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Tese de Doutorado - dacex

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Conforme Mihkail Bakhtin, os componentes formais e arquitetônicos do<br />

romance-folhetim do século XIX não constituem, por sua vez, apenas uma<br />

especificida<strong>de</strong> do contexto imediato, mas também <strong>de</strong>itam raízes milenares na<br />

Antigüida<strong>de</strong>. Bakhtin, investigando a pré-história do gênero romanesco, focaliza o<br />

romance grego <strong>de</strong> aventuras, na Antigüida<strong>de</strong>, classificando-o como romance <strong>de</strong><br />

provas em que as personagens principais passam por inúmeras aventuras e<br />

peripécias. Essas colocam à prova o caráter, a dignida<strong>de</strong>, a virtu<strong>de</strong> das personagens<br />

que ao final triunfam, ultrapassando os difíceis obstáculos. Aqui, Bakhtin ressalta<br />

que as personagens são elaboradas <strong>de</strong> forma rígida, ou seja, não mudam do<br />

começo ao fim, apenas reforçam uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> inicial que se confirma a cada<br />

prova que ultrapassam. O enredo, o espaço e as situações são fabulosos e<br />

extraordinários, não pertencendo ao cotidiano. Esse tipo <strong>de</strong> romance tem vida<br />

bastante longa e é reeditado constantemente. Po<strong>de</strong>mos perceber que essa estrutura<br />

em que o herói é dado como uma unida<strong>de</strong> homogênea e estática, sempre igual a si<br />

mesma, não se alterando com a passagem do tempo, está presente, hoje,<br />

sobretudo, na teledramaturgia brasileira e esteve presente, majoritariamente, nos<br />

romances brasileiros <strong>de</strong> orientação romântica e em vários romances-folhetins do<br />

século XIX. Exemplo típico <strong>de</strong>ssa narrativa, no Brasil, seria boa parte da ficção<br />

romântica, em que as personagens (Isaura, Lucíola, Aurélia, Peri etc) sofrem<br />

inúmeras provações no tempo e no espaço e isto apenas reforça seu caráter inicial<br />

(bondoso, virtuoso, viril, honesto, digno etc). Desse modo, percebemos que as<br />

raízes <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> romance são longínquas, não se limitando ao contexto imediato<br />

em que afloram.<br />

Bakhtin continua sua exposição sobre os romances <strong>de</strong> provas, ressaltando que<br />

gran<strong>de</strong>s escritores como Balzac, Sthendal, Dostoiévski, Dickens, Flaubert e Zola<br />

também <strong>de</strong>le se utilizaram, porém, já com uma visão cronotópica diferenciada. Aqui<br />

o herói se submete a várias provas, porém se modifica e altera o mundo à proporção<br />

que as peripécias se <strong>de</strong>senrolam no tempo e no espaço. Lá encontra-se o homem<br />

formado e aqui o homem em formação: esta a diferença capital entre eles. Aqui o<br />

cotidiano, a história nacional, a cultura local, o tempo biológico agem sobre as<br />

personagens, modificando-as. O historicismo do século XIX passa a ser elemento<br />

estruturante da narrativa e o cronotopo é dado a partir <strong>de</strong> outra chave.<br />

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