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Contos interligados - pucrs

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Roberto, diz-se que é jornalista, é o Roberto jornalista que se apresenta no terceiro<br />

conto, ―Círculo vicioso‖. Breno e a casa na praia também se confirmam, e o assassino<br />

de ―A aventura prático-intelectual do sr. Alexandre Costa‖ é um personagem chamado<br />

Alexandre, funcionário do Tribunal de Justiça, como é funcionário do Tribunal de<br />

Justiça o Alexandre do primeiro conto. Para visualizar definitivamente: na página 15, o<br />

narrador diz que ―o Campinelli tinha por prenome Marcos, era engenheiro orçamentista<br />

e cinéfilo inveterado‖. Na página 125, ―é tão fácil ver a praça, esse banco, tão fácil ver<br />

esse homem e pensar Marcos e isso já ser a pura verdade de uma rotina de orçamentos,<br />

licitações e mulher e churrasco aos domingos (...)‖. Detalhe: o conto é narrado em parte<br />

como um roteiro de cinema, com reflexões sobre a arte cinematográfica. A coincidência<br />

esclarece sua intenção.<br />

Juntar as informações do primeiro conto ao enredo dos próximos textos não<br />

fornece algo fundamental sobre os personagens e as narrativas que aparecerão a seguir.<br />

Ficamos sabendo a profissão de um, o bairro onde mora o outro, a preferência de um<br />

terceiro por objetos que podia carregar no bolso. Ao mesmo tempo em que, em seu<br />

conjunto, essas informações oferecem uma chave interpretativa que interfere na leitura<br />

de cada texto e da obra como um todo, elas não são necessárias para desvendar o enredo<br />

dos contos do livro, que se mantêm autônomos em sua unidade – tal como o conceitua a<br />

teoria tradicional do conto moderno, iniciada com Edgar Allan Poe.<br />

Além da produção literária essencial para compreender o surgimento do conto<br />

moderno, entre 1842 e 1847 Poe escreveu uma série de resenhas em jornais e revistas<br />

onde traçou uma espécie de primeira poética da (short) story – prevendo uma definição,<br />

enunciando as características desejáveis do gênero, e, ao analisar a obra de seus<br />

contemporâneos a luz desses conceitos, oferecendo exemplos práticos do que seriam<br />

bons e maus procedimentos do conto. Essa ensaística primordial se uniu ainda a<br />

trabalhos como A filosofia da composição, que ajudam a compor o primeiro quadro<br />

teórico sobre a história curta. Nesses ensaios e críticas literárias, Poe caracterizou o<br />

conto como fundado sobre a brevidade e, conseqüentemente, sobre a concisão.<br />

Comentários do autor ou descrições secundárias serviriam ao romance, mas não a um<br />

bom conto. Nele, para submeter o leitor ao domínio do escritor e conquistar sua atenção<br />

plena, toda informação acessória deveria ser abandonada.<br />

If any literary work is too long to be read at one sitting, we must be content<br />

to dispense with the immensely important effect derivable from unity of

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