Atos de leitura; Série debates; Vol.:9; 2008 - Cereja
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O CONTEXTO UNIVERSITÁRIO<br />
Descrição física e social a partir dos professores<br />
A instituição universitária investigada situa-se na zona sul da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro. Trata-se <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orientação religiosa, privada, vista como <strong>de</strong><br />
elite, que <strong>de</strong>senvolve <strong>de</strong> maneira cuidadosa um sistema filantrópico para po<strong>de</strong>r abrigar<br />
estudantes <strong>de</strong> setores sociais não-privilegiados economicamente, disponibilizando vários<br />
tipos <strong>de</strong> bolsas, inclusive as <strong>de</strong> ação social.<br />
É uma universida<strong>de</strong> que se distingue no cenário nacional. Vários ex-alunos se<br />
<strong>de</strong>stacaram na vida política e econômica do país, e muitos <strong>de</strong> seus cursos <strong>de</strong> pós-graduação<br />
alcançam altas avaliações pelos critérios das agências <strong>de</strong> fomento.<br />
O universo pesquisado é pequeno, mas significativo, permitindo abrir hipóteses<br />
sobre as atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um número maior <strong>de</strong> docentes neste espaço. São nove professores<br />
pertencentes aos seguintes <strong>de</strong>partamentos: Psicologia, Física, Filosofia, Serviço Social,<br />
História, Letras, Matemática, Design e Educação. São sete mulheres e dois homens,<br />
situando-se quanto à ida<strong>de</strong> entre 39 e 70 anos na ocasião <strong>de</strong> nossas entrevistas. Todos,<br />
com exceção <strong>de</strong> uma professora, pertencem ao quadro principal da instituição e trabalham<br />
em regime <strong>de</strong> tempo integral. Doutores, alguns já fizeram pós-doutorado e se <strong>de</strong>finem<br />
como pesquisadores e orientadores. São autores, e como veremos, intensamente envolvidos<br />
com distintas práticas leitoras.<br />
O GOSTO PELOS LIVROS<br />
Embora os professores entrevistados não usem a categoria autor, todos o são,<br />
uma vez que são profissionais com mestrado e doutorado, publicam livros e artigos. São<br />
possuidores <strong>de</strong> livros <strong>de</strong> suas especializações e <strong>de</strong> literatura, coleções <strong>de</strong> revistas <strong>de</strong> interesse<br />
mais universal, como a New Yorker e <strong>de</strong> outras coleções temáticas especializadas nas<br />
respectivas áreas. Dois entre eles se classificam como consumidores <strong>de</strong> livros. Rubens,<br />
por exemplo, diz “sou mais consumidor <strong>de</strong> livros que leitor”. Compra livros em congressos<br />
e tenta manter uma biblioteca atualizada para po<strong>de</strong>r emprestar aos alunos.<br />
Ocupando atualmente cargo administrativo, o tempo que lhe sobra é reservado para as<br />
<strong>leitura</strong>s <strong>de</strong> trabalho, tais como teses e dissertações, as chamadas “<strong>leitura</strong>s obrigatórias”<br />
feitas “virando a noite”.<br />
Beatriz também <strong>de</strong>clara:<br />
Eu sou uma consumidora <strong>de</strong> livros. Compro meus livros. Temos quase quatro mil<br />
livros em casa - eu e meu companheiro, que é também professor universitário. Então,<br />
fora todos os livros que eu tenho aqui enfiados em todos os armários, eu tenho uma<br />
loucura por ter livro.<br />
Este é um dado recorrente entre os professores. Comprar livros, guardá-los tanto<br />
na universida<strong>de</strong> quanto na biblioteca pessoal, adquiri-los com verbas <strong>de</strong> pesquisa, emprestá-los<br />
a alunos e eventualmente a colegas e doá-los às bibliotecas.<br />
Diante da categoria “consumidor(a)” <strong>de</strong> livros, é importante trazer a reflexão <strong>de</strong><br />
Chartier, que vê que o consumo cultural ou intelectual po<strong>de</strong> ser ele mesmo pensado<br />
como uma produção ou como uma “outra produção” afastando-se assim qualquer noção<br />
<strong>de</strong> passivida<strong>de</strong> que lhe possa ser atribuída (CHARTIER, 1994, p. 59).<br />
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