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ESCOAMENTO SUPERFICIAL

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Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 1<br />

<strong>ESCOAMENTO</strong> <strong>SUPERFICIAL</strong><br />

1. GENERALIDADES<br />

O escoamento superficial é o segmento do ciclo hidrológico que estuda o deslocamento da<br />

água na superfície da terra. Tem origem, fundamentalmente, nas precipitações e constitui, para o<br />

engenheiro, a mais importante das fases do ciclo hidrológico, uma vez que a maioria dos estudos<br />

está ligada ao aproveitamento da água superficial e à proteção contra os fenômenos provocados pelo<br />

seu deslocamento (erosão do solo, inundação, etc.).<br />

Para a ocorrência do escoamento superficial consideram-se os seguintes fatos. Quando uma<br />

chuva atinge uma determinada área, parte de suas águas é interceptada pela vegetação (e outros<br />

obstáculos), de onde se evapora posteriormente. O restante atinge a superfície do solo (durante a<br />

chuva, é razoável admitir-se que as quantidades evaporadas ou evapotranspiradas são desprezíveis).<br />

Do volume que atinge a superfície do solo, parte é retido nas depressões do terreno, parte se infiltra,<br />

e o restante escoa pela superfície. O escoamento pela superfície do terreno acontece após a<br />

intensidade da precipitação superar a capacidade de infiltração do solo (conforme já visto no estudo<br />

do fenômeno da infiltração) e depois que os espaços nas superfícies retentoras tenham sido<br />

preenchidos.<br />

Convém destacar, neste ponto, que o escoamento superficial na forma aqui tratada abrange<br />

desde o excesso de precipitação posterior a uma chuva suficientemente intensa (com ocorrência<br />

conforme acima descrita), até o escoamento de um rio, que pode ser alimentado tanto pelo excesso<br />

de precipitação como pelas águas subterrâneas.<br />

2. FATORES QUE INFLUENCIAM O <strong>ESCOAMENTO</strong> <strong>SUPERFICIAL</strong><br />

Os principais fatores que exercem influência no escoamento superficial são: de natureza<br />

climática (relacionado à precipitação), fisiográficos (relevo da bacia) e decorrentes da ação do<br />

homem (realização de obras hidráulicas no rio).<br />

a) Fatores Climáticos<br />

Os fatores de natureza climática que influenciam o escoamento superficial resultam das<br />

características de intensidade e duração da precipitação, bem como da ocorrência de uma<br />

precipitação anterior. Quanto a essas características, pode-se afirmar:<br />

➥ quanto maior a intensidade da precipitação, mais rápido o solo atinge a sua capacidade de<br />

infiltração (o excesso de precipitação poderá, então, escoar superficialmente);<br />

➥ a duração da precipitação tem influência direta no escoamento superficial, pois, para chuva de<br />

intensidade constante, haverá tanto mais oportunidade de ocorrer escoamento quanto maior for a<br />

duração da chuva;<br />

➥ a precipitação que ocorre quando o solo está úmido (devido a uma chuva anterior) terá maior<br />

chance de produzir escoamento superficial.<br />

b) Fatores Fisiográficos<br />

Os fatores fisiográficos mais importantes a influenciar o escoamento superficial são a área e<br />

a forma da bacia hidrográfica, a permeabilidade e a capacidade de infiltração do solo e a topografia<br />

da bacia.<br />

➥ A influência da área da bacia é óbvia, pois esta é a coletora da água de chuva: quanto maior a sua<br />

extensão, maior a quantidade de água que pode captar. Além disso, conforme visto no início do<br />

curso, a área constitui-se em elemento básico para o estudo das demais características físicas.<br />

➥ Na análise da influência da forma da bacia hidrográfica sobre o escoamento superficial gerado<br />

por uma dada chuva pode-se dizer que as bacias compactas tendem a concentrar o escoamento no<br />

canal principal que drena a bacia, aumentando os riscos de inundação.<br />

➥ A permeabilidade do solo influi diretamente na capacidade de infiltração, isto é, quanto mais<br />

permeável for o solo, maior será a velocidade com que ele pode absorver a água e, logo, maior a<br />

quantidade de água que penetrará pela superfície do solo por unidade de tempo – o que diminui o<br />

escoamento superficial.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 2<br />

➥ O efeito da topografia sobre o escoamento superficial se faz sentir, principalmente, através da<br />

declividade da bacia, da presença de depressões acumuladoras na superfície do solo, bem como do<br />

traçado e da declividade dos cursos d’água que drenam esta bacia. Bacias íngremes produzem<br />

escoamento superficial mais rápido e mais volumoso, por ser menor a chance de infiltração. Já a<br />

presença de depressões acumuladoras de água retardam o escoamento superficial, que passa a<br />

ocorrer somente após terem sido excedidas estas capacidades retentoras. O traçado e a declividade<br />

dos cursos d’água definem a maior ou menor velocidade com que deixa a bacia a água de chuva<br />

que, escoando superficialmente, atinge as calhas naturais.<br />

c) Obras Hidráulicas Construídas na Bacia<br />

➥ Uma barragem, acumulando a água em seu reservatório, reduz as vazões máximas do<br />

escoamento superficial e retarda a sua propagação para jusante.<br />

➥ Já a retificação de um rio produz um efeito inverso ao da barragem; em um curso d’água<br />

retificado tem-se aumentada a velocidade do escoamento superficial.<br />

➥ Ainda, a derivação de água da bacia, ou para a bacia, bem como o uso da água para irrigação ou<br />

a drenagem do terreno, podem constituir-se em fatores a considerar.<br />

Obs.: É interessante destacar ainda que:<br />

➥ Em uma dada seção transversal de um curso d’água, as variações das vazões instantâneas são<br />

tanto maiores quanto menor a área da bacia hidrográfica;<br />

➥ Para uma mesma área da bacia de contribuição, as variações das vazões instantâneas no curso<br />

d’água serão tanto maiores e dependerão tanto mais das chuvas de alta intensidade quanto:<br />

- maior for a declividade do terreno;<br />

- menores forem as depressões retentoras de águas;<br />

- mais retilíneo for o traçado e maior a declividade do curso d’água;<br />

- menor for a quantidade de água infiltrada; e<br />

- menor for a área coberta por vegetação.<br />

3. GRANDEZAS CARACTERÍSTICAS E ALGUNS CONCEITOS FUNDAMENTAIS<br />

a) Vazão (Q)<br />

A vazão ou deflúvio, isto é, o volume de água escoado na unidade de tempo, é a principal<br />

grandeza que caracteriza um escoamento. As unidades normalmente adotadas são o m 3 /s ou o l/s.<br />

É comum ter-se como dados que caracterizam uma bacia as vazões máximas, médias e<br />

mínimas, em intervalos de tempo tais como hora, dia, mês ou ano.<br />

Ainda, como elemento comparativo entre bacias costuma-se referir à vazão por unidade de<br />

área da bacia, ou vazão específica: q = Q A . Para esta grandeza, as unidades usuais são m 3 /(s.km 2 ),<br />

m 3 /(s⋅ha), l/(s⋅km 2 ), ), l/(s⋅ha), etc.<br />

Num balanço hidrológico aplicado a uma bacia, onde é definido o intervalo de tempo de<br />

análise ∆t, é comum também exprimir o escoamento ou deflúvio superficial em termos de uma<br />

altura de lâmina d’água escoada, dada pela razão do volume escoado no tempo ∆t pela área da<br />

projeção horizontal da superfície considerada: hs=Qsx∆t/A, também chamada precipitação efetiva.<br />

Esta altura de lâmina d’água escoada é normalmente medida em mm.<br />

b) Coeficiente de Escoamento Superficial (C)<br />

O coeficiente de escoamento ou deflúvio superficial, ou coeficiente de run off, é definido<br />

pela razão do volume de água escoado superficialmente por ocasião de uma chuva, Vols, pelo<br />

volume de água precipitada, VolT:<br />

Vols<br />

C = . (01)<br />

VolT<br />

Este coeficiente pode ser relativo a uma chuva isolada ou a um intervalo de tempo no qual<br />

várias chuvas ocorreram. É um conceito usado na previsão da vazão de enchente, provocada por


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 3<br />

uma chuva intensa. Na prática, conhecido o run off para uma determinada chuva intensa de certa<br />

duração, determina-se o escoamento superficial de outra precipitação intensa de intensidade<br />

diferente da primeira, mas de mesma duração.<br />

c) Precipitação Efetiva (ou Precipitação Excedente), Pef ou ief<br />

A precipitação efetiva (ou precipitação excedente) é a medida da altura, Pef, ou intensidade,<br />

ief, da parcela da chuva caída que provoca o escoamento superficial. É normalmente referida a um<br />

determinado intervalo de duração de uma chuva (ou à duração da chuva total, em eventos<br />

complexos). Para eventos simples, a precipitação efetiva pode ser calculada em termos de uma<br />

altura, definida pela razão do volume de água escoado superficialmente, Vols, pela área da projeção<br />

horizontal da superfície coletora, A 1 :<br />

Vols<br />

Pef<br />

= . (02)<br />

A<br />

Ainda, da definição de run off, Pef = C×P, ou ief = C×i.<br />

d) Tempo de Concentração (tc)<br />

O tempo de concentração relativo a uma seção de um curso d’água é o intervalo de tempo,<br />

contado a partir do início da precipitação, necessário para que toda a bacia hidrográfica<br />

correspondente passe a contribuir com a vazão na seção em estudo. Corresponde, pois, à soma do<br />

tempo de encharcamento da camada superficial do tempo com o tempo que uma partícula da água<br />

de chuva que cai no ponto mais distante da seção considerada leva para, escoando superficialmente,<br />

atingir esta seção.<br />

e) Freqüência e Tempo de Recorrência<br />

Para um dado intervalo de tempo de observação das vazões em uma seção de um curso<br />

d’água, a freqüência de uma vazão Q0 é o número de ocorrências da mesma neste intervalo. Na<br />

análise do escoamento provocado por chuvas intensas, a freqüência, mais propriamente, representa<br />

o número de vezes que a vazão de magnitude Q0 foi igualada ou superada no intervalo de tempo<br />

considerado.<br />

Nas aplicações práticas a freqüência F(Q0) é, em geral, expressa em termos do tempo de<br />

recorrência, Tr, ou período de retorno. Este, então, corresponde ao tempo médio, em anos, em que<br />

um evento de magnitude Q0 é igualado ou superado pelo menos uma vez. Assim, Tr = 1/F(Q0).<br />

Se F(Q0) é uma boa medida da probabilidade da ocorrência dos eventos de magnitude igual<br />

ou superior a Q0, P{Q≥Q0}, então<br />

1<br />

Tr = . (03)<br />

P<br />

{ Q ≥ Q }<br />

0<br />

f) Nível de Água, Cheia e Inundação<br />

O nível d’água é a altura atingida pela água na seção em estudo, em relação a uma<br />

determinada referência. Pode ser um valor instantâneo ou corresponder a uma média em um<br />

determinado intervalo de tempo. Em seções especiais de cursos d’água, o nível d’água,<br />

normalmente medido por uma régua, pode ser relacionado à própria vazão do escoamento – estas<br />

seções são ditas “seções de controle” e a curva que graficamente relaciona a leitura da régua com a<br />

vazão é conhecida como “curva-chave”.<br />

É comum empregar-se as palavras cheia e inundação relacionadas ao nível d’água atingido.<br />

Como cheia entende-se uma elevação normal do nível d’água (NA), dentro do próprio leito. Por<br />

1 Para eventos mais complexos, isto é, quando a intensidade da chuva é variável no tempo, existem métodos de<br />

estimativa da distribuição temporal da chuva efetiva. Ver-se-á, mais adiante, na seção 5.2.5, um destes métodos.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 4<br />

inundação entende-se a elevação não usual deste nível, provocando transbordamento e,<br />

possivelmente, prejuízos. A título de ilustração, na Figura 1 representa-se o NA de um curso d’água<br />

correspondente à elevação normal, à cheia e à inundação provocada por uma chuva intensa.<br />

Figura 1 – Diferentes posições do NA de um rio para os conceitos de cheia e inundação.<br />

4. HIDRÓGRAFA<br />

Denomina-se hidrógrafa, ou hidrograma, à representação gráfica da vazão em relação tempo,<br />

observada numa seção de um curso d’água. Embora uma hidrógrafa possa ser a representação das<br />

vazões médias diárias para um ano (também denominada fluviograma), nas análises que aqui se<br />

seguem considerar-se-á a hidrógrafa como sendo a curva da vazão versus tempo observada durante<br />

o período de cheia. Esta última forma do hidrograma tem grande importância nos estudos de obras<br />

hidráulicas relacionadas com as enchentes, particularmente no dimensionamento de canais,<br />

reservatórios, vertedores e bueiros.<br />

4.1 ANÁLISE DO HIDROGRAMA – COMPONENTES<br />

Na Figura 2, juntamente com o hietograma de uma precipitação ocorrida na bacia,<br />

representa-se a correspondente curva da vazão registrada em uma seção do curso d’água.<br />

A contribuição total para o escoamento registrado na seção considerada é devido: i) à<br />

precipitação recolhida diretamente pela superfície livre da água; ii) ao escoamento superficial dito<br />

direto (incluindo o sub-superficial); e iii) ao escoamento básico (contribuição do lençol d’água<br />

subterrâneo). Normalmente, as duas primeiras parcelas são computadas como escoamento<br />

superficial.<br />

Observando os diagramas da Figura 2, verifica-se que após o início da chuva (que acontece<br />

em t0), transcorre um intervalo de tempo até que o nível, e portanto a vazão, comece a elevar-se.<br />

Este intervalo representa o tempo de retardo da resposta, que é determinado pelo tempo de<br />

deslocamento da água na bacia e, também, é decorrente do fato de que ocorrem perdas iniciais.<br />

Estas perdas se devem à interceptação vegetal ou outros obstáculos, às retenções da água nas<br />

depressões do terreno e às infiltrações que suprem a deficiência de umidade do solo.<br />

Uma vez excedida a capacidade de infiltração do solo, inicia-se o escoamento superficial<br />

direto (representado pelo ponto A no hidrograma). Assim, a partir de t = tA tem-se a elevação da<br />

vazão até o valor de pico, com uma conformação que confere um forte gradiente ao ramo de<br />

ascensão. O escoamento superficial é o processo predominante neste período.<br />

O valor máximo do hidrograma (vazão de pico) está em conformidade com a distribuição da<br />

precipitação. Após este máximo, o hidrograma apresenta uma recessão, onde normalmente se<br />

observa um ponto de inflexão (ponto I na Figura 2). Este ponto caracteriza o fim da contribuição do<br />

escoamento superficial direto e, conseqüentemente, a predominância do escoamento subterrâneo<br />

(escoamento de base). Ao trecho da curva que se estende desde o valor de pico até o ponto I<br />

denomina-se, às vezes, curva de depleção do escoamento superficial.<br />

Conforme visto, o escoamento superficial direto termina antes do escoamento subterrâneo,<br />

uma vez que o primeiro ocorre num meio que torna a resposta mais rápida. Na Figura 2, a separação


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 5<br />

das contribuições dos escoamentos superficial e básico é feita pela linha pontilhada, para o intervalo<br />

tA ≤ t ≤ tI.<br />

A contribuição do escoamento básico é influenciada pela infiltração na camada superior do<br />

solo, percolação e conseqüente aumento do nível do lençol, retratado na Figura 3 pela linha L1M1,<br />

que se movimenta para L2M2. Como o escoamento superficial é mais rápido, o nível muda também<br />

mais rápido de NA1 para NA2. Essa elevação rápida provoca ou a inversão da vazão ou o<br />

represamento do fluxo no lençol, na vizinhança do rio. O processo começa a inverter-se quando a<br />

percolação aumenta e o fluxo superficial diminui.<br />

Figura 2 – Hietograma, hidrograma e contribuição dos escoamentos superficial e de base.<br />

Figura 3 – Variação do nível d’água do rio e do lençol subterrâneo durante a cheia.<br />

4.2 FATORES QUE INFLUENCIAM A FORMA DO HIDROGRAMA<br />

A forma do hidrograma depende de um grande número de fatores, sendo os mais<br />

importantes o relevo, a cobertura da bacia, as modificações artificiais do rio, a distribuição, duração<br />

e intensidade da precipitação e o tipo, natureza e nível de umidade do solo.<br />

➤ Relevo.<br />

A influência do relevo se faz sentir, por exemplo, através da drenagem e da declividade da<br />

bacia. Em uma bacia com boa drenagem e grande declividade o hidrograma é íngreme e apresenta<br />

pouco escoamento de base. Esta característica é típica de cabeceiras de bacias.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 6<br />

Outra característica do relevo que influencia o comportamento do hidrograma diz respeito à<br />

forma da bacia hidrográfica, forma esta definida através do coeficiente de compacidade e do fator<br />

de forma. Uma bacia radial concentra o escoamento, antecipando e aumentando o pico de vazão,<br />

comparativamente ao que ocorre em uma bacia alongada (Figura 4). Nesta última, o escoamento<br />

tem lugar predominantemente no canal principal, com um percurso mais longo até a seção principal,<br />

resultando num amortecimento das vazões.<br />

Figura 4 – Hidrogramas comparativos para as bacias radial e alongada.<br />

➤ Cobertura da Bacia Hidrográfica<br />

A influência da cobertura vegetal sobre a forma do hidrograma se faz sentir por diferentes<br />

razões. A cobertura vegetal tende a retardar o escoamento superficial, facilitar a infiltração e<br />

aumentar as perdas por evapotranspiração. Em bacias urbanas, onde a cobertura é alterada (tornamse<br />

mais impermeáveis) e a rede de drenagem é mais eficiente, vêem-se antecipada a ocorrência do<br />

escoamento superficial e aumentados o volume do escoamento superficial e a vazão de pico 2<br />

(Figura 5).<br />

Figura 5 – Hidrogramas comparativos para as bacias rural e urbana.<br />

➤ Modificações Artificiais no Rio<br />

Visando o uso mais racional da água, o homem produz modificações no rio. Um reservatório<br />

construído para a regularização da vazão tende a reduzir o pico e a distribuir o volume (Figura 6),<br />

enquanto a canalização do rio tende a aumentar o pico de vazão (como mostrado na Figura 5, para a<br />

bacia urbana).<br />

➤ Distribuição, Duração e Intensidade da Precipitação<br />

As características da precipitação são fatores fundamentais na definição do comportamento<br />

do hidrograma. Em realidade, a distribuição da precipitação não é uniforme sobre toda a bacia.<br />

2 Em projetos de sistemas de drenagem, este acréscimo de vazão implica no aumento dos diâmetros dos condutos<br />

pluviais e, conseqüentemente, dos custos de implantação do sistema.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 7<br />

Figura 6 – Hidrogramas comparativos mostrando o efeito da regularização.<br />

Quando a precipitação se concentra na parte inferior da bacia e tem seu “epicentro”<br />

deslocando-se para montante, o hidrograma pode ter até dois picos.<br />

Para uma precipitação de intensidade constante e duração suficientemente grande (para que<br />

sejam superados a capacidade de armazenamento do solo e o tempo de concentração da bacia), o<br />

valor da vazão de pico é estabilizado. Após o término da precipitação, o hidrograma entra em<br />

recessão (Figura 7).<br />

Figura 7 – Hidrograma para uma chuva uniforme e de intensidade constante com duração superior ao tempo de<br />

concentração da bacia.<br />

Em bacias hidrográficas pequenas ( A < 500 km 2 ), as precipitações convectivas (alta<br />

intensidade, pequena duração e atingindo pequena área) são capazes de provocar grandes enchentes.<br />

Por outro lado, para bacias maiores, as precipitações mais importantes são as frontais, que atingem<br />

grandes áreas com intensidade média.<br />

➤ Solo<br />

O tipo, a natureza e o nível de umidade do solo têm influência na forma do hidrograma.<br />

Quando forem baixos a umidade da camada superior do solo e o nível do lençol freático, parcela<br />

ponderável da precipitação poderá ser retida, tornando o escoamento superficial (e, portanto, o<br />

hidrograma) reduzido.<br />

4.3 ANÁLISE DO HIDROGRAMA – SEPARAÇÃO DAS COMPONENTES<br />

Pode-se afirmar que não existe nenhuma forma segura de diferenciar as parcelas da água de<br />

chuva que escoaram superficial e subterraneamente, após elas terem-se misturado para compor o<br />

fluxo em um curso d’água natural. Devido a essa incerteza, as técnicas de análise das hidrógrafas<br />

são, de certo modo, um tanto arbitrárias. Contudo, para o estudo das características hidrológicas da<br />

bacia e para alguns métodos de previsão de enchentes, a separação do hidrograma em escoamento<br />

superficial direto e escoamento básico é muito importante.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 8<br />

Para o hidrograma de uma chuva intensa, a parcela do escoamento superficial pode ser<br />

identificada diretamente através do uso de métodos gráficos. Apresentam-se, a seguir, três destes<br />

métodos. Em cada um deles, no hidrograma são identificados preliminarmente dois pontos: o ponto<br />

A, que marca o início da ascensão do hidrograma, isto é, o início da contribuição do escoamento<br />

superficial, e o ponto I, sobre o ramo de recessão, que caracteriza o término da contribuição do<br />

escoamento superficial. O ponto I é identificado, normalmente, por uma inflexão no ramo de<br />

recessão do hidrograma. A partir de I, a curva do hidrograma coincide com a curva de depleção da<br />

água do solo.<br />

✓ Método 1<br />

Por este primeiro método de separação, prolonga-se inicialmente a tendência do hidrograma<br />

anterior à chuva (a partir do ponto A) até o ponto B, na vertical que passa pelo pico do hidrograma.<br />

Partindo de B, desenha-se uma curva suave de concordância até o ponto I (Figura 8).<br />

Figura 8 – Método 1 de separação dos escoamentos superficial e de base. Qb e Qs representam, respectivamente,<br />

ordenadas dos escoamentos básico e superficial. A área em cinza representa o volume escoado superficialmente.<br />

✓ Método 2<br />

Este procedimento consiste em extrapolar a tendência anterior à chuva até a vertical do pico,<br />

encontrando o ponto B, como no método anterior. Ligando-se B e I através de um segmento de reta,<br />

completa-se a separação do escoamento (Figura 9).<br />

Figura 9 – Método 2 de separação dos escoamentos superficial e de base.<br />

✓ Método 3<br />

É o mais simples dos métodos de separação. Consiste em ligar os pontos A e I por um<br />

segmento de reta 3 , conforme se visualiza na Figura 10.<br />

3<br />

Algumas vezes, em cálculos rápidos, adota-se a linha AI horizontal, isto é, a contribuição do escoamento básico na<br />

formação do hidrograma é suposta constante.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 9<br />

Figura 10 – Método 3 de separação dos escoamentos superficial e de base.<br />

Embora o método 1 seja, aparentemente, o mais próximo da realidade, a linha de separação é<br />

de difícil determinação. Por isso, para todos os fins práticos, usualmente adota-se a linha AI<br />

(método 3), ou os segmentos AB e BI (método 2) para separar os escoamento básico e superficial.<br />

4.3.1 OBTENÇÃO DOS PONTOS A E I<br />

Nos métodos anteriormente vistos, o ponto A representa o início da contribuição do<br />

escoamento superficial devido à chuva. Passa-se, em A, de uma recessão anterior à chuva para uma<br />

ascensão súbita decorrente do escoamento superficial direto. O ponto A é facilmente determinado,<br />

pois corresponde a uma mudança brusca na inclinação da curva de vazão.<br />

O ponto I é de determinação mais difícil, existindo vários critérios na literatura para a sua<br />

obtenção.<br />

Segundo Linsley, Kohler & Paulhus (1975), o tempo N (Figura 11), contado a partir do pico<br />

do hidrograma até o ponto I pode ser avaliado pela expressão empírica 4<br />

0,<br />

2<br />

N = A , (04)<br />

onde N é dado em dias e A é a área da bacia em milhas quadradas. Como 1 milha é igual a 1,609<br />

quilômetros, então<br />

para N em dias e A em km 2 .<br />

0,<br />

2<br />

N = 0,<br />

827 × A , (05)<br />

Uma outra forma de obtenção do ponto I baseia-se na estimativa do intervalo de tempo<br />

contado desde a última precipitação que cai na bacia até o instante da ocorrência do ponto I (Figura<br />

11). Este intervalo é o tempo de concentração, tc. Para obter tc existem na literatura várias equações<br />

empíricas. Por exemplo, segundo Kirpich<br />

t<br />

c<br />

0,<br />

385<br />

⎛ 3<br />

L ⎞<br />

= 57⎜<br />

⎟<br />

⎜ z ⎟<br />

(06)<br />

⎝ ∆ ⎠<br />

onde tc é obtido em minutos, para<br />

L = comprimento do rio, em km, e<br />

∆z = diferença de elevação entre o ponto mais remoto da bacia e a seção considerada, em metros.<br />

Um terceiro critério, mais simples, aqui tratado como método de inspeção visual, baseia-se<br />

no modelo matemático para a depleção da água do solo e no lançamento em gráfico dos dados da<br />

4 É tão somente uma aproximação grosseira para estimar a posição do ponto I.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 10<br />

vazão, em escala logarítmica, em função do tempo. O método fundamenta-se na consideração de<br />

que a depleção da água do solo segue uma lei exponencial (demonstração feita adiante), do tipo<br />

( t t0<br />

)<br />

Q Q<br />

−α<br />

−<br />

= ⋅<br />

(07)<br />

0 e<br />

sendo Q a vazão no tempo t (para t ≥ tI), Q0 a vazão no tempo de referência t0 = tI, e α = coeficiente<br />

de recessão. Num gráfico de Q versus t, com os valores de Q em escala logarítmica, a equação<br />

tende para uma reta para t ≥ tI. Para valores de t < tI ocorre modificação substancial da declividade<br />

da reta, permitindo que o ponto I seja graficamente identificado 5 . O gráfico da Figura 14, do<br />

exemplo 1, é uma aplicação deste critério de obtenção do ponto I.<br />

Figura 11 – Critérios para a obtenção do ponto I<br />

Observação: Modelagem do comportamento do volume armazenado no solo e sua influência no<br />

balanço hídrico - Equação de depleção da água do solo -<br />

Adota-se um modelo linear simples de representação da contribuição do lençol subterrâneo<br />

para a calha do rio:<br />

Qb = α ⋅ Volb<br />

,<br />

Qb = parcela da vazão na seção exutória da bacia, proveniente apenas da contribuição subterrânea,<br />

Volb = volume armazenado na bacia (subterrâneo),<br />

α = coeficiente de recessão, com a dimensão de tempo -1 .<br />

Supõe-se, portanto, que a vazão na seção exutória da bacia, decorrente da contribuição<br />

subterrânea, é diretamente proporcional ao volume armazenado no subsolo da bacia. Desta hipótese,<br />

deduz-se que<br />

dVolb<br />

Qb<br />

= − ,<br />

dt<br />

com o sinal menos refletindo o fato de que ao aumento de Qb corresponde uma redução de Volb.<br />

Combinando estas duas equações, tem-se<br />

1 dQb<br />

Qb<br />

= −<br />

α dt<br />

5 Freqüentemente ocorre mais de uma mudança de inclinação, o que deve caracterizar também o escoamento subsuperficial<br />

e os retardos de diferentes partes da bacia, ou o efeito de diferentes camadas do lençol.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 11<br />

que integrada produz<br />

Qb<br />

ln<br />

Qb0<br />

ou<br />

= −α(<br />

t − t 0 ) ,<br />

Q = Q<br />

−α(<br />

t−t<br />

0 )<br />

⋅ e , que tem a forma da Eq. (07).<br />

b<br />

b0<br />

Com efeito, para o ramo de recessão da hidrógrafa (Figura 11), Q = Qb para t ≥ tI e Qb0 = Q0 = QI.<br />

4.4 OBTENÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EFETIVA E DO COEFICIENTE DE RUN OFF<br />

Após a separação do hidrograma, com o uso de um planímetro pode-se determinar a área<br />

compreendida entre a linha do hidrograma e a linha de separação do escoamento, no intervalo de<br />

tempo entre tA e tI, conforme mostrado na Figura 12. Esta área é numericamente igual ao volume<br />

escoado superficialmente. Numa notação matemática,<br />

Figura 12 – Volume escoado superficialmente, precipitação efetiva e curva de depleção da água do solo.<br />

Vol<br />

tI<br />

t<br />

s ∫ b<br />

t ∫<br />

A<br />

tA<br />

I<br />

( Q - Q ) dt = Q dt<br />

= .<br />

s<br />

Uma vez determinado o volume escoado, e conhecendo-se o total precipitado, pode-se<br />

calcular o coeficiente de escoamento superficial (run off) da equação (01):<br />

Vols<br />

C = .<br />

VolT<br />

Dividindo-se o volume escoado pela área da bacia, determina-se a precipitação efetiva total,<br />

já definida pela equação (02):<br />

Vols<br />

Pef<br />

= .<br />

A<br />

EXEMPLO 1.<br />

Na seção exutória de uma bacia hidrográfica com 36,1km 2 de área de drenagem foram<br />

obtidos os registros horários da vazão decorrente de uma chuva isolada com 2 horas de duração e 24<br />

mm/h de intensidade.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 12<br />

a) Promover a separação dos escoamentos superficial e de base;<br />

b) Calcular os volumes escoado superficialmente e total precipitado;<br />

c) Calcular a precipitação efetiva e o coeficiente de run off.<br />

Tabela 1 – Vazão horária observada na seção exutória da bacia hidrográfica<br />

t (h) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11<br />

Q(m 3 /s) 5 5 30 50 47 35 21 13 9 7 5<br />

Solução<br />

a) O primeiro passo para a separação dos escoamentos superficial e de base consiste em identificar<br />

os pontos A e I. Num gráfico de Q versus t, identifica-se o ponto A pela mudança brusca da<br />

declividade do hidrograma. Na Figura 13, este ponto corresponde ao tempo tA = 2h.<br />

Para obter o ponto I utiliza-se o método de inspeção visual: o ponto I, em um gráfico de Q (em<br />

escala logarítmica) versus t (em escala aritmética), é identificado pela mudança da declividade da<br />

linha reta (que representa a equação da depleção da água do solo). Conforme a Figura 14, o ponto I<br />

corresponde, aproximadamente, ao tempo tI = 8h.<br />

Vazão, Q (m 3 /s)<br />

Vazão, Q (m 3 /s)<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

Ponto A<br />

Ponto I<br />

0<br />

0 2 4 6 8 10 12<br />

100<br />

10<br />

Tempo, t (h)<br />

Figura 13 –Hidrograma do Exemplo 1<br />

Ponto I<br />

1<br />

0 2 4 6 8 10 12<br />

Tempo, t (h)<br />

Figura 14 – Gráfico de Q (escala log) para obter o ponto I (final do escoamento superficial)


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 13<br />

Tomando-se a linha AI de separação dos escoamentos (linha pontilhada mostrada na Figura<br />

13), é possível obter Qb(t) gráfica ou analiticamente. Adota-se, aqui, a solução analítica, com Qb(t)<br />

dado por<br />

4<br />

= 5 + t − 2 .<br />

Q b<br />

3<br />

( )<br />

Permite-se, então, construir a Tabela 2, com os valores de Qb calculados pela equação acima na 3 a<br />

coluna e Qs = Q − Qb na 4 a coluna.<br />

b) O cálculo do volume escoado superficialmente, Vols, é feito pela aproximação:<br />

Vol<br />

pois ∆t = constante = 1h.<br />

tI<br />

( Q - Q b ) dt = Qs<br />

dt ≅ ∑(<br />

Qs<br />

⋅ ∆t)<br />

= ∆t∑<br />

tI<br />

s = ∫ ∫<br />

Qs<br />

t<br />

t<br />

A<br />

A<br />

Tabela 2 – Elementos de cálculo da separação do escoamento superficial<br />

t (h) Q(m 3 /s) Qb(m 3 /s) Qs(m 3 /s)<br />

1 5 5,00 0,00<br />

2 5 5,00 0,00<br />

3 30 6,33 23,67<br />

4 50 7,67 42,33<br />

5 47 9,00 38,00<br />

6 35 10,33 24,67<br />

7 21 11,67 9,33<br />

8 13 13,00 0,00<br />

9 9 9,00 0,00<br />

10 7 7,00 0,00<br />

11 5 5,00 0,00<br />

ΣQs = 138,00<br />

Assim, tomando-se a soma da 4 a coluna da Tabela 2, com ∆t = 3600s, obtém-se<br />

Vols = 496.800m 3<br />

Para obter o volume total precipitado, VolT, multiplica-se a altura da chuva caída pela área<br />

da bacia:<br />

VolT = P × A = i × t d × A .<br />

No caso, i = 24mm/h e td = 2h. Logo, P = 48mm. Assim, com A = 36,1km 2 = 36,1×10 6 m 2 ,<br />

VolT = 1.732.800m 3<br />

c) Finalmente, obtém-se Pef e C:<br />

E,<br />

P<br />

ef<br />

Vols<br />

496.<br />

800<br />

= = = 1,<br />

376×<br />

10<br />

6<br />

A 36,<br />

1×<br />

10<br />

−2<br />

Vols<br />

496.<br />

800<br />

C = =<br />

➾ C ≅<br />

0,<br />

29<br />

Vol 1.<br />

732.<br />

800<br />

T<br />

m<br />

,<br />

➾ = 13,<br />

76mm<br />

≅ 13,<br />

8mm<br />

P ef<br />

ief = 6,9mm/h


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 14<br />

5. MÉTODOS DE ESTIMATIVA DO <strong>ESCOAMENTO</strong> <strong>SUPERFICIAL</strong> A PARTIR DE DADOS<br />

DE CHUVA<br />

Na engenharia, em estudos hidrológicos, há interesse em se conhecer o hidrograma de<br />

projeto associado a um período de retorno especificado: Q(t, Tr). Isto é, deseja-se determinar o<br />

hidrograma associado a uma chuva de projeto, através da transformação chuva-vazão, expressa por<br />

ief (td, Tr) ➾ Qs (t, Tr).<br />

Em geral, o escoamento superficial que se deseja conhecer é aquele que resulta de uma<br />

chuva capaz de produzir uma enchente do curso d’água. Entretanto, pode-se mesmo desejar<br />

conhecer o escoamento superficial resultante de uma chuva qualquer.<br />

As maneiras de se obter a mencionada transformação com base em modelação matemática<br />

são várias, sendo, adiante, selecionadas algumas: o método racional, o método do hidrograma<br />

unitário e o método do hidrograma unitário sintético.<br />

5.1 MÉTODO RACIONAL<br />

O método racional, introduzido em 1889, é o mais simples dentre todos os modelos<br />

hidrológicos de transformação de uma chuva em escoamento superficial. É largamente utilizado no<br />

Brasil, Estados Unidos e muitos outros países. A aplicação do método deve ser restrita a pequenas<br />

bacias hidrográficas, ou simplesmente, pequenas superfícies de drenagem. É recomendável limitar a<br />

aplicação às áreas inferiores a 2,5km 2 .<br />

O método racional utiliza uma equação simples que exprime o estado permanente da<br />

transformação da chuva em vazão, que ocorre quando a chuva tem intensidade constante e toda a<br />

área passa a contribuir com a vazão na seção do curso d’água, o que se dá quando a duração da<br />

chuva é superior ao tempo de concentração, tc. Assim, se ocorre uma chuva intensa uniforme, com<br />

duração td ≥ tc, a vazão resultante de acordo com o método é dada por<br />

Q s<br />

= C ⋅i<br />

⋅ A<br />

(08)<br />

sendo Qs (escoamento superficial) em m 3 /s, i = intensidade da chuva, em m/s e A = área de<br />

drenagem, em m 2 . O parâmetro C é o coeficiente de escoamento ou deflúvio superficial (run off),<br />

que considera o grau de permeabilidade da área de drenagem. Na equação, C⋅i = ief, que é a parcela<br />

da chuva responsável pelo escoamento superficial. Ainda, para considerar diferentes possibilidades<br />

de emprego de unidades,<br />

= c ⋅ C ⋅ i ⋅ A<br />

(8.1)<br />

Qs c<br />

onde cc é um coeficiente de correção para as unidades.<br />

Em termos das unidades normalmente adotadas em projetos,<br />

Q<br />

S<br />

3 C ⋅ i ( ) ( mm h)<br />

⋅ A(<br />

ha)<br />

m s<br />

3 ( m s)<br />

= , ou (09)<br />

360<br />

2<br />

( mm h)<br />

⋅ A(<br />

km ) 2<br />

= 0 278⋅<br />

C ⋅i(<br />

mm h)<br />

A(<br />

km )<br />

C ⋅ i<br />

QS = ,<br />

⋅<br />

3,<br />

6<br />

. (10)<br />

Nas aplicações práticas, a intensidade da precipitação é obtida das curvas ou equações de<br />

intensidade-duração-freqüência, válidas para a região em estudo. Normalmente, estas equações se<br />

expressam através de modelos da forma<br />

( ) n<br />

c + t<br />

d<br />

m<br />

k ⋅ Tr<br />

i = (11)


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 15<br />

sendo Tr o período de retorno e k, m, c e n coeficientes que dependem do local. A duração da<br />

chuva, td, deve ser a duração da chuva crítica de projeto que, no caso, deve ser feita igual a tc, o<br />

tempo de concentração, para o qual existem várias formulações empíricas.<br />

5.1.1 COEFICIENTE DE <strong>ESCOAMENTO</strong> <strong>SUPERFICIAL</strong> NO MÉTODO RACIONAL<br />

Na prática, o coeficiente de escoamento superficial é normalmente obtido de tabelas<br />

elaboradas com base nas características da bacia hidrográfica (ou da área de drenagem), que<br />

incluem o tipo de solo, a vegetação e aspectos associados ao manuseio e urbanização. Em anexo são<br />

apresentadas três tabelas: a Tabela 4, contendo os valores recomendados pela ASCE (American<br />

Society of Civil Engineers), a Tabela 5 para áreas agrícolas e a Tabela 6, com os valores adotados<br />

pela prefeitura do município de São Paulo.<br />

Considerando o comportamento natural da bacia, é de se esperar que o coeficiente C varie<br />

com a magnitude da enchente. Com efeito, com o aumento da intensidade da precipitação as perdas<br />

(interceptação, infiltração e armazenamento em depressões) não são as mesmas: o coeficiente C<br />

deve aumentar. Como a intensidade da precipitação é função do período de retorno, a dependência<br />

de C pode ser posta em função deste último. Na tabela 3 apresentam-se os valores do multiplicador<br />

de C em função do período de retorno.<br />

Tabela 3 – Variação do coeficiente de runoff com a intensidade da chuva, expressa pelo período de retorno<br />

Tr (anos) Multiplicador de C Tr (anos) Multiplicador de C<br />

2 a 10 1,00 50 1,20<br />

25 1,10 100 1,25<br />

EXEMPLO 2 (Aplicação do Método Racional em Áreas Rurais)<br />

Determinar a vazão máxima em uma pequena bacia hidrográfica rural de 2,0km 2 de área de<br />

drenagem, para um período de retorno de 50 anos, sabendo-se que: i) a área apresenta topografia<br />

composta de morros, com declividade média igual a 4,5%, solo com permeabilidade média (nem<br />

arenoso, nem argiloso) e cobertura apresentando 70% de área cultivada e o restante composto de<br />

árvores naturais; ii) o desnível entre a seção do curso d’água, para o qual se calcula a vazão, e o<br />

ponto mais remoto da bacia é de 52m e a extensão deste curso d’água é de 2,9km; iii) a equação de<br />

intensidade-duração-freqüência para a região é do tipo ( ) 935 0<br />

0,<br />

236<br />

,<br />

i = 1519 ⋅ Tr 16 + t d , com i em<br />

mm/h, Tr em anos e td em minutos.<br />

Solução:<br />

➧ Obtenção do coeficiente de escoamento superficial<br />

' ' '<br />

Para áreas rurais, C = 1−<br />

( C1<br />

+ C2<br />

+ C3<br />

) .<br />

' ' '<br />

Para a área cultivada, da tabela 5, C1 = 0,<br />

10,<br />

C2 = 0,<br />

20 e C3 = 0,<br />

10 . Portanto, Cac=0,6.<br />

' ' '<br />

Para a área contendo árvores naturais, da tabela 5, C1 = 0,<br />

10,<br />

C2 = 0,<br />

20 e C3 = 0,<br />

20.<br />

Portanto,<br />

Can=0,5.<br />

Considerando os percentuais de cobertura diferenciada, C = 0,<br />

70×<br />

0,<br />

6 + 0,<br />

30 × 0,<br />

5 = 0,<br />

57 .<br />

➧ Estimativa do tempo de concentração (duração da chuva crítica)<br />

0,<br />

385<br />

0,<br />

385<br />

Segundo Kirpich (equação 06), t = 57 × ( L ∆z)<br />

= 57 × ( 2,<br />

9 52)<br />

= 42,<br />

6min.<br />

➧ Cálculo da intensidade da precipitação<br />

i = 1519×<br />

50<br />

0,<br />

236<br />

/<br />

c<br />

0,<br />

935<br />

( 16 + 42,<br />

6)<br />

= 85,<br />

0mm/h.<br />

➧ Cálculo da vazão (equação 10)<br />

3<br />

Q =<br />

0,<br />

278×<br />

C ⋅i<br />

⋅ A = 0,<br />

278×<br />

0,<br />

57 × 85,<br />

0 × 2 = 26,<br />

9m<br />

/s.<br />

s<br />

3<br />

3


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 16<br />

TABELAS PARA O COEFICIENTE DE "RUN OFF"<br />

Tabela 4 - Valores de C recomendados pela ASCE (1969).<br />

superfície intervalo C valor esperado<br />

• pavimento<br />

asfalto 0,70 - 0,95 0,83<br />

concreto 0,80 - 0,95 0,88<br />

calçadas 0,75 - 0,85 0,80<br />

telhado 0,75 - 0,95 0,85<br />

• cobertura: grama solo arenoso<br />

pequena declividade (2%) 0,05 - 0,10 0,08<br />

declividade média (2 a 7%) 0,10 - 0,15 0,13<br />

forte declividade (7%) 0,15 - 0,20 0,18<br />

• cobertura: grama solo pesado<br />

pequena declividade (2%) 0,13 - 0,17 0,15<br />

declividade média (2 a 7%) 0,18 - 0,22 0,20<br />

forte declividade (7%) 0,25 - 0,35 0,30<br />

Tabela 5 - Valores de C' para cálculo de C para áreas rurais (Williams, 1949).<br />

Tipo de Área C'<br />

1. Topografia<br />

✽ terreno plano, declividade de 0,2 a 0,6 m/km 0,30<br />

✽ terreno, declividade de 3,0 a 4,0 m/km 0,20<br />

✽ morros, declividade de 30 a 50 m/km<br />

2. Solo<br />

0,10<br />

✽ argila (impermeável) 0,10<br />

✽ permeabilidade média 0,20<br />

✽ arenoso<br />

3. Cobertura<br />

0,40<br />

✽ áreas cultivadas 0,10<br />

✽ árvores<br />

C = 1 - (C'1+C'2+C'3)<br />

0,20<br />

Tabela 6 - Valores de C (adotados pela Prefeitura de S. Paulo)<br />

Zonas C<br />

Edificação muito densa:<br />

Partes centrais densamente construídas de uma cidade com ruas e calçadas<br />

pavimentadas 0,70 - 0,95<br />

Edificação não muito densa:<br />

Partes adjacentes ao centro, de menor densidade de habitações, mas com<br />

ruas e calçadas pavimentadas 0,60 - 0,70<br />

Edificações com poucas superfícies livres:<br />

Partes residenciais com construções cerradas, ruas pavimentadas 0,50 - 0,60<br />

Edificações com muitas superfícies livres:<br />

Partes residenciais com ruas macadamizadas ou pavimentadas 0,25 - 0,50<br />

Subúrbios com alguma edificação:<br />

Partes de arrabaldes e subúrbios com pequena densidade de construção 0,10 - 0,25<br />

Matas, parques e campos de esporte:<br />

Partes rurais, áreas verdes, superfícies arborizadas, parques ajardinados,<br />

campos de esporte sem pavimentação 0,05 - 0,20


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 17<br />

Quando a área de drenagem é heterogênea com ocupação diferenciada, atribui-se a cada subregião<br />

um valor para o coeficiente de escoamento superficial. O coeficiente médio para toda a área<br />

de drenagem é dado pela média ponderada em relação às áreas das sub-regiões. Assim, se a área de<br />

drenagem A é caracterizada por n sub-regiões, cada uma com área Ai, i = 1, 2, ..., n, e tendo cada<br />

sub-região um valor específico correspondente para o coeficiente de runoff, Ci, então o coeficiente<br />

médio da área de drenagem será determinado por:<br />

1<br />

C = ( C1A1<br />

+ C 2A<br />

2 + L + C nA<br />

n ) . (12)<br />

A<br />

5.2 HIDRÓGRAFA UNITÁRIA<br />

Denomina-se hidrógrafa unitária, ou hidrograma unitário (HU), ao hidrograma característico<br />

correspondente à resposta da bacia hidrográfica decorrente de uma chuva efetiva uniforme de certa<br />

duração td e altura pluviométrica unitária igual a 1cm.<br />

O HU de uma bacia constitui-se em uma ferramenta útil na transformação de dados de chuva<br />

em vazão. No método admite-se que a bacia se comporta como um sistema linear, e que as chuvas<br />

complexas podem ser subdivididas em chuvas simples de modo que, se forem conhecidos os<br />

hidrogramas resultantes das chuvas simples, determina-se facilmente o hidrograma correspondente<br />

à chuva complexa. Para isso, baseia-se na propriedade principal dos sistemas lineares, que é a<br />

superposição dos efeitos.<br />

O Método do Hidrograma Unitário (Método do HU) foi apresentado por Sherman em 1932 e<br />

foi mais tarde aperfeiçoado por outros. Segundo Sherman, para chuvas de distribuição uniforme e<br />

intensidade constante sobre toda a bacia, tem-se a seguintes proposições básicas:<br />

i) em uma dada bacia, para chuvas de uma mesma duração, as durações dos escoamentos<br />

superficiais correspondentes são iguais;<br />

ii) duas chuvas de mesma duração, mas com volumes escoados diferentes, resultam em hidrógrafas<br />

cujas ordenadas são, a cada tempo, proporcionais aos correspondentes volumes escoados;<br />

iii) considera-se que as precipitações anteriores não influenciam a distribuição no tempo do<br />

escoamento superficial decorrente de uma dada chuva.<br />

O conceito de hidrógrafa unitária, associado às três proposições básicas acima enunciadas,<br />

fornece a possibilidade de considerar a hidrógrafa unitária como uma característica da bacia. Com<br />

efeito, dada a hidrógrafa unitária, a qualquer chuva de intensidade uniforme e duração 6 igual àquela<br />

que gerou a hidrógrafa unitária, pode-se calcular as ordenadas do hidrograma do escoamento<br />

superficial correspondente.<br />

Com base nas duas primeiras proposições de Sherman, pode-se estabelecer a formulação<br />

básica do Método do HU:<br />

() t<br />

Qs Pef<br />

= , (13)<br />

Qu<br />

() t 1cm<br />

sendo Qu(t) a vazão do escoamento superficial correspondente à chuva efetiva de altura unitária<br />

(ordenada da hidrógrafa unitária no tempo t) e Qs(t) a vazão do escoamento superficial, para uma<br />

chuva isolada de altura efetiva Pef em cm.<br />

5.2.1 DURAÇÃO DA CHUVA<br />

Basicamente, para cada duração de chuva tem-se uma hidrógrafa unitária. Quanto menor a<br />

duração da chuva, maior será a vazão de pico do HU, visto que o volume escoado é dado por<br />

Vols=1cm×A, e o tempo de base do hidrograma é tanto menor quanto menor a duração da chuva.<br />

6 A duração normalmente adotada é a duração crítica para o cálculo da enchente.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 18<br />

Segundo Linsley, Kohler & Paulhus (1975) não haverá grande diferença no estabelecimento<br />

da hidrógrafa unitária se as durações das chuvas não diferirem muito, podendo ser admitida como<br />

aceitável uma tolerância de 25% na duração estabelecida da chuva.<br />

Em projeto de drenagem, a duração da chuva a ser normalmente adotada seria igual à da<br />

chuva crítica para o cálculo da enchente, isto é, o mínimo valor para o qual toda a bacia contribui<br />

para o escoamento superficial. Entretanto, quando não se dispõe desta informação, pode ser adotado<br />

um tempo da ordem de 1/3 do tempo de pico do hidrograma.<br />

No Brasil, quase sempre dispõe-se apenas de registros de totais diários de chuva e vazão.<br />

Isto reduz o campo de aplicação do método do HU, pois condiciona um período unitário mínimo de<br />

24 horas. Neste caso, de acordo com indicação de Johnstone & Cross, o método do HU deve ser<br />

limitado a bacias hidrográficas com área superior a 2500km 2 .<br />

EXEMPLO 3: Aplicação do Método do HU - Estimativa das ordenadas do HU para um evento<br />

simples<br />

Considere os dados do exemplo 1 (página 11). Obter o hidrograma unitário para a chuva de 2 horas<br />

de duração.<br />

Solução:<br />

➧ Adotaremos os resultados dos cálculos efetuados na solução do exemplo 1. Transportamos a<br />

tabela já construída e a completaremos para a redução do hidrograma do escoamento superficial<br />

(coluna 4) ao hidrograma de “volume unitário” (coluna 5).<br />

➧ Para um evento simples (chuva de intensidade constante de 2 horas de duração)<br />

Qs () t Pef<br />

Qs<br />

() t<br />

= ⇒ Q u () t =<br />

Qu<br />

() t 1cm<br />

Pef<br />

( cm)<br />

onde Pef = 1,376 cm. Os valores de Qu(t) são calculados e lançados na coluna 5 da Tabela 7. Esses<br />

valores são convertidos em alturas e lançados na coluna (6).<br />

Tabela 7 – Redução do hidrograma do escoamento superficial ao hidrograma unitário<br />

( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 ) ( 5 ) ( 6 )<br />

t (h) Q(m 3 /s) Qb(m 3 /s) Qs(m 3 /s) Qu(m 3 /s) hu (cm)<br />

1 5 5,00 0,00 - -<br />

2 5 5,00 0,00 0 0<br />

3 30 6,33 23,67 17,20 0,1715<br />

4 50 7,67 42,33 30,76 0,3067<br />

5 47 9,00 38,00 27,62 0,2754<br />

6 35 10,33 24,67 17,93 0,1788<br />

7 21 11,67 9,33 6,78 0,0676<br />

8 13 13,00 0,00 0 0<br />

9 9 9,00 0,00 - -<br />

10 7 7,00 0,00 - -<br />

11 5 5,00 0,00 - -<br />

Σ = 138,00 100,29 1,00<br />

Uma verificação do resultado pode ser feita prontamente: o HU deve corresponder a um<br />

volume escoado unitário. Com efeito,<br />

∑ ( Q u ⋅ ∆t)<br />

∆t<br />

3600<br />

= ∑Q<br />

u = × 100,<br />

29 = 0,<br />

0100m<br />

= 1,<br />

00cm<br />

.<br />

6<br />

A A 36,<br />

1×<br />

10


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 19<br />

5.2.2 EXPRESSÃO PARA O <strong>ESCOAMENTO</strong> <strong>SUPERFICIAL</strong> COM BASE NO HU<br />

CONHECIDO<br />

Conhecido o hidrograma unitário de uma bacia para a chuva de duração td, isto é, conhecido<br />

o HU(td), pode-se obter facilmente as ordenadas do hidrograma do escoamento superficial<br />

correspondente à chuva efetiva de duração td e altura Pef. Para isto, multiplicam-se as ordenadas do<br />

HU pela altura da chuva efetiva em centímetros.<br />

No caso de eventos complexos, isto é, chuva efetiva com intensidade variável em intervalos<br />

de tempo td, o hidrograma do escoamento superficial resultante deverá ser visto como uma<br />

superposição dos hidrogramas isolados gerados por cada precipitação de duração td. Isto decorre da<br />

consideração de que as precipitações antecedentes não influenciam a distribuição no tempo do<br />

escoamento superficial de uma outra chuva.<br />

EXEMPLO 4: Aplicação do Método do HU - Estimativa das ordenadas do escoamento superficial<br />

de um evento complexo, conhecido o HU<br />

O hidrograma unitário para a chuva de duração td=1h em uma determinada bacia é dado na<br />

tabela abaixo em intervalos de tempo ∆t=1h.<br />

t (h) 1 2 3 4 5 6 7 8<br />

Qu(m 3 /s) 0 12,1 27,3 24,2 18,2 10,9 4,5 0<br />

Obter o escoamento superficial resultante de uma efetiva composta de precipitações de intensidade<br />

variando a cada 1 hora, de acordo com a tabela:<br />

tempo Precipitação efetiva<br />

t (h) ief (mm/h)<br />

1 30<br />

2 20<br />

Solução:<br />

Para a solução do problema, procede-se da seguinte forma:<br />

- determinam-se, para a primeira chuva de duração idêntica à que gerou o HU, as ordenadas do<br />

escoamento superficial em intervalos ∆t;<br />

- repete-se para a segunda chuva, levando-se em conta a defasagem (td) em relação à chuva<br />

anterior (no caso, de 1h).<br />

- O hidrograma procurado é obtido pela superposição dos hidrogramas isolados. Isto é mostrado<br />

de forma gráfica na figura 15. Matematicamente, se P1 e P2 são as precipitações efetivas e<br />

sucessivas, de duração td cada uma, então para um instante genérico, t, tem-se:<br />

s<br />

() t P × Q () t + P × Q ( t t )<br />

Q = − . (14)<br />

1<br />

u<br />

2<br />

u<br />

d<br />

Na planilha abaixo (Tabela 8) apresentam-se os resultados dos cálculos. As chuvas efetivas P1 e P2<br />

têm, respectivamente, 3cm e 2cm de altura.<br />

Uma verificação do resultado pode ser prontamente feita, uma vez que o volume escoado,<br />

Vols=∑(Qs×∆t) (15)<br />

deve ser igual a Pef total×A. Como Pef total=5cm, então deve-se ter<br />

( × ∆t)<br />

∑ Qs = 0,<br />

05 m, com Qs em m<br />

A<br />

3 /s, ∆t em s e A em m 2 .


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 20<br />

A área A da bacia hidrográfica não foi explicitamente fornecida. Contudo, conhecem-se as<br />

ordenadas do HU. E, como,<br />

( × ∆t)<br />

∑ Q u<br />

A<br />

= 0,<br />

01,<br />

(16)<br />

então, A=97,2×3600/0,01 ⇒ A=34.992.000m 2 ≅35km 2 .<br />

∑ ( Qs × ∆t)<br />

486×<br />

3600<br />

Finalmente,<br />

= = 0,<br />

05m<br />

= 5cm<br />

.<br />

A 34992000<br />

(OK!)<br />

Tabela 8- Elementos de cálculo do hidrograma do escoamento superficial para o exemplo 4<br />

Tempo (h) Qu(t) (m 3 /s) P1×Qu(t) Qu(t-td) (m 3 /s) P2×Qu(t-td) Qs (m 3 /s)<br />

1 0 0 - - 0<br />

2 12,1 36,3 0 0 36,3<br />

3 27,3 81,9 12,1 24,2 106,1<br />

4 24,2 72,6 27,3 54,6 127,2<br />

5 18,2 54,6 24,2 48,4 103,0<br />

6 10,9 32,7 18,2 36,4 69,1<br />

7 4,5 13,5 10,9 21,8 35,3<br />

8 0 - 4,5 9,0 9,0<br />

9 - - 0 0 0<br />

∑Qs = 486,0<br />

vazão, (m 3 /s)<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

HU<br />

HU deslocado<br />

escoamento superficial resultante<br />

0<br />

0 2 4 6 8 10<br />

tempo, (h)<br />

Figura 15 – Construção gráfica do hidrograma do escoamento superficial para o exemplo 4.<br />

A solução do problema-exemplo n o 4 pode ser generalizada para considerar um conjunto de<br />

m precipitações efetivas, cada uma com duração td, de intensidades variáveis em intervalos de<br />

tempo td. Conhecido o HU(td), o hidrograma do escoamento superficial resultante poderá ser


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 21<br />

calculado pela superposição dos hidrogramas isolados gerados por cada uma das m precipitações de<br />

duração td.<br />

Considerando-se Qu(ti) a ordenada não nula do HU no tempo genérico ti, com i = 1, 2, ..., n,<br />

e sendo Pj a precipitação efetiva de duração td, com j = 1, 2, ..., m, escreve-se:<br />

➥ Qs ( t1<br />

) = P1<br />

⋅ Q u ( t1<br />

)<br />

➥ Qs ( t 2 ) = P1<br />

⋅ Q u ( t 2 ) + P2<br />

⋅ Q u ( t1<br />

)<br />

➥ Q ( t ) = P ⋅ Q ( t ) + P ⋅ Q ( t ) + P ⋅ Q ( t )<br />

s<br />

3<br />

1<br />

u<br />

3<br />

2<br />

u<br />

2<br />

Qs M<br />

t n<br />

M<br />

= P1<br />

⋅ Q u t n + P2<br />

⋅ Q u t n−1<br />

+ P3<br />

⋅ Q u t n−2<br />

+ L+<br />

Pm<br />

⋅ Q<br />

Q t = P ⋅ Q t .<br />

➥ ( ) ( ) ( ) ( ) ( t )<br />

➥ ( ) ( )<br />

s<br />

n+<br />

m−1<br />

m<br />

Ou, numa notação matricial,<br />

u<br />

n<br />

[ Q s ] p×<br />

1 [ Pef<br />

] p×<br />

n ⋅[<br />

Qu<br />

] n×<br />

1<br />

onde, para a chuva composta m>1, e<br />

Estas matrizes se escrevem:<br />

[ ]<br />

3<br />

u<br />

1<br />

= , (17)<br />

p = n + m −1.<br />

(18)<br />

( )<br />

( )<br />

( )<br />

( )⎥ ⎥⎥⎥⎥⎥<br />

Qs ⎡ Qs<br />

t1<br />

⎤<br />

⎢<br />

⎢<br />

Qs<br />

t 2<br />

= ⎢ M ;<br />

⎢<br />

⎢Qs<br />

t p−1<br />

⎢<br />

⎣ Qs<br />

t p ⎦<br />

⎡ P<br />

⎢<br />

⎢<br />

P<br />

⎢ P<br />

⎢<br />

⎢ M<br />

[] P = ⎢P<br />

⎢<br />

⎢<br />

⎢<br />

⎢<br />

⎢<br />

⎢<br />

⎣<br />

1<br />

2<br />

3<br />

m<br />

P<br />

P<br />

P<br />

P<br />

M<br />

1<br />

2<br />

3<br />

m<br />

P<br />

P<br />

P<br />

P<br />

M<br />

1<br />

2<br />

3<br />

m<br />

O<br />

O<br />

O<br />

O<br />

P<br />

P<br />

P<br />

P<br />

M<br />

1<br />

2<br />

3<br />

m<br />

u<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎦<br />

1<br />

; [ Q ]<br />

u<br />

( t1<br />

)<br />

( t )<br />

( )⎥ ⎥⎥⎥⎥⎥⎥<br />

⎡ Q u ⎤<br />

⎢<br />

⎢<br />

Q u 2<br />

⎢ ⎛ ⎞<br />

=<br />

⎢<br />

Q u ⎜ t 3 ⎟ .<br />

⎢<br />

⎝ ⎠<br />

⎢ M<br />

⎢<br />

⎣ Q u t n ⎦<br />

EXEMPLO 5<br />

Os dados apresentados na tabela abaixo caracterizam o HU de uma bacia, correspondente à<br />

chuva de duração td = ∆t.<br />

tempo ∆t 2∆t 3∆t 4∆t 5∆t 6∆t 7∆t 8∆t 9∆t 10∆t 11∆t<br />

Qu(m 3 /s) 1,0 3,0 6,0 5,4 4,6 3,2 1,8 1,2 0,8 0,3 0,0<br />

Determinar o escoamento superficial resultante de uma chuva atuando sobre a bacia, composta de<br />

precipitações efetivas de intensidades variando a cada intervalo ∆t segundo a tabela abaixo:<br />

tempo ∆t 2∆t 3∆t<br />

Precipitação efetiva (mm) 5 10 6<br />

Solução:<br />

Inicialmente podemos pesquisar o número das ordenadas do escoamento superficial não<br />

nulas. São m=3 chuvas efetivas de idênticas durações. São n=10 ordenadas não nulas do hidrograma<br />

unitário. Então, serão p = n + m – 1 = 12 ordenadas não nulas do escoamento superficial resultante.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 22<br />

Numa notação matricial, [ Q s ] 12×<br />

1 [ P]<br />

12×<br />

10 ⋅[<br />

Q u ] 10×<br />

1<br />

⎡ Qs<br />

⎤ ⎡0,<br />

5<br />

1<br />

⎢ ⎥ ⎢<br />

⎢<br />

Qs<br />

⎥ ⎢<br />

1,<br />

0<br />

2<br />

⎢Q<br />

s ⎥ ⎢0,<br />

6<br />

3<br />

⎢ ⎥ ⎢<br />

⎢Q<br />

s4<br />

⎥ ⎢<br />

⎢Q<br />

⎥ ⎢ s5<br />

⎢ ⎥ ⎢<br />

⎢Q<br />

s6<br />

⎥ ⎢<br />

⎢ ⎥ =<br />

Q ⎢<br />

s<br />

⎢ 7 ⎥ ⎢<br />

⎢Q<br />

s ⎥ 8 ⎢<br />

⎢<br />

Q<br />

⎥ ⎢<br />

⎢ s9<br />

⎥ ⎢<br />

⎢Qs<br />

⎥ ⎢<br />

10<br />

⎢ ⎥ ⎢<br />

⎢Qs11<br />

⎥ ⎢<br />

⎢ ⎥<br />

⎣<br />

Qs<br />

⎦<br />

⎢<br />

12 ⎣<br />

Efetuando os cálculos:<br />

0,<br />

5<br />

1,<br />

0<br />

0,<br />

6<br />

0,<br />

5<br />

1,<br />

0<br />

0,<br />

6<br />

0,<br />

5<br />

1,<br />

0<br />

0,<br />

6<br />

0,<br />

5<br />

1,<br />

0<br />

0,<br />

6<br />

0,<br />

5<br />

1,<br />

0<br />

0,<br />

6<br />

0,<br />

5<br />

1,<br />

0<br />

0,<br />

6<br />

➩ Qs1 = 0,5×1,0 = 0,5m 3 /s<br />

➩ Qs 2<br />

= 1,0×1,0 + 0,5×3,0 = 2,5m 3 /s<br />

➩ Qs3 = 0,6×1,0 + 1,0×3,0 + 0,5×6,0 = 6,6m 3 /s<br />

➩ Qs 4<br />

= 0,6×3,0 + 1,0×6,0 + 0,5×5,4 = 10,5m 3 /s<br />

➩ Qs5 = 0,6×6,0 + 1,0×5,4 + 0,5×4,6 = 11,3m 3 /s<br />

➩ Qs6 = 0,6×5,4 + 1,0×4,6 + 0,5×3,2 = 9,44m 3 /s<br />

➩ Qs7 = 0,6×4,6 + 1,0×3,2 + 0,5×1,8 = 6,86m 3 /s<br />

➩ Qs8 = 0,6×3,2 + 1,0×1,8 + 0,5×1,2 = 4,32m 3 /s<br />

➩ Qs9 = 0,6×1,8 + 1,0×1,2 + 0,5×0,8 = 2,68m 3 /s<br />

➩ Qs10 = 0,6×1,2 + 1,0×0,8 + 0,5×0,3 = 1,67m 3 /s<br />

➩ Qs11 = 0,6×0,8 + 1,0×0,3 = 0,78m 3 /s<br />

➩ Q = 0,6×0,3 = 0,18m 3 /s.<br />

s<br />

12<br />

= . Introduzindo-se os valores numéricos:<br />

0,<br />

5<br />

1,<br />

0<br />

0,<br />

6<br />

0,<br />

5<br />

1,<br />

0<br />

0,<br />

6<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎡1,<br />

0⎤<br />

⎥<br />

⎢ ⎥<br />

⎢<br />

3,<br />

0<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎢6,<br />

0⎥<br />

⎥<br />

⎢ ⎥<br />

⎢5,<br />

4<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎢4,<br />

6⎥<br />

⎥<br />

× ⎢ ⎥<br />

⎥<br />

⎢3,<br />

2⎥<br />

⎥<br />

⎢1,<br />

8⎥<br />

⎥<br />

⎢ ⎥<br />

⎥<br />

⎢1,<br />

2⎥<br />

0,<br />

5⎥<br />

⎢<br />

0,<br />

8<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎢ ⎥<br />

1,<br />

0<br />

⎥<br />

⎢⎣<br />

0,<br />

3⎥⎦<br />

0,<br />

6⎥⎦<br />

Verificação:<br />

O volume escoado superficialmente, Vols, deve ser igual ao produto da precipitação efetiva<br />

total pela área da bacia hidrográfica: = P × A . No caso, Pef total = 0,5 + 1,0 + 0,6 = 2,1cm.<br />

Vols ef total<br />

Conhecidos os Qs em intervalos de tempo ∆t, tem-se ainda que = ∑(<br />

Q × ∆t)<br />

∑(<br />

Q × ∆t)<br />

s<br />

Vols s<br />

. Portanto,<br />

Pef<br />

total = . (19)<br />

A<br />

Embora a área da bacia hidrográfica não tenha sido explicitamente fornecida, pode-se obtêla<br />

a partir da propriedade do HU conhecido:<br />

∑(<br />

Qu × ∆t)<br />

∑(<br />

Qu<br />

× ∆t)<br />

= 1cm.<br />

Ou, em unidades do Sistema Internacional, A = .<br />

A<br />

0,<br />

01<br />

Como, no caso, ∑Qu=27,3m 3 /s e ∑Qs=57,33m 3 /s, tem-se:


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 23<br />

P<br />

ef total<br />

∆t<br />

⋅∑<br />

Qs<br />

57,<br />

33<br />

= × 0,<br />

01 = × 0,<br />

01 = 0,<br />

021m<br />

= 2,1cm (OK!)<br />

∆t<br />

⋅ Q 37,<br />

3<br />

∑<br />

u<br />

Observação:<br />

A solução do problema-exemplo 5 também poderia ser encontrada pela construção da<br />

planilha de cálculo abaixo. Nesta planilha calculam-se os escoamentos superficiais gerados pelas<br />

chuvas efetivas individuais e somam-se os resultados. Nota-se que a chuva efetiva P2 ocorreu ∆t<br />

unidades de tempo após a chuva P1. Por isso, o HU da chuva P2 encontram-se deslocado do tempo<br />

correspondente. O mesmo se diz da chuva P3 em relação à chuva P2.<br />

tempo<br />

P1 = 0,5 cm<br />

Qu P1×Qu<br />

(m<br />

P2 = 1,0 cm<br />

P2×Qu<br />

P3 = 0,6 cm<br />

P3×Qu<br />

3 /s) (m 3 /s)<br />

Qu<br />

(m 3 /s) (m 3 /s)<br />

Qu<br />

(m 3 /s) (m 3 /s)<br />

Qs<br />

(m 3 /s)<br />

∆t 1,0 0,5 - - - - 0,50<br />

2∆t 3,0 1,5 1,0 1,0 - - 2,50<br />

3∆t 6,0 3,0 3,0 3,0 1,0 0,6 6,60<br />

4∆t 5,4 2,7 6,0 6,0 3,0 1,8 10,50<br />

5∆t 4,6 2,3 5,4 5,4 6,0 3,6 11,30<br />

6∆t 3,2 1,6 4,6 4,6 5,4 3,24 9,44<br />

7∆t 1,8 0,9 3,2 3,2 4,6 2,76 6,86<br />

8∆t 1,2 0,6 1,8 1,8 3,2 1,92 4,32<br />

9∆t 0,8 0,4 1,2 1,2 1,8 1,08 2,68<br />

10∆t 0,3 0,15 0,8 0,8 1,2 0,72 1,67<br />

11∆t 0,3 0,3 0,8 0,48 0,78<br />

12∆t 0,3 0,18 0,18<br />

5.2.3 ESTIMATIVA DAS ORDENADAS DO HU COM BASE EM DADOS HISTÓRICOS<br />

Consideram-se, agora, conhecidas as vazões e as precipitações, e desconhecidas as<br />

ordenadas do hidrograma unitário, num evento complexo. Demonstra-se, a seguir, que este é um<br />

problema que possui mais equações do que incógnitas: apresenta, portanto, infinitas soluções.<br />

Para a solução do problema, é possível interpretar o hidrograma complexo como resultante<br />

da superposição de hidrogramas isolados correspondentes aos respectivos períodos de precipitações,<br />

observando-se, ainda, admitirem todos eles o mesmo hidrograma unitário.<br />

Sejam os registros de m precipitações efetivas, sucessivas, ocorrendo em intervalos de<br />

tempo de duração td, dadas por P1, P2, ..., Pm. As p vazões do escoamento superficial resultante,<br />

conhecidas em intervalos de tempo ∆t, são Q , Q , ..., Q . As ordenadas procuradas do HU são<br />

Q , Q , ..., Q , onde o número n de ordenadas vale n = p – m + 1.<br />

u<br />

1<br />

u<br />

2<br />

u<br />

n<br />

Em notação matricial, [ Q s ] p×<br />

1 [ Pef<br />

] p×<br />

n ⋅[<br />

Q u ] n×<br />

1<br />

➥ Qs1 = P1<br />

⋅ Qu1<br />

➥ Qs2 = P1<br />

⋅ Q u2<br />

+ P2<br />

⋅ Qu1<br />

➥ Qs3 = P1<br />

⋅ Qu<br />

+ P<br />

3 2 ⋅ Qu<br />

+ P<br />

2 3 ⋅ Q<br />

M<br />

➥ Q P ⋅ Q + P ⋅ Q<br />

➥<br />

s<br />

p−1<br />

= m u m−1<br />

n−1<br />

Q = P ⋅ Q .<br />

s<br />

p<br />

m<br />

u<br />

n<br />

u<br />

n<br />

u<br />

1<br />

s<br />

1<br />

s<br />

2<br />

s<br />

p<br />

= . Ou, operando as variáveis:


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 24<br />

Este sistema possui p equações e n incógnitas, e como n < p, o sistema tem infinitas<br />

soluções. Entre as soluções possíveis, apresentam-se a seguir algumas delas 7 .<br />

i) Por substituição, no sentido dos tempos crescentes:<br />

Qs1<br />

➥ Qu1<br />

P<br />

=<br />

1<br />

➥ Qu<br />

= ( Qs<br />

− P2<br />

⋅ Qu<br />

) P<br />

2<br />

2<br />

1 1<br />

➥ Qu<br />

= ( Qs<br />

− P3<br />

⋅ Qu<br />

− P2<br />

⋅ Qu<br />

) P1<br />

3<br />

3<br />

1<br />

➥ M<br />

ii) Por substituição, no sentido dos tempos decrescentes:<br />

Qs<br />

p<br />

➥ Qu<br />

n P<br />

=<br />

=<br />

m<br />

Qs<br />

− Pm−1<br />

➥ Qu<br />

( ⋅ Q u ) Pm<br />

n−1<br />

p−1<br />

n<br />

2<br />

➥ M<br />

iii) Por inversão de matriz:<br />

[Qs]=[P]×[Qu]. Multiplicando-se, membro a membro, pela matriz transposta de P, [P T ]:<br />

[P T ]×[Qs] = [P T ]×[P]×[Qu]. Fazendo, [P T ]×[P] = [X], tem-se [Qu] = [X -1 ]×[P T ]×[Qs].<br />

EXEMPLO 6<br />

São dadas as precipitações efetivas de um evento que cobre completamente uma bacia<br />

urbana, com intensidades variáveis em intervalos de tempo td=1h: i1ef = 40mm/h e i2ef = 20mm/h. Se<br />

as vazões resultantes (escoamento superficial), conhecidas em intervalos de tempo de duas horas,<br />

são Qs = 37m<br />

1<br />

3 /s, Qs = 73m<br />

2<br />

3 /s, Qs = 55m<br />

3<br />

3 /s e Qs = 18m<br />

4<br />

3 /s, calcular as ordenadas do<br />

hidrograma unitário. Dado: A=22km 2 .<br />

Solução:<br />

Para visualização, representam-se na Figura 16 o hietograma (chuva efetiva) e o hidrograma<br />

do escoamento superficial conhecidos.<br />

A solução do problema é encontrada através da solução do sistema de equações, escrito na<br />

forma matricial: [ Q s ] p×<br />

1 = [ Pef<br />

] p×<br />

n × [ Qu<br />

] n×<br />

1.<br />

A matriz [Qs] é dada como 4×1, isto é, p=4. Havendo<br />

duas precipitações efetivas, m = 2. Logo, o número de ordenadas do HU procurado será<br />

n = p − m + 1 = 3.<br />

No caso,<br />

P1=i1ef×td = 40×1=40mm=4cm, e<br />

P2=i2ef×td = 20×1=20mm=2cm.<br />

Escreve-se, pois:<br />

⎡37⎤<br />

⎡4<br />

⎢ ⎥ ⎢<br />

⎢<br />

73<br />

⎥ = ⎢<br />

2<br />

⎢55⎥<br />

⎢<br />

⎢ ⎥ ⎢<br />

⎣18⎦<br />

⎣<br />

4<br />

2<br />

⎤<br />

⎥ ⎡Q<br />

⎥ ⎢<br />

×<br />

⎥ ⎢Q<br />

4<br />

⎥ ⎢<br />

⎣<br />

Q<br />

2⎦<br />

7<br />

Qualquer que seja a solução, existirá sempre mais equações do que incógnitas e nem todas as equações serão usadas<br />

para a estimativa de Qu.<br />

u1<br />

u2<br />

u3<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎥<br />

⎥<br />


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 25<br />

Figura 16 – Hietograma e hidrograma do escoamento superficial do exemplo 6<br />

Multiplicando-se as matrizes, encontram-se:<br />

37 = 4 × Qu1<br />

( i )<br />

73 = 2 × Qu1 + 4 × Qu2<br />

( ii )<br />

55 = 2 × Qu2 + 4 × Qu3<br />

( iii )<br />

18 = 2 × Qu3<br />

( iv )<br />

São, pois, 4 equações e 3 incógnitas. Resolve-se por tentativa.<br />

Solução I: resolvendo por substituição, no sentido crescente dos tempos (empregando as equações i,<br />

ii e iii):<br />

De (i), Qu1 = 9,250m 3 /s<br />

De (ii), conhecido Qu1, Qu2 = 13,625m 3 /s<br />

De (iii), conhecido Qu2, Qu3 = 6,938m 3 /s.<br />

Para constituir um HU, os resultados encontrados (Solução I) devem satisfazer a relação:<br />

∑ Qu ⋅ ∆t<br />

/ A = 1cm<br />

. Isto significa que a soma das ordenadas do HU, convertidas em alturas, deve<br />

ser igual a 1cm. Verifiquemos.<br />

∑<br />

No caso, ∑Qui = 29,813m 3 /s. Como ∆t = 2h = 7200s, e A = 22km 2 = 22×10 6 m 2 , tem-se:<br />

∆t<br />

A = 0,<br />

009757m<br />

= 0,<br />

976<br />

= 1 cm − ∑ Qu<br />

⋅ ∆t<br />

A<br />

Qu ⋅ cm<br />

ε / cm , de<br />

0,024cm (ou +2,4%). As ordenadas Qu1, Qu2 e Qu3 deveriam ser corrigidas para representar o HU(td<br />

=1h). Antes de executar a correção, pesquisemos uma outra solução.<br />

Solução II: resolvendo por substituição, no sentido decrescente dos tempos (empregando as<br />

equações iv, iii e ii):<br />

De (iv), Qu3 =9,00m 3 /s<br />

De (iii), com Qu3 conhecido, Qu2 = 9,50m 3 /s<br />

De (ii), com Qu2 conhecido, Qu1 = 17,50m 3 /s.<br />

Faz-se a verificação. Para a solução II, ∑Qui = 36,00m 3 /s. Assim, ∑ Qu ⋅ ∆t<br />

/ A = 0,<br />

01178m<br />

=<br />

1,178cm. O erro neste caso é de −0,178cm (ou −17,8%). As ordenadas também necessitam ser<br />

corrigidas para representar o HU(td = 1h).<br />

/ . Portanto, tem-se um erro, ( ) ( )


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 26<br />

Conclusão:<br />

Uma vez que o menor erro foi encontrado com a solução I, esta será escolhida como base<br />

para a solução do problema. O erro de +0,024cm deverá ser distribuído na solução I de forma<br />

ponderada. Transforma-se, primeiramente, este erro em unidades de vazão: ε=0,024cm → 2,4×10 -4<br />

(m)×22×10 6 (m 2 )÷7200(s) = 0,733m 3 /s. Finalmente, obtêm-se as ordenadas do HU procuradas:<br />

Qu1 = 9,250 + 0,733/3 ⇒ Qu1 ≅ 9,5m 3 /s<br />

Qu2 = 13,625 + 0,733/3 ⇒ Qu2 ≅ 13,9m 3 /s<br />

Qu3 = 6,938 + 0,733/3 ⇒ Qu3 ≅ 7,2m 3 /s.<br />

Neste ponto, algumas observações necessitam ser apontadas com relação à obtenção do HU<br />

a partir de dados históricos.<br />

Obs.①: Normalmente, dispondo-se de dados históricos, defronta-se com o “problema” de existir<br />

mais de um par de conjunto de dados de precipitação e vazão observados, ou seja, mais de um<br />

evento observado. Neste caso, a seleção do melhor evento para o cálculo do HU deve ser criteriosa,<br />

cuidando-se de evitar a possibilidade de tendenciosidade na estimativa do HU da bacia. Por<br />

exemplo, os eventos de pequena magnitude tendem a subestimar a previsão de cheias maiores.<br />

Assim, para escolher eventos adequados deve-se procurar atender aos objetivos do estudo.<br />

Se, no caso, o estudo é voltado para cheias de grandes intervalos de recorrência, deve-se procurar<br />

trabalhar com os maiores hidrogramas disponíveis.<br />

Obs.②: Selecionados alguns eventos que atendam aos objetivos do estudo, é de se esperar que cada<br />

evento produza um HU diferente em magnitude e distribuição temporal, o que é conseqüência da<br />

não-uniformidade da precipitação no espaço e no tempo, bem como das características não-lineares<br />

do escoamento. É necessário, contudo, sintetizar um único HU para a bacia.<br />

Para sintetizar vários HU’s num único, tem-se dois métodos principais:<br />

1) Posicionam-se os HU’s em uma origem comum e tomam-se as médias das ordenadas de<br />

cada tempo. → Este procedimento tende a reduzir o pico de vazões de cheia.<br />

2) Posicionam-se os HU’s com base nos picos, obtendo-se a média das ordenadas em cada<br />

tempo.<br />

Em qualquer caso, nas situações (1) e (2), deverá ser mantido o “volume unitário”, isto é:<br />

∑ Qu ⋅ ∆t<br />

= 1cm<br />

.<br />

A<br />

5.2.4 CONVERSÃO DO HU PARA DIFERENTES DURAÇÕES<br />

Considere-se a situação em que seja conhecido o HU de uma bacia para chuvas de duração<br />

td. Seja td’ a amplitude de um novo intervalo de tempo para o qual se deseja conhecer o<br />

correspondente HU. Analisam-se duas possíveis situações: a) td’ > td e b) td’ < td.<br />

Caso a): td’ > td<br />

Este é o caso da chuva unitária com duração maior do que aquela que gerou o HU conhecido. O<br />

procedimento a ser adotado para obter o novo HU consiste em simplesmente deslocar o HU<br />

conhecido (td’/td –1) vezes, somando-se as ordenadas em cada tempo. Ao final, as novas ordenadas<br />

do hidrograma assim obtido devem ser divididas por td’/td para que o “volume unitário” seja<br />

mantido.<br />

EXEMPLO 7 – Dado o hidrograma unitário de uma determinada bacia para uma chuva de 20<br />

minutos (tabela abaixo), obter o hidrograma unitário da chuva de 1 hora de duração.<br />

t (min) 20 40 60 80 100 120<br />

hu (cm) 0,12 0,30 0,28 0,17 0,09 0,04


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 27<br />

Obs.: As ordenadas do HU são fornecidas em termos da altura hu da lâmina d’água escoada em<br />

intervalos de 20min, isto é, hu=Qu×∆t/A. Note, ainda, que a soma das ordenadas hu é igual a 1,00cm,<br />

como é requerido pelo método.<br />

Solução:<br />

No exemplo em questão é conhecido o HU(td=20min), com ordenadas dadas em intervalos<br />

∆t=20min. Para encontrar o HU(td’=1h) deveremos inicialmente deslocar o HU(td=20min) duas<br />

vezes de um intervalo igual à duração td. A soma das ordenadas dos três HU’s deverá produzir um<br />

hidrograma auxiliar. Dividindo-se, ao final, as ordenadas deste hidrograma auxiliar por 3,<br />

encontram-se as ordenadas do HU(td=1h).<br />

A solução é apresentada na planilha da Tabela 9 e também de forma gráfica na Figura 17.<br />

Tabela 9 – Construção do HU(td’=1h) a partir do HU(td=20min) conhecido<br />

tempo HU(td=20min) HU deslocado HU deslocado H Auxiliar HU(td’=1h)<br />

(min) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm)<br />

20 0,12 - - 0,12 0,040<br />

40 0,30 0,12 - 0,42 0,140<br />

60 0,28 0,30 0,12 0,70 0,233<br />

80 0,17 0,28 0,30 0,75 0,250<br />

100 0,09 0,17 0,28 0,54 0,180<br />

120 0,04 0,09 0,17 0,30 0,100<br />

140 0,04 0,09 0,13 0,043<br />

160 0,04 0,04 0,013<br />

∑hu = 1,00cm<br />

h u (cm)<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

._._._._._ Hidrograma Auxiliar<br />

................ HU (t d = 20min)<br />

_______ HU (t d ' = 1h)<br />

0,0<br />

0 50 100 150 200<br />

tempo, t (min)<br />

Figura 17 – Construção do HU(td’=1h) a partir do HU(td=20min) do exemplo 7.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 28<br />

Caso b): td’ < td<br />

Na estimativa do HU para a chuva de duração td’, com base no HU para a chuva de duração<br />

td maior que td’, utiliza-se da construção da curva S (hidrograma em S), que é definida pela resposta<br />

da bacia a uma precipitação de intensidade constante e duração superior ao tempo de concentração.<br />

Para obter a curva S aplica-se sucessivamente o HU(td), isto é, desloca-se o HU(td) várias<br />

vezes, e somam-se as ordenadas de mesmo tempo, até que seja atingido o patamar. O patamar do<br />

hidrograma em S ocorre quando o tempo de base do HU(td) é atingido. A seguir, deve-se defasar<br />

dois hidrogramas S da duração td’, isto é, deve-se construir o hidrograma S(t−td’). Como ilustração,<br />

na Figura 18 representa-se a construção dos dois hidrogramas S deslocados de td’, concebidos a<br />

partir do HU(td), com ordenadas dadas em intervalos ∆t = td’.<br />

Figura 18 – Construção dos hidrogramas S defasados de td’ a partir do HU(td), com td’


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 29<br />

Na coluna (9) tem-se as ordenadas do HU(td’=20min), obtidas pela divisão da coluna (8) por<br />

(td’/td). Nota-se uma imprecisão com relação ao último valor não nulo obtido. Para achar este último<br />

valor, é conveniente somar todos os outros valores e atribuir ao último a quantidade necessária para<br />

tornar a soma total igual à unidade.<br />

Tabela 10 – Construção do HU(td’=20min) a partir do HU(td=1h) conhecido<br />

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9)<br />

t HU(1h) HU desl. HU desl. HU desl. S(t) S(t-td’) Hid.Aux. HU(td’)<br />

(min) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm)<br />

20 0,050 0,050 - 0,050 0,150<br />

40 0,135 0,135 0,050 0,085 0,255<br />

60 0,230 0,230 0,135 0,095 0,285<br />

80 0,230 0,050 0,280 0,230 0,050 0,150<br />

100 0,175 0,135 0,310 0,280 0,030 0,090<br />

120 0,105 0,230 0,335 0,310 0,025 0,070<br />

140 0,060 0,230 0,050 0,340 0,335 0,005(?)<br />

160 0,015 0,175 0,135 0,325 0,340 -0,015(?)<br />

180 0,105 0,230 0,335 0,325 0,010(?)<br />

200 0,060 0,230 0,050 0,340 0,335 0,005(?)<br />

220 0,015 0,175 0,135 0,325 0,340 -0,015(?)<br />

240 0,105 0,230 0,335 0,325 0,010(?)<br />

260 0,060 0,230 M M M<br />

280 0,015 0,175 M M M<br />

300 0,105 M M M<br />

320 0,060 M M M<br />

340 0,015 M M M<br />

Os resultados apresentados na Tabela 10 também foram utilizados para a construção gráfica da<br />

Figura 19.<br />

h u (cm)<br />

0,40<br />

0,35<br />

0,30<br />

0,25<br />

0,20<br />

0,15<br />

0,10<br />

0,05<br />

HU ( t d ' = 20min )<br />

S ( t )<br />

S ( t - t d ' )<br />

HU ( t d = 1h )<br />

0,00<br />

0 60 120 180 240 300 360 420 480<br />

tempo (min)<br />

Figura 19 – Construção gráfica para a obtenção do HU(td’=20min) a parti do HU(td=1h) conhecido


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 30<br />

5.2.5 DETERMINAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DAS PRECIPITAÇÕES EFETIVAS<br />

A precipitação efetiva é a parcela da chuva caída que gera o escoamento superficial. Em<br />

eventos complexos, tanto quanto a precipitação total, a precipitação efetiva tem sua intensidade<br />

variável ao longo do tempo.<br />

Para obter a precipitação efetiva total deve-se retirar do total precipitado as parcelas<br />

interceptada pela vegetação ou obstáculos, retida nas depressões superficiais do terreno e infiltrada.<br />

Escreve-se:<br />

= P − F − PI<br />

(20)<br />

Pef Total Total<br />

onde,<br />

F = infiltração total, medida em termos de altura da lâmina d’água infiltrada, e<br />

PI = perdas iniciais = interceptação + retenções superficiais.<br />

Se for conhecido um modelo descritivo da infiltração na bacia (equação de Horton, por<br />

exemplo), poderá ser calculada a infiltração ao longo do tempo. Contudo, considerando-se as<br />

dificuldades associadas às estimativas dos parâmetros de infiltração e à determinação das perdas<br />

iniciais, outros métodos foram desenvolvidos para a obtenção do hietograma da precipitação<br />

efetiva. Esses métodos utilizam índices ou relações funcionais para determinar Pef. Apresenta-se, a<br />

seguir o método do índice φ. 8<br />

5.2.5.1 USO DO ÍNDICE φ PARA Pef<br />

O índice φ é calculado dividindo-se a altura da parcela não escoada da chuva pelo número de<br />

intervalos de tempo de duração da chuva:<br />

PI + F<br />

φ =<br />

m<br />

=<br />

Interceptação + Retenções Superficiais<br />

+ Infiltração<br />

PTotal<br />

− Vols<br />

=<br />

número de chuvas<br />

A<br />

número de chuvas<br />

Este valor é subtraído de cada precipitação obtendo-se, para cada intervalo, a chuva efetiva.<br />

Figura 20 – Ilustração para o cálculo das precipitações efetivas pelo método do índice φ<br />

Observação:<br />

Pode existir intervalo i em que φ>Pi. Neste caso, faz-se Pi = 0 e, para que o volume da precipitação<br />

efetiva seja igual ao do escoamento superficial, é necessário distribuir a diferença i P − φ para os<br />

demais intervalos de tempo.<br />

EXEMPLO 9<br />

Na tabela abaixo são fornecidos os dados de precipitação e vazão na seção exutória de uma bacia<br />

hidrográfica com 310km 2 de área de drenagem. Construir o hidrograma unitário da bacia para as<br />

chuvas de 6h.<br />

t (h) 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66<br />

Q(m 3 /s) 28,0 28,0 28,0 93,0 162,7 162,6 120,0 56,8 37,0 31,0 28,0<br />

8<br />

O S.C.S. (U. S. Soil Conservance Service), apresenta um método que utiliza uma relação funcional para a precipitação<br />

efetiva (V. ABRH, pg. 405)<br />

(21)


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 31<br />

P (mm) 24 66 14<br />

Solução:<br />

Para a construção do HU(td=6h) é preciso conhecer as ordenadas do hidrograma do<br />

escoamento superficial e a chuva efetiva. As ordenadas do hidrograma do escoamento superficial<br />

serão obtidas a partir da separação do escoamento básico, enquanto que a chuva efetiva será obtida<br />

pelo método do índice φ.<br />

♦ Separação dos escoamentos básico e superficial<br />

Para a separação dos escoamentos deve-se identificar no hidrograma os pontos A e I, de<br />

início e final da contribuição do escoamento superficial. O ponto A é de fácil identificação, pois<br />

corresponde a uma mudança abrupta observada no hidrograma. No caso,tA = 18h.<br />

Para o ponto I utiliza-se a proposição de que a depleção da água do solo segue uma lei<br />

exponencial. Portanto, para t ≥ tI, no gráfico de Q (em escala log) versus t (em escala aritmética),<br />

espera-se um comportamento linear da vazão. Por este procedimento, conforme ilustrado na Figura<br />

21, o ponto I marca o limite de validade do modelo de depleção, e indica o fim da contribuição do<br />

escoamento superficial. No caso, tI ≅ 60h.<br />

vazão, Q (m 3 /s)<br />

100<br />

Ponto I<br />

10<br />

30 40 50 60 70<br />

tempo, t (h)<br />

Figura 21 – Identificação do instante final da contribuição do escoamento superficial<br />

Obtidos os pontos A e I, faz-se a separação gráfica, como ilustrado na Figura 22. Por<br />

simplicidade, adotou-se o segmento de reta AI de separação. A reta que passa por A e I tem por<br />

equação: Qb = 26,714 + 0,0714×t, com Qb em m 3 /s para t em h. Com base nesta equação, foram<br />

calculados os valores de Qb para o trecho AI, com os valores lançados na Tabela 11. Esses valores<br />

permitem obter as ordenadas instantâneas do escoamento superficial, segundo Q(t) = Qb(t) + Qs(t).<br />

♦ Obtenção do índice φ e da precipitação efetiva<br />

O volume escoado superficialmente pode ser obtido de Vols = ∑( Qs<br />

× ∆t)<br />

. No caso, ∆t = 6h<br />

= 21600s (constante). Assim, Vol s = 21600 × ∑ Qs<br />

. Somando-se os valores de Qs, como na Tabela<br />

11, obtém-se Vols = 9,830×10 6 m 3 . O volume total precipitado vale: = A × ∑ P =<br />

310<br />

VolT 6<br />

× 10 ×<br />

= 32,240×10 6 m 3 . Pela equação (21), obtém-se o índice φ:<br />

−3<br />

( 24 + 66 + 14)<br />

× 10


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 32<br />

( Vol Vol )<br />

altura de chuva não escoada<br />

T s A<br />

número de precipitações<br />

m<br />

−<br />

φ =<br />

=<br />

.<br />

6<br />

6<br />

6<br />

( 32,<br />

240 × 10 − 9,<br />

830×<br />

10 ) 310 × 10<br />

Portanto, φ =<br />

= 0,<br />

0241m<br />

= 24,<br />

1mm<br />

. Esta quantidade é<br />

3<br />

subtraída de cada um dos Pi dados, para produzir os Pi ef. Nota-se que P1 e P3 são menores do que φ.<br />

Faz-se, então, P1 = 0 e P3 = 0, e redistribui-se a diferença no outro intervalo.<br />

- Intervalo de 0 a 6h: P1=24mm → P1 – φ = – 0,1mm ⇒ P1 ef = 0 (e 0,1mm para redistribuir).<br />

- Intervalo de 6 a 12h: P2=66mm → P2 – φ = 41,9mm<br />

- Intervalo de 12 a 18h: P3=14mm → P3 – φ = – 10,1mm ⇒ P3 ef = 0 (e 10,1mm para redistribuir).<br />

O total a ser redistribuído é igual a: 0,1+10,1=10,2mm. Esta quantidade é subtraída de 41,9mm<br />

(única parcela não nula), produzindo Pef = P2 ef = 41,9 – 10,2 = 31,7mm=3,17cm.<br />

Verificação:<br />

Figura 22 – Hidrograma da chuva do exemplo 9 e separação dos escoamentos de base e superficial<br />

Tabela 11 – Separação dos hidrogramas para a construção do HU do exemplo 9<br />

t (h) Q (m 3 /s) Qb (m 3 /s) Qs (m 3 /s) Qu (m 3 /s)<br />

6 28,0 28,000 0 -<br />

12 28,0 28,000 0 -<br />

18 28,0 28,000 0 0<br />

24 93,0 28,428 64,572 20,37<br />

30 162,7 28,856 133,844 42,22<br />

36 162,6 29,284 133,316 42,06<br />

42 120,0 29,713 90,287 28,48<br />

48 56,8 30,141 26,659 8,41<br />

54 37,0 30,570 6,430 2,03<br />

60 31,0 31,000 0 0<br />

66 28,0 28,000 0 -<br />

∑= 455,108 143,57


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 33<br />

∑Pef = 0+31,7+0 = 31,7mm.<br />

−3<br />

6<br />

6<br />

Vol s = ∑ Pef<br />

× A = 31,<br />

7 × 10 × 310 × 10 ≅ 9,<br />

830 × 10 m 3 (OK!).<br />

♦ Cálculo das ordenadas do HU(td=6h)<br />

A fórmula geral de obtenção das ordenadas do HU é [ Q s ] = [ Pef<br />

] × [ Q u ] , onde<br />

p×<br />

1 p×<br />

n n×<br />

1<br />

p=n+m-1. No caso tem-se apenas uma chuva efetiva (m=1). Logo, p=n. Neste caso, escreve-se<br />

simplesmente, Q u () t = Qs<br />

() t Pef<br />

, com Pef em cm para obter Qu(t) com as mesmas unidades de<br />

Qs(t). Os resultados dos cálculos encontram-se lançados na última coluna da Tabela12. O HU é<br />

representado na Figura 23, juntamente com os hidrogramas do escoamento total e superficial.<br />

vazão, Q, Q s e Q u (m 3 /s)<br />

150<br />

100<br />

50<br />

( Q s x t )<br />

( Q u x t )<br />

( Q x t )<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60 70 80<br />

tempo (h)<br />

Figura 23 – Hidrogramas do problema-exemplo 9<br />

Nota: de acordo com a propriedade de qualquer HU, ( × t)<br />

A =<br />

verificação dos resultados do exemplo 9:<br />

3<br />

( Q u × t)<br />

∆t<br />

× ∑(<br />

Q u ) 6×<br />

3600()<br />

s × 143,<br />

57(<br />

m s)<br />

=<br />

=<br />

6 2<br />

A A<br />

310×<br />

10 ( m )<br />

∑ ∆<br />

Q u<br />

∑ ∆<br />

= 0,0100m = 1cm (OK!)<br />

1cm. Faz-se, então, a<br />

5.3 MÉTODO DO HIDROGRAMA UNITÁRIO SINTÉTICO<br />

Quando não se dispõe dos dados necessários ao estabelecimento do HU, conforme visto na<br />

seção anterior, estes ainda podem ser sintetizados. Para tal fim, utilizam-se as informações de outras<br />

bacias, de características as mais semelhantes possíveis, para construir o hidrograma unitário da<br />

bacia de interesse.<br />

Os métodos conhecidos para a construção do HU sintético 9 baseiam-se, em geral, na<br />

determinação de valores de alguns tempos característicos do hidrograma, como o tempo de pico e o<br />

tempo de base, e na determinação da vazão de pico do hidrograma. A partir da regionalização destas<br />

variáveis com base em características físicas, tem-se permitido estabelecer o HU para um local sem<br />

dados observados 10 .<br />

9 Métodos do HU sintético: Bernard; McCarthy; Snyder; Clark; Taylor e Schwarz; Commons; U.S. Soil Conservance<br />

Service; Mitchell; Getty e McHughs; Dooge; Warnock; etc.<br />

10 A inexistência de dados históricos se deve, freqüentemente, a rios desprovidos de estações hidrométricas.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 34<br />

Apresentam-se, a seguir, três dos mais conhecidos métodos de sintetização do hidrograma<br />

unitário para uma bacia: 1) o método de Snyder, 2) uma variação do método de Snyder para<br />

aplicação em bacias urbanas, aqui referida como o método do Colorado, e 3) o método do Soil<br />

Conservance Service 11 .<br />

5.3.1 MÉTODO DO HIDROGRAMA UNITÁRIO SINTÉTICO DE SNYDER<br />

O Método do HU sintético de Snyder (1938) foi proposto com base em dados dos Apalaches<br />

(EUA), para bacias de 10 a 10.000 milhas quadradas (aproximadamente, 26km 2 a 26.000km 2 ). Para<br />

a construção do HU sintético, o método utiliza as estimativas de alguns parâmetros característicos,<br />

que são abaixo definidos.<br />

a) Tempo de pico do hidrograma, tp<br />

O tempo de ocorrência do pico de vazão, tp, é medido sobre o hidrograma, na escala das<br />

abscissas, desde o centro geométrico do hietograma da chuva efetiva até o pico do hidrograma do<br />

escoamento superficial (no caso, um HU), conforme ilustrado na Figura (24). Este tempo, em horas,<br />

é estimado de<br />

t<br />

p<br />

t<br />

( ) 3 0,<br />

L L<br />

= 0,<br />

752 ⋅ C ⋅ ⋅<br />

(22)<br />

CG<br />

onde,<br />

Ct = coeficiente empírico, que depende das características da bacia, com valor médio entre 1,8 e 2,2<br />

segundo Snyder;<br />

L = comprimento da bacia, em km, medido ao longo do rio principal, desde o divisor de águas até a<br />

saída da bacia;<br />

LCG = distância medida ao longo do rio principal, desde o ponto do rio principal mais próximo do<br />

centro geométrico da bacia até a saída da mesma, em km.<br />

b) Duração da precipitação, td<br />

No método Snyder, a duração da precipitação que gera o hidrograma é estimada de<br />

t p<br />

t d = , (23)<br />

5,<br />

5<br />

com td e tp em horas.<br />

c) Vazão de pico da hidrógrafa unitária, Qup<br />

Para a chuva efetiva de 1cm de altura e duração td, a vazão de pico do hidrograma é<br />

calculada de<br />

Qup<br />

Cp<br />

q up = = 2,<br />

755<br />

(24)<br />

A t<br />

p<br />

para Qup em m 3 /s, qup em (m 3 /s)/km 2 , tp em h, e<br />

Cp = coeficiente empírico, com valor variando entre 0,56 e 0,69, segundo Snyder; e<br />

A = área de drenagem, em km 2 .<br />

d) Tempo de base do hidrograma unitário, tb<br />

O tempo de base do HU no método de Snyder, tb, em dias, é estimado de<br />

t<br />

b<br />

t p<br />

= 3 +<br />

(25)<br />

8<br />

11 O Hidrograma Unitário Sintético deve ser utilizado como último recurso. Antes de se construir um HU sintético é<br />

preciso avaliar a possibilidade de realização de experimentos em campo por ocasião de cheias.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 35<br />

para tp em horas. Para bacias hidrográficas pequenas é fácil perceber que este tempo é<br />

superestimado, uma vez que conforme a equação (25), tb parte de um valor mínimo de 3 dias.<br />

Figura (24) – Parâmetros característicos do método de Snyder<br />

Com os valores estimados de Qup, tb, tp o HU pode ser esboçado, procurando atender a<br />

condição do “volume escoado unitário” 12 .<br />

Como elementos auxiliares ao traçado do HU sintético de Snyder, utilizam-se expressões<br />

empíricas para o cálculo da largura do hidrograma a 75% e 50% do valor da vazão de pico. Estes<br />

valores são representado por w75 e w50 no gráfico da Figura 24, e foram gerados com base em dados<br />

de várias bacias dos Estados Unidos 13 :<br />

w<br />

75<br />

3,<br />

35<br />

5,<br />

87<br />

= e w =<br />

, (26)<br />

( ) ( ) 08 1<br />

1,<br />

08 50<br />

,<br />

Q A<br />

Q A<br />

up<br />

up<br />

com w75 e w50 em h, para Qup em m 3 /s e A em km 2 .<br />

As regras apresentadas para o traçado do hidrograma constituem apenas uma orientação<br />

geral, uma vez que a forma do hidrograma depende de inúmeros fatores 14 que não podem ser<br />

explicados por um número tão pequeno de parâmetros. É importante que o HU seja traçado à mão,<br />

obedecendo a orientação proposta e fazendo com que a área situada sob o hidrograma da Figura 24<br />

corresponda ao “volume escoado unitário”.<br />

Observações:<br />

1) Cada hidrógrafa construída terá estrita correspondência com a duração td da chuva. Para<br />

uma outra chuva de duração tD, Linsley propõe corrigir o tempo de pico, segundo<br />

t<br />

p C<br />

t D − t d<br />

= t p + . (27)<br />

4<br />

O tempo de pico corrigido, tpc, deverá ser usado em lugar de tp na equação (24), que implica na<br />

correção das equações (25) e (26).<br />

12<br />

Área sob a hidrógrafa unitária igual a 1cm x área da bacia.<br />

13<br />

Por retratar condições médias de bacias americanas, não atende necessariamente a uma bacia específica. Por isso, as<br />

equações devem ser usadas com cautela.<br />

14<br />

Ver item 4.2


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 36<br />

2) Para a Califórnia, nos Estados Unidos, Linsley encontrou valores dos coeficientes Ct e Cp<br />

do método de Snyder que diferem daqueles aqui apresentados. Conforme observado por Linsley,<br />

0,93


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 37<br />

onde Ct0 representa o coeficiente calculado pela eq. (28) e corrigido pelas recomendações (a) ou (b)<br />

acima, e S = declividade do curso d’água principal, normalmente referida ao trecho correspondente<br />

a 80% do comprimento do canal a montante da seção estudada. Ainda, S pode representar uma<br />

declividade média ponderada do talvegue. Para o cálculo desta declividade média ponderada, o<br />

talvegue deve ser segmentado em trechos de comprimentos Li, de declividade uniforme Si. Calculase<br />

S de:<br />

⎛ L<br />

S = ⎜<br />

⎝<br />

0,<br />

24<br />

1S1<br />

+ L2S<br />

L + L<br />

1<br />

0,<br />

24<br />

2<br />

2<br />

+ L+<br />

LnS<br />

+ L+<br />

L<br />

n<br />

0,<br />

24<br />

n<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

4,<br />

17<br />

. (32)<br />

b) Duração da precipitação, td, para o CUHP<br />

No método da hidrógrafa unitária do Colorado, a duração da chuva efetiva unitária é<br />

admitida como sendo da ordem de um terço de tp, isto é,<br />

t p<br />

t d ≅ . (33)<br />

3<br />

c) Vazão de pico da hidrógrafa unitária, Qup, para o CUHP<br />

O pico do hidrograma unitário no CUHP se calcula também com a equação (24), do método<br />

de Snyder. O coeficiente Cp daquela equação, que depende das características da bacia, se<br />

determina a partir de:<br />

C<br />

p<br />

0,<br />

46<br />

t<br />

= 0,<br />

89 ⋅ C<br />

(34)<br />

onde Ct é utilizado com as correções devidas à declividade do terreno e à presença de galerias, se<br />

necessário.<br />

d) Construção do hidrograma<br />

Para a construção do hidrograma unitário, o CUHP propõe que se estimem os parâmetros<br />

w75 e w50 a partir de:<br />

w<br />

75<br />

1,<br />

12 1,<br />

12<br />

2,<br />

15 2,<br />

15<br />

= = e w = = , (35)<br />

q<br />

up<br />

50<br />

( Q A)<br />

q up ( Q A)<br />

up<br />

com os significados já definidos e mostrados na Figura 24. Na equação (35), w75 e w50 se obtêm em<br />

horas, para Qup em m 3 /s e A em km 2 . Para melhor definir a forma do hidrograma, o CUHP propõe,<br />

ainda, distribuir as larguras w75 e w50 em torno do instante de ocorrência do pico. Assim, sugere que<br />

45% de w75 fique à esquerda desse instante e 55% à direita. Similarmente, para a largura w50, os<br />

percentuais à esquerda e à direita do pico são, respectivamente, 35% e 65%.<br />

O intervalo de tempo compreendido entre o início da chuva e o pico do hidrograma unitário,<br />

também chamado tempo de ascensão do hidrograma, é determinado de<br />

t = 0,<br />

5⋅<br />

t + t . (36)<br />

p0<br />

d<br />

p<br />

Uma vez localizado Qup, o HU pode ser esboçado com o auxílio das larguras w75 e w50.<br />

Após esboçado o HU, a determinação do volume do escoamento superficial pode ser feita<br />

por planimetragem da área sob o hidrograma. Paralelamente, calcula-se o “volume unitário”, isto é,<br />

o volume de água produzido pela chuva efetiva de 1cm sobre toda a área da bacia:<br />

Volu(m 3 ) = 0,01(m)xA(m 2 ).<br />

up


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 38<br />

Quando o volume do HU esboçado se aproxima de Volu com tolerância de 5%, então este<br />

hidrograma é aceitável. Caso contrário, deve-se ajustar o hidrograma esboçado até igualar seu<br />

volume, dentro da referida tolerância, ao correspondente à chuva efetiva de 1cm em toda a extensão<br />

da bacia.<br />

Observação:<br />

Algumas vezes admite-se, numa aproximação, uma forma triangular para o HU. Neste caso,<br />

o tempo de base pode ser estimado de<br />

t<br />

t = . (37)<br />

p<br />

b<br />

Cp<br />

EXEMPLO 10<br />

Construir o HU de uma bacia urbana que apresenta as seguintes características: área de drenagem,<br />

A=0,98km 2 ; comprimento do talvegue, L=2,06km; distância medida ao longo do talvegue, desde o<br />

ponto mais próximo do centro geométrico da bacia até a seção de saída, LCG=0,84km; porcentagem<br />

impermeabilizada da área da bacia, Ia=44%; declividade média, S=0,102m/m.<br />

SOLUÇÃO<br />

i) Determinação de Ct e tp<br />

Da equação (28), com Ia=44%, obtém-se Ct0≅0,408. Para a declividade média S=0,102m/m,<br />

corrige-se este valor conforme a equação (30):<br />

Ct=0,48x0,408x0,102 −0,2 = 0,309.<br />

Da equação (22) obtém-se tp:<br />

tp = 0,752x0,309x(2,06x0,84) 0,3 = 0,274h = 16,4min.<br />

ii) Duração da chuva unitária<br />

Conforme proposto pela equação (33),<br />

td≅0,274/3=0,0912h = 5,5min ≅ 5min.<br />

iii) Determinação de Cp<br />

Da equação (34),<br />

Cp = 0,89x0,309 0,46 = 0,519.<br />

iv) Determinação vazão de pico, Qup<br />

Da equação (24),<br />

Q<br />

up<br />

2,<br />

755⋅<br />

C p ⋅ A 2,<br />

755⋅<br />

0,<br />

519 ⋅ 0,<br />

98<br />

= =<br />

= 5,11m<br />

t<br />

0,<br />

274<br />

3 /s.<br />

p<br />

v) Determinação do tempo contado a partir do início do hidrograma até a ocorrência do pico<br />

tp0 = tp + td/2 = 0,274+0,0912/2 ≅ 0,32h ≅ 19min.<br />

vi) Determinação de w75 e w50<br />

Das equações (35),<br />

1,<br />

12<br />

w 75 = = 0,215h ≅ 13min, e<br />

5,<br />

11 0,<br />

98<br />

w 50<br />

2,<br />

15<br />

= = 0,412h ≅ 25min.<br />

5,<br />

11 0,<br />

98


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 39<br />

Seguindo-se as recomendações do CUHP, as parcelas dos tempos w75 e w50 à esquerda do pico<br />

serão iguais a aproximadamente 6min e 9min, respectivamente.<br />

vii) Traçado do HU<br />

Com os valores calculados, constrói-se um esboço do HU com segmentos de reta. Para este<br />

esboço, ajusta-se a duração total do escoamento (tempo de base), tb, de maneira que a área do<br />

hidrograma corresponda ao volume unitário. No caso, o volume unitário é Volu=1cmxA = 9800m 3 .<br />

Para esse Volu, com base nos tempos dados acima, determina-se a duração total do escoamento<br />

superficial,<br />

60<br />

9800 = [ 2,<br />

555×<br />

7 + ( 3,<br />

833 + 2,<br />

555)<br />

× 3 + ( 5,<br />

11+<br />

3,<br />

833)<br />

× 6 + ( 5,<br />

11+<br />

3,<br />

833)<br />

× 7 +<br />

2<br />

encontrando-se tb ≅ 77min.<br />

vazão, Q u (m 3 /s)<br />

( 3, 833 2,<br />

555)<br />

9 2,<br />

555 ( t b 32)]<br />

− × + × +<br />

+ ,<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

t (min)<br />

Q u (m 3 /s)<br />

0<br />

2,555<br />

3,833<br />

5,11<br />

3,833<br />

2,555<br />

0<br />

0<br />

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90<br />

0<br />

7<br />

10<br />

16<br />

23<br />

32<br />

77<br />

tempo (min)<br />

Figura 27 – Hidrograma unitário para o exemplo 10<br />

5.3.2 MÉTODO DO HU SINTÉTICO DO SOIL CONSERVANCE SERVICE<br />

No método do hidrograma unitário sintético do U. S. Soil Conservance Service (SCS, 1957)<br />

o hidrograma tem a forma de um triângulo (Figura 28). A área do triângulo deve, pois, corresponder<br />

ao volume efetivo precipitado (“volume escoado unitário”):<br />

1<br />

Vol u = 1cm<br />

× A = Q up × t b . (38)<br />

2<br />

Da Figura 28,<br />

tb = tp0 + te, (39)<br />

sendo tp0 o tempo de ascensão e te o tempo de recessão do hidrograma. De (38) e (39), permite-se<br />

escrever:<br />

2 × Volu<br />

Q up = . (40)<br />

t + t<br />

p0<br />

e<br />

O tempo de recessão é superior ao tempo de ascensão, tendo sido escrito pelo SCS na forma<br />

t = H × t . (41)<br />

e<br />

p0


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 40<br />

Figura 28 – Hidrograma unitário sintético do SCS<br />

Com base na experiência adquirida da observação de várias bacias, os autores consideraram<br />

H=1,67. Com essa consideração, a equação (40) pode ser reescrita como<br />

Q<br />

up<br />

2×<br />

Vol<br />

=<br />

2,<br />

67 × t<br />

u<br />

p0<br />

Ou, ainda, para as unidades usuais (A em km 2 e tp0 em h):<br />

ou,<br />

Q<br />

Q<br />

up<br />

up<br />

3 ( m s)<br />

2×<br />

=<br />

2 08×<br />

A<br />

≅<br />

t<br />

,<br />

p0<br />

. (42)<br />

−2<br />

2 6 2 2<br />

[ ( 1cm)<br />

⋅ ( 10 m cm)<br />

× A(<br />

km ) ⋅ ( 10 m km ) ]<br />

2,<br />

67 × [ t ()( h ⋅ 3600s<br />

h)<br />

]<br />

p0<br />

onde, conforme demostrado acima, Qup é obtido em m 3 /s para A em km 2 e tp0 em h.<br />

O tempo de ascensão, tp0, pode ser escrito em termos da duração da chuva e do tempo de<br />

retardamento ou tempo de pico, na forma da equação (36),<br />

t = 0,<br />

5⋅<br />

t + t .<br />

p0<br />

d<br />

p<br />

a) Estimativa de tp0 no método do SCS<br />

O SCS propõe que o tempo de pico pode ser relacionado com o tempo de concentração da<br />

bacia, tc, segundo<br />

t = 0,<br />

6 ⋅ t . (44)<br />

p<br />

Assim, uma estimativa de tp0 pode ser feita de<br />

c<br />

(43)


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 41<br />

t = 0,<br />

5⋅<br />

t + 0,<br />

6 ⋅ t . (45)<br />

p0<br />

b) Duração da chuva unitária<br />

A chuva unitária terá duração estimada de<br />

d<br />

c<br />

t p0<br />

t d = . (46)<br />

5<br />

Ou, combinando-se as equações (45) e (46),<br />

t = 0,133 tc. (47)<br />

d<br />

c) Estimativa do tempo de concentração no método do SCS<br />

Além do uso de fórmulas práticas, como a de Kirpich (eq. 06), pode-se estimar o tempo de<br />

concentração segundo os procedimentos abaixo, sugeridos pelo SCS.<br />

Procedimento 1:<br />

Determina-se, inicialmente, o caminho entre o ponto mais extremo da bacia, do ponto de<br />

vista hidráulico, e a seção em estudo. Para cada trecho desse caminho com características físicas<br />

diferentes (rugosidade e declividade), calcula-se a velocidade segundo<br />

v<br />

i<br />

v i<br />

0,<br />

5<br />

i<br />

= C ⋅S<br />

(48)<br />

sendo vi a velocidade em m/s, Si a declividade do trecho, em %, e Cvi um coeficiente dado pela<br />

Tabela 13.<br />

Tabela 13 – Valores para o coeficiente Cvi da eq. (48), para escoamento em superfícies e calhas rasas (Tucci e<br />

outros, 1995)<br />

tipo de cobertura Cvi<br />

Florestas densas 0,075<br />

Campos naturais ou pouco cultivados 0,135<br />

Pastos ralos ou gramas 0,210<br />

Solos quase nus 0,300<br />

Canais gramados 0,450<br />

Superfícies pavimentadas 0,600<br />

O tempo de escoamento em cada trecho será ti = Li /vi, onde Li representa o comprimento do<br />

trecho. No caso de rede de drenagem, recomenda-se o uso da fórmula de Manning. O tempo de<br />

concentração se obtém, então, de<br />

= ∑<br />

=<br />

N<br />

c<br />

i 1<br />

( L v )<br />

t (49)<br />

i<br />

i<br />

sendo N o número de trechos de características diferentes.<br />

Procedimento 2:<br />

Alternativamente, o SCS propõe o uso da equação (44) para avaliar tc a partir do tempo de<br />

pico que, por sua vez, pode ser obtido da expressão


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 42<br />

0,<br />

7<br />

0,<br />

8 ⎛1000<br />

⎞<br />

0,<br />

344 ⋅ L ⋅⎜<br />

− 9⎟<br />

CN<br />

t<br />

⎝ ⎠<br />

p<br />

0,<br />

5<br />

= (50)<br />

S<br />

com tp em h, para<br />

L = comprimento hidráulico, em km;<br />

S = declividade média da bacia, em %;<br />

CN = parâmetro 16 do método do SCS, denominado “número da curva”.<br />

Valores do parâmetro CN para bacias rurais, urbanas e suburbanas são apresentados nas<br />

Tabelas 15 e 16. Correções sobre este parâmetro para considerar as condições de umidade do solo<br />

são incluídas na Tabela 17.<br />

A equação (50) do SCS, para o escoamento em superfícies, foi desenvolvida em bacias<br />

rurais com áreas de drenagem de até 8km 2 . O tempo de concentração calculado com base nesta<br />

equação se modifica com a alteração da cobertura da bacia, principalmente devido à urbanização.<br />

Para levar em conta as modificações da cobertura da bacia, o SCS propõe que o tempo de pico<br />

calculado (e, conseqüentemente, o tempo de concentração) seja multiplicado sucessivamente pelos<br />

fatores de correção f1 e f2 (menores que a unidade), que se obtêm da Figura 29. Nesta figura, f1 se<br />

apresenta em termos da porcentagem de modificação do comprimento hidráulico e f2 em termos da<br />

porcentagem de impermeabilização da área.<br />

Para facilitar o cálculo, o SCS apresentou um hidrograma adimensionalizado em função da<br />

vazão de pico, Qup, e da duração da precipitação, td. Conhecidos os valores de td e Qup, determinamse<br />

as outras ordenadas em função do tempo. O hidrograma adimensionalizado é apresentado em<br />

forma tabular na Tabela 14.<br />

Tabela 14 – Ordenadas do hidrograma unitário do SCS<br />

t/td 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9<br />

Qu/Qup 0 0,015 0,075 0,16 0,28 0,43 0,60 0,77 0,89<br />

t/td 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,8 2,0<br />

Qu/Qup 0,97 1,0 0,989 0,92 0,84 0,75 0,66 0,56 0,42<br />

t/td 2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0<br />

Qu/Qup 0,32 0,24 0,18 0,13 0,098 0,075 0,036 0,018 0<br />

16 CN traduz o resultado da interação entre o uso do solo e suas características físicas.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 43<br />

Tabela 15. Valores do parâmetro CN do SCS para bacias rurais<br />

Uso do Solo Característica da superfície<br />

A<br />

Tipo de solo<br />

B C D<br />

Solo lavrado Com sulcos retilíneos 77 86 91 94<br />

Em fileiras retas 70 80 87 90<br />

Plantações regulares Em curvas de nível 67 77 83 87<br />

Terraceado em nível 64 76 84 88<br />

Em fileiras retas 64 76 84 88<br />

Plantações de cerais Em curvas de nível 62 74 82 85<br />

Terraceado em nível 60 71 79 82<br />

Em fileiras retas 62 75 83 87<br />

Plantações de legumes Em curvas de nível 60 72 81 84<br />

ou cultivados Terraceado em nível 57 70 78 89<br />

Pobres 68 79 86 89<br />

Normais 49 69 79 94<br />

Boas 39 61 74 80<br />

Pastagens Pobres, em curvas de nível 47 67 81 88<br />

Normais, em curvas de nível 25 59 75 83<br />

Boas, em curvas de nível 6 35 70 79<br />

Campos permanentes Muito esparsas, baixa transpiração 45 66 77 83<br />

Esparsas 36 60 73 79<br />

Normais 30 58 71 78<br />

Densas, de alta transpiração 25 55 70 77<br />

Chácaras Normais 56 75 86 91<br />

Estradas de terra Más 72 82 87 89<br />

De superfície dura 74 84 90 92<br />

Florestas Muito esparsas, baixa transpiração 56 75 86 91<br />

Esparsas 46 68 78 84<br />

Normais 36 60 60 76<br />

Densas, alta transpiração 26 52 62 69<br />

Tipos de solo:<br />

A: produzem baixo escoamento superficial e alta infiltração (solos arenosos profundos com pouco silte e argila).<br />

B: menos permeáveis que o anterior; solos arenosos menos profundos que o tipo A e com permeabilidade superior à<br />

média.<br />

C: geram escoamento superficial acima da média e com capacidade de infiltração abaixo da média (contém<br />

porcentagem considerável de argila). Pouco profundos.<br />

D: pouco profundos, contendo argilas expansivas, com muito baixa capacidade de infiltração. Geram a maior proporção<br />

de escoamento superficial.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 44<br />

Tabela 16. Valores do parâmetro CN do US SCS para bacias urbanas e suburbanas<br />

Utilização ou cobertura do solo<br />

A<br />

Tipo de solo<br />

B C D<br />

Zonas cultivadas: sem conservação do solo 72 81 88 91<br />

com conservação do solo 62 71 78 81<br />

Pastagens ou terrenos em más condições 68 79 86 89<br />

Terrenos baldios em boas condições 39 61 74 80<br />

Prado em boas condições 30 58 71 78<br />

Bosques ou zonas florestais: cobertura ruim 45 66 77 83<br />

cobertura boa 25 55 70 77<br />

Espaços abertos, relvados, parques, campos de golfe, cemitérios<br />

(boas condições):<br />

com relva em mais de 75% da área 39 61 74 80<br />

com relva de 50 a 75% da área 49 69 79 84<br />

Zonas comerciais e de escritórios 89 92 94 95<br />

Zonas industriais 81 88 91 93<br />

Zonas residenciais:<br />

lotes de (m 2 ) % média impermeável<br />


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 45<br />

a) fator f1<br />

b) fator f2<br />

Figura 29 – Fatores de correção f1 e f2 para a influência da urbanização sobre tp da Eq. (48)<br />

EXEMPLO 11<br />

Uma bacia rural com 7km 2 de área de drenagem apresenta cobertura na forma de pastos (CN=61) e<br />

tem 2,5km de comprimento e declividade média igual a 8%. Pelo efeito da urbanização, esta bacia<br />

deverá apresentar 30% de áreas impermeáveis e terá alterado 75% do seu rio. Estimar as<br />

características do HU para as condições atuais e futuras. Adotar CN=83 para as condições futuras.<br />

SOLUÇÃO<br />

i) Condições Atuais (CN=61)<br />

♦ Cálculo de tp<br />

Da equação (50),<br />

t<br />

p<br />

0<br />

, 8<br />

0,<br />

344×<br />

L<br />

=<br />

♦ Cálculo de tc<br />

Da equação (44),<br />

t p 1,<br />

027<br />

t c = =<br />

0,<br />

6 0,<br />

6<br />

⎛1000<br />

⎞<br />

× ⎜ − 9⎟<br />

⎝ CN ⎠<br />

0,<br />

5<br />

S<br />

= 1,<br />

712h<br />

0,<br />

7<br />

0,<br />

8 ⎛1000<br />

⎞<br />

0,<br />

344 × 2,<br />

5 × ⎜ − 9⎟<br />

61<br />

=<br />

⎝ ⎠<br />

0,<br />

5<br />

8<br />

♦ Cálculo de tp0<br />

A duração da chuva no método do SCS pode ser estimada de<br />

t d = 0,<br />

133×<br />

t c = 0,<br />

133×<br />

1,<br />

712 ≅ 0,<br />

228h<br />

.<br />

Assim, da equação (36), obtém-se:<br />

=<br />

0,<br />

5 ⋅ t + t = 0,<br />

5×<br />

0,<br />

228 + 1,<br />

027 ≅ 1,<br />

14h<br />

t p0<br />

d p<br />

0,<br />

7<br />

= 1,<br />

027h


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 46<br />

♦ Cálculo da vazão de pico, Qup<br />

Da equação (43),<br />

2,<br />

08⋅<br />

A 2,<br />

08×<br />

7<br />

Qup = = ⇒ Q up = 12,<br />

77 m<br />

t p0<br />

1,<br />

14<br />

3 /s.<br />

♦ Cálculo do tempo de base, tb<br />

No método do SCS, tb=2,67⋅tp0. Logo,<br />

= 2,<br />

67 × 1,<br />

14 ≅ 3,<br />

04h<br />

.<br />

t b<br />

i) Condições Futuras (CN=83)<br />

♦ Cálculo de tp<br />

t<br />

p<br />

0,<br />

7<br />

0,<br />

8 ⎛1000<br />

⎞<br />

0,<br />

8 ⎛1000<br />

⎞<br />

0,<br />

344×<br />

L × ⎜ − 9⎟<br />

0,<br />

344 × 2,<br />

5 × ⎜ − 9⎟<br />

CN<br />

83<br />

=<br />

⎝ ⎠<br />

=<br />

⎝ ⎠<br />

= 0,<br />

552h<br />

.<br />

0,<br />

5<br />

0,<br />

5<br />

S<br />

8<br />

Esse tempo deve ser corrigido pelos fatores f1 e f2 para considerar as alterações no comprimento<br />

hidráulico e na área impermeabilizada da bacia. Para isso, utilizam-se os gráficos da Figura 29:<br />

- para CN=83, alteração de 75% do comprimento hidráulico: f1≅0,59;<br />

- para CN=83, 30% de área impermeável: f2≅0,83.<br />

O valor de tp corrigido resulta em<br />

t p = 0,<br />

552 × f1<br />

× f 2 = 0,<br />

552×<br />

0,<br />

59×<br />

0,<br />

83 ≅0,270h.<br />

♦ Cálculo de tp0<br />

t p0<br />

= 0,<br />

5 ⋅ t d + t p = 0,<br />

5×<br />

0,<br />

228 + 0,<br />

270 ≅ 0,<br />

384h<br />

.<br />

♦ Cálculo da vazão de pico, Qup<br />

2,<br />

08⋅<br />

A 2,<br />

08×<br />

7<br />

Qup = = ⇒ Q up = 37,<br />

92 m<br />

t p0<br />

0,<br />

384<br />

3 /s.<br />

♦ Cálculo do tempo de base, tb<br />

= 2,<br />

67 × t = 2,<br />

67 × 0,<br />

384 ≅ 1,<br />

03h<br />

.<br />

t b<br />

p0<br />

Os resultados do problema-exemplo 11 encontram-se resumidos na construção gráfica da<br />

Figura 30.<br />

Figura 30 – Hidrogramas unitários do exemplo 11<br />

0,<br />

7


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 47<br />

EXERCÍCIOS<br />

Escoamento Superficial<br />

1o ) Na tabela abaixo são apresentados os dados de chuva e vazão em uma seção de um curso d'água na bacia<br />

do rio Meninos. A área da bacia é de 106,7 km 2 e apresenta alto grau de urbanização.<br />

tempo Precipitaç<br />

ão<br />

Vazã<br />

o<br />

tempo Precipitaç<br />

ão<br />

Vazã<br />

o<br />

tempo Precipitaç<br />

ão<br />

Vazã<br />

o<br />

(min) (mm) (m 3 /s) (min) (mm) (m 3 /s) (min) (mm) (m 3 /s)<br />

30 0,9 10 240 6,0 108 450 - 44<br />

60 0,9 10 270 5,7 136 480 - 34<br />

90 1,6 10 300 2,5 138 510 - 26<br />

120 1,9 10 330 1,9 124 540 - 22<br />

150 2,2 22 360 1,3 100 570 - 18<br />

180 2,2 40 390 1,6 78 600 - 16<br />

210 3,8 68 420 - 58 630 - 15<br />

a) Construir o hidrograma, fazendo a separação dos escoamentos de base e superficial direto.<br />

b) Calcular o volume correspondente ao escoamento superficial, decorrente desta chuva.<br />

c) Determinar o coeficiente de escoamento superficial e a precipitação efetiva total.<br />

R: Vols=1,321x10 6 m 3 ; C=0,38; P ef =12,4mm.<br />

2o ) Determinar a máxima vazão em uma seção de um curso d'água, para um período de retorno de 50 anos,<br />

considerando-se que a bacia apresenta coeficiente de escoamento superficial C=0,52. Sabe-se, ainda, que o<br />

solo tem permeabilidade média e o rio tem 3km de comprimento, com um desnível de 24m entre a seção<br />

considerada e o ponto mais remoto da bacia. Dados: relação intensidade-duração-freqüência das chuvas na<br />

, 0<br />

0,<br />

052<br />

i = 1265,<br />

7 T 12 + t , com i em mm/h, Tr em anos e td em minutos; A=2km 2 .<br />

região, ( ) 77<br />

R: Q=16,7m 3 /s.<br />

r<br />

d<br />

3 o ) Construir o hidrograma unitário correspondente a uma precipitação isolada de 1 hora de duração em uma<br />

bacia hidrográfica cuja área de drenagem é de 35km 2 . Dados:<br />

Tempo (h) 1 2 3 4 5 6 7 8 9<br />

Vazão (m 3 /s) 5,0 5,0 25,0 50,0 45,0 35,0 23,0 12,5 5,0<br />

Obs: considerar a vazão do escoamento básico constante.<br />

R: Tempo (h) 1 2 3 4 5 6 7 8 9<br />

Qu (m 3 /s) 0 0 12.1 27.3 24.2 18.2 10.9 4.5 0<br />

4 o ) Determinar, para a bacia do problema 3, o escoamento superficial resultante da chuva composta de<br />

precipitações efetivas de intensidades variando a cada 1 hora, de acordo com a tabela abaixo.<br />

Tempo (h) 1 2<br />

Precipitação efetiva (mm) 30 20<br />

R: Tempo (h) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />

Qs (m 3 /s) 0 0 36,3 106,1 127,2 103,0 69,1 35,3 9,0 0,0<br />

5 o ) Os dados apresentados a seguir caracterizam o hidrograma unitário de uma bacia para chuvas de duração<br />

igual a ∆t minutos. a) Determinar o escoamento superficial resultante de uma chuva atuando sobre a bacia,<br />

composta de precipitações efetivas de intensidades variando a cada intervalo ∆t de acordo com tabela<br />

fornecida abaixo. b) Se ∆t=1 h, qual deve ser a área da bacia?<br />

Tempo 1∆t 2∆t 3∆t 4∆t 5∆t 6∆t 7∆t 8∆t 9∆t 10∆t 11∆t<br />

Qu (m 3 /s) 1,0 3,0 6,0 5,4 4,6 3,2 1,8 1,2 0,8 0,3 0,0<br />

Tempo 1∆t 2∆t 3∆t<br />

Precipitação efetiva (mm) 5 10 6<br />

R: a) Tempo 1∆t 2∆t 3∆t 4∆t 5∆t 6∆t 7∆t 8∆t 9∆t 10∆t 11∆t 12∆t<br />

Qs (m 3 /s) 0,5 2,5 6,6 10,5 11,3 9,4 6,9 4,3 2,7 1,7 0,8 0,2<br />

b) A=982,8 ha.


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 48<br />

6 o ) São dadas as precipitações efetivas de um evento: i 1ef. =10 mm/h e i 2ef. =20 mm/h. Se as vazões<br />

resultantes (escoamento superficial) nos instantes t=1h, t=2h, t=3h e t=4h são, respectivamente Qs1=18 m 3 /s,<br />

Qs2=55 m 3 /s, Qs3=73 m 3 /s e Qs4=37 m 3 /s, calcule as ordenadas do hidrograma unitário nestes mesmos<br />

instantes. Dado: área da bacia = 22 km 2 .<br />

R: (uma possível solução) t (h) 1 2 3 4<br />

Qu (m 3 /s) 14,3 27,7 18,9 0,0<br />

7 o ) A partir dos valores das ordenadas do hidrograma unitário obtidas no problema 6, e juntamente com as<br />

precipitações efetivas de 10 mm/h e 20 mm/h, construir o hidrograma com as vazões simuladas e comparar<br />

graficamente com os valores observados (fornecidos no problema 6).<br />

8 o ) Determine o hidrograma unitário (td=6 horas) para a bacia do rio do Peixe (A=310km 2 ). Utilize o método<br />

do índice φ para obter Pef. Dados:<br />

t (h) 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66<br />

P (mm) 24 66 14 - - - - - - - -<br />

Q (m 3 /s) 8,0 6,0 6,0 93 162,7 180,0 91,0 50,0 29,0 16,0 8,0<br />

9 o ) Considere os dados do hidrograma da bacia do rio Meninos (A=106,7km 2 ) da tabela abaixo. Estabeleça a<br />

separação dos escoamentos pelos métodos gráficos.<br />

Tempo (min) 30 60 90 120 150 180 210<br />

Q (m 3 /s) 7,0 7,0 16,0 33,0 80 105,0 96,0<br />

Tempo (min) 240 270 300 330 360 390 420<br />

Q (m 3 /s) 68,0 47,5 31,5 23,0 17,5 15,0 13,0<br />

Tempo (min) 30 60 90 120 150 180 210<br />

Precipitação (mm) 8,5 11,1 5,5 2,8 1,9 1,3 0,3<br />

10 o ) Determine o hidrograma unitário (td =0,5h) para o evento do rio Meninos do problema anterior. Obter a<br />

precipitação efetiva pelo uso do índice φ.<br />

11 o ) Determinar o hidrograma do escoamento superficial resultante para a bacia do rio Meninos decorrente<br />

da chuva efetiva abaixo.<br />

Tempo (min) 30 60 90 120 150 180<br />

Precipitação efetiva (mm) 0,5 2,5 8,0 25,0 20,0 6,0<br />

12 o ) Com base no hidrograma unitário da bacia do rio Meninos (obtido no problema 10, para td=30 min),<br />

construir o HU para td'= 1h.<br />

13 o ) Dado o hidrograma unitário (em termos das vazões específicas unitárias) de uma bacia para uma chuva<br />

de projeto de 20 minutos, obter o hidrograma unitário da chuva de 1 hora.<br />

t (min) 20 40 60 80 100 120<br />

hu=Qu.∆t/A (cm) 0,15 0,25 0,25 0,15 0,10 0,10<br />

R: t (min) 20 40 60 80 100 120 140 160<br />

hu(∆t=1 h) (cm) 0,050 0,133 0,217 0,217 0,167 0,117 0,067 0,033<br />

14 o ) Com base no hidrograma observado, estimar a precipitação efetiva correspondente, sabendo-se que a<br />

bacia tem 12km 2 de área de drenagem.<br />

t(h) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9<br />

Q(m 3 /s) 0,9 0,8 5,4 9,8 7,6 6,5 4,6 3,3 2,4 1,7<br />

15 o ) Uma determinada chuva de duração td ocorreu em uma bacia urbana de área A=0,5km 2 e gerou o<br />

hidrograma abaixo. Construa o hidrograma unitário da bacia para a chuva de duração td.<br />

t(min) 0 25 50 75 100 125 150 175 200 225<br />

Q(m 3 /s) 0,5 2,5 7,4 4,1 2,2 1,2 1,13 1,10 1,07 1,04


Hidrologia Aplicada – CIV 226 Escoamento Superficial 49<br />

16 o ) Numa bacia hidrográfica de 82,8km 2 de área de drenagem foi determinado o HU (td=1h) apresentado na<br />

tabela abaixo. Determine: a) o valor de Qp; b) o HU de 2 horas; c) o tempo de concentração da bacia,<br />

justificando sua resposta; d) o hidrograma resultante de uma chuva composta sobre a bacia, apresentando as<br />

seguintes características: total precipitado de 27 mm nas primeiras duas horas, seguido de uma chuva com<br />

intensidade i=19mm/h durante as duas horas seguintes e, finalmente, uma outra chuva de duas horas e i=8,5<br />

mm/h. Dado: Estimou-se a capacidade de infiltração na bacia, f, no início da chuva em 5,5mm/h e, ao final,<br />

em 2,5mm/h (Despreze as perdas por interceptação e armazenamentos superficiais, e assuma caimento linear<br />

de f).<br />

t(h) 0 1 2 3 4 5 6 7<br />

Qu(m 3 /s) 0 22 46 Qp 0,8Qp 34 20 0<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

TUCCI, C.E.M. (org.), (1993). Hidrologia: ciência e aplicação. Coleção ABRH de Recursos<br />

Hídricos. Ed. da UFRGS, ABRH, EDUSP.<br />

LINSLEY, R.K. & FRANZINI, J.B. (1978). Engenharia de recursos hídricos. Tradução e adaptação<br />

de Luiz Américo Pastorino. EDUSP, Ed. McGraw-Hill do Brasil.<br />

VILELLA, S.M. & MATTOS, A. (1975). Hidrologia Aplicada. McGraw-Hill do Brasil.<br />

CETESB – Cia. de Tecnologia de Saneamento Ambiental (1986). Drenagem Urbana: Manual de<br />

Projeto. 3 a ed. São Paulo, CETESB/ASCETESB.<br />

TUCCI, C.E.M. e outros (1993). Drenagem Urbana. Ed. da Universidade Federal do Rio Grande do<br />

Sul – UFRGS - e Associação Brasileira de Recursos Hídricos - ABRH.

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