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Maria do Céu de Sousa Ferreira - Repositório Aberto da ...

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eitera<strong>do</strong>s <strong>da</strong> DM e <strong>de</strong> María <strong>de</strong>l Rosario e envia versos, como se po<strong>de</strong> ler na carta<br />

LXXV: «Estimo su salud, conforme a mi <strong>de</strong>seo, que así que no habrá queja que se le<br />

atreva. En cuanto a versos, tengo ya la cabeza tan cansa<strong>da</strong>, que no pue<strong>do</strong> aplicarme;<br />

pouco se pier<strong>de</strong> en mi poesía, mas yo ganaba mucho en <strong>da</strong>r gusto a Vuestra Excelencia.<br />

Ya no paseo el Parnaso, <strong>de</strong> que quité tantas flores para la galantaría, ninguna para el<br />

fruto, porque las planté ociosa, sino vana. Mucho lo que<strong>do</strong> con los favores <strong>de</strong> la Señora<br />

Duquesa <strong>de</strong> Arcos […]». SMC <strong>de</strong>svaloriza a poesia, provavelmente tentan<strong>do</strong> também<br />

alertar indirectamente a DM <strong>da</strong> sua vanitas, mas acaban<strong>do</strong> sempre por ce<strong>de</strong>r, envian<strong>do</strong><br />

poemas. É igualmente ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que, se, por um la<strong>do</strong>, SMC achava que estas senhoras<br />

eram merece<strong>do</strong>ras, pois admirava a sua virtu<strong>de</strong> e não as queria <strong>de</strong>scontentar, por outro,<br />

sabemos que os mosteiros viviam economicamente na <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>stas re<strong>de</strong>s. Para<br />

além <strong>do</strong> mais, estes contactos possibilitavam à nossa autora, em nome <strong>da</strong> auctoritas que<br />

emanava <strong>do</strong>s mosteiros, uma intervenção social, aju<strong>da</strong>n<strong>do</strong> a manter paradigmas <strong>de</strong> boa<br />

moral, num exercício elabora<strong>do</strong> <strong>de</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> 95 .<br />

Para SMC, esse «outro» que está para lá <strong>da</strong> gra<strong>de</strong> torna-se apelativo e<br />

imprescindível, pois, pesem embora semelhanças e diferenças, aju<strong>da</strong>-a a compreen<strong>de</strong>r<br />

melhor o mun<strong>do</strong> e, simultaneamente, a <strong>de</strong>finir os contornos <strong>de</strong> uma renova<strong>da</strong><br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, que sente construir-se em si: «pues no hay ser que se iguale al que <strong>da</strong>n sus<br />

honores» 96 .<br />

De um ponto <strong>de</strong> vista estritamente literário, em algumas poesias que Soror <strong>Maria</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Céu</strong> envia à Duquesa, encontramos reitera<strong>da</strong>s alusões a flores e frutos, com uma<br />

clara simbologia que não escapa ao diálogo com o Trata<strong>do</strong> <strong>da</strong>s Significações <strong>da</strong>s<br />

Plantas Flores e Frutos <strong>de</strong> Isi<strong>do</strong>ro Barreira 97 . Além disso, facilmente nos <strong>da</strong>mos conta<br />

<strong>da</strong> existência <strong>de</strong> uma inequívoca relação <strong>de</strong> intertextuali<strong>da</strong><strong>de</strong> interna com alguma<br />

produção anterior <strong>de</strong> SMC, nomea<strong>da</strong>mente com as Obras Várias e Admiráveis 98 , on<strong>de</strong> o<br />

poema «Cântico ao Senhor pelas Frutas» remete <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong> para o romance que<br />

95<br />

SMC manifesta-se algumas vezes sobre assuntos mun<strong>da</strong>nos. Cf. carta LXXI: «Al asunto <strong>de</strong> los cabellos<br />

corta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>seo <strong>de</strong>cir más, pero ya el Parnaso me <strong>de</strong>spi<strong>de</strong> como inútil, y me mira como ajena».<br />

96<br />

Cf. carta I.<br />

97<br />

A essa relação já aludiu Ana Hatherly em As Misteriosas Portas <strong>da</strong> Ilusão. A propósito <strong>do</strong> imaginário<br />

pie<strong>do</strong>so em Sóror <strong>Maria</strong> <strong>do</strong> <strong>Céu</strong> e Josefa d’Óbi<strong>do</strong>s, in Josefa d’Óbi<strong>do</strong>s e o tempo barroco, 2ª edição,<br />

coord. Vitor Serrão, TLP, Instituto Português <strong>de</strong> Património Cultural – IPPC, 1993, pp. 71-85.<br />

98<br />

Op. cit., pp. 119-120.<br />

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