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Naturalismo e naturalização em filosofia da ciência

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CADERNOS UFS FILOSOFIA – Ano 7, Fasc. XIII, Vol. 9, Jan-Julho/ 2011 – ISSN Impresso: 1807-3972/ ISSN on-line: 2176-5987<br />

constatações <strong>em</strong>píricas de que, <strong>em</strong> contextos importantes, os cientistas não se<br />

comportaram de acordo com os cânones de Popper. (...) No entanto, essa<br />

metodologia t<strong>em</strong> também uma faceta normativa ou avaliativa. A escolha de Popper<br />

de ex<strong>em</strong>plos do teorizar científico é incita<strong>da</strong> por sua opinião de que as teorias<br />

propriamente científicas dev<strong>em</strong> ser marca<strong>da</strong>s por rigorosa testabili<strong>da</strong>de, amplo<br />

conteúdo e características s<strong>em</strong>elhantes. As normas invoca<strong>da</strong>s aqui não são as<br />

morais, éticas, ou prudenciais; elas pod<strong>em</strong> antes ser chama<strong>da</strong>s de normas ou<br />

valores epist<strong>em</strong>ológicos, que, na busca de um conhecimento aprimorado, atribu<strong>em</strong><br />

alta importância à suscetibili<strong>da</strong>de a provas severas e à possível falsificação. Tanto a<br />

informação <strong>em</strong>pírica como a avaliação epist<strong>em</strong>ológica são então requeri<strong>da</strong>s para<br />

avaliar criticamente ou apoiar uma metodologia do tipo <strong>da</strong> pretendi<strong>da</strong> por Popper”<br />

(H<strong>em</strong>pel 2000, p. 205).<br />

Como frisa H<strong>em</strong>pel, se os princípios de Popper foss<strong>em</strong> apresentados como convenções<br />

arbitrárias, como as regras de um jogo (o “jogo <strong>da</strong> <strong>ciência</strong>”) criado por ele, não teriam<br />

nenhum interesse epist<strong>em</strong>ológico. O que lhes confere tal interesse é exatamente o fato<br />

de que as regras estão defini<strong>da</strong>s “como uma caracterização parcial e certamente<br />

idealiza<strong>da</strong> de uma classe peculiar e altamente importante de ativi<strong>da</strong>de humana –a saber,<br />

a investigação científica” (Cf. H<strong>em</strong>pel 2000, pp. 205-206).<br />

3. Kuhn, H<strong>em</strong>pel e o alinhamento de teorias<br />

O que chama a atenção hoje para a figura de H<strong>em</strong>pel como filósofo <strong>da</strong> <strong>ciência</strong>, ou a<br />

minha <strong>em</strong> particular, é o fato de ele ter habitado consecutivamente duas regiões polares<br />

do espectro filosófico. Em diferentes épocas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, foi colega e amigo de Carnap,<br />

colega e amigo de Kuhn, e trabalhou especialmente motivado, a ca<strong>da</strong> época, pela obra<br />

de um desses autores.<br />

Com respeito ao texto aqui analisado, chama a atenção de imediato na abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de<br />

H<strong>em</strong>pel sobre Popper –que escreve já persuadido pelo “pragmatic <strong>em</strong>piricism” de Kuhn<br />

e Neurath (Cf. Wolters 2003, p. 118 e H<strong>em</strong>pel 2000, p. 194)– é sua preocupação <strong>em</strong><br />

destacar a continui<strong>da</strong>de no processo de desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>filosofia</strong> <strong>da</strong> <strong>ciência</strong>. Isso<br />

nos permite formular a seguinte questão como a hipótese de trabalho que orientará aqui<br />

a investigação: H<strong>em</strong>pel é kuhniano ao admitir el<strong>em</strong>entos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> teoria de<br />

Kuhn e ain<strong>da</strong> não-kuhniano ao projetar esses el<strong>em</strong>entos sobre os positivistas lógicos e<br />

Popper, ou praticar uma historiografia recusa<strong>da</strong> por Kuhn?<br />

De modo esqu<strong>em</strong>ático, recorro aqui a duas passagens de Kuhn bastante conheci<strong>da</strong>s,<br />

como referência para analisar a leitura proposta por H<strong>em</strong>pel. Kuhn não é específico<br />

sobre o trabalho historiográfico dos manuais (não chega a citar um manual), mas refere-<br />

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