ENSAIO SOBRE O LIVRO X DE “CONFISSÕES” - ICHS/UFOP
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vaidades e orgulhos de simplesmente saber. Com isso nos afastamos da simplicidade que é o Reino de<br />
Deus onde não há quem saiba mais ou menos, somos todos amados com o mesmo amor por sermos<br />
únicos e iguais aos olhos de Deus. Como São Paulo fala em sua carta aos 1Coríntios: “Mas o<br />
conhecimento envaidece; é o amor que constrói. Quando alguém julga ter alcançado o saber, é porque<br />
ainda não sabe onde está o verdadeiro conhecimento. Ao contrário, se alguém ama a Deus, é conhecido<br />
por Deus”. (BÍBLIA, 1990, 1Coríntios 2,1-3).<br />
No trigésimo sexto capítulo Santo Agostinho fala sobre o orgulho. Ele começa dizendo sobre as<br />
transformações que Deus operou em sua vida, a fidelidade com que Deus o tratou e como tudo o que<br />
Deus lhe fez trouxe uma grande leveza. Deus resiste aos soberbos e dá suas graças aos humildes, mas o<br />
inimigo da Felicidade semeia o pensamento de que se deve ser grande aos olhos dos homens desligando a<br />
alegria de Deus e colocando-a na mentira humana. “O inimigo incita-nos a que gostemos de ser amados e<br />
temidos, não por amor de Vós, mas em vez de Vós; para que assim, assemelhando-nos a ele, vivamos na<br />
sua companhia, associado aos seus suplícios, e não unidos na concórdia da caridade”. (AGOSTINHO,<br />
1999, p.299)<br />
O fato é que gostamos de ser amados, queridos e como diz Santo Agostinho, até mesmo temidos.<br />
Queremos ser compreendidos, amados e aceitos pelas pessoas, às vezes sem perceber que o excesso desse<br />
desejo corrompe o espírito. A próxima tentação, que é o louvor vem de encontro com o orgulho fazendo<br />
com que os olhos se fechem para graça da simplicidade e do despojamento, pois Deus nos manda amar,<br />
ele não nos diz que seremos amados e até mesmo o contrário, seremos muitas vezes injustiçados,<br />
perseguidos e caluniados, como foi dito acima no Sermão da Montanha.<br />
Quanto ao louvor, Santo Agostinho diz: “Receio muito as minhas venialidades ocultas, que<br />
vossos olhos conhecem e os meus não vêem. Nos outros gêneros de tentações, posso examinar-me sem<br />
dificuldades, mas neste, quase nada”. (AGOSTINHO, 1999, p.300)<br />
E ainda:<br />
Se o louvor deve ser habitualmente companheiro da vida sã e das boas obras, nesse caso não nos<br />
podemos abster do convívio do louvor que acompanha a vida santa. A verdade, porém, é que não<br />
distinguimos se a privação de um bem nos é indiferente ou molesta, senão na ausência desse bem.<br />
(AGOSTINHO, 1999, p.301)<br />
Sob o aspecto do louvor, Santo Agostinho é um enigma para ele mesmo, pois ele não sabe distinguir o<br />
ponto em que o louvor é bom ou não.<br />
Muito ligado ao louvor está a vanglória e Santo Agostinho nos diz: “A vanglória tenta-me até<br />
quando a critico em mim. Mas eu repreendo-a desse mesmo desejo de louvor”. (AGOSTINHO, 1999,<br />
p.303) Santo Agostinho fala que quando ele diz que não se vangloria, já está de certa forma se<br />
vangloriando de não se vangloriar, por isso é uma tentação difícil de ser controlada.<br />
O amor próprio, tratado aqui por Santo Agostinho, está no sentido de nos acharmos bons demais<br />
para nós mesmos e para outras pessoas, de forma que a graça de Deus que antecede a tudo perde seu<br />
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