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Guia de Divulgação Científica - Museu da Vida - Fiocruz

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<strong>Guia</strong> <strong>de</strong> <strong>Divulgação</strong> <strong>Científica</strong><br />

Como aproximar os jovens <strong>da</strong> ciência?<br />

Em 1998, a Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Nacional Autônoma do México (UNAM),<br />

na Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do México, <strong>de</strong>u a um grupo <strong>de</strong> divulgadores e<br />

professores <strong>de</strong> ciências a incumbência <strong>de</strong> iniciar a revista ¿Cómo<br />

ves?, publicação mensal <strong>de</strong> ciência dirigi<strong>da</strong> principalmente a<br />

jovens entre 17 e 25 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Seria a primeira do país<br />

feita especialmente para estes leitores.<br />

Antes <strong>de</strong> lançar a revista, recebemos muitos artigos escritos na<br />

forma <strong>de</strong> contos. Os personagens costumavam ser professores e<br />

estu<strong>da</strong>ntes, crianças entusiastas e seus pais muito sábios ou,<br />

então, estu<strong>da</strong>ntes com uma assombrosa <strong>de</strong>dicação a um algum<br />

campo <strong>da</strong> ciência. Outros autores usavam o que imaginavam ser<br />

uma linguagem dos adolescentes, num tom bem informal e<br />

carregado <strong>de</strong> gíria. Havia também artigos que pareciam fazer<br />

parte <strong>de</strong> um livro didático.<br />

Será que algum <strong>de</strong>les funcionaria? Conseguiríamos <strong>de</strong>sta forma<br />

interessar os jovens que, pelo menos no México, ten<strong>de</strong>m a mostrar<br />

pouco interesse pela leitura e para quem as matérias escolares<br />

<strong>de</strong> ciência não são suas preferi<strong>da</strong>s? A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é que nunca<br />

testamos para saber.<br />

Começamos por nos perguntar se existiria uma linguagem<br />

específica que <strong>de</strong>vesse ser utiliza<strong>da</strong> para nos dirigirmos a estes<br />

leitores e não encontrávamos uma resposta <strong>de</strong>finitiva. “Estes<br />

leitores” não formavam um único grupo diferenciado, mas<br />

pertenciam a uma gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> grupos, ca<strong>da</strong> qual com sua<br />

própria história, tradições, interesses, nível <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e <strong>de</strong><br />

educação e, inclusive, suas próprias expressões coloquiais. Tentar<br />

<strong>de</strong>finir perfis específicos para ca<strong>da</strong> grupo estava fora do nosso<br />

alcance; fazê-lo bem implicava realizar diversos estudos <strong>de</strong> longo<br />

prazo, para os quais não contávamos nem com o tempo nem com<br />

o dinheiro necessários. Assim, tivemos <strong>de</strong> recorrer à nossa<br />

experiência e intuição. A maioria <strong>da</strong>queles que iniciaram a revista<br />

já havia trabalhado em outras publicações <strong>de</strong> divulgação<br />

científica, embora elas fossem volta<strong>da</strong>s para leitores mais velhos<br />

e que tinham alguns conhecimentos <strong>de</strong> ciência (ou, no mínimo,<br />

interesse nela). Muitos <strong>de</strong> nós também havíamos escrito livros <strong>de</strong><br />

divulgação para estu<strong>da</strong>ntes universitários.<br />

Rejeitamos <strong>de</strong> imediato o enfoque do “conto”. Os artigos não<br />

eram bons contos, nem bons textos <strong>de</strong> divulgação científica.<br />

Mais pareciam remédios disfarçados em doces e isso não<br />

enganaria ninguém. Os artigos escritos na “linguagem<br />

adolescente” pareciam artificiais (além disto, muitas vezes a<br />

gíria usa<strong>da</strong> estava fora <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>) e paternalistas. Nossos autores<br />

não eram jovenzinhos; então, por que tentar parecer que eram?<br />

Estrella Burgos Ruiz, Editora <strong>da</strong> revista ¿Cómo ves?<br />

Os artigos escritos como capítulos <strong>de</strong> livro didático tampouco<br />

serviriam. Nunca tivemos a pretensão <strong>de</strong> ensinar ciência<br />

formalmente, só <strong>de</strong>sejamos que os leitores se aproximem <strong>de</strong>la<br />

<strong>de</strong> uma maneira que lhes seja agradável.<br />

Partimos <strong>da</strong> premissa <strong>de</strong> que enfrentávamos leitores inteligentes<br />

e exigentes, merecedores do mais absoluto respeito. Nosso<br />

<strong>de</strong>safio era interessar estes leitores e <strong>de</strong>cidimos que a ciência<br />

por si só é interessante quando se consegue mostrar <strong>de</strong> que se<br />

trata e como se faz. Sabíamos que os jovens são curiosos e ain<strong>da</strong><br />

conservam a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se assombrar. Também lhes agra<strong>da</strong>m<br />

os <strong>de</strong>safios. Tudo isto <strong>de</strong>veria ser consi<strong>de</strong>rado para conseguir<br />

um bom artigo <strong>de</strong> divulgação científica dirigido aos jovens.<br />

Mas como fazê-lo?<br />

Primeiro, é necessário ser claro. Todo seu conteúdo científico<br />

<strong>de</strong>ve ser acessível para o leitor e, obviamente, estar correto.<br />

Para isto, em ¿Cómo ves?, consi<strong>de</strong>ramos quais são os conceitos<br />

que são familiares aos nossos leitores. Qualquer conceito que<br />

vá além disto <strong>de</strong>ve ser explicado. Por exemplo, po<strong>de</strong>mos supor<br />

que eles saibam o que é uma célula, mas não o DNA recombinante.<br />

Ou <strong>da</strong>r por certo que sabem alguma coisa <strong>de</strong> estrelas e galáxias,<br />

mas não sobre quasares ou aglomerados estelares.<br />

Entretanto, mesmo a explicação mais clara po<strong>de</strong> ser bem chata.<br />

Assim sendo, o artigo <strong>de</strong>ve mostrar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início por que seria<br />

interessante lê-lo e cumprir essa promessa. Aqui, temos várias<br />

opções. Uma <strong>de</strong>las é apelar à curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos leitores,<br />

começando por questionar se certas idéias surpreen<strong>de</strong>ntes ou<br />

insólitas po<strong>de</strong>riam ser leva<strong>da</strong>s à prática (por exemplo, a terapia<br />

gênica, uma nave espacial solar ou a viagem no tempo). Outra<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> é tomar um corpo <strong>de</strong> conhecimento bem<br />

estabelecido e respon<strong>de</strong>r à pergunta sobre como os cientistas<br />

obtiveram seus resultados (o comportamento <strong>da</strong>s bactérias, a<br />

dinâmica dos buracos negros, a evolução). Melhor ain<strong>da</strong>,<br />

po<strong>de</strong>mos escolher um problema científico e convi<strong>da</strong>r os leitores<br />

a pensar sobre algumas maneiras <strong>de</strong> solucioná-lo (em temas como<br />

a busca por planetas extra-solares, a i<strong>de</strong>ntificação do vírus <strong>da</strong><br />

SARS ou a natureza <strong>da</strong> matéria escura, para citar alguns). To<strong>da</strong>s<br />

essas questões implicam um <strong>de</strong>safio para o leitor e, ao mesmo<br />

tempo, representam uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para mostrar como se<br />

está fazendo hoje a ciência. Isto po<strong>de</strong> ser bem atraente para os<br />

leitores, especialmente os jovens.<br />

Outra maneira <strong>de</strong> fisgar os leitores é vincular um tema científico<br />

aos seus interesses mais diretos. Aquilo que tem relação com a<br />

saú<strong>de</strong> humana, sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, proteção ambiental, computadores,<br />

Como aproximar os jovens <strong>da</strong> ciência?<br />

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