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AUH 127 – T Beatriz Mugayar Kühl Identificação dos ... - FAU - USP

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<strong>AUH</strong> <strong>127</strong> <strong>–</strong> TRABALHO NA MOOCA<br />

<strong>Beatriz</strong> <strong>Mugayar</strong> <strong>Kühl</strong><br />

REGISTRO E PRÉ-INVENTÁRIO NO BAIRRO DA MOOCA: INSTRUMENTOS PARA APROFUNDAMENTO<br />

COGNITIVO<br />

<strong>Identificação</strong> <strong>dos</strong> bens considera<strong>dos</strong> de interesse cultural: processo necessariamente multidisciplinar.<br />

• mesmo as análises voltadas especificamente às manifestações arquitetônicas<br />

• construções são extremamente variadas: exemplo: edifícios resultantes do processo de<br />

industrialização<br />

Bens culturais relaciona<strong>dos</strong> ao processo de industrialização:<br />

• relevantes na composição das mais variadas paisagens, urbanas ou não<br />

• caracterizando território em que estão inseri<strong>dos</strong><br />

• associa<strong>dos</strong> a ciclos econômicos de importância, que tiveram, ou ainda têm, papel essencial na<br />

vida de comunidades, pontuando transformações por que passaram<br />

• relaciona<strong>dos</strong>, muitas vezes, a movimentos sociais <strong>–</strong> como reivindicações por melhores salários<br />

e condições de trabalho <strong>–</strong> palco de formas de sociabilidade as mais variadas<br />

• vincula<strong>dos</strong> também a questões memoriais e simbólicas da mais alta relevância.<br />

• também associa<strong>dos</strong> saberes associa<strong>dos</strong> à produção, às formas de trabalho e, ainda, os<br />

instrumentos, desde as ferramentas mais básicas até o maquinário mais complexo.<br />

• por fim, compreendem os mais varia<strong>dos</strong> tipos de edificações <strong>–</strong> não apenas as unidades<br />

voltadas diretamente à produção, mas toda uma série de outras construções a elas vinculadas,<br />

a exemplo de habitações, edifícios para educação e saúde, igrejas, e, ainda, as que dizem<br />

respeito também à produção de energia e aos meios de transporte<br />

Interesse por esse tipo de patrimônio e as tentativas de preservá-lo:<br />

• aparecem de maneira incipiente ainda no século XIX<br />

• mais sistemáticos a partir de mea<strong>dos</strong> no século XX<br />

• destruição de alguns edifícios significativos, em especial na Inglaterra <strong>–</strong> com as demolições da<br />

Estação ferroviária Euston e da Bolsa de Carvão, em Londres, ambas em 1962 + Mercado<br />

Central de Paris, início <strong>dos</strong> anos 1970<strong>–</strong><br />

• acentuou o debate e a atenção popular, respalda<strong>dos</strong> por crescente interesse acadêmico<br />

associado a variadas correntes historiográficas, desde década anterior.<br />

• esforços volta<strong>dos</strong> à definição de “arqueologia industrial”, que recebeu de Keneth Hudson, em<br />

1963, uma caracterização bastante alargada: “a descoberta, registro e estudo <strong>dos</strong> resíduos<br />

físicos de indústrias e meios de comunicação do passado”<br />

• Desde 1as definições: inclusão <strong>dos</strong> meios de transporte, por serem considera<strong>dos</strong> parte<br />

essencial do processo de industrialização. Outra definição abrangente é a de Angus Buchanan<br />

(1972, p. 20-21): ênfase também nos produtos:<br />

“[...] arqueologia industrial é um campo de estudo relacionado com a pesquisa, levantamento, registro e, em alguns<br />

casos, com a preservação de monumentos industriais. Almeja, além do mais, alcançar a significância desses<br />

monumentos no contexto da história social e da técnica. Para os fins dessa definição, ‘monumento industrial’ é<br />

qualquer relíquia de uma fase obsoleta de uma indústria ou sistema de transporte, abarcando desde uma pedreira de<br />

sílex neolítica até uma aeronave ou computador que se tornaram obsoletos há pouco. Na prática, porém, é útil<br />

restringir a atenção a monumentos <strong>dos</strong> últimos duzentos anos, aproximadamente [...].”<br />

• interesse da arqueologia industrial volta-se para processo de industrialização como um<br />

todo, incluindo produtos; preservação, dirige-se a alguns exemplares<br />

• pressupõe que haja reconhecimento de determina<strong>dos</strong> bens como de interesse para a<br />

preservação, processo que, pela definição de Buchanan, e por várias outras que se<br />

seguiram, deve ser, necessariamente, multidisciplinar.<br />

Recorte cronológico<br />

• nas 1as definições: ênfase na chamada “Revolução Industrial” na Grã-Bretanha, algo revisto,<br />

pois fases de industrialização entre os vários países variavam, além de se ter consciência de<br />

que existiam atividades industriais anteriores ao século XVIII<br />

• dificuldade em estabelecer limites precisos entre atividades artesanais e industriais.<br />

1


Carta de Nizhny Tagil, de 2003, do TICCIH <strong>–</strong>criado em 1978, <strong>–</strong><br />

• período de estu<strong>dos</strong> é vasto, apesar de continuar manifesta a ênfase nos últimos dois séculos e<br />

meio: “O período histórico de maior relevo para este estudo estende-se desde os inícios da<br />

Revolução Industrial, a partir da 2ª ½ do XVIII até aos nossos dias, sem negligenciar as suas<br />

raízes pré e proto-industriais”<br />

• arqueologia industrial passa a ser entendida como um vasto campo temático (e não mais como<br />

disciplina, como proposto em algumas discussões das décadas de 1970 e 1980), que deve ser<br />

fundamentado em referenciais teórico-metodológicos de diversas disciplinas: “A arqueologia<br />

industrial é um método interdisciplinar que estuda to<strong>dos</strong> os vestígios, materiais e imateriais, os documentos, os<br />

artefatos, a estratigrafia e as estruturas, as implantações humanas e as paisagens naturais e urbanas, criadas para ou<br />

pelos processos industriais. A arqueologia industrial utiliza os méto<strong>dos</strong> de investigação mais adequa<strong>dos</strong> para<br />

aumentar a compreensão do passado e do presente industrial.”<br />

• abarca, inclusive, o patrimônio imaterial e os produtos<br />

• quando se fala de patrimônio industrial: pressupõe-se que estu<strong>dos</strong> multidisciplinares de<br />

arqueologia industrial tenham sido feitos, tornando possível a identificação <strong>dos</strong> bens de<br />

interesse para a preservação. Na definição da carta:<br />

“O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor<br />

histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e<br />

maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de tratamento e de refinação, entrepostos e<br />

armazéns, centros de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e<br />

todas as suas estruturas e infra-estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram<br />

atividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de<br />

educação.”<br />

Definições pontuam vários aspectos relevantes.<br />

• circunscrição do campo de ação e <strong>dos</strong> objetos de interesse, evidenciando-se que a definição se<br />

volta ao processo de industrialização em sua inteireza<br />

• não apenas unidades de produção, mas também unidades de produção de energia e os meios e<br />

transporte, necessários para compreensão ampla da industrialização.<br />

• definição de arqueologia industrial estava explicitado o interesse pelos produtos, que não<br />

aparecem na definição de patrimônio industrial<br />

• produtos, que podem compreender edifícios pré-fabrica<strong>dos</strong>, total ou parcialmente, devem<br />

também ser considera<strong>dos</strong> patrimônio do processo de industrialização<br />

• menciona o complexo de atividades que dá suporte às indústrias, incluindo locais onde se dá a<br />

sociabilidade, mas as atividades sociais não são patrimônio (imaterial).<br />

Estu<strong>dos</strong> realiza<strong>dos</strong> sobre essa temática nas últimas duas décadas:<br />

• volta<strong>dos</strong>, principalmente, para a descrição de um sem-número de casos de estu<strong>dos</strong> <strong>–</strong> através<br />

de pesquisas históricas ou exemplos de intervenção <strong>–</strong> muitas vezes sem análises críticas e sem<br />

ampliação discussões<br />

• apesar do aumento do número de estu<strong>dos</strong>, publicações, encontros científicos, da multiplicação<br />

de análises monográficas sobre indústrias e experiências de intervenções nesses bens, não tem<br />

havido, em medida equivalente, reflexão aprofundada sobre conceitos, metodologia,<br />

princípios de preservação e, tampouco, esforços interdisciplinares de síntese que levem a um<br />

conhecimento mais amplo do próprio processo de industrialização<br />

• acúmulo quantitativo de experiências, sem haver proporcional salto qualitativo no debate e na<br />

compreensão do tema, sendo raríssimos os estu<strong>dos</strong> multidisciplinares para a identificação <strong>dos</strong><br />

bens de interesse para a preservação, para a compreensão do processo de industrialização e<br />

para fundamentar projetos de intervenção<br />

• retomar questões de método para favorecer articulação disciplinar e para estabelecer linhas<br />

temáticas que permitam indagações que aprofundem tanto aspectos específicos da questão<br />

(arquitetura ferroviária, por exemplo), quanto análises mais abrangentes do processo de<br />

industrialização<br />

• perscrutar a inserção <strong>dos</strong> bens no espaço e ao longo do tempo, também em suas relações com<br />

a estruturação da cidade ou do território, articulação com aspectos sociais, econômicos,<br />

culturais e políticos, envolvendo campos história (econômica, social, da técnica, da<br />

2


engenharia, da arquitetura etc.), sociologia, antropologia<br />

• infelizmente, a tão decantada interdisciplinaridade não aparece com freqüência na produção<br />

científica e o que se vê é uma “mono-disciplinaridade” no plural.<br />

• complexos produtivos, que são em grande parte caracteriza<strong>dos</strong> pela busca da racionalização da<br />

produção, possuem graus muitos distintos de elaboração arquitetônica, com resulta<strong>dos</strong> mais ou<br />

menos bem-sucedi<strong>dos</strong> no que diz respeito à conformação<br />

• complexos: edifício, ou um conjunto de edifícios de base; maioria sofreu acréscimos com o<br />

decorrer do tempo - aumento de produção, da alteração das necessidades, da incorporação do<br />

fabrico de outros produtos, como apoio, ou não, ao produto principal<br />

• ampliações podem ter sido previstas no projeto inicial; ou fruto de adaptações às<br />

contingências, com resulta<strong>dos</strong> díspares, mas que conformam a sua situação atual<br />

• nem por isso edifícios menos exitosos, ou complexos menos coerentes, no que concerne à<br />

qualidade formal, são desprovi<strong>dos</strong> de interesse<br />

• até mesmo edifícios modestos (ou conjuntos desiguais), podem ser testemunhos de<br />

experimentações técnicas e formais, ainda que mal-sucedidas, que estruturem um percurso<br />

importante de tentativas, que interessam à história da técnica, econômica e também da<br />

arquitetura, e devem, por isso, ser preserva<strong>dos</strong>.<br />

• edifícios aparentemente “insignificantes” do ponto de vista da qualidade estética e das<br />

soluções técnicas, podem ter grande interesse por ter sido palco de manifestações importantes<br />

ligadas ao movimento operário, por exemplo, ou formas de sociabilidade (festas, teatro<br />

amador etc.) que lhes conferem grande importância.<br />

• Mesmo os complexos “menores” (por serem de dimensões contidas, ou não se configurarem<br />

como grandes eminências da arquitetura da industrialização) podem ser marcos de relevo na<br />

composição da paisagem e importantes elementos identitários<br />

• alguns deles podem ter tido proposta de tratamento paisagístico de suas áreas livres, algo raro<br />

e, por isso, independentemente <strong>dos</strong> êxitos, devem ser preserva<strong>dos</strong>.<br />

• outro tema pouco estudado, que mostra que o interesse pode vir de campos do saber os mais<br />

varia<strong>dos</strong>, é trabalhado por John Box (1999), ao analisar sítios industriais abandona<strong>dos</strong>, fora de<br />

zonas urbanas, em especial siderúrgicas e pedreiras. O autor mostra que as condições<br />

ambientais muito peculiares desses sítios podem levar ao estabelecimento de um ecossistema<br />

todo particular, com comunidades biológicas incomuns; essas áreas devem ser conservadas,<br />

pois, como de interesse ambiental, independentemente de ter sua relevância histórica<br />

reconhecida.<br />

Desse modo, para identificar os bens de interesse para a preservação<br />

• imperativa abordagem multidisciplinar, pautada pelo rigor metodológico <strong>dos</strong> vários campos<br />

do saber envolvi<strong>dos</strong>; com os instrumentos do momento em que é feito o processo de<br />

identificação, que reconheça as especificidades desses bens<br />

• interesse pode advir das mais variadas razões; por isso é indesejável e até mesmo, perigoso,<br />

que o reconhecimento venha, exclusivamente, de um único campo, pois acarreta em risco de<br />

perda de testemunhos importantes.<br />

• cuida<strong>dos</strong>os estu<strong>dos</strong> - identificação conscienciosa são necessários não apenas para inventário,<br />

que pode resultar no reconhecimento oficial por meio do tombamento, por exemplo, mas<br />

também para políticas públicas de preservação mais alicerçadas e conseqüentes e, ainda, para<br />

servir de baliza para os projetos de intervenção.<br />

Projetos de intervenção numa obra (ou conjunto de obras) têm de levar em conta essas análises<br />

• que servirão como condicionantes para o partido a ser adotado<br />

• multidisciplinaridade é ainda essencial para entender os objetos<br />

o compreensão aprofundada da obra e do ambiente em que está inserida<br />

o sua materialidade (materiais, estrutura, técnicas construtivas <strong>–</strong> utilizando méto<strong>dos</strong><br />

não-destrutivos de levantamento ou, inclusive, destrutivos, se necessário)<br />

o suas várias fases, até chegar à configuração atual (tipológica e formal, inserção na<br />

paisagem)<br />

3


o<br />

o<br />

o<br />

elementos caracterizadores<br />

problemas e patologias, e os tratamentos possíveis (fazendo uso <strong>dos</strong> conhecimentos<br />

das áreas de química, física, engenharia, biologia etc.).<br />

multidisciplinaridade é relevante na fase de anamnese que leva diagnóstico correto<br />

para tratamento adequado e parâmetros para as decisões projetuais;<br />

• procedimento esse que envolve pesquisas<br />

o histórico-documentais<br />

§ busca de documentos que se refiram ao edifício: desenhos do projeto<br />

original, memoriais, levantamentos feitos após a construção, projetos<br />

de eventuais alterações, adições, etc. <strong>–</strong> determinar se possível:<br />

proprietário, autor do projeto arquitetônico, autor do projeto estrutural,<br />

nem sempre feitos por um mesmo profissional, o responsável pela<br />

escolha <strong>dos</strong> materiais, seu fabricante, o diretor do canteiro de obras,<br />

fatos relevantes para a qualidade final da construção; verificar,<br />

também, se a obra foi executada de acordo com o projeto original ou<br />

não<br />

§ Na Cidade de São Paulo: principais acervos:<br />

§ Para projetos até c. 1921. Arquivo Histórico Municipal Washington<br />

Luis. Parte do acervo está disponível na rede: (Sistema de Registro,<br />

Controle e Acesso ao Acervo - http://www.sirca.com.br/site/<br />

§ Para projetos posteriores a c. 1922: Arquivo de Processos da Prefeitura<br />

(Secretaria Municipal de Gestão Pública <strong>–</strong> DAF <strong>–</strong>3<strong>–</strong> Departamento<br />

Administrativo Financeiro, o Arquivo Geral de Processos da Prefeitura<br />

de São Paulo)<br />

§ Acervo de Projetos da <strong>FAU</strong><strong>USP</strong><br />

§ Paralelamente: análise sistemática de mapas referentes à cidade. No<br />

caso de São Paulo, plantas da cidade podem ser obtidas em formato<br />

digital no sítio da Secretaria de Estado de Economia e Planejamento,<br />

Instituto Geográfico e Cartográfico, no endereço:<br />

http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/img/mapas. consultar os<br />

mapas <strong>dos</strong> anos de 1881;1895; 1905; 1913; 1916; 1924; 1943; 1951;<br />

1952<br />

§ O Mapa Topográfico do Município de São Paulo, Sara-Brasil, de 1930,<br />

o GEGRAN de 1974 (Sistema cartográfico metropolitano da Grande<br />

São Paulo <strong>–</strong> 1/10000) e o levantamento aerofotogramétrico de1981 da<br />

§<br />

Emplasa, pesquisar na <strong>FAU</strong><strong>USP</strong>.<br />

Complementar com o uso de registros atuais ofereci<strong>dos</strong> pelo Google<br />

maps e Google earth.<br />

o Iconográficas: pertencentes a arquivos públicos (ex: Casa da Imagem,<br />

Departamento do Patrimônio Histórico/ Secretaria de Cultura / Prefeitura de<br />

São Paulo) e priva<strong>dos</strong><br />

o Bibliográficas<br />

§<br />

§<br />

§<br />

§<br />

§<br />

livros de história da arquitetura e da cidade do período da construção<br />

monografias sobre a obra ou sobre o autor<br />

trata<strong>dos</strong> de técnicas construtivas e materiais, etc.<br />

→ estabelecer comparações com outros edifícios similares do mesmo<br />

período, sua relação com os trata<strong>dos</strong> de construção e com a literatura<br />

técnica da época: evidenciar semelhanças e particularidades<br />

Revistas da época da construção: para casos mais recentes, ver na<br />

biblioteca da <strong>FAU</strong> o Índice de Arquitetura Brasileira<br />

4


§ Principais bibliotecas (para o caso de São Paulo): <strong>FAU</strong><strong>USP</strong>; Biblioteca<br />

central da Escola Politécnica da <strong>USP</strong> (trata<strong>dos</strong> de construção, técnicas<br />

construtivas) e a da Engenharia Civil; FFLCH-<strong>USP</strong>; biblioteca Mário<br />

de Andrade, do CONDEPHHAT e do DPH.<br />

o registro fotográfico<br />

o estu<strong>dos</strong> vincula<strong>dos</strong> às humanidades; de viabilidade econômica, urbanísticos<br />

o arqueológicos e também análises químicas, biológicas etc.<br />

o pormenorizado levantamento métrico-arquitetônico, com instrumentos<br />

tradicionais<br />

o + méto<strong>dos</strong> e instrumentos digitais, se necessário: GPS, total station, GIS<br />

(Geographicla Information System), HDS (high Definition Systems) etc.<br />

o Ex: multiespectrais + escâneres à laser 3d<br />

§<br />

§<br />

§<br />

§<br />

§<br />

a escolha <strong>dos</strong> méto<strong>dos</strong> de levantamento deve ser feita em função das<br />

características do edifício e da precisão e <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> necessários para o<br />

desenvolvimento do projeto<br />

isso vai repercutir na escolha <strong>dos</strong> instrumentos de medida capazes de<br />

fornecer a informação necessária (medidas de linhas, de ângulos, de<br />

alinhamentos, perpendicularidade, luz, calor etc.);<br />

+ escolha <strong>dos</strong> instrumentos de restituição, por meio <strong>dos</strong> quais se<br />

controlam e elaboram as informações obtidas (tratamento <strong>dos</strong> mais<br />

varia<strong>dos</strong> da<strong>dos</strong>)<br />

+ elaboração gráfica do levantamento, na qual são sintetiza<strong>dos</strong> os da<strong>dos</strong><br />

obti<strong>dos</strong> e analisa<strong>dos</strong> (que não é um instrumento neutro: pela elaboração<br />

gráfica evidenciam-se e podem ser torna<strong>dos</strong> mais claros, ou não, da<strong>dos</strong><br />

importantes para o projeto)<br />

→ o levantamento tem de ser projetado em função das características<br />

do objeto e <strong>dos</strong> da<strong>dos</strong> que devem ser evidencia<strong>dos</strong><br />

Processo resulta em:<br />

• exame de materiais e técnicas construtivas<br />

• estrutura<br />

• patologias<br />

• análise tipológica e formal<br />

• entendimento das fases por que passou a obra<br />

• de sua configuração e problemas atuais<br />

• respeitando as várias estratificações<br />

• instrumentos de reflexão: história da arte e pela estética<br />

• + vários campos disciplinares trabalhando de forma integrada<br />

• parâmetros para a intervenção, para definir méto<strong>dos</strong> de tratamento, guiar as escolhas e<br />

decisões projetuais<br />

Intervenção: também projeto de restauração<br />

• projeto de arquitetura<br />

• relação entre conservação e inovação<br />

• liga-se de modo indissolúvel ao processo de aquisição de da<strong>dos</strong> e análise<br />

• maestria no que se refere à qualidade do projeto<br />

• objetivo: respeitar e valorizar a obra em seus aspectos formais, documentais e<br />

materiais<br />

• ato de cultura<br />

• decisões de projeto, inclusive o uso de recursos criativos: subordina<strong>dos</strong> a esse objetivo<br />

5


O Caso da Mooca<br />

Material e método<br />

O trabalho será desenvolvido essencialmente a partir de pesquisa bibliográfica, pesquisa de fonte<br />

primária e pesquisa de campo.<br />

Pesquisa de referências bibliográficas e estudo da bibliografia.<br />

O trabalho será iniciado pelo exame preliminar da bibliografia sobre as transformações da cidade de<br />

São Paulo, centrando-se naqueles que tratem mais especificamente da industrialização em São Paulo,<br />

juntamente com textos gerais sobre as transformações da cidade em função da industrialização, com o<br />

intuito de se entender o contexto histórico e espacial em que aquelas construções foram realizadas.<br />

Quando os estu<strong>dos</strong> sobre a industrialização e sobre as transformações ocorridas na cidade de São<br />

Paulo nesse período estiverem suficientemente consolida<strong>dos</strong>, serão pesquisadas as referências sobre a<br />

formação <strong>dos</strong> bairros, mais especificamente, os bairros operários e industriais, e sobre as<br />

transformações arquitetônicas na fase de maior expansão dessas áreas industriais, em especial os que<br />

se voltam ao estudo do Brás e da Mooca.<br />

A partir do conhecimento do bairro, resultante das pesquisas bibliográficas e das primeiras<br />

observações em campo, serão também pesquisadas teses, dissertações e trabalhos de conclusão de<br />

curso que tratem de estu<strong>dos</strong> monográficos sobre os edifícios que estão na área específica selecionada<br />

para o estudo<strong>–</strong> pesquisa<strong>dos</strong> essencialmente na biblioteca da <strong>FAU</strong><strong>USP</strong> e no banco de Teses da <strong>USP</strong><br />

disponível na rede.<br />

O intuito é também identificar, em to<strong>dos</strong> esses textos, edificações que são mencionadas como pontos<br />

focais, polos de transformação, ou elementos de suporte da vida comunitária. Identifica<strong>dos</strong> os<br />

principais pontos focais e feitas visitas de campo, serão estuda<strong>dos</strong> textos relaciona<strong>dos</strong> a técnicasconstrutivas<br />

para mais bem descrever e caracterizar os objetos de estudo.<br />

As principais bibliotecas a serem utilizadas durante esse trabalho serão a Biblioteca da Faculdade de<br />

Arquitetura e Urbanismo <strong>–</strong> <strong>FAU</strong>-<strong>USP</strong>; as bibliotecas da Escola Politécnica <strong>–</strong> POLI-<strong>USP</strong>, em especial a<br />

biblioteca Central e a biblioteca da Engenharia Civil; e as bibliotecas da História, Geografia, Letras e<br />

Filosofia da Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas <strong>–</strong> FFLCH-<strong>USP</strong>, todas pertencentes à<br />

Universidade de São Paulo. Parte da pesquisa também será feita em bibliotecas mais específicas ou em<br />

órgãos especializa<strong>dos</strong>, como a biblioteca Mário de Andrade, e as bibliotecas do CONDEPHHAT e do<br />

DPH. Também serão feitas buscas através de alguns endereços da internet, de grande interesse, tais<br />

como o do IPHAN, o da Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo, o do TICCIH,<br />

ICOMOS e ICCROM.<br />

Pesquisa de fontes primárias<br />

Paralelamente à pesquisa bibliográfica, será iniciada a análise sistemática de mapas referentes à cidade<br />

de São Paulo, com especial atenção para o sistema Brás-Mooca e enfoque específico na área escolhida<br />

para estudo. As plantas da cidade podem ser obtidas em formato digital no sítio da Secretaria de<br />

Estado de Economia e Planejamento, Instituto Geográfico e Cartográfico, através do endereço:<br />

http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/img/mapas. A partir desse endereço serão então<br />

pesquisa<strong>dos</strong>, comparativamente vários mapas de São Paulo, analisando a região em estudo, entre eles<br />

os relativos aos anos os mapas <strong>dos</strong> anos de 1881;1895; 1905; 1913; 1916; 1924; 1943; 1951; 1952<br />

O Mapa Topográfico do Município de São Paulo, Sara-Brasil, de 1930, será pesquisado no acervo da<br />

<strong>FAU</strong><strong>USP</strong>, assim como o mapa GEGRAN de 1974 (Sistema cartográfico metropolitano da Grande São<br />

Paulo <strong>–</strong> 1/10000) e o levantamento aerofotogramétrico de1981 da Emplasa. Essa análise será<br />

complementada pelo uso de registros atuais ofereci<strong>dos</strong> pelo Google maps e Google earth.<br />

Especial atenção: comparação entre Sara-Brasil e Google, para comparar a região em 1930 e<br />

atualmente: evidenciar estruturas significativas de épocas mais afastadas que ainda permanecem.<br />

Para a área especificamente escolhida para estudo, será feita busca de material relacionado a edifícios<br />

já protegi<strong>dos</strong> por lei (caso existam na área selecionada) nos processos de tombamento <strong>dos</strong> órgãos<br />

estadual e municipal de preservação.<br />

Seleciona<strong>dos</strong> edifícios considera<strong>dos</strong> de interesse, através das análises resultantes do estudo da<br />

bibliografia e <strong>dos</strong> primeiros resulta<strong>dos</strong> da pesquisa de campo, serão feitas buscas, para os edifícios<br />

6


considera<strong>dos</strong> de maior interesse, no acervo do Sistema de Registro, Controle e Acesso ao Acervo<br />

(http://www.sirca.com.br/site/), por endereço ou por autor.<br />

Para edifícios de interesse de construção posterior a 1922, serão feitas buscas em periódicos de<br />

arquitetura (verificando se há referência no índice de Arquitetura Brasileira, para edifícios posteriores<br />

a 1950) e, para casos específicos, será tentada uma busca no Arquivo de Processos da Prefeitura<br />

(Secretaria Municipal de Gestão Pública <strong>–</strong> DAF <strong>–</strong>3<strong>–</strong> Departamento Administrativo Financeiro, o<br />

Arquivo Geral de Processos da Prefeitura de São Paulo), mas o acesso à documentação depende de<br />

autorização do proprietário, e no acervo de projeto da própria <strong>FAU</strong><strong>USP</strong>.<br />

Pesquisa de Campo<br />

Serão feitas várias visitas à área escolhida para o estudo. Uma primeira, apenas para se ter uma visão<br />

geral, para depois, com a pesquisa bibliográfica mais amadurecida, elaborar um registro sistemático<br />

das ruas. Se houver tempo, quando parte do estudo bibliográfico estiver consolidada e quando se tiver<br />

acesso à documentação primária <strong>dos</strong> conjuntos escolhi<strong>dos</strong>, serão feitas visitas mais numerosas a<br />

edifícios específicos a fim de realizar um pormenorizado registro fotográfico, análises entender suas<br />

técnicas construtivas, configuração espacial, de modo a caracterizar seu estado atual. Isso será<br />

realizado através do confronto entre a documentação primária e o exame, no local, das características<br />

das edificações. A análise se baseará principalmente, nos elementos que puderem ser identifica<strong>dos</strong><br />

externamente como, por exemplo, a composição da fachada, o sistema construtivo, os materiais<br />

utiliza<strong>dos</strong>, as modificações que foram feitas no edifício e seu atual estado de conservação<br />

7


Justificativa, com síntese da bibliografia fundamental<br />

O processo de industrialização em São Paulo teve papel fundamental na definição <strong>dos</strong> destinos do<br />

estado e da cidade, marcando vários de seus bairros, entre eles o Brás e a Mooca. A arquitetura e o<br />

processo de urbanização resultantes desse processo, relaciona<strong>dos</strong> com as unidades de produção, a<br />

estruturação <strong>dos</strong> meios de transporte, as unidades de habitação, as casas comerciais, aos edifícios<br />

destina<strong>dos</strong> ao ensino, às atividades culturais, de lazer e religiosas, são de grande interesse, não<br />

somente para a história da arquitetura, mas também para a história social, econômica, da técnica, da<br />

ciência, da engenharia, da indústria etc. Muitos <strong>dos</strong> representantes desse processo são importantes pela<br />

relevância histórica do fenômeno ao qual estão relaciona<strong>dos</strong>, pela sua escala, pelo cuidado na<br />

composição e implantação, pela introdução e consolidação de tipos arquitetônicos e pelo uso de novas<br />

(ou renovadas) técnicas construtivas 1 . Muitas dessas construções, em especial as grandes unidades<br />

industriais e as edificações destinadas às ferrovias tiveram papel importante na disseminação da<br />

alvenaria de tijolo e de outros materiais industrializa<strong>dos</strong>, como o próprio tijolo, elementos metálicos,<br />

pilares pré-molda<strong>dos</strong> de concreto, sendo exemplos de racionalização do projeto e do canteiro de obras.<br />

Outras construções se destacam na paisagem, por serem pontos focais de atividade de interesse social,<br />

como escolas e igrejas, ou importantes elementos relaciona<strong>dos</strong> a variadas formas de sociabilidade,<br />

como edifícios destina<strong>dos</strong> à cultura e ao lazer. Outras construções, por sua vez, podem ser de extrema<br />

importância para a composição e estruturação de ambientes urbanos, em especial as construções<br />

residenciais e o pequeno comércio. Essa paisagem de bairro industrial que foi se moldando na região a<br />

partir do último quartel do século XIX, e amadurecendo e se consolidando ao longo das primeiras<br />

décadas do século XX, tem passado por mudanças vultosas nas últimas décadas, tendo se tornado<br />

objeto de grandes pressões da especulação imobiliária. Isso afeta os bairros em sua inteireza, pois<br />

sobretudo as antigas unidades de produção e armazéns, que ocupam vastas áreas, têm sido demoli<strong>dos</strong><br />

para se transformar em condomínios residenciais priva<strong>dos</strong>, muitas vezes alheios à dinâmica do bairro,<br />

tendo repercussões problemáticas na dinâmica do bairro como um todo.<br />

Para entender a dinâmica de transformação da região, que no início do século XIX ainda se<br />

caracterizava pela presença de chácaras e que na virada do século se constituiria num <strong>dos</strong> principais<br />

pólos industriais da cidade, serão analisa<strong>dos</strong> textos já consagra<strong>dos</strong> volta<strong>dos</strong> à história da região, a<br />

começar como de Ernani da Silva Bruno (1954), associado à leitura feita por Maria Celestina T. M.<br />

Torres (1985), na coleção História <strong>dos</strong> Bairros de São Paulo e, ainda, os textos de Maria Margarida de<br />

Andrade (1990; 1994).<br />

A partir desses estu<strong>dos</strong>, é possível ver que o bairro começa a se desenvolver como tal, aos poucos, a<br />

partir de mea<strong>dos</strong> do século XIX. Foram abertas ruas, ainda de modo irregular, com larguras variáveis e<br />

as chácaras foram aos poucos desaparecendo, cedendo lugar a uma urbanização mais densa decorrente<br />

da expansão da cidade. Análises comparativas das antigas plantas de São Paulo 2 mostram que em<br />

mea<strong>dos</strong> do século XIX a cidade tinha extensão reduzida, restringindo-se, como apontam os estu<strong>dos</strong> de<br />

Langenbuch (1971, p. 9), à extremidade do esporão entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, e o<br />

“Brás apresentava-se ainda em desenvolvimento embrionário, separado da cidade pela várzea do<br />

1 Para a análise das técnicas construtivas nos edifícios da área de estudo, serão utiliza<strong>dos</strong> textos gerais de arquitetura e<br />

técnicas construtivas: TELLES, 1993; VARGAS, 2001; LEMOS, 1985 e REIS FILHO, 1970 / 1989, além <strong>dos</strong>.que tratem<br />

especificamente de construções de tijolos (como o estudo de d’Alambert, 1993), do uso do metal na arquitetura (SILVA,<br />

1988; <strong>Kühl</strong> 1999), e, ainda manuais de construção de final do século XIX e início do XX: ALBUQUERQUE, 1952;<br />

CLOQUET, 1898 e SEGURADO, s.d..<br />

2 As plantas da cidade podem ser obtidas em formato digital no sítio da Secretaria de Estado de Economia e Planejamento,<br />

Instituto Geográfico e Cartográfico, através do endereço: http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/img/mapas. A partir<br />

desse endereço serão então pesquisa<strong>dos</strong>, comparativamente vários mapas de São Paulo, analisando a região em estudo, entre<br />

eles os relativos aos anos os mapas <strong>dos</strong> anos de 1881;1895; 1905; 1913; 1916; 1924; 1943; 1951; 1952. O Mapa Topográfico<br />

do Município de São Paulo, Sara-Brasil, de 1930, será pesquisado no acervo da <strong>FAU</strong><strong>USP</strong>, assim como o levantamento<br />

aerofotogramétrico de1981 da Emplasa.<br />

8


Tamanduateí”. Um plano para o arruamento da área foi apresentado em 1831, aumentando, aos<br />

poucos, o interesse pelos terrenos na área, como enfatiza Torres (1985, p. 63) cuja localização -<br />

importante caminho para a ligação de São Paulo com o Rio de Janeiro <strong>–</strong> está associada, nesse<br />

momento à expansão linear do bairro do Brás, acompanhando as estradas. Essas terras além do rio<br />

Tamanduateí tiveram ocupação lenta, pois as frequentes inundações da várzea retardaram a expansão<br />

da cidade para essa direção.<br />

São Paulo era, até mea<strong>dos</strong> do século XIX, uma cidade relativamente pequena, ainda com<br />

expressividade limitada, o mesmo acontecendo com as tentativas de estabelecer atividades<br />

industriais, eu eram limitadas a indústrias rudimentares e oficinas artesanais, mas em mea<strong>dos</strong> do<br />

século, novas fábricas começam a se instalar na região (BRUNO, 1954, p. 710; 716.), apesar de<br />

serem ainda incipientes 3 .<br />

A partir da segunda metade do século XIX, a cidade de São Paulo passou por profundas<br />

transformações, em especial por causa da expansão da cultura cafeeira, que, associada à construção<br />

e expansão das ferrovias e ao aumento da imigração européia, acabou por acarretar numa grande<br />

transformação da paisagem natural e construída da então província. As ferrovias <strong>–</strong> meio de<br />

transporte marcadamente relacionado ao processo de industrialização <strong>–</strong> têm papel de enorme<br />

importância em São Paulo, tendo sido impulsionadas pela cultura cafeeira na segunda metade do<br />

século XIX 4 , e por sua vez, também a impulsionando. Essa associação ocasionou uma forma<br />

particular de estruturação do território, transformando contundentemente a paisagem natural e<br />

construída do Estado, estabelecendo complexos que se configuravam como unidades industriais <strong>–</strong><br />

tanto nas ferrovias quanto nas fazendas produtoras de café <strong>–</strong> processo esse que ofereceu bases<br />

significativas para a industrialização do Estado em larga escala, com muitos estabelecimentos<br />

comerciais sendo situa<strong>dos</strong> na região em estudo.<br />

A cidade passou por acelerado crescimento na segunda metade do século, com aumento da<br />

população tanto no centro, quanto nos Bairros, em especial no então distrito do Brás, que em 1836<br />

tinha 659 habitantes, em 1855, 974 e em 1872 pula para a casa de 2.308 (TORRES, 1985, p.91).<br />

As indústrias assumem papel de maior destaque a partir da última década do século XX, com<br />

aceleração no começo do século XX, em decorrência de numerosos fatores, a exemplo de uma<br />

nova política alfandegária de caráter protecionista, a repercussão da Guerra Civil norte-americana,<br />

que contribuiu para a expansão da indústria têxtil e as já citadas ferrovias. Langenbuch (1971, p.78)<br />

afirma que naquele período, as transformações que ocorreram nos arredores paulistanos ainda não<br />

se caracterizam como fenômenos de expansão metropolitana, mas estabeleceram importantes e<br />

decisivas diretrizes <strong>–</strong> eixos e pólos, que condicionarão esse processo. A industrialização crescente<br />

contribuiu para a urbanização de extensas áreas e a divisão das chácaras suburbanas, que auxiliam<br />

na configuração <strong>dos</strong> bairros industriais e operários; os fatores que impulsionaram essa rápida<br />

transformação na paisagem, também demarcaram a transformação da própria sociedade paulistana,<br />

como as relações de trabalho, convívio social, desenho urbano etc. (MORSE, 1970, p. 205-206).<br />

3 José Joaquim Machado d’Oliveira escreve em 1856: “Não se pode qualificar como indústria fabril essas pequenas fábricas<br />

de chapéus, charutos, licores, etc., algumas das quais duram pouco ou são como apêndice de casas comerciais.” [Apud<br />

TORRES, 1985, p.106.]<br />

4 No início do século XIX a cultura cafeeira expandiu-se em São Paulo, a partir do Vale do Paraíba. Em mea<strong>dos</strong> do século, o<br />

café tornou-se o principal produto de exportação do Brasil e São Paulo assumiu papel de destaque. Permaneciam, porém, as<br />

dificuldades de transporte do produto em grandes quantidades, questão que seria resolvida de maneira mais adequada com a<br />

construção das linhas ferroviárias. É de grande interesse entender a expansão das linhas ferroviárias em São Paulo, para<br />

examinar seu papel estruturador do território e as numerosíssimas construções que foram necessárias para acompanhar esse<br />

processo. Sobre o estabelecimento e expansão das linhas, é possível consultar desde estu<strong>dos</strong> que se tornaram verdadeiros<br />

clássicos, como: PINTO, 1903, ou o posterior, mas igualmente consolidado estudo de: MATOS, 1974. Sobre as ferrovias em<br />

São Paulo, são ainda referências basilares livros como: DEBES, 1968; SAES, 1981.Também consultar a pesquisa de<br />

SOUKEF Jr., 2010. Nela, o autor faz uma ampla revisão da bibliografia sobre o tema; desse modo o estudo de Soukef. Jr.<br />

Também deve ser utilizado para bibliografia complementar sobre o tema. No que respeita à arquitetura ferroviária e a<br />

referências complementares, ver: CYRINO, 2004; KÜHL, 1998; MAZZOCO & SANTOS, 2001; 2005.<br />

9


A inauguração da estrada de ferro São Paulo Railway, em 1867, ligando o porto de santos a<br />

Jundiaí, seguida pela estrada de ferro do Norte (1877), ligando São Paulo ao Rio de Janeiro,<br />

ocasionaram grandes mudanças a partir das últimas décadas do século XIX, alterando a paisagem<br />

pela formação de novas estruturas urbanas trazidas pela ferrovia e indústria. A implantação das<br />

ferrovias gerou uma reestruturação do sistema viário e transportes na região, redirecionando eixos<br />

de ocupação, circulação e expansão da cidade 5 . A ferrovia teve papel relevante como indutora da<br />

localização de diversos conjuntos industriais. A SPR determinou a formação de uma faixa<br />

industrial, formando um arco a leste e ao norte do centro, e os terrenos planos, desocupa<strong>dos</strong> e de<br />

baixo custo, lindeiros à ferrovia, foram ocupa<strong>dos</strong> preferentemente por indústrias, pois, além do<br />

mais, facilitavam expansões futuras e permitiam a instalação de pequenos ramais ferroviários no<br />

interior <strong>dos</strong> complexos para o escoamento da produção.<br />

As próprias estações ferroviárias eram pontos importantes de convergência de produtos e pessoas, e<br />

repercutiu na ocupação da área de estudo, Brás e Mooca, onde muitos trabalhadores vieram a<br />

residir atraí<strong>dos</strong> pelas recentes indústrias, - situação acentuada com a instalação da Hospedaria <strong>dos</strong><br />

Imigrantes entre as estações do Brás e Mooca, entre 1886 e 1888 (TORRES, 1985, p.108) <strong>–</strong><br />

repercutindo em sua configuração como bairros operário-industrial 6 . As estradas de ferro<br />

influenciaram a formação e localização do parque industrial, além de valorizarem as áreas de<br />

várzea, fazendo com que suas terras se edificassem bairros operários que mais tarde, se integraram<br />

no corpo urbano 7 . Em 1881, a urbanização do bairro do Brás já tinha ultrapassado as áreas em que<br />

estavam instaladas as estações do Brás (SPR) e do Norte (Central do Brasil) 8 , e crescia a<br />

centralização econômica na Capital da província (MORSE, 1970)<br />

No início do século XX, com a intensificação da industrialização, é perceptível não apenas uma<br />

mudança do espaço físico, mas também a transformação do tempo, pensamento e condição de vida<br />

dessa ‘nova sociedade’ 9 . Essa nova realidade da cidade possibilitou a diversificação de<br />

investimentos pelo capital proveniente da cafeicultura, investido com freqüência em atividades<br />

industriais relacionadas às necessidades da produção agrícola 10 ; os imigrantes também<br />

contribuíram para as atividades industriais, como mão de obra e mercado consumidor, mas<br />

também, em especial mais para o final do século XIX, investindo e fomentando a indústria 11 .<br />

No final do século XIX, a região do bairro do Brás já possuía características <strong>dos</strong> bairros industriais<br />

e operários, assim como Bom Retiro, Barra Funda e Ipiranga (CARELLI, 1975, p. 35). A cidade de<br />

5 Para esses temas ver LANGENBUCH, 1971, p.78-101, além da bibliografia sobre ferrovias supracitada.<br />

6 Bandeira Júnior ao fazer o levantamento <strong>dos</strong> estabelecimentos fabris em São Paulo, cita o número de operários<br />

emprega<strong>dos</strong>, na maioria <strong>dos</strong> objetos de seu estudo, discriminando-os entre estrangeiros e brasileiros, destacando a grande<br />

participação <strong>dos</strong> estrangeiros como mão-de-obra. BANDEIRA JUNIOR, 1901, p.55.<br />

O mesmo autor afirma na p. 250: “Ao contrário de muitas das estradas históricas que convergiam para São Paulo, as<br />

estradas de ferro ficavam ao nível <strong>dos</strong> rios. A São Paulo Railway chegava de Santos margeando o Tamanduateí,<br />

contornava a colina central e então seguia o Tietê antes de dobrar para o norte. A bacia do Tietê era também seguida<br />

pela Sorocabana que vinha de oeste; e pela Central do Brasil, vinda do Rio, a este. A São Paulo Railway, em parte pela<br />

sua vasta quantidade de desvios, veio determinar a formação de uma faixa industrial que se entendeu por um amplo<br />

arco a este ao norte do centro, e do qual muitos terrenos já eram indesejáveis por serem baixos e úmi<strong>dos</strong>. Neste arco,<br />

principalmente no Brás e na Mooca, foi morar a maioria <strong>dos</strong> trabalhadores.”<br />

7 Entre 1870 e 1890, também quarenta e uma indústrias se instalaram na cidade, à margem das ferrovias. Bandeira Jr. A<br />

Indústria no Estado de São Paulo, São Paulo, 1901. Apud MORSE, 1970, p. 235-236.<br />

8 LANGENBUCH, 1971, p.79: “O povoamento do bairro do Brás sabe-se que se intensificou particularmente com o<br />

funcionamento da estrada de Ferro do Norte. (...) Foi um ponto onde as atividades industriais e comerciais se<br />

condensaram primeiro, para dar lugar a um bairro com fisionomia própria <strong>–</strong> numa época em que em que o Brás<br />

propriamente acabava na estação do Norte.” . BRUNO, 1954, p.1032.<br />

9 LAURENTINO, , 2002, p.83: “A industrialização, num processo muito rápido, destrói os ritmos e as atividades de<br />

conotação rural que permeavam a cidade, porque esta se torna locus da produção e reprodução dentro da lógica<br />

capitalista.”<br />

10 Pra esses temas ver: LEITE, 1874, pp.3-15; VITORINO, 2008, p.40.<br />

11 Segundo Nestor Goulart, o final do século XIX, foi marcado pelo aparecimento <strong>dos</strong> primeiros e importantes<br />

imigrantes, como a família Matarazzo, Crespi, Scarpa e Siciliano. REIS FILHO, 1994, p.109. Especificamente sobre os<br />

italianos, ver também SALMONI & DEBENEDETTI, xx.<br />

10


São Paulo expandia-se rapidamente, e de sem controle e planejamento (BRUNO, 1954, p.912), e<br />

muitos trabalhadores se instalaram em bairros ou vilas operárias em áreas periféricas (LEMOS,<br />

1989, p.58), em terreno próximo às baixadas <strong>dos</strong> rios Tietê e Tamanduateí, principalmente nas<br />

primeiras décadas do século XX. Eram destina<strong>dos</strong> às indústrias e habitações proletárias <strong>–</strong> feitas<br />

como vilas industriais ou com moradias de aluguel 12 - e caracteriza<strong>dos</strong>, principalmente, por uma<br />

população de imigrantes. Essas construções, para Gunn e Correia (2006, pp.143-163), possuíam<br />

diferentes formas espaciais e estilos arquitetônicos, indo do neoclássico ao moderno, passando<br />

também pelo eclético e neocolonial. E mesmo com a instalação de grandes indústrias, a região<br />

nunca concentrou a riqueza nem recebeu moradores que fizeram parte da elite paulistana,<br />

abrigando uma população que era, em sua maioria, constituída por operários das indústrias da<br />

própria região.<br />

O Brás, a leste, com a Hospedaria de Imigrantes 13 e as estações de trem, rapidamente se<br />

transformou num bairro de pequeno comércio, indústrias e reduto do operariado, também<br />

características do Bairro da Mooca. Até mea<strong>dos</strong> da década de 1940, houve um processo crescente e<br />

rápido de transformação dessas áreas em bairros operários e industriais, e os bairros em estudo<br />

“ainda preservam parte desse parque industrial histórico, um extenso patrimônio urbano depositário<br />

de histórias e memórias que nos ajudam a compreender a formação e configuração da cidade<br />

contemporânea” 14 .<br />

A partir das décadas de 1950 e 1960, com o declínio do transporte ferroviário e o incentivo maior<br />

ao transporte rodoviário, as fábricas se multiplicam e passam a ocupar novas áreas, ao longo das<br />

autoestradas, fazendo com que muitos <strong>dos</strong> antigos complexos industriais e de armazéns fossem<br />

abandona<strong>dos</strong>, demoli<strong>dos</strong> ou utiliza<strong>dos</strong> para novos usos.<br />

Segundo Rolnik, o modelo de transporte baseado nas rodovias e os novos pólos industriais tiveram<br />

grande impacto sobre as áreas industriais centrais. “Antes estrategicamente situadas pelo fácil<br />

acesso à ferrovia e aos armazéns gerais, as indústrias do Brás, Mooca, Belém e Pari vêem-se em<br />

situação desfavorável em relação ao sistema rodoviário. As novas indústrias, as mais potentes e<br />

aquelas com maior capacidade de investimentos instalam-se a partir de então nos novos pólos<br />

industriais <strong>–</strong> principalmente ABC e Guarulhos, mas também outros bairros mais afasta<strong>dos</strong> da<br />

Zona Leste, relacionando não mais com o sistema ferroviário, mas às avenidas e rodovias” 15 .<br />

Langenbuch evidencia que no antigo eixo industrial à beira da linha ferroviária, havia pouco espaço<br />

para expansões futuras ou pátios para estacionamentos, fazendo desaparecer a antiga vantagem de<br />

localização próxima à estrada de ferro; ao contrário, a localização passa a ser desfavorável pela<br />

malha viária precária para o trânsito <strong>dos</strong> novos caminhões.<br />

12 Os terrenos desse tipo de loteamento, próximos à várzea e a preços baixos, foram também utiliza<strong>dos</strong> para a construção<br />

de modestas moradias, alugadas principalmente para os operários das crescentes indústrias na região. Como descreve<br />

Pasquale Petrone: “Dentro de perímetro urbano em zonas como o Brás, a Mooca e o Belenzinho quase sempre térreas e<br />

sem nenhum jardim à frente, geralmente geminadas (duas a duas, quatro a quatro), todas mais ou menos iguais, de estilo<br />

pobre ou indefinível. Estendem-se assim, em sua monotonia e em sai humildade, em filas intermináveis, que chegam a<br />

ocupar quarteirões inteiros. No meio delas, porém, surgem de quando em vez a pesada e característica fachada de uma<br />

fábrica ou, então, pequenas oficinas ou fabriquetas, Estas são muito numerosas aparecendo instaladas numa casa igual<br />

às demais em antigas garagens, em barracões ou simples telheiros, no fundo de quintais. Já as fábricas maiores se<br />

destacam, quando não por suas chaminés, pelo menos pela grande extensão de suas fachadas e seu amplo portão de<br />

entrada.”. PETRONE, 1955 (ano VI), n.21-22.<br />

13 A Hospedaria <strong>dos</strong> Imigrantes abrigou grande parte <strong>dos</strong> imigrantes europeus recém chega<strong>dos</strong> ao país. O rápido aumento<br />

da população deveu-se principalmente, devido à imigração, primeiramente subvencionada pelo governo para atender o<br />

trabalho nas lavouras de café, em substituição ao trabalho escravo, e depois atraída pelas possibilidades do novo mundo.<br />

A cidade absorveu grande parte dessa mão de obra, que pôde desenvolver ofícios que já tinham conhecimento em seu<br />

país de origem, como: construtores, ferreiros, sapateiros, etc. O crescente aumento da população, mão de obra e mercado<br />

consumidor também contribuíram de forma contundente para o crescimento da indústria paulista.<br />

14 MENEGUELLO; VALENTIN; BERTINI; RUFINONI 2007.<br />

15 ROLNIK, Raquel. São Paulo Leste/Sudeste <strong>–</strong> Reestruturação Urbana da metrópole Paulistana: Análise de Territórios em<br />

Transição. Relatório Final de Pesquisa, PUC Campinas, 2000.<br />

11


Essas regiões, desde a década de setenta, vêm sofrendo com essas transformações. Muitos galpões<br />

se esvaziaram e, o que antes eram grandes bairros industriais servi<strong>dos</strong> pela ferrovia, hoje dá lugar a<br />

pequenas firmas, comércio e muitos depósitos abandona<strong>dos</strong>. São regiões obsoletas e decadentes,<br />

que ocupam extensas áreas centrais da cidade, fazendo com que sua preservação assuma papel<br />

estratégico, ligado também à escala urbana e territorial de São Paulo.<br />

Na década de 1980, com a introdução do transporte metroviário e a proximidade com o centro da<br />

cidade, essas áreas passam, lentamente, a ser novamente valorizadas, em especial para a função<br />

habitacional verticalizada, dando início a uma nova fase de intensa transformação de toda a zona 16 ,<br />

que está acarretando a demolição de numerosos conjuntos industriais, de armazéns, de antigas<br />

habitações operárias e de equipamentos de educação, cultura e lazer, sem que tenham, ao menos<br />

sido registra<strong>dos</strong>. Muitas das construções que conformavam a face do bairro não têm sido poupadas<br />

no processo de transformações, tendo ainda como fator agravante o fato de vários exemplares<br />

serem de um período, final do século XIX e início do século XX, até recentemente, pouco<br />

apreciado pela crítica e pela historiografia arquitetônica.<br />

O interesse pela preservação do patrimônio arquitetônico associado ao processo de industrialização<br />

e pela preservação de ambientes urbanos em sua complexidade é relativamente recente e deve ser<br />

entendido dentro do contexto de ampliação daquilo que é considerado bem cultural. A preocupação<br />

com o legado do processo da industrialização, apesar de já aparecer no século XIX, tornou-se mais<br />

sistemática a partir <strong>dos</strong> anos 1960, catalisada, em especial, pela destruição de edifícios<br />

significativos <strong>–</strong> caso da Bolsa de Carvão e a Estação Euston em Londres, no início <strong>dos</strong> anos 1960, e<br />

do Mercado Central de Paris, no início <strong>dos</strong> anos 1970 17 <strong>–</strong> o que acabou por acirrar as discussões e<br />

promover iniciativas de preservação. A arqueologia industrial, tema que passa por discussões<br />

incipientes na Inglaterra na década de 1950, recebe estu<strong>dos</strong> cada vez mais numerosos ao longo das<br />

décadas que se seguiram, associada a um vivo debate historiográfico. Em 1963, Keneth Hudson<br />

enuncia: "arqueologia industrial é a descoberta, registro e estudo <strong>dos</strong> resíduos físicos de indústrias e<br />

meios de comunicação do passado" (HUDSON, 1976: 21). O movimento, aos poucos, foi<br />

aumentando e se consolidando. Vários países realizaram e/ou estão realizando inventários<br />

sistemáticos de seus sítios industriais e os debates sobre as questões relacionadas à preservação do<br />

patrimônio industrial estão se ampliando cada vez mais. Seguiram-se numerosas propostas e a<br />

Carta de Nizhny Tagil, documento do TICCIH (The International Committee for the Conservation<br />

of the Industrial Heritage), de 2003, é uma síntese amadurecida dessas definições feitas ao longo de<br />

várias décadas, transparecendo uma visão abrangente do problema: "O patrimônio industrial<br />

compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social,<br />

arquitetônico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas,<br />

minas e locais de tratamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção,<br />

transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas,<br />

assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais<br />

como habitações, locais de culto ou de educação.”<br />

Ou seja, é uma definição que, no caso <strong>dos</strong> bairros em estudo, aponta para o interesse de todo o bairro,<br />

algo que se associa à discussão de preservação de inteiros ambientes urbanos, algo que está enunciado<br />

na Carta de Veneza e se torna ainda mais explícito com os propostas de conservação integrada da<br />

Carta e a declaração de Amsterdã 18 .<br />

16 Para os processos recentes de transformação da área e pesquisa bibliográfica sobre o tema, ver: MEYER, Regina P. e<br />

GORSTEIN, marta Dora. A leste do centro: territórios do urbanismo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010.<br />

17 Para mais informações e bibliografia complementar, ver: KÜHL, 2009: 40-42.<br />

18 Algumas propostas já apareciam de modo incipiente nas colocações de John Ruskin e se tornam explícitas, inclusive do<br />

ponto de vista operacional, a partir das colocações de Gustavo Giovannoni, a partir de seus textos de 1913. Para essas<br />

questões e bibliografia complementar sobre preservação urbana ver: RUFINONI, Manoela Rossinetti. Preservação e<br />

restauro urbano. Teoria e prática de intervenções em sítios industriais de interesse cultural. Tese (Doutorado). São Paulo:<br />

12


Os Bairros do Brás e da Mooca contam com um importante conjunto arquitetônico relacionado a esse<br />

processo de ocupação, em grande medida devido à industrialização, de grande significância para a<br />

cidade. Não existe, no entanto, atualmente, nenhum levantamento sistemático da arquitetura desses<br />

bairros 19 e o número de edifícios protegi<strong>dos</strong> por lei é demasiadamente restrito. Possui muitos<br />

complexos agora abandona<strong>dos</strong> que ocupam grandes superfícies, em área próxima ao centro e bem<br />

servida por meios de transporte, e sobre eles incide grande pressão da especulação imobiliária.<br />

O conhecimento sistematizado sobre essas construções e as análises fundamentadas são ainda muito<br />

limitadas. É necessário elaborar documentação e levantamento sistemáticos desses edifícios para poder<br />

oferecer bases para análises fundamentadas que levem a uma escolha judiciosa <strong>dos</strong> exemplares que<br />

são significativos para preservação.<br />

A reflexão sobre a preservação ao longo do tempo mostra a necessidade da realização de consistentes<br />

estu<strong>dos</strong> multidisciplinares que identifiquem esses bens em seu conjunto e em suas inter-relações,<br />

informem sobre sua relevância a partir de análises advindas de vários campos do saber, tanto das<br />

humanidades quanto das ciências exatas e biológicas, considerando, também, as várias formas de<br />

apreensão atuais. São estu<strong>dos</strong> absolutamente necessários para identificar aquilo que é considerado um<br />

bem cultural, pois é indesejável, além de materialmente impossível, preservar tudo de maneira<br />

indistinta. Mas essa identificação tem de ser feita de maneira criteriosa e embasada; pois essa seleção<br />

será feita de todo modo, ou por escolhas conscientes e fundamentadas através <strong>dos</strong> instrumentos<br />

ofereci<strong>dos</strong> pelas humanidades, ou pela ausência ações propositivas que terão por conseqüência a<br />

sobrevivência aleatória <strong>dos</strong> bens. Os critérios de identificação variam no decorrer do tempo, mas isso<br />

não serve de escusa para um presente histórico deixar de agir de maneira consciente em relação a esses<br />

bens. Essa variação de critérios ao longo do tempo mostra, justamente, a necessidade de agir de modo<br />

fundamentado nos instrumentos cognitivos que o próprio presente histórico possui 20 . Desse modo, o<br />

próprio inventário é fruto do tempo em que foi elaborado.<br />

O que se pretende com esse projeto é oferecer alguns da<strong>dos</strong> relaciona<strong>dos</strong> à estratificação das áreas em<br />

estudo que possam servir de base para futuros inventários que fundamentem políticas públicas de<br />

preservação.<br />

<strong>FAU</strong><strong>USP</strong>, 2009, em especial, p. 12-212.<br />

19 Existem, por certo escritos volta<strong>dos</strong> ao estudo de conjuntos e edifícios industriais da área como o levantamento de uma<br />

série de galpões realizado pela EMURB, ainda nos anos 1970 (e depois não atualiza<strong>dos</strong>). Com levantamento baseado em<br />

critérios de inclusão para a definição <strong>dos</strong> exemplares, avalia<strong>dos</strong> em relação ao conjunto por suas características<br />

arquitetônicas, época da construção, área do lote, característica de uso, ou concentração na malha urbana. Foram levanta<strong>dos</strong><br />

189 galpões industriais, destaca<strong>dos</strong> os representativos da ocupação urbana do bairro, que remete à primeira fase da<br />

industrialização de São Paulo. EMURB, Galpões Industriais Significativos. São Paulo, Emurb, s.d. Ver também a<br />

monografia sobre o Cotonifício Rodolfo Crespi de Carlos Faggin (1978) ou a dissertação de Helena Saia (1989) sobre as<br />

fábricas de algodão. Mais recentemente, destacam-se a dissertação de mestrado (2004) e a tese de doutorado (2009) de<br />

Manoela Rufinoni e diversas dissertações desenvolvidas em programas de pós-graduação em São Paulo, caso, na <strong>FAU</strong><strong>USP</strong>,<br />

por exemplo de Cristiane Ikedo Bardese (2011), sobre o Moinho Matarazzo e a Tecelagem mariângela no Bras, ou a de<br />

Wayne Almeida de Sousa (2010), sobre o edifício da Alpargatas, na Mooca. A esses estu<strong>dos</strong>, somam-se várias monografias<br />

de conclusão de curso que têm tratado de vilas operárias ou de indústrias na região.<br />

20 Sobre esse tema, ver: KÜHL, 2009, em especial p. 59-100. CHOAY, 2001 e JEUDY, 1990.<br />

13


Bibliografia de apoio<br />

ALAMBERT, Clara Correia d’. O Tijolo nas Construções Paulistanas do século XIX. São Paulo, Dissertação de<br />

Mestrado, <strong>FAU</strong><strong>USP</strong>, 1993.<br />

ALBUQUERQUE, Alexandre. Construções Civis. São Paulo, Empresa gráfica da “Revista <strong>dos</strong> Tribunais”<br />

LTDA, 1952.<br />

ANDRADE, Maria Margarida de. Bairros além Tamanduateí: o imigrante e a fábrica no Brás, Mooca e<br />

Belenzinho. São Paulo, FFLCH/<strong>USP</strong>, Tese de Doutorado, 1991.<br />

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