A Bíblia da farmacologia e os antidepressivos
A Bíblia da farmacologia e os antidepressivos
A Bíblia da farmacologia e os antidepressivos
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
48<br />
medicament<strong>os</strong> que atuam sobre problemas “mentais”, esse tema tem<br />
sido abor<strong>da</strong>do por vári<strong>os</strong> autores, tais como Marcia Angell, Philipe Pignarre,<br />
Angel Martinez e Conrad, entre muit<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>.<br />
Russo e Caponi (2006) lembram a separação entre a “prática científica<br />
e a reflexão sobre <strong>os</strong> fun<strong>da</strong>ment<strong>os</strong> do conhecimento científico”<br />
(p.15) que ocorre a partir do século XIX com a estruturação dessa prática<br />
e de sua metodologia, que, de uma forma geral, n<strong>os</strong> leva a caracterizar<br />
a ciência contemporânea por um forte componente pragmático<br />
(RUSSO; CAPONI, 2006, p.15-16). Esse componente pragmático pode<br />
estar n<strong>os</strong> permitindo “esquecer” que o conhecimento técnico-científico,<br />
a ciência e a técnica enquanto produt<strong>os</strong> <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de humana, e, em consequência,<br />
a sua divulgação, mesmo quando se propõem ser eticamente<br />
neutr<strong>os</strong>, não estão isent<strong>os</strong> de influências sociais, culturais, políticas e<br />
econômicas.<br />
Ain<strong>da</strong> segundo essas autoras, a ativi<strong>da</strong>de científica supõe certa interpretação<br />
do mundo, e quando provocam<strong>os</strong> esse tipo de reflexão (histórica<br />
e fil<strong>os</strong>ófica), colocam<strong>os</strong> em evidência a atuação <strong>da</strong>s instituições,<br />
d<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> coletiv<strong>os</strong> <strong>da</strong> descoberta, o peso <strong>da</strong>s influências políticas, as<br />
responsabili<strong>da</strong>des coletivas <strong>da</strong>s escolhas de teorias científicas entre outr<strong>os</strong><br />
fatores que influenciam a teoria e a prática <strong>da</strong>s ciências. Elas afirmam<br />
que<br />
Não se trata aqui de relativizar a ciência segundo<br />
a época ou o cientista que a pratica, pois isso seria<br />
negar a reprodutibili<strong>da</strong>de d<strong>os</strong> fenômen<strong>os</strong>, negar a<br />
p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de sua previsão e, por consequência,<br />
afirmar a imp<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ciência em si mesma.<br />
[...] Trata-se apenas de propor um estudo fil<strong>os</strong>ófico<br />
<strong>da</strong> história <strong>da</strong>s ciências [biomédicas] que n<strong>os</strong><br />
permita compreender melhor seu presente, seus<br />
desafi<strong>os</strong>, seus problemas teóric<strong>os</strong> e sua aplicabili<strong>da</strong>de.<br />
A reflexão histórica e fil<strong>os</strong>ófica <strong>da</strong> ciência<br />
oferece a p<strong>os</strong>sibili<strong>da</strong>de de revisitar <strong>os</strong> caminh<strong>os</strong><br />
<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de científica, apontar suas p<strong>os</strong>síveis direções<br />
e avaliar o peso <strong>da</strong> influência política e institucional.<br />
(RUSSO; CAPONI, p.23)<br />
No caso <strong>da</strong> <strong>farmacologia</strong> como ciência, o livro-texto que faz sua<br />
divulgação a<strong>os</strong> profissionais médic<strong>os</strong> e <strong>da</strong> área <strong>da</strong> saúde em geral pode<br />
parecer, à primeira vista ou sob um olhar cotidiano <strong>da</strong>queles que o utilizam,<br />
desvinculado do contexto histórico e social. Pode parecer “natural”<br />
que aquilo que ali está descrito como informação sobre o conhecimento<br />
científico seja um reflexo “idêntico” ao que ocorre na reali<strong>da</strong>de do interior<br />
de n<strong>os</strong>so organismo, como no caso <strong>da</strong>s teorias sobre neurotransmis-