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Finitude das possibilidades, finitude do relacionamento amoroso ...

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16 <strong>Finitude</strong> <strong>das</strong> <strong>possibilidades</strong>, <strong>finitude</strong> <strong>do</strong> <strong>relacionamento</strong> <strong>amoroso</strong><br />

A escolha de Joy sobre o não-casar, que a fazia se sentir tão diferente <strong>do</strong>s demais,<br />

além de ser compartilhada por outras pessoas é, na verdade, apenas mais uma<br />

escolha possível produzida pelo exterior, pelo geral. Sua opção não está afastada <strong>do</strong><br />

seu tempo e da sociedade, insere-se mesmo que em oposição, sua escolha é<br />

limitada. Ela mostra-se escrava desta oposição, deste orgulho de ser a diferente, no<br />

entanto, o indivíduo só pode ser singular no meio da multidão, se destacar da<br />

multidão ainda é um aprisionamento. Como fica evidente no último diálogo entre os<br />

personagens Joy e Gabriel:<br />

- [...] Quero estar com você. Amo você. Por que é que a gente não pode<br />

simplesmente continuar como está?<br />

- Não sei – diz ele balançan<strong>do</strong> a cabeça –Acho que para você é mais<br />

importante estar certa <strong>do</strong> que ser feliz.<br />

Foi como se ele tivesse me da<strong>do</strong> um tapa na cara.<br />

- Você sabe que não é verdade, Gabe. Não tem nada a ver com estar certa.<br />

Tem a ver com ser verdadeira comigo mesma.<br />

- Ah, sei. Os seus princípios. Como é que pude esquecer?<br />

- Você realmente iria querer que eu simplesmente jogasse fora tu<strong>do</strong> em que<br />

acredito?- pergunto, tremen<strong>do</strong> de me<strong>do</strong> e de raiva.<br />

- Não, Joy, não iria querer isso. Não quero isso. Quero que você se case<br />

comigo.<br />

- Olhe só, quan<strong>do</strong> você me pediu em casamento, disse que eu não devia<br />

impor minhas crenças ao resto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. E o que acontece quan<strong>do</strong> o resto<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tenta impor suas crenças a mim?<br />

- Você é minoria, Red 10 . Talvez a maioria <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> discorde por uma boa<br />

razão [...]<br />

- Talvez - digo a ele. - E talvez não.<br />

Gabe não olha para mim outra vez. Sai <strong>do</strong> barco e vai em direção aos<br />

degraus. Fico olhan<strong>do</strong>, ator<strong>do</strong>ada, sem conseguir acreditar, enquanto ele se<br />

vira, vai embora e desaparece na multidão. Ainda por um bom tempo<br />

permaneço parada olhan<strong>do</strong> na direção <strong>do</strong> lugar onde ele sumiu de vista.<br />

(COSPER, 2005, p.293)<br />

A personagem parece buscar romper com o mun<strong>do</strong>, trata-se <strong>do</strong> desespero de querer<br />

ser si próprio, critican<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> para ser autêntica, ―toman<strong>do</strong>-se como único<br />

agente de seu destino‖ (PROTASIO, 2005). O trabalho clínico consistiria em<br />

acompanhar Joy em suas ilusões. A questão de Joy é ter se escolhi<strong>do</strong> como uma<br />

pessoa aprisionada à forma, no caso, em assumir uma postura de oposição a partir<br />

da qual se acha autêntica, não quer aprender com a angústia. No entanto, o trabalho<br />

terapêutico não é um aconselhamento e precisa fundar-se no acontecimento,<br />

precisa acompanhar esse evento. O primordial é que ela é livre para os possíveis da<br />

vida, a liberdade não se liga com o casar-se ou não, mas com o escolher-se a si<br />

própria. A protagonista pensa em termos de ou isto ou aquilo, e de que há múltiplas<br />

10 Apeli<strong>do</strong> carinhoso que Gabriel utilizava para chamar a Joy, assim como ela o chamava de Gabe.<br />

Biblioteca Virtual Fantásticas Vere<strong>das</strong> – FGR, Belo Horizonte dez. 2010 p. 16 de 22

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