Migrações do passado e do presente: uma ... - Fazendo Gênero
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imediata para os que não gozam da autorização de residência ou trabalho. Por outro la<strong>do</strong>, a<br />
sociedade de emigração, também impõe essa condição de provisionalidade, ao admitir a sua<br />
ausência em troca de conservar essa transitoriedade dura<strong>do</strong>ura da sua emigração.<br />
Aqui, as iniciativas comerciais também relativizam essa condição ambígua que é imposta ao<br />
imigrante. A idéia de pensar um projeto empresarial está muito mais distante da perspectiva de<br />
retorno e mais próxima a possibilidade de permanecer indefinidamente na sociedade da imigração,<br />
como nos conta o seguinte relato:<br />
“Se eu estivesse pensan<strong>do</strong> em voltar para o meu país de origem, não teria<br />
aventuran<strong>do</strong> em abrir <strong>uma</strong> empresa e montar meu próprio negocio. Foi<br />
muito difícil juntar dinheiro durante vários anos, conseguir um crédito,<br />
organizar toda a papelada, etc..., Se eu fiz to<strong>do</strong> esse esforço é porque eu<br />
acredito no sistema econômico daqui e não penso em voltar, a não ser <strong>uma</strong><br />
vez ou outra de férias. Eu quero viver o resto da minha vida aqui e que<br />
meus filhos possam estudar e ter oportunidades na vida que eu não tive.<br />
Quan<strong>do</strong> <strong>uma</strong> pessoa abre <strong>uma</strong> empresa está pensan<strong>do</strong> em ficar porque<br />
senão estaria trabalhan<strong>do</strong> para outra pessoa, juntan<strong>do</strong> dinheiro para<br />
voltar, mas quan<strong>do</strong> abre <strong>uma</strong> empresa é porque já faz parte dessa<br />
sociedade. (J. 36 anos, trabalho de campo 2005)<br />
Por outro la<strong>do</strong>, a ampla diversidade e os diferencia<strong>do</strong>s tipos de casas comerciais e<br />
empreendimentos administra<strong>do</strong>s por imigrantes, impossibilita qualquer tentativa de circunscrever<br />
essas atividades dentro de qualquer recorte específico, seja étnico, econômico o nacional. Se trata<br />
de produtos e serviços que são consumi<strong>do</strong>s por imigrantes <strong>do</strong> mesmo grupo nacional, por outros<br />
imigrantes, por espanhóis e por estrangeiros em geral.<br />
Em s<strong>uma</strong>, as iniciativas comerciais das imigrantes questionam a própria construção <strong>do</strong> “imigrante”<br />
como um sujeito genérico, associa<strong>do</strong> a toda <strong>uma</strong> serie de problemas sociais. Do mesmo mo<strong>do</strong> que<br />
aportam novas imagens ao complexo fenômeno contemporâneo da migração internacional.<br />
Por último é importante salientar que <strong>uma</strong> das dinâmicas contemporâneas que vem contribuin<strong>do</strong> a<br />
romper com esse esquema que coloca os imigrantes como responsáveis de to<strong>do</strong>s os males sociais,<br />
está relaciona<strong>do</strong> com o florescimento e a proliferação de inúmeros empreendimentos empresariais<br />
<strong>do</strong>s imigrantes. As iniciativas comerciais desses imigrantes vêm questionan<strong>do</strong> três elementos que<br />
marcam, em geral, a condição social <strong>do</strong> imigrante: força de trabalho, provisionalidade e problema<br />
social. De mo<strong>do</strong> geral, os negócios <strong>do</strong>s migrantes rompem com esse triangulo e cria relações mais<br />
horizontais entre os chama<strong>do</strong>s imigrantes e autóctones, questionan<strong>do</strong> a própria construção <strong>do</strong><br />
imigrante como <strong>uma</strong> categoria social.