Naturalismo e naturalização em filosofia da ciência
Naturalismo e naturalização em filosofia da ciência
Naturalismo e naturalização em filosofia da ciência
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
CADERNOS UFS FILOSOFIA – Ano 7, Fasc. XIII, Vol. 9, Jan-Julho/ 2011 – ISSN Impresso: 1807-3972/ ISSN on-line: 2176-5987<br />
jogo, na ver<strong>da</strong>de, formas alternativas de se conceber um objeto e se fazer <strong>ciência</strong>, como<br />
diferentes estilos científicos. 11 Mas como justificar então uma escolha?<br />
Suponho que a resposta ou a prática (historiográfica) tradicional do filósofo, como do<br />
cientista, r<strong>em</strong>eta justamente para o alinhamento de teorias. O filósofo e o cientista<br />
procuram construir pontes sobre as rupturas e especifici<strong>da</strong>des aponta<strong>da</strong>s pelo<br />
historiador. Poder-se-ia então dizer que aquilo que o historiador faz, o filósofo (ou o<br />
cientista) desfaz ou tende a desfazer. A sugestão <strong>em</strong>buti<strong>da</strong> na teoria de Kuhn alerta para<br />
o fato de que, quando há ruptura entre as teorias, não há escolha s<strong>em</strong> valores<br />
previamente estabelecidos e subjetivi<strong>da</strong>de. Mas na<strong>da</strong> que vá muito além de se<br />
determinar a que valores se atribui mais valor (Cf. “Objetivi<strong>da</strong>de, juízo de valor e<br />
escolha de teoria” <strong>em</strong> Kuhn 2011, pp. 339 ss.). A resistência ficaria por conta de um<br />
ideal de objetivi<strong>da</strong>de muito pouco objetivo, que insiste <strong>em</strong> por de um lado (privilegiado)<br />
a <strong>ciência</strong> e, de outro, as d<strong>em</strong>ais disciplinas. 12<br />
Para concluir: Desse modo, <strong>da</strong>qui deste meu pequeno sítio arqueológico, só posso<br />
responder à questão de que partimos dizendo que não há nenhuma „nova antigui<strong>da</strong>de‟<br />
no naturalismo ou não há novos m<strong>em</strong>bros honorários na confraria naturalista. Penso que<br />
H<strong>em</strong>pel não promove de fato a <strong>naturalização</strong>, a inclusão naturalista que pretendia, de<br />
Popper e os positivistas, recorrendo a um efeito retroativo.<br />
E acredito que o historiador tenha s<strong>em</strong>pre um pé atrás <strong>em</strong> relação a essas inclusões<br />
retroativas, fora de prazo, e através de procurador filosófico ou científico. Neste caso<br />
particular, talvez porque o historiador desconfie que Popper e os positivistas (com a<br />
notória exceção de Neurath) ficariam no mínimo muito desconfortáveis envergando o<br />
uniforme naturalista, fashion, certamente, mas de segun<strong>da</strong> mão e um ou dois números<br />
menor...<br />
11 Ver Pinto de Oliveira 2008, onde procuro introduzir os conceitos kuhnianos de paradigma e<br />
incomensurabili<strong>da</strong>de de modo mais intuitivo, no interior <strong>da</strong> história <strong>da</strong> arte, referindo-me a eles<br />
como estilo e comparação entre estilos.<br />
12 Ideal de objetivi<strong>da</strong>de, de racionali<strong>da</strong>de, de progresso, de certeza, ou qualquer outro valor que<br />
se considere intrínseco à <strong>ciência</strong> e que a distinguiria niti<strong>da</strong>mente <strong>da</strong>s outras disciplinas. Ver<br />
Marcos 2010, pp. 29 ss.<br />
62