31.05.2013 Views

A Bíblia da farmacologia e os antidepressivos

A Bíblia da farmacologia e os antidepressivos

A Bíblia da farmacologia e os antidepressivos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

40<br />

A análise histórica dessa situação singular permite olhar de outro<br />

modo um problema localizado no presente, que é o reducionismo biológico<br />

no uso de medicament<strong>os</strong>, problema para o qual n<strong>os</strong> alertam divers<strong>os</strong><br />

estud<strong>os</strong> de sociologia, antropologia e epistemologia. Isso porque o<br />

medicamento moderno, esse recurso tecnológico que é utilizado como<br />

estratégia terapêutica, faz parte <strong>da</strong> cultura ocidental moderna e ganha<br />

características que só podem ser vali<strong>da</strong><strong>da</strong>s em função do contexto sociocultural<br />

em que está inserido, a partir de valores simbólic<strong>os</strong> e econômic<strong>os</strong><br />

que traz consigo.<br />

Autores contemporâne<strong>os</strong>, como Pignarre (1999;2001) e Marcia<br />

Angel (2007), têm abor<strong>da</strong>do o tema d<strong>os</strong> medicament<strong>os</strong> n<strong>os</strong> diferentes<br />

níveis em que estes circulam (ciência, mercado e homens <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de),<br />

apontando para questões éticas relaciona<strong>da</strong>s ao seu desenvolvimento e<br />

uso. Se <strong>os</strong> medicament<strong>os</strong> trazem consigo a substância capaz de alterar<br />

farmacologicamente funções do corpo biológico, por outro lado trazem<br />

também componentes além dessa ação que são dign<strong>os</strong> de serem assinalad<strong>os</strong>.<br />

Não se pretende negar a existência de fatores biológic<strong>os</strong> na ação<br />

do medicamento, mas, concor<strong>da</strong>ndo com Pignarre, entre a molécula, que<br />

p<strong>os</strong>sui uma ação biológica, e o medicamento, que é uma mercadoria<br />

administra<strong>da</strong> socialmente, há uma construção social que acaba por fazer<br />

desse último “uma maneira original de ligar o biológico ao social. Privilegiar<br />

um ou outro [desses aspect<strong>os</strong>] é atribuir-lhe [ao medicamento] um<br />

excesso de honra ou indigni<strong>da</strong>de” (PIGNARRE, 1999, p. 15).<br />

Partindo de uma abor<strong>da</strong>gem histórica, servi-me também de pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong><br />

<strong>da</strong> análise de discurso para abor<strong>da</strong>r essas outras “faces” do<br />

medicamento a partir <strong>da</strong> análise de text<strong>os</strong> do livro que serve de base a<br />

este estudo.<br />

1.3 A ANÁLISE DE DISCURSO<br />

Essa “micro-história” referente ao modo como foi construído,<br />

transformado e divulgado o conhecimento sobre antidepressiv<strong>os</strong> a partir<br />

do livro-texto de <strong>farmacologia</strong>, foi desenvolvi<strong>da</strong> com o auxílio <strong>da</strong> análise<br />

de discurso (AD), na tentativa de apreender questões relaciona<strong>da</strong>s a<br />

aspect<strong>os</strong> culturais, polític<strong>os</strong>, econômic<strong>os</strong> e sociais presentes no discurso<br />

científico. A análise de discurso (AD) é apresenta<strong>da</strong> por Orlandi como<br />

uma disciplina “que teoriza a interpretação, isto é, que coloca a interpretação<br />

em questão” (ORLANDI, 1999, p. 25). Embora suas origens p<strong>os</strong>sam<br />

ser busca<strong>da</strong>s na Antigui<strong>da</strong>de (ORLANDI, 1999; VAN DIJK, 1992),<br />

o estudo do discurso aparece, a partir <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s de 1960 e 1970, no<br />

âmbito <strong>da</strong>s ciências humanas e sociais como uma “alternativa” a abor-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!