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Tese de Doutorado - dacex

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qualificação e seleção. Eugene Sue, Ponson <strong>de</strong> Terrail, Xavier <strong>de</strong> Montépin,<br />

romances brasileiros elogiados pela crítica estética <strong>de</strong> José Veríssimo ou pela crítica<br />

nacionalista-tainiana <strong>de</strong> Araripe Júnior eram indiscriminadamente publicados em<br />

forma <strong>de</strong> folhetim nos meios <strong>de</strong> comunicação oitocentista. Desse modo, tanto<br />

romances consagrados e bem vistos pela crítica quanto romances tidos como<br />

<strong>de</strong>squalificados se publicavam da mesma forma e no mesmo meio. Esse fato é um<br />

complicador e impe<strong>de</strong> que vejamos o termo folhetim <strong>de</strong> modo simplista. O romance<br />

brasileiro oitocentista publicou-se em forma <strong>de</strong> folhetim e foi influenciado pelas<br />

narrativas folhetinescas européias tanto no sentido <strong>de</strong> reprodução como <strong>de</strong><br />

contestação e paródia. Além disso, as narrativas folhetinescas importadas também<br />

não se constituem como um bloco homogêneo, mas se estruturam <strong>de</strong> modo<br />

diferente <strong>de</strong> acordo com a época histórica <strong>de</strong> que são fruto. Por exemplo, Eugene<br />

Sue é diferente <strong>de</strong> Ponson du Terrail e este é diferente <strong>de</strong> Xavier <strong>de</strong> Montépin.<br />

No entanto, o meio jornalístico imprimia certa padronização aos romances<br />

que se publicavam em forma <strong>de</strong> folhetins. O período da publicação (diariamente); o<br />

objetivo da publicação (aumentar a vendagem do jornal, majoritariamente) e a<br />

audiência a que se <strong>de</strong>stinam os folhetins interferiam na estruturação discursiva da<br />

narrativa. Essa interferência ocorre em vários níveis, pois a linguagem do folhetim<br />

ten<strong>de</strong> a ser menos sofisticada, menos acadêmica, visto que é influenciada pela<br />

linguagem jornalística e pelo público menos letrado e erudito. A publicação diária em<br />

um mesmo espaço da página interfere na montagem da fábula 37 visto que esta é<br />

picotada, dada em capítulos mais ou menos com a mesma extensão. Os folhetins<br />

<strong>de</strong>veriam ser atraentes e cativar o público para manter ou aumentar a vendagem dos<br />

jornais. Nesse sentido precisam se esten<strong>de</strong>r no tempo, pren<strong>de</strong>ndo a atenção da<br />

audiência. Isso se mantém, sobretudo, a partir do uso do suspense e da repetição<br />

<strong>de</strong> situações estereotipadas que mantêm o interesse do leitor e promovem a<br />

i<strong>de</strong>ntificação.<br />

O vocábulo folhetim, <strong>de</strong>signando um tipo <strong>de</strong> romance, tem estado<br />

culturalmente marcado a partir, sobretudo, <strong>de</strong> valores negativos. Boa parte dos<br />

37 Estamos tomando o termo na acepção que lhe é conferida pelos teóricos do Formalismo<br />

Russo que diferenciam fábula <strong>de</strong> trama. Esta se constitui em como a narrativa é formalizada,<br />

ou seja, a sua or<strong>de</strong>m sintática (os vários expedientes formais: ângulo <strong>de</strong> visão; tempo, espaço,<br />

narrativas enca<strong>de</strong>adas etc), e aquela em o quê é contado. Logicamente que essa divisão entre<br />

forma e conteúdo é, em nosso estudo, apenas didática a fim <strong>de</strong> recontar <strong>de</strong> modo simplificado<br />

e reduzido o conteúdo. A obra enquanto uma totalida<strong>de</strong> significante é um amálgama entre o<br />

quê e como se narra.<br />

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