Poesia - Academia Brasileira de Letras
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Paul Valéry<br />
Os mortos ocultaram-se na terra<br />
Que os embala e resseca seu mistério;<br />
O meio-dia, no alto, já <strong>de</strong>scansa<br />
Em si pensando e a si mesmo convindo...<br />
Cabeça plena e perfeito dia<strong>de</strong>ma,<br />
Sou em ti a mudança mais secreta.<br />
Só tens a mim para acolher teus medos!<br />
Meus remorsos e meus constrangimentos<br />
São <strong>de</strong>feitos <strong>de</strong>sse gran<strong>de</strong> diamante...<br />
Mas em sua noite pesada <strong>de</strong> mármores<br />
Um povo estranho na raiz das árvores<br />
Por ti foi aliciado, lentamente...<br />
Fundiram-se na mais espessa ausência,<br />
A argila rubra já sugou sua seiva<br />
E o dom da vida transformou-se em flores!<br />
Para on<strong>de</strong> foram as frases familiares,<br />
O tom pessoal, as almas singulares?<br />
A larva entrou on<strong>de</strong> nascia o pranto.<br />
Gritos frementes das acariciadas,<br />
Os olhos, <strong>de</strong>ntes, pálpebras molhadas,<br />
O seio sedutor à luz do fogo,<br />
Sangue em seu brilho a boca abandonada,<br />
Supremos dons e <strong>de</strong>dos que resistem,<br />
Tudo retorna à terra e volta ao jogo!<br />
E vós, gran<strong>de</strong> alma, esperais um sonho<br />
Despido <strong>de</strong>ssas cores da mentira<br />
Que ouro e onda aos olhos nos propõem?<br />
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