A Liturgia em Braga Joaquim Félix de Carvalho
A Liturgia em Braga Joaquim Félix de Carvalho
A Liturgia em Braga Joaquim Félix de Carvalho
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
148<br />
Como se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>, o cânone não foi dirigido exclusivamente contra<br />
a liturgia da metrópole bracarense. Porém, pelo teor <strong>de</strong> outros cânones, é<br />
evi<strong>de</strong>nte que o Concílio pensava especialmente nela, pois pretendia extirpar<br />
todos os vestígios <strong>de</strong> romanização. O cânone 6 44, ao referir-se à resposta<br />
<strong>de</strong> S. Gregório a S. Leandro, na qual admitia a praxe da única imersão baptismal<br />
da tradição hispânica, anulava o cânone 5 45 do I Concílio <strong>de</strong> <strong>Braga</strong>,<br />
que prescrevia a obrigatorieda<strong>de</strong> da tríplice imersão, segundo a tradição romana.<br />
O cânone 13 46, ao citar as obras <strong>de</strong> S. Hilário e <strong>de</strong> S. Ambrósio e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
a venerável tradição do Gloria in excelsis, <strong>de</strong>strói o cânone 12 47 do<br />
mesmo Concílio bracarense, que <strong>de</strong>terminava a proibição do uso litúrgico<br />
<strong>de</strong> composições poéticas. Também os cânones, que se refer<strong>em</strong> ao lugar do<br />
Aleluia «non mox post Apostolum sed post Evangelium» (cânone 12) 48 e à<br />
bênção do povo antes da comunhão (cânone 18) 49, visam abolir os el<strong>em</strong>entos<br />
romanos dos quais <strong>Braga</strong> era principal promotora das Igrejas hispânicas.<br />
Terão sido acatadas e imediatamente postas <strong>em</strong> prática as <strong>de</strong>terminações<br />
conciliares na Galécia? Não sab<strong>em</strong>os, mas certo é que o arcebispo <strong>de</strong><br />
<strong>Braga</strong>, Juliano, e seus sufragâneos assinam as actas do Concílio. Quanto à<br />
sua concretização, não pod<strong>em</strong>os senão pensar que, dada a insistência do XI<br />
Concílio <strong>de</strong> Toledo (675) na unificação dos ritos, como se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> do título<br />
do cânone 3 «Ut in una provincia diversitas officiorum non teneantur» 50,<br />
ela não terá sido n<strong>em</strong> célere n<strong>em</strong> pacífica.<br />
Gonzaga <strong>de</strong> Azevedo interpreta <strong>de</strong> forma muito diversa este Concílio,<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo que ele abole a lei da unida<strong>de</strong> litúrgica imposta pelo IV Concílio<br />
<strong>de</strong> Toledo, e legitima o rito da metrópole bracarense 51. Opinião diferente<br />
é partilhada por Augusto Ferreira 52, Perez <strong>de</strong> Urbel 53 , António <strong>de</strong><br />
Vasconcelos 54, António Coelho 55, Pierre David 56 e <strong>Joaquim</strong> <strong>Braga</strong>nça 57.<br />
44 Cf. J. VIVES (ed.), Concilios Visigóticos e Hispano-Romanos, Concilio <strong>de</strong> Toledo IV, 191-193.<br />
45 Cf. J. VIVES (ed.), Concilios Visigóticos e Hispano-Romanos, Concilio <strong>de</strong> <strong>Braga</strong> I, 72.<br />
46 Cf. J. VIVES (ed.), Concilios Visigóticos e Hispano-Romanos, Concilio <strong>de</strong> Toledo IV, 196-197.<br />
47 Cf. J. VIVES (ed.), Concilios Visigóticos e Hispano-Romanos, Concilio <strong>de</strong> <strong>Braga</strong> I, 73.<br />
48 J. VIVES (ed.), Concilios Visigóticos e Hispano-Romanos, Concilio <strong>de</strong> Toledo IV, 196.<br />
49 Cf. J. VIVES (ed.), Concilios Visigóticos e Hispano-Romanos, Concilio <strong>de</strong> Toledo IV, 198.<br />
50 J. VIVES (ed.), Concilios Visigóticos e Hispano-Romanos, Concilio <strong>de</strong> Toledo XI, 356.<br />
51 Cf. L.G. DE AZEVEDO, História <strong>de</strong> Portugal, I, Lisboa 21944, 140; II, Lisboa 1939, 47-51 e 152.<br />
52 Cf. J.A. FERREIRA, Estudos histórico-litúrgicos, 85; IDEM, Fastos Episcopais da Igreja Primacial <strong>de</strong> <strong>Braga</strong>,<br />
I, Famalicão 1928, 99.<br />
53 Cf. J. PÉREZ DE URBEL, «Orígenes <strong>de</strong>l rito bracarense», 137.<br />
54 Cf. A.G.R. DE VASCONCELOS, «Notas litúrgico-bracarenses», in ACLNRB, 192.<br />
55 Cf. A. COELHO, «Duas questões histórico-litúrgicas. II. A liturgia bracarense», 307.<br />
56 Cf. P. DAVID, Étu<strong>de</strong>s historiques sur la Galice et le Portugal du VIe au XIIe siècle, 106 ss.<br />
57 Cf. J.O. BRAGANÇA, «A liturgia <strong>de</strong> <strong>Braga</strong>», 8.<br />
joaquim félix <strong>de</strong> carvalho didaskalia xxxvii (2007)2