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Naturalismo e naturalização em filosofia da ciência

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CADERNOS UFS FILOSOFIA – Ano 7, Fasc. XIII, Vol. 9, Jan-Julho/ 2011 – ISSN Impresso: 1807-3972/ ISSN on-line: 2176-5987<br />

obsoleta s<strong>em</strong>pre possa ser vista como um caso especial de sua sucessora mais<br />

atualiza<strong>da</strong>, deve ser transforma<strong>da</strong> para que isso possa ocorrer. Essa transformação<br />

só pode ser <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong> dispondo-se <strong>da</strong>s vantagens <strong>da</strong> visão retrospectiva, sob a<br />

direção explícita <strong>da</strong> teoria mais recente”. Do ponto de vista de Kuhn, a maneira<br />

precisa de colocar a questão positivista sobre a derivabili<strong>da</strong>de é que uma poderosa<br />

razão para se aceitar uma teoria (ou paradigma) <strong>em</strong> vez de sua rival é que ela pode<br />

explicar o que é „ver<strong>da</strong>deiro‟ e „falso‟ na teoria substituí<strong>da</strong>. Ela t<strong>em</strong> um conteúdo<br />

mais rico e ao mesmo t<strong>em</strong>po pode <strong>da</strong>r conta do que ain<strong>da</strong> é considerado válido na<br />

teoria anterior, uma transformação que só se torna possível por causa <strong>da</strong> nova<br />

teoria” (Bernstein 1983, pp. 83-84. A passag<strong>em</strong> que cita está <strong>em</strong> Kuhn 1975, p.<br />

137).<br />

Hoyningen-Huene, comentando sobre a imag<strong>em</strong> equivoca<strong>da</strong> de <strong>ciência</strong> que é, segundo<br />

Kuhn, produzi<strong>da</strong> pela historiografia tradicional <strong>da</strong> <strong>ciência</strong>, descreve brev<strong>em</strong>ente o<br />

processo:<br />

“Em resumo, essa imag<strong>em</strong> enganosa t<strong>em</strong> orig<strong>em</strong> numa assimilação <strong>da</strong> <strong>ciência</strong><br />

passa<strong>da</strong> à <strong>ciência</strong> cont<strong>em</strong>porânea pela tradição historiográfica mais antiga, e isso<br />

acontece principalmente de duas formas. Em primeiro lugar, a seleção do que fará<br />

parte <strong>da</strong> narrativa histórica é dirigi<strong>da</strong> pelo conteúdo <strong>da</strong> <strong>ciência</strong> atual: apenas os<br />

el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> <strong>ciência</strong> passa<strong>da</strong> que estão presentes na <strong>ciência</strong> atual são vistos como<br />

tendo valor histórico. Em segundo lugar, o que t<strong>em</strong> valor histórico (pelo dito<br />

critério) é representado por meio dos conceitos <strong>da</strong> <strong>ciência</strong> atual, o que pode levar a<br />

graves distorções do conhecimento mais antigo. Em suma: a historiografia <strong>da</strong><br />

<strong>ciência</strong> mais antiga não dá espaço a uma possível estranheza e singulari<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

<strong>ciência</strong> mais antiga, não permite que ela seja substancialmente diferente <strong>da</strong> <strong>ciência</strong><br />

de hoje” (Hoyningen-Huene, 1992, p. 489. Ver também Kuhn 1975, pp 175-176).<br />

Ora, <strong>em</strong> sua leitura sobre o naturalismo de Popper, H<strong>em</strong>pel parece passar por cima do<br />

fato de que Popper e os popperianos receberam mal a Kuhn (Cf. Lakatos 1970) e ele<br />

próprio relutou muito <strong>em</strong> aceitar o ponto de vista de Kuhn como relevante. 5 H<strong>em</strong>pel fala<br />

<strong>em</strong> uma entrevista dos anos 80 (mesmo período do artigo que aqui estamos<br />

considerando) de sua resistência inicial às ideias de Kuhn:<br />

“Eu encontrei Thomas Kuhn pela primeira vez no Centro [Centro de Estudos<br />

Avançados <strong>em</strong> Ciências Comportamentais, <strong>em</strong> Stanford]. Ele não era um<br />

pesquisador do Centro nesse ano, mas era professor <strong>em</strong> Berkeley. Reunimo-nos<br />

várias vezes para discussões e fiquei muito impressionado com suas idéias. No<br />

começo, achei essas idéias estranhas e tive uma resistência muito grande <strong>em</strong><br />

relação a elas, à sua abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> historicista, pragmatista dos probl<strong>em</strong>as <strong>da</strong><br />

metodologia <strong>da</strong> <strong>ciência</strong>. Mas tenho mu<strong>da</strong>do consideravelmente minha opinião<br />

sobre este assunto desde então. De fato, uma boa parte do que pensei e escrevi<br />

posteriormente foi de uma forma ou de outra influenciado pelos probl<strong>em</strong>as e<br />

questões que foram levantados pelos trabalhos de Kuhn” (Fetzer 2000, pp 23-24).<br />

5 A propósito disso, <strong>em</strong>bora se refira à <strong>ciência</strong> e não à <strong>filosofia</strong> <strong>da</strong> <strong>ciência</strong>, Kuhn diz na<br />

Estrutura que uma tendência desse tipo “chega a afetar mesmo os cientistas que<br />

examinam retrospectivamente suas próprias pesquisas” (Kuhn 1975, pp. 176-177).<br />

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