01.06.2013 Views

Atos de leitura; Série debates; Vol.:9; 2008 - Cereja

Atos de leitura; Série debates; Vol.:9; 2008 - Cereja

Atos de leitura; Série debates; Vol.:9; 2008 - Cereja

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

não é na universida<strong>de</strong> que vai apren<strong>de</strong>r. Eu discordo, acho que se apren<strong>de</strong> em qualquer<br />

momento. Eu tento fazer isso com os meus alunos. Lá no sétimo período, lá na<br />

ponta... Mas só para você ter uma idéia, tem uma horinha, toda aula, da meta<strong>de</strong> do<br />

curso em diante – porque antes os alunos se ofen<strong>de</strong>m um pouco – tudo o que você<br />

queria saber e tinha vergonha <strong>de</strong> perguntar, do tipo: por que se coloca crase, on<strong>de</strong> se<br />

põe vírgula, se começa a frase com gerúndio, ‘afim’ é junto ou separado? As alunas já<br />

me perguntaram: ‘quando é que usa a partir junto?’ Nunca, não existe. Então eu acho<br />

que a gente tem preconceito com a língua. Eu acho que é perfeitamente possível fazer<br />

isso, eu já conversei com vários professores... Agora, dá muito trabalho. É um trabalho<br />

enlouquecedor. Eu só consigo fazer isso porque tenho hoje bolsistas do estágio da<br />

docência. Então eu tive o privilégio <strong>de</strong> ter duas formandas em Letras, não para orientar,<br />

mas para serem bolsistas – pessoal <strong>de</strong> Letras que faz o Mestrado ou o Doutorado<br />

com a gente. E quando eu não tenho, eu recorro aos monitores da especialização.<br />

Beatriz faz questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubar o mito <strong>de</strong> que são os alunos provenientes dos<br />

setores <strong>de</strong> baixa renda que têm dificulda<strong>de</strong> com a língua portuguesa. Como se fosse uma<br />

problemática exclusiva <strong>de</strong> uma classe social. Afirma que tem excelentes “alunos da classe<br />

popular, negros, dos vestibulares comunitários”, que escrevem muito bem. Por assim<br />

ter <strong>de</strong>clarado, foi acusada <strong>de</strong> escamotear a situação. Insiste que problemas aparecem nas<br />

classes “populares, médias e altas”. Reforçando sua argumentação, <strong>de</strong>clara que há “pessoas<br />

<strong>de</strong> classe alta que não sabem ler e escrever e compram trabalho ou têm seus trabalhos<br />

feitos por alguém”.<br />

Na verda<strong>de</strong>, essa professora insiste que sejam criadas estratégias na graduação<br />

“por <strong>de</strong>ntro dos cursos”, no processo <strong>de</strong> trabalho com os textos produzidos pelos alunos<br />

que <strong>de</strong>vem ser recorrentemente avaliados e os textos elaborados mais uma vez buscando<br />

maior competência na comunicação escrita.<br />

A problemática referente aos usos da <strong>leitura</strong> e escrita nos padrões da norma culta<br />

é tema crucial entre os integrantes da universida<strong>de</strong>, nos seus diferentes níveis. Existe a<br />

intenção política <strong>de</strong> implementar estratégias curriculares criando disciplinas que tenham<br />

como foco as práticas <strong>de</strong> <strong>leitura</strong> e escrita, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ingresso na universida<strong>de</strong>, para todos<br />

que assim o queiram, como advogam.<br />

Candau nos adverte que os professores que entrevistou <strong>de</strong>stacam que “in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

<strong>de</strong> suas origens econômicas, sociais e culturais, cada vez mais, aumenta na<br />

universida<strong>de</strong> o número <strong>de</strong> jovens que apresentam <strong>de</strong>fasagens/<strong>de</strong>ficiências em relação ao<br />

que eles <strong>de</strong>nominaram ‘habilida<strong>de</strong>s acadêmicas’ (capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>leitura</strong> crítica, <strong>de</strong> argumentação,<br />

<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> textos, <strong>de</strong> domínio <strong>de</strong> outros idiomas, entre outras habilida<strong>de</strong>s,<br />

necessárias para aten<strong>de</strong>r a um perfil pre<strong>de</strong>finido e i<strong>de</strong>al) (CANDAU, 2003, p. 138).<br />

A mesma pesquisadora nos diz que a<br />

A existência <strong>de</strong> um novo perfil do(a) aluno(a) da universida<strong>de</strong> é ressaltada por<br />

todos(as) professores(as). E, embora os(as) professores(as) afirmem que lidar com a<br />

pluralida<strong>de</strong> do corpo discente seja rico, interessante e <strong>de</strong>safiador, vários(as) professores(as)<br />

apontam como uma dificulda<strong>de</strong> significativa ter <strong>de</strong> trabalhar com grupos <strong>de</strong><br />

alunos(as) tão diversificados(as). Para eles(as) é difícil lidar com a diversida<strong>de</strong> tanto<br />

cultural como econômica e social. Chegam a relatar que, muitas vezes, precisam<br />

superar preconceitos e lidar com novas tarefas difíceis <strong>de</strong> enfrentar, além <strong>de</strong> ser<br />

necessário vencer a falta <strong>de</strong> tempo ou a pouca disponibilida<strong>de</strong> para buscar e/ou<br />

10

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!