03.06.2013 Views

Tese de Doutorado - dacex

Tese de Doutorado - dacex

Tese de Doutorado - dacex

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> extraliterária, pois formaliza a pluridiscursivida<strong>de</strong> social com<br />

realismo e em sua totalida<strong>de</strong> heterogênea. No romance polifônico, Bakhtin vê a<br />

saída para a coisificação das relações sociais visto que nesse tipo <strong>de</strong> romance as<br />

relações entre o autor e o herói são <strong>de</strong> outra natureza. O autor não objetifica <strong>de</strong> fora<br />

o herói, construindo-o como uma entida<strong>de</strong> fechada e acabada. É como se o autor<br />

falasse do herói sempre na presença <strong>de</strong>le, instigando-o a se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e a<br />

problematizar o que se diz <strong>de</strong>le. Nos romances monológicos, o autor fala sobre o<br />

herói. Este está ausente, não po<strong>de</strong>ndo problematizar o que dizem <strong>de</strong> si. Entretanto,<br />

entre o romance polifônico pleno (Dostoiévski) e o romance monológico, há uma<br />

gama variada <strong>de</strong> narrativas que combinam esses dois extremos.<br />

A obra <strong>de</strong> Bakhtin po<strong>de</strong> ser apreendida como um discurso emancipatório. 51 O<br />

autoritarismo presente na cultura oficial e nos gêneros elevados que nega a<br />

pluridiscursivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser carnavalizado. As raízes <strong>de</strong>ssa carnavalização que<br />

<strong>de</strong>sestabilizam o caráter fechado do discurso sério se encontram, sobretudo, na<br />

cultura popular cômica e nos gêneros cômicos. Toda essa força centrífuga das<br />

atitu<strong>de</strong>s culturais-discursivas que promovem a crítica à cultura do centro são<br />

ativadas pelo gênero romanesco. Esse funciona como o gran<strong>de</strong> herói da narrativa<br />

emancipatória <strong>de</strong> Bakhtin. Desse modo, vemos que a vida penetra a arte a partir da<br />

elaboração literária do plurilingüismo e a arte ilumina a vida à medida que recupera<br />

toda uma totalida<strong>de</strong> secular não oficial da cultura do riso popular e do carnaval que<br />

tem sido neutralizada pela cultura do sério. Externo e interno se articulam,<br />

iluminando-se e construindo-se reciprocamente.<br />

Po<strong>de</strong>mos estabelecer, salvaguardadas as diferenças, alguns pontos em<br />

comum entre Bakhtin e Lukács, sobretudo em relação ao romance. Em Teoria do<br />

romance, 52 o teórico húngaro <strong>de</strong>staca que o discurso romanesco narra as<br />

vicissitu<strong>de</strong>s, os conflitos e a dicotomia existentes entre o homem e o social. Do<br />

51 A esse respeito consultar a obra <strong>de</strong> TIHANOV, G. Reification and Dialogue: aspects of the<br />

theory of culture in Lukács and Bakhtin. Disponível em: http://www.shef.ac.uk/uni/aca<strong>de</strong>mic/A-<br />

C/bakh/tihanov.html> acesso em 10 març. 2000. O autor traça um paralelo interessante entre<br />

Lukács e Bakhtin, <strong>de</strong>stacando que ambos apresentam um discurso emancipatório e utópico,<br />

sendo que para o filósofo húngaro o herói <strong>de</strong> libertação se constitui nas classes operárias e<br />

para o filósofo russo, no gênero romanesco. Esse, sobretudo na variação polifônica, capta a<br />

pluralida<strong>de</strong> discursiva em constante agonística, representando, <strong>de</strong>sse modo, a consciência<br />

humana, em seu mais elevado grau <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong>, liberta do monologismo que a tem<br />

aprisionado. Desse modo, Bakhtin vê a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> libertação do autoritarismo da cultura<br />

oficial a partir da linguagem, apreen<strong>de</strong>ndo-a em sua dialogicida<strong>de</strong> inerente.<br />

52LUKÁCS, Georg. A teoria do romance: um ensaio histórico-filosófico sobre as formas da<br />

gran<strong>de</strong> épica. Trad. José Marcos Mariani <strong>de</strong> Macedo. São Paulo: Ed. 34, 2000.<br />

30

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!