Guia de Divulgação Científica - Museu da Vida - Fiocruz
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ela não teria por intenção real a cobertura <strong>de</strong> objeções éticas à<br />
biotecnologia. Ou, então, se não era enganoso falar em termos<br />
gerais <strong>de</strong> riscos induzidos pela biotecnologia, como se todos<br />
os produtos GM envolvessem riscos similares.<br />
Essas posições contra e a favor dos OGMs se cristalizaram em<br />
torno <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s extremas que eu rotularia como<br />
“fun<strong>da</strong>mentalistas”. Há muitas maneiras <strong>de</strong> ser fun<strong>da</strong>mentalista,<br />
entre elas ser simplisticamente pró-ciência ou anticiência. A<br />
solução não é atiçar uma Guerra Santa entre elas (o que muitos<br />
repórteres acabam por fazer). Em vez disso, ela exige um<br />
compromisso com uma noção forte <strong>de</strong> esfera pública<br />
esclareci<strong>da</strong>, na qual ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dão pensa e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> com a própria<br />
cabeça, usando o máximo <strong>de</strong> informação confiável disponível.<br />
O problema é que a opinião pública é imperfeita em muitos<br />
países, se não em todos. É hora <strong>de</strong> revigorá-la por meio <strong>da</strong><br />
abertura <strong>de</strong> um terreno comum, no qual um <strong>de</strong>bate livre e<br />
renovado possa ter lugar, em que todos os interessados –<br />
respeitadores <strong>da</strong> in<strong>de</strong>pendência e <strong>da</strong> tolerância – comecem a<br />
pon<strong>de</strong>rar fatos, interpretações e argumentos por seu valor<br />
intrínseco, e não por sua origem.<br />
Os lí<strong>de</strong>res <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica global <strong>de</strong>veriam <strong>da</strong>r um<br />
passo para começar a gerar e a reunir informação confiável<br />
sobre biotecnologias, propondo experimentos similares aos <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> escala que foram realizados no Reino Unido, mas que<br />
abarquem um espectro mais amplo <strong>de</strong> ambientes naturais,<br />
culturais e socioeconômicos. A única condição para eles seria<br />
não terem se engajado <strong>de</strong> modo proeminente nas campanhas a<br />
favor ou contra a biotecnologia.<br />
A informação produzi<strong>da</strong> nesses estudos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes teria então<br />
<strong>de</strong> ser leva<strong>da</strong> ao público <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> país, <strong>de</strong> preferência na forma <strong>de</strong><br />
conferências <strong>de</strong> consenso ou reuniões abertas, <strong>de</strong> modo a alcançar<br />
pessoas comuns. Po<strong>de</strong>-se começar por avaliar os sucessos e<br />
fracassos <strong>da</strong> iniciativa britânica GM Nation, por exemplo.<br />
Outra tarefa importante é assegurar-se <strong>de</strong> que a informação<br />
chegue àquelas pessoas em posição <strong>de</strong> transformar opiniões e<br />
juízos em fatos sociais, como legisladores e magistrados. A<br />
experiência do Instituto Einstein para Ciência, Saú<strong>de</strong> e Tribunais<br />
dos Estados Unidos (EINSHAC, na abreviação em inglês) po<strong>de</strong><br />
ser útil, nesse sentido.<br />
Dado que muitos <strong>de</strong> nós – cientistas sociais ou naturais e<br />
jornalistas – tiveram alguma educação em pesquisa empírica no<br />
passado, estamos con<strong>de</strong>nados a fazer aquilo que fomos<br />
treinados a fazer: apren<strong>de</strong>r com a experiência, levantar novas<br />
questões ou reformulá-las <strong>de</strong> forma mais produtiva e, acima <strong>de</strong><br />
tudo, buscar respostas inespera<strong>da</strong>s e inovadoras.<br />
Jornalistas, sozinhos, não seriam capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>sbravar esse novo<br />
campo, que um dia talvez se torne um terreno comum e neutro.<br />
Mas <strong>de</strong>certo po<strong>de</strong>m <strong>da</strong>r alguns passos nessa direção, começando<br />
por evitar aquelas fontes que na<strong>da</strong> têm para acrescentar <strong>de</strong> novo<br />
ao <strong>de</strong>bate. Será que não há cientistas praticantes por aí que<br />
recusem o papel <strong>de</strong> militantes pró-biotecnologia? Talvez esteja<br />
na hora <strong>de</strong> começarmos a procurar com maior afinco por<br />
especialistas que não tenham interesses em jogo. Po<strong>de</strong> ser até que<br />
encontremos pessoas nas ONGs ou em torno <strong>de</strong>las que se disponham<br />
a corroborar suas afirmações com <strong>da</strong>dos confiáveis, auditados e<br />
publicados. Acima <strong>de</strong> tudo, nós, jornalistas, precisamos insistir<br />
em mostrar que nenhuma instituição – ao menos em meu país – se<br />
encontra seriamente engaja<strong>da</strong> em <strong>de</strong>sarmar a armadilha <strong>da</strong><br />
polarização em que fomos aprisionados.<br />
Se a situação presente se mantiver inaltera<strong>da</strong>, restará somente espaço<br />
para a persistente falsificação do diálogo que, ao menos no Brasil,<br />
conduziu a biotecnologia a um impasse legal e <strong>de</strong> regulamentação.<br />
© SciDev.Net 2004<br />
40 Por que precisamos <strong>de</strong> um novo fórum para o <strong>de</strong>bate público sobre biotecnologia<br />
<strong>Guia</strong> <strong>de</strong> <strong>Divulgação</strong> <strong>Científica</strong>