Naturalismo e naturalização em filosofia da ciência
Naturalismo e naturalização em filosofia da ciência
Naturalismo e naturalização em filosofia da ciência
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CADERNOS UFS FILOSOFIA – Ano 7, Fasc. XIII, Vol. 9, Jan-Julho/ 2011 – ISSN Impresso: 1807-3972/ ISSN on-line: 2176-5987<br />
4. Conclusão<br />
Assim, como procuramos mostrar, H<strong>em</strong>pel procede a um alinhamento <strong>da</strong>s teorias de<br />
Popper e do positivismo lógico à teoria de Kuhn, no que diz respeito ao caráter<br />
naturalista ou descritivo. Esse procedimento, que pode ser descrito como um trabalho<br />
historiográfico inadequado, do ponto de vista <strong>da</strong> historiografia de Kuhn, como <strong>em</strong> nossa<br />
hipótese de trabalho, talvez seja mais b<strong>em</strong> compreendido se pensado também como<br />
parte do trabalho do filósofo <strong>da</strong> <strong>ciência</strong> que, como o cientista <strong>em</strong> relação às teorias<br />
científicas, está fun<strong>da</strong>mentalmente interessado <strong>em</strong> comparar, criticar e selecionar teorias<br />
<strong>da</strong> <strong>filosofia</strong> <strong>da</strong> <strong>ciência</strong>. 9<br />
Como escreve Kuhn, quando compara o comportamento dos historiadores com o dos<br />
filósofos e cientistas, observados nas aulas de cursos que ministrou:<br />
“Os filósofos e os cientistas estão muito mais próximos uns dos outros porque<br />
todos eles se preocupam com o que está correto e o que não está –não com o que<br />
aconteceu– e, portanto, tend<strong>em</strong>, ao olhar um texto, a simplesmente selecionar o<br />
ver<strong>da</strong>deiro e o falso com base <strong>em</strong> um ponto de vista moderno, com base no que já<br />
sab<strong>em</strong>” (Kuhn 2006, p. 378. Ver também Kuhn 2011, pp. 30-31).<br />
E novamente quando ele se refere a Sarton, <strong>em</strong> uma observação <strong>em</strong> que se poderia<br />
incluir também os filósofos ao lado dos cientistas:<br />
“Eu poderia ter aprendido de Sarton um monte de <strong>da</strong>dos, mas não teria aprendido<br />
nenhuma <strong>da</strong>s coisas que queria explorar. (...) Havia várias outras pessoas que<br />
ensinavam isso <strong>em</strong> algum dos departamentos de <strong>ciência</strong>s. Mas o que ensinavam,<br />
com freqüência, não era exatamente história –pelo menos, <strong>em</strong> meus termos, não<br />
exatamente história; era história de manuais. Já disse outras vezes que alguns dos<br />
maiores probl<strong>em</strong>as que tenho tido <strong>em</strong> minha carreira provêm de cientistas que<br />
pensam estar interessados <strong>em</strong> história” (Kuhn 2006, p. 341).<br />
Assim, H<strong>em</strong>pel, <strong>em</strong> sua leitura do dualismo normativi<strong>da</strong>de-descritivi<strong>da</strong>de <strong>em</strong> <strong>filosofia</strong><br />
<strong>da</strong> <strong>ciência</strong> (de algum modo histórica ou com implicações históricas), ilustra muito b<strong>em</strong> a<br />
diferença entre a história do filósofo e a do historiador. Ele reproduz o processo que<br />
chamei de alinhamento, observado na história <strong>da</strong> <strong>ciência</strong> e descrito por Kuhn por<br />
referência aos manuais científicos, às obras de divulgação e à <strong>filosofia</strong> <strong>da</strong> <strong>ciência</strong>,<br />
digamos, „historicamente desorienta<strong>da</strong>‟.<br />
9 Kuhn distingue e separa a história <strong>da</strong> <strong>ciência</strong> e a <strong>filosofia</strong> <strong>da</strong> <strong>ciência</strong>, que, segundo ele, têm<br />
objetivos diferentes (Cf. Kuhn 2011, pp. 28 ss.). Para uma perspectiva histórica ou de<br />
historiador sobre as teorias de Popper e Kuhn, ver, por ex<strong>em</strong>plo, Kuhn 2011, pp. 285 ss.<br />
Também Bloor 2009, pp. 90-104, <strong>em</strong>bora ele pareça, pontualmente (como à p. 98), mais<br />
próximo de H<strong>em</strong>pel.<br />
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