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O baile rosiano: alguns nomes e outros recados

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REVISTA LITTERIS ISSN: 1983 7429 Número 4, março de 2010.<br />

dormir até dezoito horas por dia – que recebe o apelido acomodado impecavelmente à<br />

sua essência: Sossonho (sossõe).<br />

Para o filho de seo Deográcias, Rosa reserva o nome de “uma espécie de<br />

pequeno pato-bravo, ou marreco do mato” (Rosa, 2003, p.40). O menino malino tem um<br />

fim trágico condizente com seu comportamento; sua desumanidade interrompe a<br />

travessia. Apesar disso, Miguilim relembra bons momentos ao lado de Patorí,<br />

ratificando que, em Rosa, bem e mal fazem parte da alma humana.<br />

Aristeu, em sua Alegria, se assemelha a Dito e Maria da Glória. Guimarães Rosa<br />

ressalta que “Aristeo era uma das personificações de Apollo – como músico, protetor<br />

das colméias de abelhas e benfazejo curador de doenças” (Rosa, 2003, p.39). Entretanto,<br />

o personagem de “Campo Geral” reúne o apolíneo, “deusado de bonito” (Rosa, 2006,<br />

p.59), e o dionisíaco, pelo seu entusiasmo vital. Ele também é, portanto, puro estado de<br />

contentamento e, na reunião de palavra, canto e dança, “cura” o filho de Nhanina. Deve-<br />

se levar em conta que Vovó Izidra “tinha ojeriza” (Rosa, 2006, p.41) a seo Aristeu e o<br />

Dito, por irmanar-se, é quem vai buscá-lo. O Apolo do sertão, que tem como companhia<br />

a gordinha Minréla-Mindóla (Rosa, 2006, p.60) – nome de aparente potência erótica – ,<br />

dá seu recado ao menino Miguilim: “carece de ficar alegre. Tristeza é agouría...” (Rosa,<br />

2006, p.127).<br />

Nas palavras de Ana Maria Machado, “Maria da Glória é a própria encarnação<br />

da Alegria” (Machado, 2003, p.141). José Maurício Gomes de Almeida ressalta ainda<br />

que para “o tímido e sofrido Miguel, [...] Maria se lhe afigura efetivamente da Glória,<br />

porque é, antes de tudo, da alegria (Almeida, 2008, p.134). Para uma análise completa<br />

do nome, faz-se necessária a transcrição de sua origem: “Do sânscrito Maryâh, lit. „a<br />

pureza; a virtude; a virgindade‟. Segundo Saint-Yves D‟Alveydre, „as sílabas Ma Ri Hâ<br />

formam o trígono das águas vivas, [...] Ma refere-se ao Tempo, à Medida, ao Mar, à Luz<br />

refletida, à Água‟” (Oliver, 2005, p.449-50).<br />

Deve-se levar ainda em conta que Glória é um “nome emprestado a uma das<br />

invocações de Nossa Senhora” (Oliver, 2005, p.409). A Maria da Glória rosiana,<br />

contudo, transcende pela imanência; através da erotização, participa da seiva vital e faz<br />

da terra o seu céu. A escolha desse nome, para uma personagem que não é virgem, que<br />

não é imaculada, intimizada com a potência erótico-telúrica, reforça a originalidade da

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