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Iracema - Repositório Institucional UFC

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o teu poder / - estas serão as tuas artes – a impor hábitos de paz, / a poupar os vencidos e<br />

derrubar os orgulhosos” 103 .<br />

Numa representação dialética da guerra, motivo de glória e de luto, a referência a<br />

Marcelo relativiza o poder humano, a partir do exemplo romano: “Ó filho, não perguntes<br />

pelo luto imenso dos teus. / Os fados apenas o mostrarão ao mundo e não o deixarão / viver<br />

para além disso. A romana descendência pareceu-vos, ó deuses / supernos, por demais<br />

potente, se esta dádiva pudesse ser duradoura. / Quantos gemidos dos homens o famoso<br />

Campo elevará junto da grande / cidade de Marte! Que dor tu verás, ó Tibre, / quando<br />

correres ao lado do túmulo recém-erguido!” 104 .<br />

O espírito guerreiro do povo romano, moldado na ecphrasis do escudo de Enéias 105 ,<br />

contrasta com o conselho de seu pai, Anquises, prenunciador do segredo expansionista da<br />

aculturação do Império: “Tu, Romano, sê atento a governar os povos com o teu poder / -<br />

estas serão as tuas artes – a impor hábitos de paz, / a poupar os vencidos e derrubar os<br />

orgulhosos” 106 . Esta capacidade de aculturação, na análise horaciana, entronca num espírito<br />

pragmático, herdado de tempos remotos 107 . Destas qualidades testemunha Salústio, ao<br />

contrapor, em Catilina, a decadência do presente em relação à grandeza do passado 108 .<br />

A ecphrasis do escudo de Enéias, em contraste com o de Aquiles, na Ilíada,<br />

representa, sobretudo, o caráter guerreiro dos Romanos, bem como as principais batalhas e<br />

seus protagonistas: “Sabedor das profecias e conhecedor do futuro, / aí forjara o Deus<br />

103 Ib., 851-853.<br />

104 Ib., 868-874.<br />

105 “Sabedor das profecias e conhecedor do futuro, / aí forjara o deus Ignipotente os Ítalos feitos / e os<br />

Romanos triunfos; aí forjara a raça toda / da estirpe futura, descendente de Ascânio, e as guerras na sua<br />

ordem” (Virgílio, Eneida, 626-629).<br />

106 Eneida, VI, 851-853.<br />

107 “Houve em Roma durante muito tempo o doce hábito consagrado / de se acordar para abrir a casa desde<br />

manhã, explicar o direito aos clientes, / e colocar o dinheiro a bom recato em seguros registos, / de ouvir os<br />

mais velhos, de ensinar os mais novos / a aumentar os bens, a diminuir a ruinosa ambição” (Epístolas, II, 1.<br />

103-107).<br />

108 “Na paz e na guerra cultivavam-se os bons costumes; a concórdia era máxima e mínima a avareza; entre<br />

eles, o direito e o bem não valiam mais pela força das leis do que pela da natureza. Disputas, discórdias, rixas,<br />

exercitam-nas com os inimigos; os cidadãos lutavam uns com os outros em valor; nas ações de graças aos<br />

deuses eram magníficos, parcos em casa, leais para com os amigos. Com estas duas qualidades, a audácia na<br />

guerra, a justiça, quando a paz sobrevinha, cuidavam de si e do Estado. De tais fatos tenho eu as maiores<br />

provas, a saber: que na guerra foram mais vezes castigados aqueles que haviam lutado com o inimigo contra<br />

as ordens, e aqueles que haviam tardado a retirar-se do combate, apesar de chamados, do que os que tinham<br />

ousado desertar ou forçados, abandonaram o seu posto; porém, quando em paz, o fato de exercerem a sua<br />

autoridade mais pelos benefícios do que pelo medo e, quando recebiam uma ofensa, preferirem perdoar a<br />

perseguir” (Salústio, Catilina. IX, 1-5).<br />

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