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Contos interligados - pucrs

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1 O círculo VS a autonomia do conto<br />

O primeiro e último conto de Os lados do círculo podem ser lidos como duas<br />

partes de uma mesma história, a começar pelo título em comum. Juntos, ―O puzzle<br />

(fragmento)‖ e ―O puzzle (suite et fin)‖ narram a história de um grupo que se reúne à<br />

beira do Rio Guaíba, para arranjar, na areia, figuras formadas na combinação dos mais<br />

diferentes objetos que trazem consigo. O encontro fortuito, proposto por Lautréamont,<br />

de uma máquina de costura e um guarda-chuva sobre uma mesa de dissecação torna-se<br />

aqui ―o ferro de passar de Breno diante da chaleira de Helena‖. A combinação faz parte<br />

de um ritual, do desvendar de um enigma, de uma proposta vital que o narrador ensaia<br />

explicar. Deste grupo, se destaca uma dupla, que nas últimas páginas do livro se<br />

reencontra e se separa, como na música ―Le tourbillon de la vie‖, celebrizada em Jules e<br />

Jim na voz de Jeanne Moreau. Marta vai para França, mas quando o ônibus está prestes<br />

a partir, ela promete continuar a relação com o narrador através da escrita. O fim é<br />

impossível, como enuncia Os lados do círculo desde a epígrafe.<br />

―O puzzle (fragmento)‖ abre o livro flertando com a circularidade da obra, ao<br />

apresentar personagens que serão protagonistas dos contos seguintes. O Wagner,<br />

linchado até a morte no conto ―Verão‖, aqui aparece como o diretor-executivo de uma<br />

empresa de construção. O Breno, que vive de rendas e pensa em comprar uma casa na<br />

praia com dois amigos, no conto ―Teatro de bonecos‖ se mostra já morando na praia<br />

com esses companheiros: uma boneca de pano comprada em uma boutique e um boneco<br />

de brique que ―à primeira vista podia ser até confundido com um desses super-heróis<br />

infláveis que depois de fazer a alegria dos meninos murcham esquecidos no canto da<br />

garagem‖.<br />

A ligação se dá prioritariamente pelo nome do personagem, que garante a<br />

continuidade de leitura entre as histórias. Parece supérfluo fazer essa relação, mas<br />

enxergamos melhor o aspecto convencional desse procedimento quando um autor o<br />

viola – como quando, no cinema, Luis Buñuel coloca duas atrizes para fazer a<br />

personagem Conchita em Esse Obscuro Objeto do Desejo, de 1977. A continuidade no<br />

plano da expressão, seja em um nome ou em um ator, é uma exigência para que este<br />

conteúdo reconhecido culturalmente se concretize, no caso, que se trata do mesmo<br />

personagem.<br />

Além do nome, Amilcar Bettega também espalha outras pistas para entendermos<br />

esses personagens do primeiro conto como os mesmos dos contos seguintes – de

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