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Tese de Doutorado - dacex

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idéia <strong>de</strong> um centro que a todos domina e imprime uma mesma direção. Já os<br />

romances <strong>de</strong> “segunda linha” parodiam, ironizam e <strong>de</strong>ssacralizam esse estilo<br />

enobrecido. Aí temos uma atitu<strong>de</strong> dialógica que não unifica, mas estabelece o<br />

conflito. No interior do mesmo enunciado, temos o discurso nobre e o paródico,<br />

esclarecendo-se mutuamente. Ambos preservam a sua autonomia, mas uma<br />

autonomia inter-relacionada dialogicamente. Nessa variante, em vez <strong>de</strong> atuarem as<br />

forças centrípetas que homogeinizam a linguagem, encontram-se as forças<br />

centrífugas que trabalham sempre no sentido <strong>de</strong> preservar a guerra discursiva, a<br />

multiplicida<strong>de</strong>, a alterida<strong>de</strong>. Na variante <strong>de</strong> primeira linha predomina uma orientação<br />

épica, monológica e oficial em que há uma construção em monotom para o discurso;<br />

já na variante <strong>de</strong> “segunda linha” a atitu<strong>de</strong> para com o plurilingüismo se faz por<br />

intermédio da carnavalização em que o oposto e o contraditório sempre estão<br />

presentes, minando a homogeneida<strong>de</strong>. Bakhtin vê na “primeira linha” um<br />

compromisso com a totalida<strong>de</strong> unificada e sempre igual a si mesma; já na “segunda<br />

linha,” vê um compromisso com a totalida<strong>de</strong>, mas esta é instituída a partir da<br />

multiplicida<strong>de</strong> em constante conflito e agonística:<br />

Abordaremos aqui a categoria extremamente importante da ‘literaturida<strong>de</strong> geral da linguagem’<br />

apenas <strong>de</strong> passagem. O que nos importa é o seu significado não na literatura em geral nem<br />

na história da linguagem literária, mas somente na história do estilo romanesco. Aqui esse<br />

significado é enorme: o significado direto nos romances da primeira linha estilística, e indireto<br />

nos da segunda linha.<br />

Os romances da primeira linha estilística aparecem com a pretensão <strong>de</strong> organizar e <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>nar estilisticamente o plurilingüismo da linguagem falada e dos gêneros epistolares<br />

correntes e semiliterários. Os romances da segunda linha estilística transformam essa<br />

linguagem, ou seja, os ‘indivíduos literários’ com seus pensamentos e atos literários nos seus<br />

principais personagens. 55<br />

Po<strong>de</strong>mos ler a produção romanesca-folhetinesca <strong>de</strong> Aluísio Azevedo a partir<br />

<strong>de</strong>ssa categoria levantada por Bakhtin, romance <strong>de</strong> segunda linha, enten<strong>de</strong>ndo o<br />

romance-folhetim <strong>de</strong> Aluísio Azevedo como uma narrativa <strong>de</strong> provas duplamente<br />

orientado: a provação do herói literário romântico e das linguagens literárias<br />

correntes e canônicas. Desse modo, estaremos investigando a capacida<strong>de</strong> crítica e<br />

autocrítica da produção folhetinesca em Aluísio Azevedo.<br />

55 Ibid., p. 178.<br />

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