O baile rosiano: alguns nomes e outros recados
O baile rosiano: alguns nomes e outros recados
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REVISTA LITTERIS ISSN: 1983 7429 Número 4, março de 2010.<br />
associado a Grifo, o animal mitológico guardião “de um tesouro inimaginável” (Debbio,<br />
2008, p.276), em referência, na narrativa, à própria expressão poética. No entanto, na<br />
substituição do –g pelo –c, ele também é Crivo, “bordado” ou “labirinto”, forma típica<br />
da narrativa rosiana. Essa última acepção se coaduna com universo de informações,<br />
reunidas pelo “menino das palavras sozinhas” em sua travessia, que, entrecruzadas, são<br />
a poesia do mundo.<br />
Curiosamente, durante o castigo de Miguilim, o Dito relata o que se passa no<br />
Mutúm, assim como, quando o menino esperto adoece, o irmão lhe conta estórias<br />
inauditas. Em proporção mais ampla, esse é o papel do Grivo ao buscar o “quem das<br />
coisas” para o Cara-de-Bronze. De toda maneira, nas “paralisias”, destaca-se a<br />
importância, para a vida, da conexão com a poesia do universo circundante.<br />
José Maurício Gomes de Almeida, considerando o ponto de vista fonético,<br />
observa a “escureza surda de „Behú” (Almeida, 2008, p.144). Ana Maria Machado<br />
assinala seu “som triste, lúgubre e assustador” (Machado, 2003, p.134). Da mesma<br />
forma, em Izidra, há uma aspereza, uma acidez sonora que se harmoniza com a<br />
personagem. Paulo Rónai, no estudo pioneiro “Rondando os segredos de Guimarães<br />
Rosa”, verifica que<br />
como os grandes poemas clássicos, Corpo de <strong>baile</strong> está cheio de<br />
segredos que só gradualmente se revelam ao olhar atento. A<br />
própria unidade da obra é um deles. Ela não é apenas geográfica<br />
e estilística, como parece à primeira vista. Conexões de temática,<br />
correspondências estruturais, efeitos de justaposição e oposição<br />
integram-na, mas os leitores têm de os descobrir um a um.<br />
Talvez ninguém consiga, nesse pormenor, desemaranhar<br />
totalmente o jogo complexo das intenções do autor [...] (Rónai,<br />
2006, p.22)<br />
Essas correspondências ocorrem também no âmbito dos personagens <strong>rosiano</strong>s.<br />
Izidra e Behú, por exemplo, vivem às voltas com rezas, imersas na escuridão, e se<br />
irmanam na feiúra. Quando a irmã de Maria da Glória falece, Chefe Ezequiel se<br />
recupera e, no universo do Buriti Bom, passa a reinar integralmente a potência erótico-