7301 justiça distributiva e teoria moral - uma ... - publicaDireito
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O objetivo de se garantir "bens primários" para todos os membros do "contrato social"<br />
(os recursos básicos tais como renda, riqueza, oportunidades, auto-estima etc.) através<br />
de um pacote comum desses bens para todos os indivíduos, enfrenta, conforme Sen,<br />
certa dificuldade na real diversidade h<strong>uma</strong>na. Um mesmo pacote fornecido para um<br />
pode ter significado e utilidade muito diferente para outro, p. ex., os recursos que <strong>uma</strong><br />
pessoa sã consome, pode ser inferior aos de <strong>uma</strong> pessoa que necessita de remédios caros<br />
ou cuidados especiais. Deve-se compreender nos sujeitos suas "diferentes liberdades<br />
para buscar suas respectivas concepções de bem"[17]. Ao considerar fatores como<br />
idade, sexo, situação de classe, características herdadas etc. a atribuição de um mesmo<br />
"pacote de bens primários" para um pode ser insuficiente, mas para outro, pode ser mais<br />
do que suficiente. Talvez o caminho seja um "pacote eqüitativo de bens primários" que<br />
considerasse as necessidades variadas dos indivíduos.<br />
Outro ponto na perspectiva de Rawls é que essa somente abrangeria os membros de<br />
<strong>uma</strong> determinada sociedade "bem ordenada", aqueles alheios a essa sociedade não são<br />
satisfatoriamente considerados nos seus parâmetros da <strong>justiça</strong>. Também há um excesso<br />
de credibilidade na estrutura democrática formal (que é a democracia constitucional)<br />
relegando o papel do indivíduo a um segundo plano. A partir do momento em que as<br />
instituições são justas e a sociedade se organiza com base num contrato de aceitação<br />
mutua entre os indivíduos é que o indivíduo deve fazer sua parte conforme definem as<br />
regras das instituições. Seria como se o indivíduo já "encontrasse" <strong>uma</strong> democracia<br />
"pronta e acabada" a partir da "posição original" e tudo que fez para construí-la foi um<br />
acordo. Sabemos que os processos democráticos são de construção ininterrupta e jamais<br />
atingida plenamente.<br />
A proposta de Singer, embora caminhe, também, na direção de se garantir o mínimo<br />
básico para todos, tem como ênfase a métrica de que ninguém deveria possuir mais do<br />
que o básico enquanto todos não detivessem isso. A <strong>teoria</strong> aponta para um sentido<br />
fundamentalmente global ao atribuir a responsabilidade dos países mais abastados para<br />
com os países necessitados e da mesma forma com relação aos indivíduos. Ou seja,<br />
todos são responsáveis - independente de possuírem relações diretas ou não, de estarem<br />
distantes ou não - por aqueles que estão em situações cujo sofrimento pode ser evitado.<br />
Doar o excedente que não é necessário para sobreviver não é caridade, é dever ético.<br />
Mas o que é o necessário para viver dentro da variedade h<strong>uma</strong>na e das perspectivas<br />
subjetivas? Singer aponta a necessidade de se abdicar dos benefícios que a sociedade de<br />
consumo traz em razão da ética. Toda a sociedade precisa ser modificada na maneira<br />
como enxerga o valor <strong>moral</strong> das coisas: não é ético ostentar um padrão de vida como<br />
fazem os países desenvolvidos enquanto milhões não possuem o necessário para<br />
sobreviver. Menos ético ainda, talvez, seja propagar esse padrão de vida, sabendo que<br />
os recursos naturais existentes, com a tecnologia existente, não possibilita a <strong>uma</strong> imensa<br />
maioria se aproximar dessa realidade[18]. Singer não responde a questão, mas aponta<br />
caminhos.<br />
A questão é que, por essa perspectiva, a ética torna-se muito complexa de ser exercida,<br />
deposita-se <strong>uma</strong> credibilidade muito grande no agir consciente, na "racionalidade" e na<br />
coerência, e, sem um sistema coercitivo, torna a proposta fragilizada. Por outro lado, o<br />
caminho apontado é de s<strong>uma</strong> importância de ser considerado: de um lado, enquanto nos<br />
preocupamos em gastar com trivialidades, ostentamos marcas, cultuamos um paladar<br />
requintado, entre outras futilidades, do outro lado, muitos estão morrendo por "causas<br />
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