Poesia - Academia Brasileira de Letras
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Jubilareis ao ser<strong>de</strong>s vaporosa?<br />
Tudo escapa! E a presença é porosa,<br />
A impaciência piedosa já se esvai.<br />
Negra e dourada imortalida<strong>de</strong><br />
Consoladora esquálida, laureada,<br />
Que da morte faz um seio materno,<br />
Bela mentira e piedosa malícia!<br />
Ninguém ignora, pois ninguém se esquiva –<br />
Como esquecer <strong>de</strong> um crânio o riso eterno?!<br />
Pais do profundo, vazias cabeças<br />
Sob o peso <strong>de</strong> tantas pás <strong>de</strong> terra,<br />
Que em argila tornados, nos confun<strong>de</strong>m:<br />
O vero roedor, verme irrefutável<br />
Não vos perturba sob vossas lápi<strong>de</strong>s,<br />
De vida se nutre e mor<strong>de</strong> meus passos!<br />
Amor, talvez, ou ódio <strong>de</strong> mim mesmo?<br />
Dente secreto, és <strong>de</strong> mim tão próximo,<br />
Todos os nomes po<strong>de</strong>m te convir!<br />
Que importa? Ele vê, pensa e me toca!<br />
Minha carne o atrai e mesmo em meu leito<br />
Pertence a ele a vida do meu ser!<br />
Zenon, cruel Zenon, Zenon <strong>de</strong> Eléia!<br />
Atravessou-me tua flecha alada<br />
Que vibra, voa, e é imóvel no seu vôo!<br />
Gera-me o som e a flecha me <strong>de</strong>strói!<br />
O sol... Sombra <strong>de</strong> tartaruga enorme<br />
Para a alma, Aquiles correndo, imóvel!<br />
Cemitério marinho<br />
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