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Hórus – Revista de Humanidades e Ciências Sociais Aplicadas, Ourinhos/SP, Nº 03, 2005 14 Em cada elemento particular esta energia fundamental se divide em duas componentes distintas: uma energia tangencial, que torna o elemento solidário com todos os elementos da mesma ordem (isto é, da mesma complexidade e da mesma centralidade) que ele mesmo no Universo; e uma energia radial que atrai na direção de um estado cada vez mais complexo e centrado para frente 28 . A esse respeito, numa nota de rodapé, Teilhard procura esclarecer ainda mais seu pensamento sobre este ponto particularmente complicado e delicado, afirmando: Quanto menos centrado é um elemento (quer dizer, quanto mais fraca é a sua energia radial), mais a sua energia tangencial se manifesta por efeitos mecânicos poderosos. Entre partículas fortemente centradas (isto é, de alta energia radial) o tangencial parece interiorizar-se e desaparecer aos olhos da Física 29 . A este ponto é necessário esclarecer o que Teilhard entende por energia radial e energia espiritual. Antes de tudo, temos que precisar que estes termos não devem ser tomados num sentido técnico e literal, mas em sentido simbólico, como imagem. A energia radial é aquela que liga cada parte de um ser com o próprio centro, conforme o raio de uma esfera, isto é, à sua unidade, enquanto a energia tangencial é neutra com referência a esta unidade e a esta organização. De fato, a tangente, sendo perpendicular ao raio, é neutra com respeito à centralização. Por este motivo a energia tangencial é a energia mensurável pelos físicos e pelos químicos, enquanto a energia radial é o grau de organização de um ser e a eficiência que dela resulta. Concluindo, podemos observar que o mundo, olhado de uma grande altitude, sob esta lei, aparece como algo que se envolve cada vez mais sobre si mesmo, até interiorizar-se numa complexidade crescente. A história da Terra e da vida sobre a Terra revela, portanto, uma tendência à formação de individualidades cada vez maiores. Maiores, não necessariamente pelas suas dimensões, mas pelo seu centro-complexidade. Os menores e os mais simples elementos se unem «organicamente» ao longo da história terrestre em unidades cada vez mais complexas: os átomos em moléculas simples, estas em moléculas complexas, que se unem por sua vez em micelas, as micelas organizam-se em células, e as células se estruturam em plantas e animais. Todo este processo acontece por uma espécie de «embriogênese cósmica» que leva à realidade de um nascimento histórico. E, embora este desenvolvimento evolutivo proceda às apalpadelas, a orientação geral da evolução parece clara: ela parece ser direcionada rumo à antropogênese. 28 Idem, Ibidem p. 46 29 Idem, Ibidem
Hórus – Revista de Humanidades e Ciências Sociais Aplicadas, Ourinhos/SP, Nº 03, 2005 15 6 -Validade da intuição teilhardiana O pensamento científico de Teilhard, na descrição das linhas fundamentais ao longo das quais atuou-se a evolução até hoje, não se afasta muito daquilo que geralmente é afirmado pelos cientistas do seu tempo. A sua concepção sobre a origem da vida na Terra coincide bastante com a teoria formulada simultaneamente por Oparin 30 , De Rosnay 31 e Urey 32 . Mas a originalidade de Teilhard consiste na interpretação que ele dá da evolução, descobrindo o significado e procurando se nela há um sentido. Tudo isto ele o realiza sem recorrer a pressupostos metafísicos, mas pondo o homem como centro de toda a evolução, estudando “nada mais que o fenômeno. Mas o fenômeno inteiro” 33 . Diante das posições neo-darwinistas e neo-lamarckistas ele se põe numa posição de centro. A esse respeito, o cientista italiano Ferdinando Ormea afirma: Para ele o tempo é algo que é medido pelo desenvolvimento do Real global; é o eixo de uma espécie de cosmogênese. O universo lhe aparece assim em expansão no tempo: tendo em conta a dimensão temporal, ele se dilata prodigiosamente 34 . Conforme esta perspectiva, as rochas, as montanhas, os oceanos, os planetas, as estrelas, os seres viventes que nos parecem fixos e imóveis, examinados escolhendo como unidade de medida as centenas de milhares de anos, mostram-se numa contínua transformação e movimento. Assim também, estudando de milhão em milhão de anos as estruturas terrestres não viventes e, em seguida, a vida sobre a terra, fica evidente que existe um movimento para frente. Isto é, evidencia-se que ao longo do tempo constitui-se um contínuo progresso de organização e de complexificação que, partindo do mais simples elemento, o átomo, sobe até o mais complexo, o homem. Teilhard acrescenta que as estruturas, cada vez mais complexas que se formam ao longo dos séculos, não são independentes umas das outras, mas existe una íntima ligação entre si. “A estrutura mais complexa, sucessivamente surgida no tempo, conserva as características da precedente, com mais algum dado novo que nos permite afirmar que ela é mais complexa e mais organizada do que a estrutura que a precedeu” 35 . Limitando-nos ao campo puramente fenomenológico, podemos salientar a existência de uma relação muito estreita das estruturas entre si; e que uma estrutura se manifesta em todos os fenômenos. Assim, partindo do átomo à molécula, das moléculas aos primeiros viventes, dos viventes inferiores aos superiores, dos antropóides ao homem, e do homem para 30 OPARIN, A. I. , L’origine della vita sulla terra. Torino: Boringhieri, 1956. 31 DE ROSNEY, J. Les origines de la vie. De l’atome à la cellule. Paris: ed. du Seuil, 1966. 32 UREY, H.C. The planets, their origin and developpement. New Harven: Yale Univ. Press, 1952. 33 TEILHARD DE CHARDIN, Pierre. o. c. p. 1. 34 ORMEA, Ferdinando, o. c. p. 166. 35 Idem, Ibidem, p. 167-168.
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