Iracema - Repositório Institucional UFC
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1.12 O herói épico virgiliano<br />
O epíteto virgiliano de pius Aeneas configura a matriz identitária do povo romano,<br />
segundo o Poeta épico.<br />
Com efeito, Diomedes elogia o herói como grande guerreiro, da estirpe de Heitor,<br />
mas superior a ele na pietas 136 . Sibila de Cumas exalta-o como “insigne pela pietas e pelas<br />
armas” 137 . É também a pietas que leva o herói a transportar o pai às costas, na fuga ao<br />
incêndio de Tróia. É um “labor extremus” (extrema mágoa) perder o pai na Sicília 138 . Por<br />
amor dele, desce aos Infernos, dizendo-se maravilhado ao vê-lo 139 .<br />
Esta configuração do herói épico, mais espiritual do que guerreira, entronca no<br />
perfil estóico virgiliano, como reconheceu R. Heinze: “O herói de Virgílio não é em<br />
primeira linha astuto e valente, é o piedoso Enéias, o pius Aeneas” 140 .<br />
Vejamos alguns exemplos deste perfil:<br />
- a simulação da esperança e a ocultação da dor: “Tais são as palavras que profere,<br />
mas, atormentado por tantos cuidados, / simula no rosto a esperança, no fundo do coração<br />
oculta a dor” 141 ;<br />
- a coragem de combater, mesmo ferido: “De pé, fremindo acerbo, apoiado na lança<br />
ingente, / no meio de grande multidão de jovens e do aflito Iulo, / estava Enéias, insensível<br />
às lágrimas” 142 ;<br />
- a solidariedade na dor alheia, mesmo do inimigo Turno: “Ai quanta carnificina<br />
impende sobre os míseros Laurentes! / Que castigo expiarás da minha parte, ó Turno! Sob<br />
136 Aen., XI, 292.<br />
137 Aen., VI, 403.<br />
138 Aen., III, 714.<br />
139 Aen. VI, 687-698.<br />
140 R. Heinze, Die Augusteiche Kultur, Lepzig, Teubner, 1960, p. 54.<br />
141 Aen., I, 208-209,<br />
142 Aen., XII, 398-400.<br />
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