontece entre<br />

a Prefeitura e o proprietário da área que discutem judicialmente o valor a ser pago.<br />

Falta pagar por volta de R$ 87 milhões. A Prefeitura declarou que a área não vale<br />

mais <strong>do</strong> que 8 milhões, e esta brigan<strong>do</strong> para não pagar mais.<br />

Como eStá a ação CIvIl púBlICa movIda pelo<br />

mInIStérIo púBlICo eStadual?<br />

Quan<strong>do</strong> existiam apenas os <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> I e II, em 1997, o Ministério Público Estadual<br />

de São Paulo, por meio da promotoria de Habitação e Urbanismo, entrou com<br />

uma Ação Civil Pública nº 342/97 na 3ª Vara da Fazenda Pública contra a Prefeitura<br />

de São Paulo para que ela regularizasse os conjuntos habitacionais dessa área.<br />

No mesmo ano Ministério Público Estadual de São Paulo venceu a ação, e a<br />

Prefeitura de São Paulo foi condenada a efetivar a <strong>regularização</strong> <strong>do</strong> parcelamento,<br />

edificação, uso e ocupação <strong>do</strong> solo <strong>do</strong> Conjunto Habitacional <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> I e II,<br />

sob pena de multa diária de R$ 1 mil.<br />

Como a Prefeitura não cumpriu a decisão <strong>do</strong> juiz, ela está deven<strong>do</strong> uma multa<br />

gigantesca. É importante exigir que a Prefeitura cumpra a sentença. Para isso<br />

pode ser feito um Termo de Ajustamento e Conduta (TAC) com a participação <strong>do</strong><br />

Ministério Público Estadual para a <strong>regularização</strong> <strong>fundiária</strong> e inclusão das demais<br />

áreas (<strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> IV, e prédios das Operações Urbanas Interligadas) na obrigação<br />

de regularizar.<br />

A Prefeitura está deven<strong>do</strong> quase R$ 1 milhão de multa. Isso porque não cumpriu<br />

até hoje a sentença <strong>do</strong> ano de 1997 que manda regularizar o <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> I e II.<br />

11


egularIzação fundIárIa<br />

<strong>do</strong> JardIm CeleSte


anteS da regularIzação fundIárIa...<br />

Hoje o <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> aparece como está a imagem abaixo no 14º Cartório de Registro<br />

de Imóveis e em nome de Fernan<strong>do</strong> Vergueiro.<br />

Matrícula: 36.210 -14° SRI<br />

107.310.03m 2<br />

depoIS...<br />

Queremos que a situação de fato <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> hoje (com as ruas, quadras, lotes,<br />

casas, apartamentos) seja registra<strong>do</strong> em nome da associação e <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res.<br />

1


Não tem coisa melhor<br />

Manuel José da Silva<br />

[Mora<strong>do</strong>r <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> II]<br />

“Porque em 90 nós começamos a limpar<br />

o mato, limpamos to<strong>do</strong> esse mato aqui,<br />

em 91 começamos a obra, até a data de<br />

hoje não terminamos. Isso aí é o que eu<br />

lembro, eu posso falar pra você como<br />

pioneiro, que encheu o primeiro radie,<br />

mais umas 9 pessoas, isso é um orgulho<br />

que eu tenho. Isso é importante pra gente<br />

que é trabalha<strong>do</strong>r, a gente que trabalha,<br />

e tem vontade de trabalhar também, tem<br />

vontade de chegar onde a gente quer. Não<br />

tem coisa melhor <strong>do</strong> que você morar numa<br />

casa que você mesmo que construiu, não<br />

tem coisa melhor”.<br />

“Aqui nós não tinha água, não tinha luz,<br />

eu vim pra cá pra essa rua, Gonçalves Dias,<br />

e o Mauro ficou moran<strong>do</strong> na Gonçalves<br />

Dias mais lá em baixo. Nós compramos<br />

uma mangueira com 120 metros. Essa<br />

mangueira foi dividida em 10 pessoas pra<br />

poder fornecer água. Que aconteceu?<br />

Nós tinha que ficar até 1hr00 da manhã<br />

aqui esperan<strong>do</strong> a água chegar, porque ela<br />

abastecia to<strong>do</strong> o bairro pra poder chegar<br />

até aqui. Nós tinha que ficar até o dia<br />

amanhecer pra tá fornecen<strong>do</strong> água pra nós,<br />

esperan<strong>do</strong> água. A caixa d’água tinha que<br />

ficar no chão, ficou por um bom tempo,<br />

14<br />

eStratégIa para ConSeguIr a regularIzação<br />

fundIárIa: nova ação Civil pública com<br />

defensoria pública<br />

Qual a estratégia para conseguirmos a <strong>regularização</strong> <strong>fundiária</strong> e o registro<br />

<strong>do</strong>s títulos?<br />

Além de continuar pressionan<strong>do</strong> a Prefeitura a cumprir sua obrigação<br />

de regularizar os projetos <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong>, entrar com uma nova ação<br />

coletiva chamada Ação Civil Pública, pedin<strong>do</strong>:<br />

• pedi<strong>do</strong> liminar (pedi<strong>do</strong> emergencial)<br />

Registro da imissão de posse no Cartório de Registro de Imóveis.<br />

• pedi<strong>do</strong> principal<br />

Regularização Fundiária <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong>. Solicitar que a Prefeitura<br />

Municipal de São Paulo proceda a <strong>regularização</strong> <strong>fundiária</strong>, reconhecen<strong>do</strong><br />

as normas de uso e ocupação <strong>do</strong> solo da comunidade da área<br />

que está localizada em ZEIS no Plano Diretor de São Paulo e Regional<br />

<strong>do</strong> Ipiranga mediante:<br />

(a) Criação <strong>do</strong> Conselho gestor das zeIS<br />

• Elaboração <strong>do</strong> Memorial Descritivo <strong>do</strong> Plano de Urbanização<br />

• Regularização por Decreto<br />

(b) outorga <strong>do</strong>s títulos de cessão de posse.registro <strong>do</strong>s títulos de<br />

cessão de posse. de acor<strong>do</strong> com o passo a passo da <strong>regularização</strong><br />

<strong>fundiária</strong> descrito a seguir:<br />

Registro da imissão de posse Regularização urbanística<br />

Registro no cartório Titulação Regularização jurídica<br />

Segurança da posse<br />

(c) quitação das unidades habitacionais junto <strong>à</strong> CoHaB


Os mora<strong>do</strong>res que vivem e moram no <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> têm direito <strong>à</strong><br />

segurança da posse. Isso porque ali construíram suas vidas e muitas<br />

com seu próprio esforço suas próprias casas, sempre lutan<strong>do</strong> por condições<br />

dignas de vida na cidade, tornan<strong>do</strong> a área de interesse social pelos<br />

projetos habitacionais populares alí conquista<strong>do</strong>s e construí<strong>do</strong>s.<br />

paSSo 1: regIStro da ImISSão de poSSe<br />

Para que a posse da área no cartório passe <strong>do</strong>:<br />

FERNANDO V. PREFEITURA MORADORES<br />

Registro da<br />

Imissão de Posse<br />

Título de Cessão<br />

de posse em nome<br />

da Prefeitura para<br />

as associações de<br />

mora<strong>do</strong>res<br />

Sem isso, Prefeitura não pode repassar a posse da área para os mora<strong>do</strong>res.<br />

paSSo : regularIzação urBaníStICa<br />

O Plano Diretor de São Paulo (Lei Municipal n° 13.340/2003) em seu art.<br />

175 sobre <strong>regularização</strong> por Decreto só para áreas definidas como ZEIS,<br />

define o <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong>, que é uma área <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> São Silvério, como<br />

ZEIS 1 (localizada no Quadro 14 PD/SP, Nº4B PDR/Ipiranga).<br />

Já o Decreto Municipal nº 44667/2003 que regulamenta a ZEIS, em<br />

seus arts. 18 <strong>à</strong> 22, define os requisitos para a elaboração <strong>do</strong> Decreto e<br />

<strong>do</strong> memorial Descritivo <strong>do</strong> Plano de Urbanização.<br />

porque não tinha condições. A casa não<br />

tinha contra piso, porta e janela foi nós<br />

que colocamos, tu<strong>do</strong> isso aí foi nós que<br />

fizemos”.<br />

“Nós tivemos muito problemas, nós<br />

tinha que ficar toman<strong>do</strong> conta daqui.<br />

Eu trabalhava a noite, mas sába<strong>do</strong> e<br />

<strong>do</strong>mingo era folga minha e eu tinha<br />

que ficar de plantão em casa acorda<strong>do</strong>,<br />

porque, o pessoal sempre tava<br />

queren<strong>do</strong> invadir, nós fazia cerca e eles<br />

vinham e tiravam a cerca, foi assim<br />

um bom tempo. (...) Aí veio a primeira<br />

construção que foi o primeiro radie<br />

(...) Nós arrumamos luz empresta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> São Savério (...) Fizemos o<br />

primeiro radie, que justamente foi a<br />

primeira casa que é a casa hoje onde<br />

fica, no começo <strong>do</strong> Memorial de<br />

Aires, a primeira casa que era um <strong>do</strong>s<br />

protótipos, é a casa <strong>do</strong> Cícero”<br />

Só tinha mato aqui<br />

Clementina R. Barros [70 anos, mora<strong>do</strong>ra <strong>do</strong><br />

<strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> II]<br />

“Vixe, foi tantos. A gente <strong>do</strong>rmia aí,<br />

tomava conta aqui... Nós começamos<br />

<strong>do</strong> nada, só tinha mato aqui, a<br />

gente capinava aquele mato, alto<br />

encontramos cobra, ninho de cobras.<br />

1


1<br />

Como regularIzar a zeIS<br />

Implantar um Conselho gestor da zeIS<br />

O Plano Diretor <strong>do</strong> Município de São Paulo e o Decreto Municipal 44667/03 definem<br />

a necessidade de implantação de um Conselho Gestor para cada ZEIS para discutir<br />

a <strong>regularização</strong> <strong>fundiária</strong>.<br />

o que é o conselho gestor e qual é o seu papel<br />

É um conselho forma<strong>do</strong> por representantes <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res da área demarcada<br />

como ZEIS e da Prefeitura que deverão decidir as “regras <strong>do</strong> jogo” para <strong>regularização</strong><br />

das ZEIS.<br />

A função <strong>do</strong> Conselho é discutir e elaborar proposta <strong>do</strong> Decreto e <strong>do</strong> Memorial<br />

Descritivo <strong>do</strong> Plano de Urbanização da ZEIS.


qual a sua composição<br />

Coordena<strong>do</strong> pela-Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento<br />

Urbano (SEHAB) e composto por representantes <strong>do</strong> Poder Público,<br />

incluin<strong>do</strong> concessionárias de serviços públicos, e da sociedade civil,<br />

abrangen<strong>do</strong> mora<strong>do</strong>res, suas associações e proprietários de imóveis<br />

localiza<strong>do</strong>s em ZEIS, observada a paridade entre o número de representantes<br />

<strong>do</strong> Poder Público e da sociedade civil. Decreto 45.127/04.<br />

procedimento administrativo específico <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong><br />

Instaura-se, assim, o procedimento administrativo em COHAB e os <strong>do</strong>cumentos<br />

que devem constar no procedimento são os seguintes:<br />

• Delimitação da área (croqui, memorial descritivo, foto aérea)<br />

• Indicação das Bacias Hidrográficas<br />

• Indicação e Delimitação da ZEIS<br />

• Análise Urbanística<br />

• Análise Fundiária<br />

• Características socioeconômicas<br />

• Levantamento Planialtimétrico<br />

• Planta AU<br />

• Portaria com nomeação <strong>do</strong> Conselho Gestor<br />

elaboração <strong>do</strong> memorial descritivo <strong>do</strong> plano de<br />

urbanização e da minuta <strong>do</strong> decreto<br />

Requisitos defini<strong>do</strong>s no art. 18 <strong>à</strong> 22 <strong>do</strong> Decreto Municipal nº<br />

44667/2003, que regulamenta a parte das ZEIS <strong>do</strong> Plano Diretor, para<br />

elaboração <strong>do</strong> Plano de Urbanização:<br />

• Parcelamento<br />

• Índices Urbanísticos<br />

• Lotes<br />

• Restrições <strong>à</strong> ocupação<br />

• Áreas institucionais (áreas verdes e sistema viário)<br />

• Sistema Viário<br />

Mas, foi muito difícil limpar to<strong>do</strong><br />

aquele mato, capina”.<br />

“Eu vinha pro mutirão pra trabalhá,<br />

eu fui atravessar a rua, aqui na<br />

frente <strong>do</strong> Simba Safari e o carro me<br />

atropelo quase na calçada. Eu quebrei<br />

o tornozelo, que a sola <strong>do</strong> pé ficou<br />

virada pra cima, assim e eu na hora<br />

desvirei (risos). Eu olhei pro pé e<br />

o pé tava vira<strong>do</strong> pra cima. Eu disse<br />

assim: “Uai, eu acho que eu quebrei<br />

o meu pé”, peguei e desvirei. Mas,<br />

aí eu fiquei internada 15 dias, fui<br />

operada, tu<strong>do</strong>... Deus me aju<strong>do</strong>u que<br />

eu fiquei boa, mesmo mancan<strong>do</strong>,<br />

andano com bengala até hoje, mas eu<br />

não desanimei, continuei nas obra,<br />

construin<strong>do</strong> as casa.”.<br />

“Eu sei que foi muito difícil pra nós,<br />

muito difícil pra nós consegui essas<br />

casas. Muita luta. Muita luta. Eu não<br />

desisti”.<br />

Isso não é passeio, não!<br />

Antonieta Dantas da Silva<br />

“Eu carregava massa no carrinho,<br />

carregava tijolo, a mulher fazia aqui<br />

trabalho de homem. Até hoje eu ainda<br />

tenho uma canseira disso... eu fazia<br />

assim, uma rodinha de pano, botava 4,<br />

1


1<br />

5 tijolão, botava aqui, e trabalhemo nessa<br />

luta. E foi valioso”.<br />

“Eu tenho a minha casa como que se<br />

fosse uma mansão, quan<strong>do</strong> eu chego na<br />

minha casa, assim vivo, não vegeto e<br />

faço muito por viver, com meus vizinhos,<br />

aju<strong>do</strong> em todas as coisas que eu posso, to<br />

ali junto, não tenho nada contra, graças<br />

a Deus. E to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> está bem, mas foi<br />

muito sacrifício, foi muito sacrifício e até<br />

hoje ainda ta com muito sacrifício pra<br />

regularizar, mas eu espero que nóis vai<br />

regularizar, se Deus quiser”.<br />

Só dependia de nós<br />

Maria Cícera Alves <strong>do</strong>s Santos<br />

“Eu conheci o movimento nas reuniões<br />

da Igreja, aí comecei a participar desde o<br />

início, que foi no início de 1990. (...) Eu<br />

fui passan<strong>do</strong> de demanda a demanda, até<br />

chegar nos predinho”.<br />

“A primeira instância eu acreditei, eu<br />

vim porque eu acreditei que ia dar certo,<br />

como deu. O projeto, que foi um projeto<br />

vin<strong>do</strong> da política da Erundina, um projeto<br />

vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> movimento da Erundina, um<br />

projeto confiável, né, só dependia de nós e<br />

a experiência foi ótima, porque eu conheci<br />

um outro la<strong>do</strong> social, <strong>do</strong> qual eu nem<br />

imaginaria que existia, que é aquele la<strong>do</strong><br />

• Infra-estrutura básica<br />

• Situação Fundiária<br />

aprovação no Conselho gestor das zeIS e na Comissão de<br />

avaliação de empreendimentos Habitacionais de Interesse<br />

Social (CaeHIS)<br />

O caminho que será percorri<strong>do</strong> para a aprovação <strong>do</strong> <strong>do</strong> Memorial Descritivo<br />

<strong>do</strong> Plano de Urbanização e da Minuta de Decreto será o seguinte:<br />

(1) Aprovação no Conselho Gestor das ZEIS<br />

(2) Aprovação na CAEHIS - Comissão de Avaliação de Empreendimentos<br />

Habitacionais de Interesse Sociais<br />

(3) Aprovação na Assessoria Técnico legislativa da Secretaria de Governo<br />

Municipal (ATL/SGM)<br />

publicação <strong>do</strong> decreto<br />

Publicação <strong>do</strong> Decreto informan<strong>do</strong> que o chefe <strong>do</strong> Executivo (Prefeito)<br />

aprova o Plano de Urbanização Específico <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> localiza<strong>do</strong><br />

na ZEIS 1. A publicação é feita no Diário Oficial <strong>do</strong> Município(DOM).<br />

Aprova<strong>do</strong> o Plano de Urbanização o órgão competente (RESOLO 2) de<br />

posse <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos necessários emite o <strong>do</strong>cumento chama<strong>do</strong> Auto<br />

de <strong>regularização</strong>.<br />

Com o Auto de Regularização se conclui a <strong>regularização</strong> técnica e<br />

urbanística gera a oficialização das ruas, o des<strong>do</strong>bro <strong>do</strong> IPTU (fazen<strong>do</strong><br />

com que cada mora<strong>do</strong>r passe a pagar pelo IPTU referente a sua<br />

unidade habitacional), permite a destinação de áreas para a implantação<br />

de equipamentos públicos e autoriza subprefeitura a realizar<br />

intervenção na área.


paSSo : entrega <strong>do</strong>S títuloS<br />

A Prefeitura deve entregar os títulos de cessão de posse para as associações<br />

de mora<strong>do</strong>res, nomean<strong>do</strong> cada família mora<strong>do</strong>ra de cada casa<br />

ou apartamento.A cessão de posse é título que deve ser utiliza<strong>do</strong> quan<strong>do</strong><br />

área que a ser regularizada O art. 26 da Lei Federal n° 6766/79 prevê<br />

que nos parcelamentos populares em que estiverem provisoriamente<br />

imitidas a União, Esta<strong>do</strong>s, Distrito Federal, Municípios e suas entidades<br />

delegadas poderá ocorrer a cessão da posseAssim que o processo de<br />

desapropriação terminar, a cessão de posse será convertida em propriedade<br />

definitiva ou em compromisso de compra e venda. Se o mora<strong>do</strong>r<br />

já tiver quita<strong>do</strong> todas as parcelas de comercialização da unidade junto <strong>à</strong><br />

COHAB a cessão de posse será convertida em propriedade definitiva. Se<br />

o mora<strong>do</strong>r ainda estiver pagan<strong>do</strong> as parcelas será convertida em compromisso<br />

de compra e venda.<br />

O título da cessão de posse pode ser da<strong>do</strong> de forma gratuita.<br />

O título de cessão de posse pode ser usa<strong>do</strong> como garantia em contratos<br />

de financiamentos habitacionais.<br />

O título da cessão de posse pode ser da<strong>do</strong> de forma coletiva em nome<br />

da Associação de Mora<strong>do</strong>res de cada projeto, especifican<strong>do</strong> o nome <strong>do</strong>s<br />

mora<strong>do</strong>res que ali moram.<br />

paSSo 4: regIStro <strong>do</strong>S títuloS no CartórIo<br />

Assim os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> passaram a ter segurança de<br />

posse reconhecida no Cartório.<br />

atenção! a população de baixa renda tem direito ao 1º registro<br />

gratuito. a cessão de posse deve ser registrada no 14º Cartório de<br />

registro de Imóveis em nome da associação de mora<strong>do</strong>res de cada<br />

projeto, especifican<strong>do</strong> o nome <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res, através <strong>do</strong> nome da<br />

mulher e/ou <strong>do</strong> homen mora<strong>do</strong>r de cada casa ou apartamento.<br />

de pessoas carentes de verdade e aquelas<br />

pessoas que se faz de carente.<br />

“(...) A convivência em comunidade foi<br />

excelente, você ter que compartilhar,<br />

dividir com outro, sába<strong>do</strong> e <strong>do</strong>mingo, as<br />

amizades no senti<strong>do</strong> de compartilhação,<br />

de convivência, no inicio, <strong>do</strong> respeito.<br />

Foi um trabalho bem pesa<strong>do</strong>, mas um<br />

trabalho compensa<strong>do</strong>r, que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

fazia com amor. Você fazia com alegria,<br />

você fazia cantan<strong>do</strong>, você fazia dan<strong>do</strong><br />

risada o tempo to<strong>do</strong>. Então houve, no<br />

início, muito, muito amor e confiança<br />

e esperança de que um dia nós íamos<br />

realizar esse grande sonho de cada<br />

um, que virou coletivo. Então a minha<br />

experiência foi ótima, é ótima e está<br />

sen<strong>do</strong> ótima, porque a partir desse<br />

momento eu voltei a estudar, voltei a me<br />

dedica um pouco mais, dentro <strong>do</strong> possível,<br />

na comunidade, conheci um pouco <strong>do</strong><br />

que é o serviço social, que cabe a cada um<br />

de nós fazer a nossa parte, independente<br />

de você estar ou não forma<strong>do</strong>, mas o<br />

social está dentro de nós mesmo”.<br />

1


fInanCIamento HaBItaCIonal<br />

de IntereSSe SoCIal


qual o preço JuSto para a ComerCIalIzação<br />

(valor a ser pago pelos mora<strong>do</strong>res <strong>à</strong> CoHaB pela<br />

unidade habitacional)?<br />

Quem vai ao <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> aprende que alí é um território de luta e de conquistas.<br />

Os projetos de mutirão, com o esforço e suor de muitas mãos, conseguiram, apesar<br />

de todas as dificuldades, erguer casas dignas para to<strong>do</strong>s.<br />

Após a <strong>regularização</strong> <strong>fundiária</strong> da área, a próxima conquista é o título de propriedade,<br />

mas para que haja uma justa comercialização com a Prefeitura de São<br />

Paulo e com a COHAB é preciso fazer uma reflexão sobre o valor da terra, o valor<br />

da mão-de-obra <strong>do</strong>s mutirantes, o valor <strong>do</strong> material de construção e das unidades<br />

habitacionais construídas, nos casos em que houve ou não financiamento, para que<br />

se pague o que é justo.<br />

proBlemaS <strong>do</strong> fInanCIamento HaBItaCIonal<br />

Ainda no Brasil, apesar da moradia ser um direito social fundamental (art. 6º da<br />

Constituição Federal de 1988), não há regras próprias para o financiamento habitacional<br />

de interesse social. As mesmas regras <strong>do</strong> sistema financeiro bancário de<br />

remuneração de capital (utilizada para financiar carros, por exemplo) são utilizadas<br />

para os financiamentos habitacionais. As tabelas de correção aplicadas são a<br />

Price e a SAC, todas elas provém de uma lógica bancária deven<strong>do</strong> ser revistas para<br />

a população de baixa renda.<br />

Tabela de financiamento SAC PRICE<br />

Prestação Decrescente Constante<br />

Amortização Constante Crescente<br />

Juros Decrescente Decrescente<br />

Vantagem<br />

Sal<strong>do</strong> deve<strong>do</strong>r diminui<br />

mais rápi<strong>do</strong><br />

Prestação inicial é menor<br />

Desvantagem Prestação inicial é maior<br />

Sal<strong>do</strong> deve<strong>do</strong>r diminui mais<br />

devagar<br />

Tabela elabora<strong>do</strong> por Paulo Mitio da Grão Assessoria Técnica, consideran<strong>do</strong> inflação zero.<br />

1


O uso da Tabela Price tem si<strong>do</strong> contesta<strong>do</strong> e restringi<strong>do</strong> pela justiça brasileira.<br />

“A aplicação da Tabela Price aos contratos de prestações diferidas no tempo<br />

impõe excessiva onerosidade aos mutuários deve<strong>do</strong>res <strong>do</strong> SFH, pois no sistema<br />

em que a mencionada Tabela é aplicada, os juros crescem em progressão<br />

geométrica, sen<strong>do</strong> que, quanto maior quantidade de parcelas a serem pagas,<br />

maior será a quantidade de vezes que os juros se multiplicam por si mesmos,<br />

tornan<strong>do</strong> o contrato, quan<strong>do</strong> não impossível de se adimplir, pelo menos abusivo<br />

em relação ao mutuário, que vê sua dívida se estender indefinidamente e o<br />

valor <strong>do</strong> imóvel exorbitar até transfigurar-se inacessível e incompatível ontologicamente<br />

com os fins sociais <strong>do</strong> Sistema Financeiro da Habitação.” (Min José<br />

Delga<strong>do</strong>, STJ, REsp 668795 / RS ; Recurso Especial2004/0123972-0, 2005).<br />

parâmetroS para uma ComerCIalIzação JuSta<br />

Regras mais acessíveis e democráticas de financiamento são condições para que<br />

as famílias de baixa renda consigam acesso <strong>à</strong> moradia digna.Na hora de negociar o<br />

financiamento habitacional devemos ficar atentos com os fatores que influenciam no<br />

preço a ser pago.O comprometimento da renda: limite de 30% da renda da familiar.<br />

A Lei nº 8.692, de 28 de julho de 1993 cria o Plano de Comprometimento de Renda<br />

(PCR) que assegura ao mutuário não deve comprometer mais de 30% da renda familiar<br />

com as prestações mensais <strong>do</strong> financiamento. Conheça o Art. 2º desta lei:<br />

“Os contratos de financiamento habitacional celebra<strong>do</strong>s em conformidade<br />

com o Plano de Comprometimento da Renda estabelecerão percentual de no<br />

máximo trinta por cento da renda bruta <strong>do</strong> mutuário destina<strong>do</strong> ao pagamento<br />

<strong>do</strong>s encargos mensais. (Vide Medida Provisória nº 2.223, de 4.9.2001)”.<br />

Juros zero<br />

Nos últimos anos a COHAB tem cobra<strong>do</strong> juros de 2% ao ano.<br />

Exigência de que nos financiamentos de projetos habitacionais de interesse social,<br />

como o caso <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> que é uma ZEIS, não sejam cobra<strong>do</strong>s juros.


Índice de correção<br />

A referência para a correção das prestações e <strong>do</strong> sal<strong>do</strong> deve<strong>do</strong>r<br />

deve ser a variação da renda familiar <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>. A variação salarial<br />

é um critério adequa<strong>do</strong> para a correção <strong>do</strong> contrato.<br />

Seguro<br />

O seguro <strong>do</strong> financiamento <strong>do</strong> material de construção para i<strong>do</strong>sos<br />

chega a 25% <strong>do</strong> valor total. Sen<strong>do</strong> que para os mais novos é em<br />

torno de 6%. No caso de homens e mulheres i<strong>do</strong>sos sem renda fixa<br />

é necessário afastar a cobrança abusiva <strong>do</strong> seguro.<br />

Carência<br />

Para evitar inadimplência nos casos de desemprego e outras graves<br />

adversidades sofridas pela família, pode ser previsto um prazo<br />

de carência em que se suspende o pagamento enquanto extraordinariamente<br />

o mora<strong>do</strong>r não puder pagar a prestação.<br />

Experiência <strong>do</strong> Município de Santo André: direito a 2 perío<strong>do</strong>s<br />

de até 6 meses de carência durante o contrato. O pagamento da<br />

carência pode ser feito no final <strong>do</strong> financiamento, sem correção<br />

de juros ou mora, ou, pode se pagar a carência em até 2 anos após<br />

regularizar os pagamentos.<br />

A vantagem da carência é suspender juros e correção das parcelas<br />

e <strong>do</strong> sal<strong>do</strong> deve<strong>do</strong>r enquanto dura a dificuldade financeira<br />

que impossibilite o pagamento das prestações.<br />

Tijolo na cabeça<br />

Floriza Maria da Conceição [73 anos, mora<strong>do</strong>ra <strong>do</strong><br />

<strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong>, antiga mora<strong>do</strong>ra de Heliópolis,nascida<br />

em Pernambuco]<br />

“Faz 50 anos que moro aqui e no tempo que a<br />

Erundina veio tocar aqui fazia 6 anos que ía nas<br />

reuniões, assinan<strong>do</strong> ponto, assinan<strong>do</strong> ponto,<br />

com um aparelho na perna esquerda, onde tinha<br />

reunião eu ia, e quan<strong>do</strong> ela chegou pra fazer o<br />

mutirão eu toquei, toquei, toquei e quan<strong>do</strong> ela<br />

foi-se embora minha casa não saiu porque não<br />

tinha dinheiro pra terminar a casa, aí, mudaram<br />

pra segunda (demanda), aí fiquei na segunda,<br />

ficou para<strong>do</strong> quatro anos, mas a gente assinan<strong>do</strong><br />

ponto, eu assinan<strong>do</strong> ponto, to<strong>do</strong> canto que tinha<br />

reunião, eu ia assinan<strong>do</strong> ponto. Aí quan<strong>do</strong> o<br />

Pitta entrou ele batalhou, eu batalhei também,<br />

aí foi o tempo que ele foi-se embora e deixou<br />

para<strong>do</strong>. Aí a Marta veio, tocou tu<strong>do</strong> e terminou<br />

tu<strong>do</strong> e eu batalhei até o fim e mês passa<strong>do</strong> fez<br />

quatro anos que eu tomei posse da minha casa”.<br />

“Eu carreguei canaleta, tijolo, na cabeça,<br />

quan<strong>do</strong> tinha, carregava aqui nessa cabeça.<br />

Tinha noite que eu não aguentava <strong>do</strong>rmir<br />

de tanta <strong>do</strong>r de cabeça carregan<strong>do</strong> aqueles<br />

tijolos. (...) São 26 anos de luta. Eu criei três<br />

netos trabalhan<strong>do</strong> no mutirão, eles moravam<br />

no Heliópolis e vinham, to<strong>do</strong> dia, ficavam<br />

brincan<strong>do</strong> e eu trabalhan<strong>do</strong> no mutirão,<br />

trabalhan<strong>do</strong> carregan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> que fosse<br />

preciso”.


4<br />

reflexão SoBre o valor daS unIdadeS HaBItaCIonaIS<br />

no JardIm CeleSte ConStruí<strong>do</strong>S em regIme de<br />

autoConStrução<br />

Para composição <strong>do</strong> valor a ser pago pelo mutirante <strong>à</strong> COHAB é preciso considerar<br />

três elementos estrutuantes desse valor: o valor a ser pago pela terra, o valor a ser<br />

devolvi<strong>do</strong> pelo material de construção financia<strong>do</strong> e o seguro cobra<strong>do</strong> pela COHAB.<br />

No <strong>Celeste</strong> I, por exemplo, deverá ser pago o preço da terra por unidade habitacional,<br />

o valor <strong>do</strong> material de construção de aproximadamente R$ 5.066,40 e o<br />

valor <strong>do</strong> seguro de 6% <strong>do</strong> valor total da unidade.<br />

Já no caso <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> IV, que foi construí<strong>do</strong> com recursos <strong>do</strong>s próprios<br />

mora<strong>do</strong>res, apenas serão devi<strong>do</strong>s os valores referente a terra e ao seguro de 6%.<br />

Já o <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> II terá, como no caso <strong>do</strong> <strong>Jardim</strong> <strong>Celeste</strong> I, pagar tanto pela terra<br />

como pelo material de construção (R$ 6.768,00) e um seguro de 6%.<br />

Quanto ao preço a ser pago pela terra este valor deverá ser negocia<strong>do</strong> junto <strong>à</strong> CO-<br />

HAB. Vale lembrar que em 2003 foi edita<strong>do</strong> Decreto Municipal estabelecen<strong>do</strong> um teto<br />

de R$ 12.000,00 para o lote social, decreto revoga<strong>do</strong> pela atual gestão muncipal.

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