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Artistas Portugueses-Canadianos de Ottawa-Gatineau (pdf 1, 683k)

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46<br />

Agostinho Sendão (Poeta)<br />

Natural do Minho, da freguesia <strong>de</strong> Santa Cruz,<br />

Concelho <strong>de</strong> Ponte da Barca, o Senor Sendão é<br />

um poeta popular com um sentido poético <strong>de</strong><br />

profunda reflexão. A nostalgia da sua terra e dos<br />

seus tempos <strong>de</strong> jovem relatam bem a sua sau-<br />

da<strong>de</strong>. Também amante <strong>de</strong>sta terra, Canadá, pro-<br />

cura sempre partilhar a sua cultura portuguesa<br />

como um Português Canadiano orgulhoso dos<br />

dois Países. Mensagem que ele pensa que os jov-<br />

ens <strong>Portugueses</strong> aqui radicados <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong> con-<br />

si<strong>de</strong>rar. Começou a escrever poesia pelos seus 28<br />

anos após uma birra com estudantes <strong>de</strong> Soajo,<br />

que tinham a mania <strong>de</strong> fazer poemas. Um dia<br />

picou o <strong>de</strong>do no monte e pôs-se a pensar….<br />

Se firo o meu <strong>de</strong>do,<br />

A dor vai direita ao cérebro<br />

E retorna ao <strong>de</strong>do<br />

Também o poema<br />

Como uma canção<br />

Vem ao Coração<br />

Quebrando meu tédio<br />

Daí que um senhor chamado Ênes lhe disse:<br />

« Agostinho, se tu fizeres mil poemas como este,<br />

serás muito conhecido ».<br />

Acontece que o Senhor Sendão já fez milhares <strong>de</strong><br />

poemas e ainda nao é conhecido pela sua poesia<br />

como <strong>de</strong>via <strong>de</strong> ser. Em todo o caso, é um Senhor<br />

formidável e muito bem conhecido aqui na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Ottawa</strong>, pela nossa comunida<strong>de</strong> Portuguesa,<br />

que o estima muito como pessoa e apreciamos<br />

bem a sua poesia.<br />

46<br />

Uma vez, alguém ocupou o seu lugar cativo na<br />

igreja. Ao aproximar-se, tossiu ligeiramente para anunciar a<br />

sua presença. A mensagem foi prontamente entendida pela<br />

outra pessoa que, <strong>de</strong> imediato, se retirou para outro lado. Na<br />

secção masculina, havia procedimentos idênticos. Se um<br />

ancião marcava o seu lugar, ninguém se atreveria a ocupálo,<br />

mesmo que o senhor <strong>de</strong>sse lugar não comparecesse à<br />

missa. Era uma socieda<strong>de</strong> capaz <strong>de</strong> entendimento mútuo,<br />

sem gran<strong>de</strong>s palavras. Ali mandava a tradição e o respeito –<br />

uma espécie <strong>de</strong> interactivida<strong>de</strong> simbólica.<br />

Ao fixar o chão do átrio da igreja, os seus olhos<br />

adivinharam o muro branco e comprido, que vedava uma<br />

zona rectangular enorme, do lado esquerdo da igreja. Era o<br />

cemitério, o lugar que ele <strong>de</strong>sejava visitar.<br />

Entrou nesse solo sagrado com as pernas a tremer e<br />

o coração disparado. A tristeza começava a instalar-se no<br />

seu corpo e o seu pensamento procurava as palavras certas<br />

para dizer à sua avó. Estava aí para lhe agra<strong>de</strong>cer.<br />

Agra<strong>de</strong>cer-lhe a educação, a sensatez e mais do que tudo,<br />

agra<strong>de</strong>cer-lhe o facto <strong>de</strong> lhe ter dado um pouco da bonda<strong>de</strong><br />

que o seu coração emanava. Pensou dizer-lhe o quanto a<br />

amava e como sentia a sua falta. Mas este era também um<br />

momento feliz. Saber que a vida da sua avó fora longa e<br />

completa comovia-o <strong>de</strong> uma forma tranquila. As suas<br />

acções sempre <strong>de</strong>monstraram ser a prova viva da sua<br />

<strong>de</strong>voção e a fé tê-la-á seguramente conduzido para um lugar<br />

melhor.<br />

Benzeu-se com um pouco <strong>de</strong> água benta da pia <strong>de</strong><br />

pedra, à entrada do cemitério. Depois, <strong>de</strong>slocou-se até à<br />

campa da sua prima, fazendo um percurso que lhe era<br />

sobejamente conhecido. A fotografia <strong>de</strong> Ana Maria, tirada<br />

na primeira comunhão, sorria-lhe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a pedra tumular.<br />

Receberam juntos a primeira comunhão. Era uma menina<br />

muito bonita e inteligente, como o comprovava a sua bata<br />

sempre impecavelmente limpa.<br />

- Olá, prima. Desculpa ter ficado tanto tempo sem te<br />

visitar. Estás segura com os anjos. Sinto-o. Mas as sauda<strong>de</strong>s<br />

continuam a apertar-me o peito… Nunca te esquecerei. Se<br />

pu<strong>de</strong>sses enviar-me alguma força <strong>de</strong>sse lugar on<strong>de</strong> estás,<br />

ficar-te-ia imensamente grato. Estou aqui para me <strong>de</strong>spedir<br />

da minha avó, como certamente sabes. – António falava sem<br />

<strong>de</strong>sviar o olhar da pequena fotografia. – Que o universo<br />

consiga reunir as nossas almas, um dia! Até lá, querida Ana<br />

Maria.<br />

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