Poesia - Academia Brasileira de Letras
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Carlos Nejar<br />
Urna <strong>de</strong> amoras<br />
Retorno ao meu Paiol. Não se protrai<br />
mágoa nenhuma, larva. Com focinhos<br />
<strong>de</strong> vagas, cães se achegam, <strong>de</strong> mansinho.<br />
Cheiram, lambem, fraternos. Deles sai<br />
um amor que entre os homens se retrai<br />
e <strong>de</strong>ntre os animais anda sozinho.<br />
E acaso tem o sofrimento, pai,<br />
se as pisadas no mosto criam vinho?<br />
E se movem nos pés dos passarinhos,<br />
sem saber que as passadas dos espinhos,<br />
espinhos são do vento sobre nós.<br />
E a rosa do lagar é a mesma voz<br />
das plantas sob a luz que nos possui.<br />
Urna das horas, Urca: tudo flui.<br />
Fontes e falas<br />
Não sei se estou em alegrias, mágoas,<br />
ou se parada a glória, na aspereza.<br />
Não busca o dissipar-se da tristeza<br />
quem não <strong>de</strong>ixa correr dos olhos águas.<br />
Não sei mais do amor, se amor me preza,<br />
se a espuma queima a paz e a paz é espada.<br />
Contudo, vive o sol por ti, as cabras<br />
dão leites, correm fontes pela relva.<br />
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