Naturalismo e naturalização em filosofia da ciência
Naturalismo e naturalização em filosofia da ciência
Naturalismo e naturalização em filosofia da ciência
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
CADERNOS UFS FILOSOFIA – Ano 7, Fasc. XIII, Vol. 9, Jan-Julho/ 2011 – ISSN Impresso: 1807-3972/ ISSN on-line: 2176-5987<br />
questão sobre Carnap para um contexto mais específico). 3 E, por julgar suficiente para<br />
meus propósitos, restrinjo-me aqui ao último e mais amplo artigo publicado por H<strong>em</strong>pel<br />
sobre o assunto: “On the cognitive status and the rationale of scientific methodology”<br />
(1988), incluído <strong>em</strong> H<strong>em</strong>pel 2000.<br />
2. H<strong>em</strong>pel e o Popper naturalista<br />
Começo por perguntar, com H<strong>em</strong>pel, qual é o estatuto cognitivo dos princípios<br />
metodológicos segundo Popper e os <strong>em</strong>piristas lógicos e <strong>em</strong> que base se apoiaram.<br />
H<strong>em</strong>pel responde dizendo que<br />
“Karl Popper recusa o que chama de a visão “naturalista” – isto é, a concepção <strong>da</strong><br />
metodologia como uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>em</strong>pírica do comportamento real dos cientistas<br />
na investigação. Popper observa que este enfoque exigiria uma especificação<br />
prévia de qu<strong>em</strong> deve contar como cientista e argumenta que “o que deve ser<br />
chamado „<strong>ciência</strong>‟ deve permanecer s<strong>em</strong>pre uma questão de convenção ou de<br />
decisão”. Quanto à sua própria metodologia, que caracteriza as hipóteses como<br />
propriamente científicas na medi<strong>da</strong> de sua falsificabili<strong>da</strong>de e vê progresso<br />
científico na transição a teorias ca<strong>da</strong> vez mais corrobora<strong>da</strong>s e mais b<strong>em</strong> testa<strong>da</strong>s,<br />
Popper sustenta que seus princípios são convenções que “pod<strong>em</strong> ser descritas como<br />
as regras do jogo <strong>da</strong> <strong>ciência</strong> <strong>em</strong>pírica”” (H<strong>em</strong>pel 2000, p. 203. Ele r<strong>em</strong>ete a Popper<br />
1959, pp. 52 e 53).<br />
No entanto, destaca H<strong>em</strong>pel,<br />
“Popper não apresenta essas regras convencionais como simplesmente arbitrárias:<br />
ele oferece argumentos <strong>em</strong> seu apoio. Particularmente, sustenta que sua<br />
metodologia “é fecun<strong>da</strong>: que muitos aspectos pod<strong>em</strong> ser esclarecidos e explicados<br />
com sua aju<strong>da</strong>” e que “o cientista poderá ver até onde ela se conforma com a idéia<br />
intuitiva que t<strong>em</strong> do objetivo de suas ativi<strong>da</strong>des”. “É através deste método, se é que<br />
existe método para isso”, diz Popper, “que as convenções metodológicas pod<strong>em</strong> ser<br />
justifica<strong>da</strong>s”” (H<strong>em</strong>pel 2000, pp. 203-204. Ele r<strong>em</strong>ete aqui a Popper 1959, p. 55).<br />
Para H<strong>em</strong>pel, portanto, Popper não considera suas convenções metodológicas como<br />
puramente arbitrárias, mas as concebe com o propósito de resolver certos “requisitos<br />
justificativos”. Esses requisitos têm uma relação com a forma como os cientistas<br />
buscam seus objetivos e pod<strong>em</strong> ser oferecidos <strong>em</strong> apoio de uma metodologia ampla, que<br />
inclua, por ex<strong>em</strong>plo, a aplicação à mat<strong>em</strong>ática. No entanto, para sua metodologia <strong>da</strong><br />
3 Tenho escrito sobre as relações teóricas e históricas entre Carnap e Kuhn <strong>em</strong> outros lugares e a<br />
questão aqui considera<strong>da</strong> poderá eventualmente justificar um novo artigo sobre o assunto. Ver,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, Pinto de Oliveira 2007.<br />
52