Iracema - Repositório Institucional UFC

Enquanto isto, no Olimpo, o todo-poderoso Júpiter, atendendo à reclamação da sua
filha Vênus, mãe de Enéias, além de lhe tornar a assegurar que seu filho realmente seria o
fundador de uma nova estirpe de grandes guerreiros, como ele certa vez o designara,
ordenou a um mensageiro que fosse até a cidade de Cartago, na Líbia, lugar não muito
distante de onde os Troianos haviam naufragado, com a missão de fazer com que a bela
rainha Dido, a viúva de Siqueu, em breve os acolhesse. E assim se deu. Dido não só
hospeda Enéias, mas também, e graças às astúcias de Juno, desta vez aliada à própria
Vênus,se apaixona inteiramente pelo herói troiano. Tão grande paixão será também causa
da morte da altiva Dido.
Atendendo as determinações olímpicas, Dido revelou-se uma magnífica hospedeira.
Acumulando Enéias de regalos, de vinhos finos e raras guloseimas, pediu que ele lhe
narrasse como afinal viera parar ali, na costa africana, tão longe de Tróia: "Do princípio
antes, hóspede, as insídias/Graias, disse, nos conta, e o pátrio excídio, / E errores teus; que
já seteno estio / De praia em praia todo o mar volteias." 29 .
O herói, não tendo como negar o pedido da bela rainha e, embora lhe custe muito
relembrar tão grandes sofrimentos, narra as peripécias nefastas que ele e sua gente passara.
O filho de Anquises começa, então, o relato de suas aventuras, que se abrem com os
famosos versos:
'' Mandas, Ô rainha, que eu renove uma indizivel dor." 30 .
Sua crônica recuou até os tempos da guerra de Tróia, momento em ele lastimou a
imprudência dos Troianos em terem recolhido para dentro das suas muralhas o cavalo
maldito. Enéias conta à Rainha a tomada de Tróia, o ardil concebido por Ulisses e relata as
viagens que empreendera até chegar a Cartago.
Durante tais encontros (Canto IV), Dido deixou-se fascinar pelo belo Enéias,
atingida que fora pelo dardo de Cupido, filho de Vênus. A rainha convida Enéias e os seus
companheiros para uma caçada. No meio de uma tempestade, provocada por Juno para unir
os dois, Dido e Enéias se abrigam numa gruta e nesse encontro se entregam ao Amor.
29 Cf. C. VI.,788-791
30 II, 3.
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