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O baile rosiano: alguns nomes e outros recados

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REVISTA LITTERIS ISSN: 1983 7429 Número 4, março de 2010.<br />

O BAILE ROSIANO:ALGUNS NOMES E OUTROS RECADOS<br />

Cristiane Amorim (UFRJ) 1<br />

Sobe a luz sobre o justo e dá-se ao teso coração alegria!<br />

Guimarães Rosa (Discurso de posse na ABL)<br />

Resumo: “O <strong>baile</strong> <strong>rosiano</strong>: <strong>alguns</strong> <strong>nomes</strong> e <strong>outros</strong> <strong>recados</strong>” dialoga principalmente com<br />

a obra de Ana Maria Machado, Recado do nome. A partir de “Campo Geral”, são<br />

analisados <strong>alguns</strong> <strong>nomes</strong> de Corpo de Baile, com o intuito de dar um pequeno, todavia<br />

importante, passo na compreensão do enigmático bailado. Este estudo abarca ainda a<br />

análise de algumas correspondências entre os personagens das diversas sagas, que<br />

acabam por revelar a mundividência rosiana. Pode-se verificar, enfim, que o destino dos<br />

seres conectados com a vida em si mesma, entusiastas da Arte e da Alegria, se<br />

contrapõe ao dos indivíduos imersos apenas em labor e pesar.<br />

Palavras-chave: literatura brasileira, Corpo de <strong>baile</strong>, Guimarães Rosa, “Campo Geral”,<br />

estudo onomástico<br />

Abstract: “Rosiano‟s ball: some names and other massages” dialogues mainly with<br />

Ana Maria Machado‟s text, Recado do nome. From “Campo Geral”, some names of<br />

Corpo de Baile are analyzed, with the aim of afford a little, although important, step in<br />

enigmatic ball‟s comprehension. This research still includes the analysis of some<br />

correspondences between the various sagas‟ characters, which reveal the rosiana<br />

1 Cristiane Amorim - graduação em Comunicação Social: Publicidade e Propaganda pela Universidade Gama Filho<br />

(1995), graduação em Letras pela Universidade Gama Filho (2003), especialização em Literatura brasileira pela<br />

Universidade Federal do Rio de Janeiro (2003) e mestrado em Letras (Letras Vernáculas) pela Universidade Federal<br />

do Rio de Janeiro (2007). Atualmente curso o doutorado em Literatura brasileira na UFRJ. e-mail:<br />

cristiane.amorim@globo.com


REVISTA LITTERIS ISSN: 1983 7429 Número 4, março de 2010.<br />

worldclairvoyance. It is possible to verify, lastly, that the destiny of wights connected to<br />

life itself, Art and Joy enthusiasts, opposes to that one of individuals immersed only in<br />

labor and grief.<br />

Key-words: Brazilian literature, Corpo de <strong>baile</strong>, Guimarães Rosa, “Campo Geral”,<br />

onomastic research.<br />

Cordisburgo significa “cidade do coração”. No entanto, teve <strong>outros</strong> <strong>nomes</strong>:<br />

“Vista Alegre” e “Coração de Jesus da Vista Alegre” (Guimarães, 2006, p.23) –<br />

designações apropriadas para o local em que nasceu um homem que acreditava,<br />

sobretudo, no poder de fascinação pela vida. É espantosa, em suas cartas a familiares,<br />

amigos e tradutores, a recorrência das palavras alegria e entusiasmo (e suas variantes)<br />

seja como saudação, como mensagem de despedida ou mesmo para revelar seu estado<br />

de espírito.<br />

O cidadão cordisburguense, que era chamado na infância de Joãozito e utilizou o<br />

pseudônimo Viator, também atendeu por várias combinações de seu próprio nome e<br />

pelos epítetos carinhosos cunhados pela filha: João-Papai-Beleza, João-Papai-Colega,<br />

João Papai. Há ainda, em “Cara-de-bronze”, o personagem Moimeichego, reunião de<br />

“quatro palavras que significam eu em quatro línguas diferentes” e Soares Guiamar,<br />

“anagrama de Guimarães Rosa” (Machado, 2003, p.94-5) – indícios da presença lúdica<br />

do escritor mineiro em sua ficção.<br />

Ana Maria Machado observa que, na literatura rosiana, essas alterações do<br />

substantivo que designa o indivíduo eram comuns:<br />

O Nome, em Guimarães Rosa, não atribui ao personagem uma<br />

característica marcante que o acompanha em todas as situações<br />

vividas, mas, ao contrário, vai recebendo em cada novo<br />

momento um novo significado e, freqüentemente, um novo<br />

significante, num processo de permanente mutação do signo.<br />

(Machado, 2003, p.50)


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A análise de <strong>alguns</strong> <strong>nomes</strong> em Corpo de <strong>baile</strong> e das mudanças que neles se<br />

operam de acordo com o desempenho do personagem, a partir de “Campo Geral”, pode<br />

levar a um pequeno, todavia importante, passo na compreensão de tão enigmática obra.<br />

Ronaldes de Melo e Souza destaca que o “[...] Dito se distingue como o menino<br />

que diz o verivérbio enunciador do conteúdo mitopoético da saga” (Souza, 2006, p.68).<br />

Sem dúvida, essa é a acepção mais importante do nome. O menino recadista é o porta-<br />

voz da Alegria; é quem profere, quem dita, a mundividência do bailado <strong>rosiano</strong>.<br />

Retomando o capítulo de Raul Castagnino (Qué es Literatura?), Ana Maria Machado<br />

conclui que a “associação entre criação e alegria” é o<br />

tema fundamental de Corpo de <strong>baile</strong>, seja exacerbado e eufórico<br />

como no final de “Campo Geral”, seja repetindo-se pelas festas<br />

que se sucedem nos diversos contos, como a marcar e propiciar a<br />

troca de pares aos diversos bailarinos, seja ainda aflorando por<br />

toda a parte através do texto, num eco de Bergson: „Quanto mais<br />

rica é a criação, mais profunda será a alegria‟. (Machado, 2003,<br />

p.108-9)<br />

Todavia Dito também é Expedito, aquele que resolve problemas com presteza e<br />

rapidez. Quando Miguilim ficava de castigo sem poder conversar, o menino ladino<br />

“dizia tudo baixinho, e virado para outro lado, se alguém visse não podiam exemplar<br />

por isso [...]” (Rosa, 2006, p.22). Para que o irmão se livrasse do maldoso Patorí, Dito<br />

inventa uma estória. (Rosa, 2006, p.37). Da mesma forma age para derrubar a árvore<br />

que angustiava Miguilim. É também o menino harmonizado com o universo<br />

circundante, “que fazia tudo sabido” (Rosa, 2006, p.50), quem busca o seo Aristeu para<br />

“curar” o irmão. Seu recado de Alegria abarca o dito, no dizer, e o expedito, na<br />

resolução da angústia existencial. O menino “sempre sem desassossego” (Rosa, 2006,<br />

p.49) morre próximo ao nascimento de Jesus, simbolizando, talvez, o eterno retorno. No<br />

entanto, essa proximidade com Cristo ilumina ainda mais sua mensagem de entusiasmo<br />

pela vida.<br />

Grivo, além daquele que grifa, “retraçando a linguagem” (Machado, 2003, p.93),<br />

como aponta Ana Maria Machado, ao sugerir a troca do –v pelo –f, é frequentemente


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associado a Grifo, o animal mitológico guardião “de um tesouro inimaginável” (Debbio,<br />

2008, p.276), em referência, na narrativa, à própria expressão poética. No entanto, na<br />

substituição do –g pelo –c, ele também é Crivo, “bordado” ou “labirinto”, forma típica<br />

da narrativa rosiana. Essa última acepção se coaduna com universo de informações,<br />

reunidas pelo “menino das palavras sozinhas” em sua travessia, que, entrecruzadas, são<br />

a poesia do mundo.<br />

Curiosamente, durante o castigo de Miguilim, o Dito relata o que se passa no<br />

Mutúm, assim como, quando o menino esperto adoece, o irmão lhe conta estórias<br />

inauditas. Em proporção mais ampla, esse é o papel do Grivo ao buscar o “quem das<br />

coisas” para o Cara-de-Bronze. De toda maneira, nas “paralisias”, destaca-se a<br />

importância, para a vida, da conexão com a poesia do universo circundante.<br />

José Maurício Gomes de Almeida, considerando o ponto de vista fonético,<br />

observa a “escureza surda de „Behú” (Almeida, 2008, p.144). Ana Maria Machado<br />

assinala seu “som triste, lúgubre e assustador” (Machado, 2003, p.134). Da mesma<br />

forma, em Izidra, há uma aspereza, uma acidez sonora que se harmoniza com a<br />

personagem. Paulo Rónai, no estudo pioneiro “Rondando os segredos de Guimarães<br />

Rosa”, verifica que<br />

como os grandes poemas clássicos, Corpo de <strong>baile</strong> está cheio de<br />

segredos que só gradualmente se revelam ao olhar atento. A<br />

própria unidade da obra é um deles. Ela não é apenas geográfica<br />

e estilística, como parece à primeira vista. Conexões de temática,<br />

correspondências estruturais, efeitos de justaposição e oposição<br />

integram-na, mas os leitores têm de os descobrir um a um.<br />

Talvez ninguém consiga, nesse pormenor, desemaranhar<br />

totalmente o jogo complexo das intenções do autor [...] (Rónai,<br />

2006, p.22)<br />

Essas correspondências ocorrem também no âmbito dos personagens <strong>rosiano</strong>s.<br />

Izidra e Behú, por exemplo, vivem às voltas com rezas, imersas na escuridão, e se<br />

irmanam na feiúra. Quando a irmã de Maria da Glória falece, Chefe Ezequiel se<br />

recupera e, no universo do Buriti Bom, passa a reinar integralmente a potência erótico-


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telúrica. Em “Campo Geral”, a ausência do pai e da avó de Miguilim, os únicos que<br />

gostavam de café “forte demais e amargoso” (Rosa, 2006, p.88), tornou a noite “o dia<br />

mais bonito de todos” (Rosa, 2006, p.87). Em oposição categórica à Vovo Izidra, que<br />

“não parava de zangar com todos por conta de tudo” (Rosa, 2006, p.20) está Vó<br />

Benvinda. A falecida mãe de Nhanina “quando moça tinha sido mulher-atôa” (Rosa,<br />

2006, p.31). Apesar da escassa referência à personagem, a positividade convidativa de<br />

seu nome sugere semelhança com as festivas prostitutas de Corpo de <strong>baile</strong>. Ronaldes de<br />

Melo e Souza atenta ainda para a correlação entre os artistas da palavra no bailado<br />

<strong>rosiano</strong>:<br />

Ao entusiasmo inventivo do menino Miguilim correspondem a<br />

vocação fabuladora de Rosalina em “A estória de Lélio e Lina”,<br />

a potência musal do artista que poetiza a mensagem de “O<br />

recado do morro”, a genialidade das estórias de Joana Xaviel e<br />

do velho Camilo em “Uma estória de amor”, os improvisos de<br />

Franquilim Meimeio, a que se reportam as variações da novela<br />

de rádio em “Dão-Lalalão”, as evocações fabulosas do mundo<br />

noturno de Chefe Ezequiel em “Buriti” e as invenções poéticas<br />

do Grivo em “Cara-de-Bronze”. O poder mágico das estórias<br />

constitui o motivo condutor das sagas rosianas no sertão. (Souza,<br />

2006, p.64)<br />

Após Nhô Bernardo Caz se suicidar, tio Terêz, cujo nome anuncia a futura posse<br />

de Nhanina, retorna, Vovó Izidra vai embora e o Mutúm fica mais leve. A forma oral e<br />

abreviada de Bernardo, Berno, é sinônimo de Berne, a larva da mosca-do-berne. Essa<br />

escolha pode ter sido casual, mas não se deve esquecer que Béro é um personagem<br />

desconectado com a vida em si mesma, cuja existência se faz apenas de labor e pesar.<br />

Larva, estado imaturo de um animal, talvez expresse sua insignificância no mundo.<br />

Quanto aos bichos <strong>rosiano</strong>s, destaca-se a Cuca Pingo-de-Ouro, a predileta de<br />

Miguilim, e sua primeira grande perda. O epíteto encerra o valor precioso da<br />

cachorrinha para o contador de estórias inauditas. Mas é o gato – animal capaz de


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dormir até dezoito horas por dia – que recebe o apelido acomodado impecavelmente à<br />

sua essência: Sossonho (sossõe).<br />

Para o filho de seo Deográcias, Rosa reserva o nome de “uma espécie de<br />

pequeno pato-bravo, ou marreco do mato” (Rosa, 2003, p.40). O menino malino tem um<br />

fim trágico condizente com seu comportamento; sua desumanidade interrompe a<br />

travessia. Apesar disso, Miguilim relembra bons momentos ao lado de Patorí,<br />

ratificando que, em Rosa, bem e mal fazem parte da alma humana.<br />

Aristeu, em sua Alegria, se assemelha a Dito e Maria da Glória. Guimarães Rosa<br />

ressalta que “Aristeo era uma das personificações de Apollo – como músico, protetor<br />

das colméias de abelhas e benfazejo curador de doenças” (Rosa, 2003, p.39). Entretanto,<br />

o personagem de “Campo Geral” reúne o apolíneo, “deusado de bonito” (Rosa, 2006,<br />

p.59), e o dionisíaco, pelo seu entusiasmo vital. Ele também é, portanto, puro estado de<br />

contentamento e, na reunião de palavra, canto e dança, “cura” o filho de Nhanina. Deve-<br />

se levar em conta que Vovó Izidra “tinha ojeriza” (Rosa, 2006, p.41) a seo Aristeu e o<br />

Dito, por irmanar-se, é quem vai buscá-lo. O Apolo do sertão, que tem como companhia<br />

a gordinha Minréla-Mindóla (Rosa, 2006, p.60) – nome de aparente potência erótica – ,<br />

dá seu recado ao menino Miguilim: “carece de ficar alegre. Tristeza é agouría...” (Rosa,<br />

2006, p.127).<br />

Nas palavras de Ana Maria Machado, “Maria da Glória é a própria encarnação<br />

da Alegria” (Machado, 2003, p.141). José Maurício Gomes de Almeida ressalta ainda<br />

que para “o tímido e sofrido Miguel, [...] Maria se lhe afigura efetivamente da Glória,<br />

porque é, antes de tudo, da alegria (Almeida, 2008, p.134). Para uma análise completa<br />

do nome, faz-se necessária a transcrição de sua origem: “Do sânscrito Maryâh, lit. „a<br />

pureza; a virtude; a virgindade‟. Segundo Saint-Yves D‟Alveydre, „as sílabas Ma Ri Hâ<br />

formam o trígono das águas vivas, [...] Ma refere-se ao Tempo, à Medida, ao Mar, à Luz<br />

refletida, à Água‟” (Oliver, 2005, p.449-50).<br />

Deve-se levar ainda em conta que Glória é um “nome emprestado a uma das<br />

invocações de Nossa Senhora” (Oliver, 2005, p.409). A Maria da Glória rosiana,<br />

contudo, transcende pela imanência; através da erotização, participa da seiva vital e faz<br />

da terra o seu céu. A escolha desse nome, para uma personagem que não é virgem, que<br />

não é imaculada, intimizada com a potência erótico-telúrica, reforça a originalidade da


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concepção de amor rosiana, em oposição aos ditames da moral cristã. A Glória rosiana<br />

é o triunfo “da vida na vida”.<br />

Em Ma Ri Hâ, contudo, há também o riso e o mar. Ana Maria Machado observa<br />

que a filha de iô Liodoro “é apresentada como uma Vênus nascida das ondas”<br />

(Machado, 2003, p.184). Ela é o mar (no sertão) que o menino Miguilim queria tanto<br />

conhecer: “Mãe, a gente então nunca vai poder ver o mar, nunca?” (Rosa, 2006, p.88).<br />

Maria da Glória nasce das águas como o Buriti brota da terra úmida e fértil das veredas.<br />

Ao analisar o último “poema” de Corpo de <strong>baile</strong>, José Maurício Gomes de<br />

Almeida verifica o contraponto dessa narrativa à concepção de mundo romântica e<br />

ressalta que<br />

[...] o Romantismo, numa postura afinada pela tradição cristã,<br />

restringia com freqüência a dignidade do amor à sua face<br />

espiritual, de sentimento puro, desvinculado das exigências da<br />

carne, que só poderiam degradá-lo [...] (Almeida, 2008, p.114).<br />

Em seguida, cita Lucíola, de Alencar, como uma “manifestação típica,<br />

conquanto exacerbada, de tal postura” (Almeida, 2008, p.114). Curiosamente, uma das<br />

figuras mais marcantes do romantismo brasileiro está nessa obra e se chama Maria da<br />

Glória, anjo de pureza e castidade. Todavia, enquanto a jovem alencariana, pálida e<br />

frágil, anula o corpo para transcender, a personagem rosiana, “cadeiruda e seiuda”<br />

(Rosa, 2006, p.702), com tudo se excita e faz da terra seu paraíso. Maria da Glória<br />

(MG) carrega ainda, nas primeiras letras do nome, a Minas Gerais de Guimarães Rosa,<br />

ratificando seu caráter de potência telúrica.<br />

Miguilim, o sensível menino do Mutúm, se enternecia diante das mazelas<br />

existenciais e se entusiasmava com as estórias e a natureza circundante. Ana Maria<br />

Machado, na tentativa de dar conta do nome, faz tímida alusão a sua referência bíblica e<br />

destaca que o irmão do Dito “se desmilinguia em sensibilidade ao descobrir o mundo<br />

[...]” (Machado, 2003, p.157). No texto “Em-cidade” (Ave, palavra), Guimarães Rosa<br />

sentencia: “Mirim, o inédito se oferece [...]” (Rosa, 2001, p.196). A frase, que encerra a<br />

capacidade imaginativa, criativa e entusiasta da criança, poderia, sem dúvida,<br />

caracterizar o protagonista de “Campo Geral”. Miguilim e Mirim se entrelaçam. Deve-


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se considerar ainda que Miguel origina-se do “hebriaco Mikhael, de mikhayáh, mais a<br />

partícula El” e significa uma pergunta: “quem é como Deus?” (Oliver, 2005, p.240).<br />

O sobrinho do tio Terêz, após sofrer com a morte do irmão, realiza a travessia. O<br />

artista das palavras, adulto e formado, tem como destino Maria da Glória, a própria<br />

Alegria, na fusão do amor-sentimento ao impulso erótico e no vínculo com a terra<br />

através do Buriti. Ao personagem, portanto, tudo o que lhe pertence: as estórias (a<br />

Criação), o amor por inteiro, a conexão com o Uno, a plenitude divinal na terra.<br />

Bailam, enfim, diante do dia, a flor e a haste no sertão <strong>rosiano</strong>.<br />

Referências bibliográficas<br />

ALMEIDA, José Maurício Gomes de. “Buriti: o ritual da vida”. In: _____. Machado,<br />

Rosa & Cia. Rio de Janeiro: Topbooks, 2008<br />

DEBBIO, Marcelo Del. Enciclopédia de Mitologia. São Paulo: Daemon, 2008<br />

GUIMARÃES, Vicente. Joãozito: a infância de João Guimarães Rosa. São Paulo:<br />

Panda Books, 2006<br />

MACHADO, Ana Maria. Recado do nome: leitura de Guimarães Rosa à luz do nome<br />

de seus personagens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003<br />

OLIVER, Nelson. Todos os <strong>nomes</strong> do mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005<br />

RÓNAI, Paulo. “Rondando os segredos de Guimarães Rosa”. In: Rosa, João Guimarães.<br />

Corpo de <strong>baile</strong>. Edição Comemorativa 50 anos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.<br />

ROSA, Guimarães. Corpo de Baile. Edição Comemorativa 50 anos (1956-2006). v. I e<br />

II. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006<br />

_____. João Guimarães Rosa: correspondência com seu tradutor italiano Edoardo<br />

Bizzarri. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003<br />

_____. Ave, Palavra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001<br />

SOUZA, Ronaldes de Melo e. “O narrador epilírico de Campo Geral”. In: Diadorim:<br />

Revista de Estudos Lingüísticos e Literários. Rio de Janeiro: UFRJ, Programa de Pós-<br />

Graduação em Letras Vernáculas, 2006

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