Design de experiência e corrida de rua: um estudo sobre a ...
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<strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>experiência</strong> e <strong>corrida</strong> <strong>de</strong> <strong>rua</strong>: <strong>um</strong> <strong>estudo</strong><br />
<strong>sobre</strong> a construção <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>s <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o<br />
Experience <strong>Design</strong> and Road Running: a Study of Cons<strong>um</strong>ption Experience Building<br />
Costa, Filipe C. X. da; PhD; Universida<strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos, fcampelo@unisinos.br<br />
Scaletsky, Celso Carnos; PhD; Universida<strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos, celsocs@unisinos.br<br />
Fischer, Gustavo Daudt; PhD; Universida<strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos, gfischer@unisinos.br<br />
Res<strong>um</strong>o<br />
A compreensão <strong>sobre</strong> o processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>s <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o vem ass<strong>um</strong>indo<br />
gran<strong>de</strong> relevância acadêmica <strong>de</strong>ntro da area <strong>de</strong> <strong>Design</strong> nos últimos anos, levando<br />
pesquisadores a investigar <strong>sobre</strong> sua formação e como são percebidas pelos usuários. Esse<br />
<strong>estudo</strong> discorre <strong>sobre</strong> a influência que o <strong>de</strong>sign possui na geração <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>s percebidas<br />
na prática <strong>de</strong> <strong>corrida</strong>s <strong>de</strong> <strong>rua</strong> (running). Para sua realização, <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> exploratório foi<br />
conduzido empregando entrevistas em profundida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sk research e ensaio etnográfico. Os<br />
resultados apontaram para a relação predominante <strong>de</strong> agentes externos para a construção<br />
experiencial do indivíduo.<br />
Palavras Chave: <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>; <strong>corrida</strong> <strong>de</strong> <strong>rua</strong>; <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> serviços.<br />
Abstract<br />
The cons<strong>um</strong>ption experience building process un<strong>de</strong>rstanding has gaining scientific relevance<br />
in the <strong>Design</strong> area and more researchers to investigate about experience formation and its<br />
user perception. This study discusses the influence that <strong>de</strong>sign has on the generation of<br />
perceived experiences in the practice of road running. For this purpose, an exploratory study<br />
was conducted using interviews, <strong>de</strong>sk research and ethnographic essay. The results presented<br />
the predominant relationship of external agents to the individual experiential building.<br />
Keywords: experience <strong>de</strong>sign; road running; service <strong>de</strong>sign.<br />
IMPORTANTE: na parte inferior <strong>de</strong>sta primeira página <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>ixado <strong>um</strong><br />
espaço <strong>de</strong> pelo menos 7,0 cm <strong>de</strong> altura, medido da borda inferior, no qual serão<br />
acrescentadas, pelos editores, informações para referência bibliográfica
<strong>Design</strong> <strong>de</strong> Experiência e Corrida <strong>de</strong> Rua: <strong>um</strong> Estudo <strong>sobre</strong> a Construção <strong>de</strong> Experiências <strong>de</strong> Cons<strong>um</strong>o<br />
Introdução<br />
O mercado <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> <strong>de</strong> <strong>rua</strong> 1 é <strong>um</strong> fenômeno mundial. Milhões <strong>de</strong> corredores<br />
praticam essa ativida<strong>de</strong> física, ocupando parques, praças e <strong>rua</strong>s das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s pelo<br />
mundo inteiro. Mais do que <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> esportiva acessível ao gran<strong>de</strong> público, por sua<br />
simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização por não requerer equipamentos ou outros praticantes, o running<br />
vem ganhando força como o esporte <strong>de</strong> maior crescimento pelo mundo e <strong>de</strong> expressiva<br />
significância no contexto brasileiro (Silva, 2009). Sendo executada <strong>de</strong> forma solitária ou em<br />
grupos, os corredores têm incentivado o surgimento <strong>de</strong> <strong>um</strong> número expressivo <strong>de</strong><br />
competições, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> daquelas <strong>de</strong> pequenas distâncias (5 km e 10km), passando por <strong>de</strong>safios<br />
mais elevados (21,097km e 42, 195 km– meia-maratona e maratona completa), até<br />
ultramaratonas como a Comra<strong>de</strong>s, na África do Sul, com 89km. A evolução da prática po<strong>de</strong><br />
ser constatada pelos números impressionantes da Maratona <strong>de</strong> Nova York, que possui 43 mil<br />
vagas e, em 2009, teve mais <strong>de</strong> 100 mil pedidos <strong>de</strong> inscrições (AIMS, 2009). As maratonas <strong>de</strong><br />
Tóquio, Chicago, Berlin e Paris são gran<strong>de</strong>s eventos que atraem milhares <strong>de</strong> turistas / atletas<br />
para suas cida<strong>de</strong>s, correspon<strong>de</strong>ndo importantes datas nos seus calendários turísticos. Mas, por<br />
que isso acontece?<br />
Po<strong>de</strong>-se especular por diversas razões <strong>de</strong>ssa tendência, como a preocupação da<br />
redução do se<strong>de</strong>ntarismo e do estresse, típicos das socieda<strong>de</strong>s pós-mo<strong>de</strong>rnas, ou a busca do<br />
corpo perfeito e sua conseqüente elevação da auto-estima. No Brasil, estima-se que haja 3<br />
milhões <strong>de</strong> praticantes freqüentes 2 , sendo o segundo esporte mais popular nas maiores cida<strong>de</strong>s<br />
do pais (São Paulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro), ficando atrás apenas do futebol.<br />
Constatado a relevância <strong>de</strong>sse fenômeno esportivo e social, o questionamento é<br />
inevitável: o crescimento <strong>de</strong> n<strong>um</strong>ero <strong>de</strong> pessoas que praticam a <strong>corrida</strong> é algo que surge<br />
espontaneamente ou é provocada por terceiros? O que transforma <strong>um</strong>a <strong>experiência</strong> esportiva<br />
percebida por muitos como extremamente <strong>de</strong>sgastante e pouco estimulante em algo atraente e<br />
capaz <strong>de</strong> mobilizar multidões? A discussão que esse trabalho propõe é: a <strong>experiência</strong> <strong>de</strong><br />
running é <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> projetada por terceiros ou construída pelo usuário? Como o <strong>de</strong>sign<br />
po<strong>de</strong> influenciar na prática ou no cons<strong>um</strong>o <strong>de</strong> running? Sendo assim, foi <strong>de</strong>finido como<br />
objetivo <strong>de</strong> pesquisa a avaliação da influência do <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> <strong>experiência</strong> <strong>sobre</strong> o<br />
comportamento <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o do corredor <strong>de</strong> <strong>rua</strong> <strong>de</strong> Porto Alegre, bem como <strong>sobre</strong> o processo<br />
<strong>de</strong> formação <strong>de</strong> tribos nesse mercado.<br />
O escopo <strong>de</strong> atuação do <strong>de</strong>sign vem sendo alargado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a concepção original da<br />
projetação <strong>de</strong> produtos, mas na constituição <strong>de</strong> oferta e valor ao usuário. Mitchell (1993) já<br />
afirmava que o <strong>de</strong>sign <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> projetar objetos, mas igualmente funções, contextos<br />
<strong>de</strong> usos, sistemas e ambientes. Isso se materializa por meio do <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>, que tem<br />
como propósito, mais do que <strong>de</strong>senvolver produtos, criar condições para a geração <strong>de</strong><br />
<strong>experiência</strong>s satisfatórias ao usuário. Estudos recentes buscam analisar o papel do <strong>de</strong>sign no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>s <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o (Forlizzi, Di Salvo e Hanington, 2003; Freire,<br />
2009), contudo as lacunas teóricas na área ainda são inúmeras. Na próxima seção, os<br />
conceitos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> <strong>experiência</strong> serão <strong>de</strong>talhados.<br />
<strong>Design</strong> <strong>de</strong> Experiência<br />
O tema <strong>experiência</strong> ganhou relevância no campo do comportamento <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>idor a<br />
partir do <strong>estudo</strong> <strong>de</strong> Holbrook e Hirschman (1982). Até então, a discussão <strong>sobre</strong> cons<strong>um</strong>o não<br />
1 Segundo os critérios da International Association of Athletics Fe<strong>de</strong>rations (2009), <strong>corrida</strong>s <strong>de</strong> <strong>rua</strong> são aquelas<br />
disputadas em circuitos <strong>de</strong> <strong>rua</strong>, avenidas e estradas com distancias oficiais variando <strong>de</strong> 5 a 100km.<br />
2 São consi<strong>de</strong>rados corredores aqueles indivíduos que praticam a ativida<strong>de</strong> no mínimo 3 vezes por semana com<br />
duração não inferior a 30 minutos.<br />
9º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento em <strong>Design</strong>
<strong>Design</strong> <strong>de</strong> Experiência e Corrida <strong>de</strong> Rua: <strong>um</strong> Estudo <strong>sobre</strong> a Construção <strong>de</strong> Experiências <strong>de</strong> Cons<strong>um</strong>o<br />
levava em consi<strong>de</strong>ração, <strong>de</strong> forma explícita, o papel dos elementos hedônicos e simbólicos<br />
que produtos e serviços tinha <strong>sobre</strong> a percepção do cons<strong>um</strong>idor. Os autores <strong>de</strong>stacaram que<br />
havia <strong>um</strong> fluxo <strong>de</strong> fantasias, sentimentos e diversão acerca do processo <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o até então<br />
menosprezado pelas organizações no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas ofertas e, por sua vez, até<br />
mesmo no exercício do <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> produtos. As <strong>experiência</strong>s pessoais seriam <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong><br />
eventos individuais, carregados <strong>de</strong> significados emocionais e frutos da interação do usuário<br />
com <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> estímulos, sejam em termos <strong>de</strong> produtos, serviços e comunicação.<br />
Segundo Pine e Gilmore (1998), a era da “economia da <strong>experiência</strong>” se instala, levando à<br />
valorização das questões experienciais do indivíduo nos seus processos <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o.<br />
A conseqüência <strong>de</strong>sse processo é a mudança do papel do <strong>de</strong>sign, que nesse novo<br />
contexto <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ficar apenas no projeto <strong>de</strong> artefatos, mas no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
<strong>experiência</strong>s ao usuário. O <strong>de</strong>safio que se impõe é ser capaz <strong>de</strong> gerar <strong>experiência</strong>s que não<br />
sejam apenas cotidianas ou satisfatórias, mas extraordinárias. O psicólogo cognitivista Mihaly<br />
Csikszentmihaly aponta que ativida<strong>de</strong>s que tenham como característica ser intrinsecamente<br />
motivantes 3 ao indivíduo, proporcionem prazer em sua realização e levem a <strong>um</strong> estado<br />
profundo <strong>de</strong> envolvimento e alegria pessoal, são geradores do estado mental <strong>de</strong> flow (fluxo) e<br />
são imprescindíveis para a constituição <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>s extraordinárias. Nesse estado, as<br />
sensações <strong>de</strong> prazer e satisfação são consi<strong>de</strong>radas únicas e po<strong>de</strong>m contribuir para que ocorra<br />
<strong>um</strong>a maior engajamento na realização continuada <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada ativida<strong>de</strong>.<br />
Vários autores discutem <strong>sobre</strong> a natureza das <strong>experiência</strong>s <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o. Pullman e<br />
Gros (2004, p.551) indicam que são “inerentemente emocionais e pessoais”, sendo<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> fatores individuais como histórico cultural, <strong>experiência</strong>s anteriores, h<strong>um</strong>or e<br />
traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>. Forlizzi, Ford e Hanington (2003), assim como Hekkert e McDonagh<br />
(2003) indicam que as <strong>experiência</strong>s são singulares, compostas <strong>de</strong> pequenas <strong>experiência</strong>s<br />
relacionadas a contextos, produtos e pessoas, sendo que as próprias <strong>experiência</strong>s não são<br />
projetáveis, mas apenas as situações <strong>de</strong> interação com os usuários. Caru e Cova (2007)<br />
classificam as <strong>experiência</strong>s <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong> contínuo, <strong>de</strong> acordo com os<br />
responsáveis por sua construção (Figura 1). Em <strong>um</strong> extremo, estão as <strong>experiência</strong>s orientadas<br />
pelo cons<strong>um</strong>idor, que são organizados pelos usuários; no extremo oposto, estão as<br />
<strong>experiência</strong>s orientadas pelas empresas, caracterizada por esforços específicos das<br />
organizações em gerar contextos <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o <strong>de</strong> imersão, sendo previamente concebidos<br />
todos os <strong>de</strong>talhes da <strong>experiência</strong> projetada. A posição intermediária (<strong>experiência</strong>s co-driven)<br />
diz respeito a <strong>experiência</strong>s que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m tanto da construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a plataforma experiencial<br />
pelas empresas, quanto da participação ativa do usuário para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua<br />
própria <strong>experiência</strong>.<br />
3 Motivação intrínseca caracteriza-se pela fato do indivíduo não estar focado nas recompensas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong>,<br />
mas como conseqüência do envolvimento e empenho. Em contrapartida, a motivação extrínseca ocorre quando a<br />
ativida<strong>de</strong> é apenas <strong>um</strong> meio para obter <strong>um</strong> objetivo externo, gerando normalmente maior tensão e estresse para<br />
sua obtenção (Cszikszentmihaly, 1988).<br />
9º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento em <strong>Design</strong>
<strong>Design</strong> <strong>de</strong> Experiência e Corrida <strong>de</strong> Rua: <strong>um</strong> Estudo <strong>sobre</strong> a Construção <strong>de</strong> Experiências <strong>de</strong> Cons<strong>um</strong>o<br />
Figura 1 – Continuo <strong>de</strong> Experiências <strong>de</strong> Cons<strong>um</strong>o<br />
Fonte: Caru & Cova, 2007<br />
O <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> <strong>experiência</strong> tem, segundo McLellan (2000), o intuito <strong>de</strong> “orquestrar”<br />
<strong>experiência</strong>s que sejam funcionais, envolventes, atraentes e memoráveis. Isso <strong>de</strong>manda<br />
projetar todos os <strong>de</strong>talhes do conteúdo e do contexto para o usuário, buscando gerar satisfação<br />
emocional e prazer <strong>de</strong> uso que colabore a <strong>experiência</strong> percebida do indivíduo (Kurtgozu,<br />
2003). O domínio do <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> <strong>experiência</strong> está além da simples constituição <strong>de</strong> <strong>um</strong> serviço<br />
ou <strong>um</strong> produto, mas no conjunto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> projetação dos processos e sistemas<br />
envolvidos que dão suporte para a ocorrência da <strong>experiência</strong>, assim como as fases anteriores<br />
<strong>de</strong> sua construção, como todo a plena compreensão do contexto do cliente e do contexto <strong>de</strong><br />
produção.<br />
Método<br />
O <strong>estudo</strong> aqui apresentado parte <strong>de</strong> <strong>um</strong>a abordagem fenomenológica, apresentando <strong>um</strong><br />
caráter exploratório. Para gerar a compreensão sob o fenômeno do mercado <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> <strong>de</strong> <strong>rua</strong>,<br />
optou-se por o uso da triangulação <strong>de</strong> dados, com emprego <strong>de</strong> distintas abordagens <strong>de</strong> coleta<br />
<strong>de</strong> dados. Inicialmente, optou-se pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>de</strong>sk research <strong>sobre</strong> o<br />
universo <strong>de</strong> running, seja a partir <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> mercado, assim como em <strong>estudo</strong>s <strong>de</strong> outros<br />
campos <strong>de</strong> pesquisa acadêmica como a Educação Física, Turismo, Psicologia, Marketing, etc.<br />
Foram realizadas coletas <strong>de</strong> dados secundários em entida<strong>de</strong>s relacionadas a running, como a<br />
Association of International of Marathon and Distance Races, a Fe<strong>de</strong>ração Internacional das<br />
Associações <strong>de</strong> Atletismo (IAFF), a Corpore (Corredores Paulistas Unidos), a Associação dos<br />
Treinadores <strong>de</strong> Corrida <strong>de</strong> Rua <strong>de</strong> São Paulo, bem como <strong>um</strong>a ampla pesquisa na mídia<br />
especializada em running, seja em revistas, sites e blogs <strong>sobre</strong> o tema.<br />
Os dados primários coletados foram obtidos por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> entrevistas<br />
em profundida<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong> roteiros semi-estruturados e registrados em audio, com os<br />
agentes <strong>de</strong>ssa indústria:<br />
• Diretor da Corpore: maior grupo <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> (9850 atletas) e maior organizador<br />
<strong>de</strong> provas do Brasil<br />
• Dois diretores dos maiores serviços <strong>de</strong> assessorias em <strong>corrida</strong> do país (Run &<br />
Fun e MPR, com 1400 e 1300 atletas matriculados respectivamente)<br />
• Diretores <strong>de</strong> marketing das 2 principais marcas esportivas li<strong>de</strong>res no segmento<br />
running no mercado mundial<br />
9º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento em <strong>Design</strong>
<strong>Design</strong> <strong>de</strong> Experiência e Corrida <strong>de</strong> Rua: <strong>um</strong> Estudo <strong>sobre</strong> a Construção <strong>de</strong> Experiências <strong>de</strong> Cons<strong>um</strong>o<br />
• Representantes da mídia especializada em <strong>corrida</strong> (revista Runners World<br />
Brasil e jornal Sprint Final)<br />
Paralelamente, foi <strong>de</strong>senvolvido <strong>um</strong> ensaio etnográfico com participação <strong>de</strong> <strong>um</strong> dos<br />
autores em <strong>um</strong>a empresa prestadora serviço <strong>de</strong> assessoria esportiva, submetendo-se<br />
semanalmente a três treinos <strong>de</strong> 60 minutos por <strong>um</strong> período <strong>de</strong> sete meses. Os critérios para<br />
escolha <strong>de</strong>ssa empresa foram o número <strong>de</strong> atletas participantes (120 corredores) e seu nível <strong>de</strong><br />
estruturação frente aos <strong>de</strong>mais grupos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto Alegre. Além dos treinos, o<br />
pesquisador participou <strong>de</strong> 5 competições do calendário da cida<strong>de</strong>, com distâncias entre 5 e<br />
10km, bem como das ativida<strong>de</strong>s sociais realizadas com os membros do grupo <strong>de</strong> <strong>corrida</strong>.<br />
Foram realizados anotações em diários <strong>de</strong> campo ao longo do <strong>estudo</strong> e registros fotográficos<br />
das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sempenhadas.<br />
A análise dos dados foi conduzida a partir das transcrições das entrevistas em<br />
profundida<strong>de</strong>, sendo realizadas análise <strong>de</strong> conteúdo <strong>sobre</strong> o material coletado e avaliado<br />
conjuntamente com os <strong>de</strong>mais dados obtidos.<br />
Resultados<br />
A apresentação dos resultados do <strong>estudo</strong> está dividida em dois momentos: a <strong>de</strong>scrição<br />
dos principais agentes do mercado <strong>de</strong> <strong>corrida</strong>, seguida da análise da influência do <strong>de</strong>sign <strong>de</strong><br />
<strong>experiência</strong> <strong>sobre</strong> o comportamento <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o do corredor <strong>de</strong> <strong>rua</strong>.<br />
O mercado <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> <strong>de</strong> <strong>rua</strong> no Brasil é composto pelos seguintes agentes:<br />
• Corredor<br />
• Marcas <strong>de</strong> materiais esportivos<br />
• Organizador <strong>de</strong> eventos (empresas privadas, grupos <strong>de</strong> <strong>corrida</strong>, setor público)<br />
• Assessorias esportivas<br />
• Mídia especializada<br />
• Outros interessados em oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócio<br />
• Espectadores e familiares<br />
O principal agente <strong>de</strong>sse processo é, indubitavelmente, o indivíduo que corre, que se<br />
interessa pela ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> e passa a praticar o esporte <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, em sua<br />
gran<strong>de</strong> maioria, em <strong>um</strong> primeiro momento. Correr é, junto com a caminhada, a ativida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sportiva mais acessível ao seu praticante, pois po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sempenhada <strong>de</strong> forma solitária,<br />
requer inicialmente <strong>um</strong> baixo investimento e po<strong>de</strong> ser executada em qualquer lugar.<br />
O papel das marcas <strong>de</strong> material esportivo, apesar do esporte possa ser realizado com<br />
investimentos reduzidos pelo praticante, é muito mais expressivo do que parece. Marcas como<br />
Nike, Asics, Mizuno e Adidas tem percebido que o mercado <strong>de</strong> running possui gran<strong>de</strong>s taxas<br />
<strong>de</strong> crescimento anual e que os corredores, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do seu nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho,<br />
buscam produtos esportivos que permitam performance superior. Des<strong>de</strong> os calçados que<br />
recebem cada vez mais investimentos em tecnologia para gerar maior conforto,<br />
amortecimento, resistência e estabilida<strong>de</strong>, passando pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> vestuário com<br />
tecidos inteligentes que evitam a retenção do suor e são leves, até produtos acessórios como<br />
monitores cardíacos (frequencímetros), que calculam indicadores como velocida<strong>de</strong>, distância,<br />
gasto calórico, orientados por GPS (Global Positioning System) ou sistemas integrados <strong>de</strong><br />
controle <strong>de</strong> performance e música.<br />
Um fenômeno característico do mercado brasileiro <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> é a relevância que as<br />
assessorias esportivas possuem em influenciar o comportamento do corredor. Não existem<br />
estatísticas <strong>sobre</strong> o percentual dos corredores que se utilizam dos serviços <strong>de</strong>ssas empresas,<br />
mas é <strong>um</strong> importante alavancador da prática <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> no país. As assessorias,<br />
diferentemente <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> que não são necessariamente serviços pagos para<br />
corredores, mas apenas <strong>um</strong>a ação cooperativada para tornar a <strong>experiência</strong> <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> mais<br />
9º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento em <strong>Design</strong>
<strong>Design</strong> <strong>de</strong> Experiência e Corrida <strong>de</strong> Rua: <strong>um</strong> Estudo <strong>sobre</strong> a Construção <strong>de</strong> Experiências <strong>de</strong> Cons<strong>um</strong>o<br />
agradável, oferecem, em sua maioria, serviços <strong>de</strong> aconselhamento técnico para a prática,<br />
envolvendo orientações, construção e atualização <strong>de</strong> planilhas <strong>de</strong> treinamento, bem como<br />
acompanhamento do corredor nos treinos e nas competições. A distribuição <strong>de</strong> uniforme<br />
(camiseta) para o grupo, transporte para treinos em locais distantes, inscrições em provas,<br />
plataforma web para informações e comunicação, assim como o acompanhamento em viagens<br />
para competições são serviços adicionais que diferenciam as empresas e os custos cobrados (o<br />
custo médio é <strong>de</strong> 130 reais mensais).<br />
Os serviços <strong>de</strong> assessoria esportiva aten<strong>de</strong>m dois segmentos <strong>de</strong> mercado: o corredor<br />
individual e o mercado corporativo. As empresas, em busca da melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos<br />
seus funcionários (e a conseqüente redução do absenteísmo e afastamento por doenças), vem<br />
contratando serviços <strong>de</strong> assessoria para a organização e o acompanhamento <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong><br />
funcionários nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>corrida</strong>. Além <strong>de</strong> melhorar o condicionamento físico dos<br />
colaboradores da empresa, esse tipo <strong>de</strong> iniciativa tem permitido incrementar o clima<br />
organizacional.<br />
O crescimento do mercado <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> no Brasil <strong>de</strong>ve, em gran<strong>de</strong> parte, sua evolução<br />
ao lançamento <strong>de</strong> <strong>um</strong> n<strong>um</strong>ero cada vez maior <strong>de</strong> provas e da estruturação <strong>de</strong> <strong>um</strong> calendário<br />
cada vez mais diversificado, seja nas distancias, nos percursos ou no tema das provas. As<br />
competições vem adquirindo cada vez maior profissionalismo em sua organização, que<br />
compreen<strong>de</strong> processos <strong>de</strong> divulgação (mídia <strong>de</strong> massa e especializada), inscrições (em sua<br />
gran<strong>de</strong> maioria, via web), composição <strong>de</strong> kit do corredor (o número e camiseta são os itens<br />
mínimos, mas po<strong>de</strong> conter nécessaire, boné, a<strong>de</strong>sivos, itens <strong>de</strong> higiene pessoal e perf<strong>um</strong>aria,<br />
etc.), retirada do chip (item fundamental para cronometrar o <strong>de</strong>sempenho do corredor),<br />
montagem do campo <strong>de</strong> largada e chegada da prova, fiscais ao longo do percurso, segurança,<br />
sanitários, il<strong>um</strong>inação (para provas noturnas), música (incluindo DJ’s), etc. Os custos <strong>de</strong><br />
inscrição tem se elevado (<strong>de</strong> 40 a 150 reais por atleta), seja para restringir o n<strong>um</strong>ero <strong>de</strong><br />
participantes, bem como selecionar o público-alvo para os organizadores. A média <strong>de</strong> público<br />
participante varia <strong>de</strong> 2.000 a 15.000 atletas para provas até 21,097km.<br />
Outro ponto relevante quanto às provas é a necessida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
competições tematizadas e em constante evolução. Além <strong>de</strong> provas organizadas por distância<br />
a ser per<strong>corrida</strong>, existem competições focadas apenas ao público feminino ou infantil, <strong>corrida</strong>s<br />
noturnas com ambiente <strong>de</strong> festa rave, circuitos temáticos (<strong>de</strong>ntro da linha <strong>de</strong> montagem <strong>de</strong><br />
fabricante <strong>de</strong> automóveis ou entre região <strong>de</strong> <strong>rua</strong>s <strong>de</strong> lojas <strong>de</strong> moda), etc. Um formato <strong>de</strong> prova<br />
muito com<strong>um</strong> é <strong>de</strong> <strong>corrida</strong>s <strong>de</strong> revezamento, que permitem que equipes <strong>de</strong> corredores <strong>de</strong><br />
diversos números <strong>de</strong> componentes participarem lado a lado, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do nível <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sempenho do atleta.<br />
Alguns elementos que caracterizam as provas estudadas é o gran<strong>de</strong> n<strong>um</strong>ero <strong>de</strong><br />
barracas <strong>de</strong> assessorias esportivas e grupos <strong>de</strong> <strong>corrida</strong>. Normalmente, são prestados serviços<br />
<strong>de</strong> apoio aos corredores que fazem parte <strong>de</strong>sses grupos, como local para guardar seus<br />
pertences, disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> frutas, energéticos e hidratação. A totalida<strong>de</strong> dos grupos,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente se a competição oferece <strong>um</strong>a camiseta específica para a prova, utiliza o<br />
uniforme do grupo como forma <strong>de</strong> manter a unida<strong>de</strong> dos seus participantes.<br />
Análise dos Resultados<br />
A partir da análise do contexto da prática da <strong>corrida</strong> <strong>de</strong> <strong>rua</strong>, o questionamento<br />
norteador <strong>de</strong>sse <strong>estudo</strong> acerca do papel do <strong>de</strong>sign (mais especificamente <strong>de</strong>sign <strong>de</strong><br />
<strong>experiência</strong>) nas distintas formas <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o associadas ao running po<strong>de</strong> ser discutido. Os<br />
indivíduos que exercem a prática da <strong>corrida</strong> po<strong>de</strong>m ser agrupados por segmentos <strong>de</strong><br />
motivações. Nas entrevistas com a mídia especializada e com as assessorias esportivas foi<br />
evi<strong>de</strong>nciado a existência <strong>de</strong> três perfis <strong>de</strong> corredores: aqueles que buscam <strong>de</strong>sempenho<br />
9º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento em <strong>Design</strong>
<strong>Design</strong> <strong>de</strong> Experiência e Corrida <strong>de</strong> Rua: <strong>um</strong> Estudo <strong>sobre</strong> a Construção <strong>de</strong> Experiências <strong>de</strong> Cons<strong>um</strong>o<br />
superior e são extremamente competitivos, participam <strong>de</strong> provas com regularida<strong>de</strong> e são<br />
usuários e cons<strong>um</strong>idores freqüentes <strong>de</strong> informação e serviços relacionados (grupo 1); os<br />
corredores motivados pela prática da <strong>corrida</strong> como forma <strong>de</strong> melhoria <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida,<br />
participam <strong>de</strong> provas pelo prazer gerado pelo evento (grupo 2); e aqueles que estão a margem<br />
do mercado, não participando <strong>de</strong> provas e sendo light user <strong>de</strong> produtos e serviços do universo<br />
running (grupo 3).<br />
O primeiro grupo representa <strong>um</strong>a parcela muito restrita <strong>de</strong>ntro da população <strong>de</strong><br />
corredores, mas atua como elemento aspiracional para os <strong>de</strong>mais participantes, principalmente<br />
do segundo grupo. O grupo 2 tem sido responsável pelo crescimento <strong>de</strong>sse mercado,<br />
influenciado pelo n<strong>um</strong>ero em ascensão <strong>de</strong> praticantes em locais públicos, bem como pela<br />
oferta cada vez mais significativa <strong>de</strong> competições para corredores iniciantes (distâncias <strong>de</strong> 5 a<br />
10km).<br />
Apoiado no conceito <strong>de</strong> flow <strong>de</strong> Csikszentmihaly, percebe-se que a prática do running<br />
possui distintas nuances para cada perfil <strong>de</strong> corredor. Para os atletas que buscam melhoria<br />
contínua, os <strong>de</strong>safios impostos <strong>de</strong>vem evoluir e novos recursos são <strong>de</strong>mandados para que suas<br />
metas sejam alcançadas (contratação <strong>de</strong> assessorias esportivas, cons<strong>um</strong>o <strong>de</strong> informação<br />
especializada e maiores investimentos em equipamentos esportivos <strong>de</strong> performance), dando<br />
condições para que o estado mental <strong>de</strong> prazer fruto da <strong>corrida</strong> seja eminente. Além disso, a<br />
diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estímulos passa a ter <strong>um</strong> papel fundamental para o <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>s<br />
extraordinárias. Isso po<strong>de</strong> ser constatado pela necessida<strong>de</strong> da inovação constante nas<br />
dinâmicas das competições, seja em termos <strong>de</strong> trajetos, serviços ou tecnologias disponíveis<br />
para sua realização, como o fenômeno do “turismo <strong>de</strong> <strong>corrida</strong>”, ou seja, participar <strong>de</strong><br />
competições pelo mundo, integrando ativida<strong>de</strong> esportiva e turismo.<br />
Para os indivíduos do grupo 2, as motivações para correr inicialmente são extrínsecas,<br />
a partir <strong>de</strong> objetivos não relacionados especificamente ao ato da <strong>corrida</strong>. A partir da imersão<br />
no contexto da <strong>corrida</strong>, seja <strong>de</strong>ntro da estrutura <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> ou assessorias ou com a<br />
participação em provas, a natureza motivacional se altera e o prazer e o contentamento com a<br />
própria ativida<strong>de</strong> passa a ocorrer <strong>de</strong> forma natural. O processo <strong>de</strong> imersão, segundo Caru e<br />
Cova (2006), não se estabelece <strong>de</strong> forma automática ou rápida, ocorrendo <strong>de</strong> forma<br />
progressiva e po<strong>de</strong>ndo ser acelerado conforme novos serviços são projetados, seja no âmbito<br />
das assessorias esportivas, como na organização <strong>de</strong> competições <strong>de</strong> <strong>rua</strong>.<br />
Os grupos <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> exercem importante papel na difusão da prática do running, pois<br />
são indutores <strong>de</strong> comportamento aos participantes. Ao reunir indivíduos com distintas<br />
motivações, níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho e background sócio-cultural diferenciados, entretanto<br />
unidos por <strong>um</strong>a causa com<strong>um</strong> (a prática da <strong>corrida</strong>), geram reforços positivos ao indivíduo,<br />
como a socialização, a orientação necessária para exercer a ativida<strong>de</strong> como menores riscos<br />
(lesões, aci<strong>de</strong>ntes, etc.), conforto e suporte para correr <strong>de</strong> forma mais <strong>de</strong>spreocupada. Po<strong>de</strong>-se<br />
concluir que o flow emerge nesse contexto, pois as assessorias servem como fomento para a<br />
motivação intrínseca, característica <strong>de</strong>sse estado mental e das <strong>experiência</strong>s extraordinárias.<br />
As provas, mesmo não sendo <strong>um</strong>a trajetória obrigatória a todo tipo <strong>de</strong> corredor,<br />
proporcionam o papel da geração <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios constantes ao praticante, elemento fundamental<br />
para que o estado <strong>de</strong> flow surja. Ao contrário <strong>de</strong> outros esportes, a <strong>corrida</strong> <strong>de</strong> <strong>rua</strong> é,<br />
essencialmente, <strong>um</strong>a modalida<strong>de</strong> que a principal competição não ocorre “contra” outros<br />
atletas, mas <strong>de</strong>safiando constantemente os limites do próprio indivíduo. As competições<br />
ass<strong>um</strong>em duas responsabilida<strong>de</strong>s frente ao corredor: gerar oportunida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>safiar suas<br />
próprias marcas e engajamento do indivíduo em <strong>um</strong>a comunida<strong>de</strong> que compartilha<br />
<strong>experiência</strong>s, característica central das tribos <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>idores (Cova & Cova, 2001).<br />
Foi constatado que os corredores que participam mais ativamente da prática <strong>de</strong><br />
running ten<strong>de</strong>m a envolver-se <strong>de</strong> forma mais significativa com a prática <strong>de</strong>sportiva. Stebbins<br />
9º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento em <strong>Design</strong>
<strong>Design</strong> <strong>de</strong> Experiência e Corrida <strong>de</strong> Rua: <strong>um</strong> Estudo <strong>sobre</strong> a Construção <strong>de</strong> Experiências <strong>de</strong> Cons<strong>um</strong>o<br />
(1992) revela que a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social é relevante ao indivíduo, pois gera<br />
<strong>um</strong> sentimento <strong>de</strong> pertencimento, <strong>um</strong> local valioso <strong>de</strong>ntro do ambiente social, <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong><br />
conectar com outros e elevar auto-estima. Shipway & Jones (2008), em <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> <strong>sobre</strong> as<br />
<strong>experiência</strong>s <strong>de</strong> participantes na Maratona <strong>de</strong> Londres, apontam que apenas o que é conhecido<br />
como serious leisure 4 tem capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar significativa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social. A percepção da<br />
<strong>corrida</strong> se altera <strong>de</strong> forma substancial quando realizada <strong>de</strong> forma individual e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte ou<br />
em grupos que tenham <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> minimamente constituída. A <strong>experiência</strong> grupal<br />
revelou-se como mais estimulante, indutora <strong>de</strong> <strong>um</strong>a prática <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> mais duradoura ao<br />
longo do tempo (menor taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistência). A área <strong>de</strong> <strong>Design</strong> po<strong>de</strong> exercer <strong>um</strong> papel<br />
importante para configurar essa <strong>experiência</strong> projetada, seja na constituição <strong>de</strong> serviços que<br />
estimulem a formação <strong>de</strong> grupo, bem como elementos tangíveis que reforcem o esforço <strong>de</strong><br />
estruturação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> coletiva (marca, uniforme, comunicação, estruturas físicas, etc).<br />
Discorrendo <strong>sobre</strong> o <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>, foi constatado que os elementos para a<br />
estruturação da mesma, tanto para as competições como para as assessorias, são encontrados,<br />
seja na constituição do conteúdo (serviços centrais e auxiliares prestados pelos grupos e pelos<br />
organizadores <strong>de</strong> eventos), contexto (<strong>de</strong>senvolvimento das evidências físicas) e processos<br />
(sistemas <strong>de</strong> atendimento que viabilizam a operação das assessorias e das provas). O <strong>de</strong>safio<br />
para seus responsáveis é a geração contínua <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>s positivas, com a urgência <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolver continuamente inovações que caracterizem como <strong>experiência</strong>s satisfatórias e, se<br />
possível, extraordinárias.<br />
Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />
Po<strong>de</strong>-se observar que a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> surge para os participantes, inicialmente,<br />
com <strong>um</strong>a forma mais simples <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> física, <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e<br />
pouco onerosa. Entretanto, a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>experiência</strong> mais complexa, com a<br />
participação <strong>de</strong> outros usuários e com orientação técnica especializada passa a trazer mais<br />
outros elementos para vinculação ao esporte. A formação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> <strong>corrida</strong>, com<br />
i<strong>de</strong>ntificação própria e serviços <strong>de</strong> assessoria e suporte ao corredor, tornam a <strong>experiência</strong>, até<br />
então cons<strong>um</strong>er-driven, em ativida<strong>de</strong>s co-driven, ou seja, seu <strong>de</strong>senvolvimento e fruição são<br />
igualmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes das iniciativas do usuário e das empresas.<br />
Um bom exemplo <strong>de</strong> relevância das organizações na formação <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>s do<br />
usuário é o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> provas e competições temáticas. Mais do que apenas <strong>um</strong><br />
evento, as provas constituem-se nos objetivos dos corredores, seja para superar seus próprios<br />
limites e <strong>de</strong>sempenhos anteriores, seja pela interação social com outros participantes e na<br />
experimentação <strong>de</strong> novos entornos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o local da prova, serviços e produtos<br />
disponibilizados pelos organizadores e patrocinadores.<br />
Iniciativas no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos ligados ao running permitem evi<strong>de</strong>nciar os<br />
esforços no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>, como a parceria realizada entre a fabricante <strong>de</strong> material<br />
esportivo Nike e a Apple, no lançamento do sistema Nike Plus. O sistema, que integra tênis<br />
Nike e iPods, permite monitorar o <strong>de</strong>sempenho do corredor, entretê-lo com música e<br />
participar <strong>de</strong> <strong>um</strong>a re<strong>de</strong> social Nike na Web para atletas que usufruem da mesma tecnologia,<br />
reforçando os estímulos para a constituição <strong>de</strong> <strong>um</strong>a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usuários ou praticantes<br />
com características tribais (Cova, Kozinets & Shankar, 2007). A <strong>corrida</strong> <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser <strong>um</strong><br />
obstáculo para o indivíduo e ass<strong>um</strong>e <strong>um</strong> caráter <strong>de</strong> entretenimento, convívio social e prazer a<br />
4 Serious leisure é <strong>de</strong>scrito por Stebbins (1992) como ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer que <strong>de</strong>mandam esforços significativos<br />
para realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada ativida<strong>de</strong>. Em contrapartida, o causal leisure caracteriza por ativida<strong>de</strong>s menos<br />
interativas e pouco <strong>de</strong>mandantes das capacida<strong>de</strong>s do indivíduo na sua execução, como ver TV ou dar <strong>um</strong><br />
passeio.<br />
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<strong>Design</strong> <strong>de</strong> Experiência e Corrida <strong>de</strong> Rua: <strong>um</strong> Estudo <strong>sobre</strong> a Construção <strong>de</strong> Experiências <strong>de</strong> Cons<strong>um</strong>o<br />
partir <strong>de</strong> produtos que retiram <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> central o aspecto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgaste, <strong>de</strong>sconforto e<br />
sacrifício que o corredor normalmente experimenta.<br />
O <strong>estudo</strong> permitiu verificar, a partir <strong>de</strong> <strong>um</strong>a abordagem <strong>de</strong> várias perspectivas dos<br />
distintos participantes <strong>de</strong>ssa indústria, como a <strong>experiência</strong> <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o <strong>de</strong> <strong>corrida</strong> é<br />
constituída e o papel que o <strong>Design</strong> possui na transformação <strong>de</strong>ssa <strong>experiência</strong> em algo mais<br />
acessível ao usuário com<strong>um</strong>, não se restringindo apenas ao atleta <strong>de</strong> performance. A<br />
construção <strong>de</strong> <strong>experiência</strong>s <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>o menos focadas no <strong>de</strong>sempenho esportivo do usuário,<br />
mas no atendimento <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s hedônicas e funcionais é o motor para o<br />
crescimento expressivo <strong>de</strong>sse mercado e salienta a importância que o <strong>Design</strong> po<strong>de</strong> exercer na<br />
constituição <strong>de</strong> serviços, <strong>experiência</strong>s e produtos.<br />
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