A Bíblia da farmacologia e os antidepressivos
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são utilizad<strong>os</strong> para outras situações, como, por exemplo, dores crônicas,<br />
no tratamento de “pacientes poliqueix<strong>os</strong><strong>os</strong>”, dores físicas em que não se<br />
encontram causas orgânicas que as justifiquem. Se <strong>os</strong> antidepressiv<strong>os</strong><br />
mais antig<strong>os</strong> já eram utilizad<strong>os</strong> n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> de dores crônicas, e não apenas<br />
para o tratamento <strong>da</strong> depressão, com o surgimento <strong>da</strong>s novas classes<br />
desses medicament<strong>os</strong> na déca<strong>da</strong> de 1980, ca<strong>da</strong> vez mais se tem ampliado<br />
as indicações de uso dessas drogas.<br />
Para além <strong>da</strong> prescrição médica, podem<strong>os</strong> pensar ain<strong>da</strong> que exista<br />
um “uso popular” d<strong>os</strong> medicament<strong>os</strong> em geral, inclusive d<strong>os</strong> psicoativ<strong>os</strong>.<br />
É de conhecimento d<strong>os</strong> profissionais de saúde o uso d<strong>os</strong> medicament<strong>os</strong><br />
“por conta própria” e o “comércio” realizado dentro <strong>da</strong> própria<br />
família, entre vizinh<strong>os</strong> ou amig<strong>os</strong> 6 . Há estratégias para a obtenção dessas<br />
drogas. Por exemplo: alguém que utiliza determinado medicamento por<br />
ser portador de um diagnóstico vai a vári<strong>os</strong> consultóri<strong>os</strong> e obtém mais<br />
receitas do que seria necessário por determinado período, com as quais<br />
consegue o medicamento para outras pessoas. Poderíam<strong>os</strong> pensar que<br />
essa é uma distorção do uso preconizado pel<strong>os</strong> critéri<strong>os</strong> médicocientífic<strong>os</strong>,<br />
mas, por outro lado, não seria esse um efeito induzido pela<br />
própria indústria de medicament<strong>os</strong>?<br />
Embora não preten<strong>da</strong> deter-me nesse problema, o do uso indevido,<br />
sem prescrição médica, esse pode ser outro sintoma <strong>da</strong> ampla divulgação<br />
d<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> d<strong>os</strong> medicament<strong>os</strong> em diversas situações, na busca<br />
<strong>da</strong> “melhora <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>”. Os usuári<strong>os</strong> se apropriam <strong>da</strong>s mensagens<br />
utiliza<strong>da</strong>s pelo marketing direcionado a<strong>os</strong> leig<strong>os</strong> e do discurso<br />
d<strong>os</strong> profissionais de saúde, mesmo quando não se consideram “doentes”,<br />
como bem abor<strong>da</strong> Azize (2002) em seu estudo sobre o uso de medicament<strong>os</strong><br />
relacionad<strong>os</strong> à “quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>”. Segundo esse autor, ao abor<strong>da</strong>r<br />
o uso do Prozac®, “tanto médic<strong>os</strong> quanto usuári<strong>os</strong> fazem uso de<br />
um argumento que poderia ser resumido como ‘se a pílula existe, por<br />
que não usar?’” (AZIZE, 2002, p.85).<br />
Sobre esse aspecto do amplo uso d<strong>os</strong> nov<strong>os</strong> antidepressiv<strong>os</strong>,<br />
Turnquist (2002) lembra que “É difícil imaginar um único problema<br />
humano que <strong>os</strong> psiquiatras american<strong>os</strong> não tenham relatado ter sido<br />
tratado com sucesso com <strong>os</strong> Inibidores Seletiv<strong>os</strong> de Recaptação <strong>da</strong> Serotonina<br />
(ISRS)” (TURNQUIST, 2002, p.28). Esses medicament<strong>os</strong>, lançad<strong>os</strong><br />
a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980 com o Prozac®, constituem a classe<br />
que ampliou o uso de medicament<strong>os</strong> antidepressiv<strong>os</strong> nas últimas déca-<br />
6 Sobre essa questão do “comércio” de medicament<strong>os</strong> psicoativ<strong>os</strong>, ver, por exemplo, o trabalho<br />
de Silveira (2000).