Simulado_Caderno 2 serie.indd - Sistema de Ensino Energia
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Monstro domesticado<br />
Shrek para Sempre é agil e divertido – mas guarda muito pouco do espírito anárquico dos dois<br />
primeiros filmes da série.<br />
Lançado em 2001, Shrek era um <strong>de</strong>senho<br />
animado provocador e anárquico<br />
no modo como empilhava referências<br />
paródicas ao universo tradicional dos<br />
contos <strong>de</strong> fadas – ou, na verda<strong>de</strong>, às<br />
versões um tanto edulcoradas que essas<br />
histórias ganharam nos <strong>de</strong>senhos<br />
clássicos da Disney. A sátira mantevese<br />
afiada no segundo filme da série, e<br />
diluiu-se muito no terceiro. Divertido<br />
mas nem <strong>de</strong> longe tão criativo quanto<br />
os dois primeiros filmes, Shrek para<br />
Sempre (Estados unidos, 2010), que<br />
entra em cartaz nesta sexta-feira, encerra<br />
a série com uma nota sentimental.<br />
Ainda há lugar para o <strong>de</strong>boche – o<br />
flautista <strong>de</strong> Hamelin, aquele que atraía<br />
ratos e criancinhas com suas melodias,<br />
aparece como um mercenário musical.<br />
Mas é um filme convencionalmente<br />
romântico: a missão do ogro Shrek<br />
será reconquistar o amor <strong>de</strong> Fiona, sua<br />
querida monstrenga.<br />
Casado, com três filhos barulhen-<br />
UNIVERSO ALTERNATIVO Fiona e Shrek sob o encanto do flautista <strong>de</strong> Hamelin: o ogro passa pela crise da meia-ida<strong>de</strong>.<br />
tos, Shrek sente que a vida doméstica<br />
está – passe a redundância – domesticando<br />
seu lado monstruoso. Imerso<br />
em uma crise da meia-ida<strong>de</strong>, sente falta<br />
dos tempos em que era o terror dos<br />
al<strong>de</strong>ões. O insidioso Rumpelsultskin,<br />
espécie <strong>de</strong> duen<strong>de</strong> malévolo saído das<br />
páginas dos irmãos Grimm, aproveita a<br />
frustração do ogro para lhe propor um<br />
contrato mágico que lhe permitiria reviver,<br />
por um dia apenas, seus tempos<br />
<strong>de</strong> monstro solteiro. Shrek, é claro, não<br />
examina com o <strong>de</strong>vido cuidado as cláusulas<br />
do acordo, que tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
criar uma realida<strong>de</strong> paralela, um mundo<br />
em que os eventos dos primeiros filmes<br />
não tiveram lugar: Shrek não conheceu<br />
o Burro falante e o Gato <strong>de</strong> Botas,<br />
seus companheiros <strong>de</strong> aventuras, nem<br />
salvou Fiona <strong>de</strong> sua prisão na torre <strong>de</strong><br />
um castelo guardado por um dragão.<br />
Nesse universo alternativo, Fiona é<br />
a lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> guerrilheiros<br />
ogros que luta para <strong>de</strong>rrubar a tirania<br />
<strong>de</strong> Rumpelsultskin. Durona e avessa a<br />
<strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> carinho, ela resiste<br />
às investidas <strong>de</strong> Shrek, que no entanto<br />
precisa arrancar <strong>de</strong>la um beijo <strong>de</strong> amor<br />
verda<strong>de</strong>iro, para romper o encanto e<br />
restabelecer seu mundo primitivo.<br />
Com um uso espetaculoso do 3D<br />
nas cenas <strong>de</strong> ação (sobretudo naquelas<br />
que envolvem bruxas voando em<br />
suas vassouras), Shrek para Sempre<br />
é ágil na narrativa e na sucessão<br />
<strong>de</strong> gagues. A ironia que inspirou a<br />
série, porém, feneceu. Filmes sobre<br />
realida<strong>de</strong>s alternativas costumam ser<br />
conformistas: o protagonista faz sua<br />
incursão por uma vida paralela apenas<br />
para concluir que era feliz e não sabia.<br />
Shrek para Sempre obe<strong>de</strong>ce a essa<br />
receita, o que constitui uma traição ao<br />
espírito original da série. O mundo <strong>de</strong><br />
Shrek, afinal, já era por si mesmo um<br />
universo alternativo – uma versão suja<br />
e bagunçada dos contos <strong>de</strong> fadas. O<br />
ogro ficou mansinho.<br />
(TEIXEIRA, Jerônimo. Veja. 7 jul. 2010, p.134)