renúncia de Bento XVI - Paróquia São Maximiliano
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"Como uma espécie <strong>de</strong> herança <strong>de</strong>stes breves 7 anos <strong>de</strong> pontificado, <strong>Bento</strong> <strong>XVI</strong> <strong>de</strong>ixa por<br />
implementar o projeto <strong>de</strong> Nova Evangelização. A questão é saber se Nova Evangelização é um<br />
novo termo mais palatável para o mesmo projeto <strong>de</strong> Cristanda<strong>de</strong> ou se é realmente algo “novo”,<br />
no sentido <strong>de</strong> uma Igreja à serviço do mundo na linha da Gaudim et Spes", escreve Sérgio<br />
Ricardo Coutinho.<br />
Sérgio Ricardo Coutinho é mestre (UnB) e doutorando (UFG) em História Social; professor <strong>de</strong><br />
“História da Igreja” no Instituto <strong>São</strong> Boaventura e <strong>de</strong> “Formação Política e Econômica do Brasil”<br />
e <strong>de</strong> “Teoria Política” no Centro Universitário IESB, em Brasília; membro da Associação<br />
Brasileira <strong>de</strong> História das Religiões (ABHR) e presi<strong>de</strong>nte do Centro <strong>de</strong> Estudos em História da<br />
Igreja na América Latina (CEHILA-Brasil).<br />
Eis o artigo.<br />
A <strong>renúncia</strong> do papa <strong>Bento</strong> <strong>XVI</strong> acontece em meio às comemorações dos 50 anos do Concílio<br />
Vaticano II. Há cinquenta anos atrás também estava um “papa <strong>de</strong> transição” e que percebeu qual<br />
<strong>de</strong>veria ser a relação da Igreja com a socieda<strong>de</strong>, com o mundo, com a história.<br />
Des<strong>de</strong> as primeiras intervenções, João XXIII reafirmava a sua intenção <strong>de</strong> que o Concílio<br />
estivesse em continuida<strong>de</strong> com o ensinamento da Igreja e que o apresentasse a todos os homens,<br />
levando em conta, porém, os <strong>de</strong>svios, as exigências e as oportunida<strong>de</strong>s do nosso tempo. Portanto,<br />
como disse Giuseppe Alberigo (1a), “não uma continuida<strong>de</strong> abstrata e atemporal, mas<br />
historicizada; com referência não só aos erros, mas também às novas instancias e possibilida<strong>de</strong>s<br />
(...) uma continuida<strong>de</strong> que não fosse surda às mudanças da história, nem dominada pela categoria<br />
do erro”.<br />
Assim, João XXIII acentuou, então, as modificações dinâmicas iniciadas na socieda<strong>de</strong> mundial<br />
e na atitu<strong>de</strong> positiva da fé cristã e da Igreja diante disso. Por isso, ele rejeitava com gran<strong>de</strong><br />
veemência a posição <strong>de</strong> quem via “nos tempos mo<strong>de</strong>rnos tão só prevaricação e ruína”, e daí, um<br />
regresso em relação ao passado. Pelo contrário, <strong>de</strong>clarou solenemente que tinha <strong>de</strong> discordar<br />
“<strong>de</strong>sses profetas da <strong>de</strong>sgraça”.<br />
Quarenta anos <strong>de</strong>pois do encerramento do Concílio, um <strong>de</strong> seus peritos chegava ao pontificado<br />
sob o nome <strong>de</strong> <strong>Bento</strong> <strong>XVI</strong>. A escolha do nome já carrega em si um projeto: a recristianização do<br />
Oci<strong>de</strong>nte. Um “novo” <strong>Bento</strong> <strong>de</strong> Núrcia.<br />
Diferentemente <strong>de</strong> João XXIII, seu pontificado <strong>de</strong> “transição” se manteve sim em continuida<strong>de</strong><br />
com o ensinamento da Igreja, mas cometeu o mesmo equívoco <strong>de</strong> seu antecessor: uma<br />
continuida<strong>de</strong> surda aos “sinais dos tempos”.<br />
Seu <strong>de</strong>safio maior continuou sendo o mesmo <strong>de</strong> João Paulo II: como restaurar autorida<strong>de</strong> moral<br />
e política da Igreja diante <strong>de</strong> um mundo cada vez mais globalizado e secularizado? A resposta<br />
continuou a mesma: não há verda<strong>de</strong>ira civilização nem autêntica convivência humana fora <strong>de</strong><br />
uma socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a Igreja dite as regras e os valores do viver social. Ou seja, não po<strong>de</strong> haver<br />
uma socieda<strong>de</strong> globalizadamente cristã fora dos princípios da Cristanda<strong>de</strong>.<br />
A questão é que a secularização também penetrou fundo no interior da Igreja. Daí que seu<br />
pontificado foi quase que totalmente preocupado com as questões internas em vista das externas: